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2 UMA ABORDAGEM SOBRE O ENSINO DA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA NO ENSINO MÉDIO

No documento Anais completos (páginas 188-191)

Este trabalho se enquadra no eixo temático 3 (Relato de experiência) do VI Congresso Regional de Docência e Educação Básica, a ser realizado entre os dias 27 e 28 de junho de 2019, na UNOESC, campus Xanxerê. Partindo disso, agora iremos iniciar uma breve contextualização do que será abordado nesta apresentação.

A Escola de Educação Básica Tancredo de Almeida Neves se localiza no município de Chapecó, no bairro Efapi, onde estão inseridas duas universidades: UFFS e Unochapecó, além de empresas da agroindústria, comércio diverso, posto de saúde, delegacia policial, posto de polícia militar e penitenciária agrícola. A escola é a única da rede estadual que oferta Ensino Médio na região. Assim sendo, os pais dos alunos se encaixam no seguinte perfil: possuem apenas o Ensino Fundamental de 1º a 4º ano completos, sendo boa parte deles trabalhadores de indústrias. Quanto às mães, tem-se que, também, a maioria possui apenas o Ensino Fundamental de 1º a 4º anos completos, onde boa parte trabalha como do lar (E. E. B. TANCREDO DE ALMEIDA NEVES, 2018). Esses dados demonstram a importância que a escola tem, na comunidade na qual se insere, já que muitos dos seus egressos são os primeiros das suas famílias a concluírem o ensino básico.

Em relação à disciplina de História, dentre os alunos, ainda se tem uma ideia muito presente de que o estudo histórico se pauta num conhecimento do passado para evitar que os mesmos erros sejam cometidos no presente ou no futuro. Essa questão é presente na fala dos alunos e parte do discurso da professora, bem como da proposta curricular de história, que atende à ideia de uma construção do futuro, uma vez que visa construí-lo a partir “do estudo dos principais acontecimentos do passado da humanidade, subsídios e experiências que ajudem entender a organização das sociedades atuais e contribuam para o planejamento das ações futuras.” (E. E. B. TANCREDO DE ALMEIDA NEVES, 2018).

A partir da análise feita da escola, do ensino de História praticado nela e de como os estudantes absorvem isso, temos aporte para levantar uma discussão que se faz pertinente às salas de aula, principalmente se levada em consideração a conjuntura nacional atual, onde se percebe a frequente exaltação do período ditatorial, bem como a ascensão política de defensores da ditadura civil-militar de 1964 e, consequentemente, há a ascensão de um discurso que fere a democracia.

Partindo de tal pressuposto, iniciamos a discussão trazendo a ideia de um ódio à democracia presente no momento que vivemos. Para fundamentar essa ideia, nos pautamos no filósofo Jacques Rancière (2011, p. 26-27):

de um lado, a queda desse império [soviético] foi saudada, por um período bastante breve, como a vitória da democracia sobre o totalitarismo, a vitória das liberdades individuais sobre a opressão do Estado, simbolizada por aqueles direitos humanos reivindicados pelos dissidentes soviéticos ou pelos operários poloneses. [...] Mas, por trás da saudação obrigatória aos vitoriosos direitos humanos e à democracia recupe- rada, o que acontecia era o inverso. Uma vez que o conceito de totalitarismo não ti- nha mais uso, a oposição de uma boa democracia aos direitos humanos e das liberda- des individuais à má democracia igualitária e coletivista também se tornou obsoleta.

A democracia, dentro de nossos tempos, tornou-se o espaço onde os desejos ganham caráter de infinitude, e, portanto, é uma ameaça à liberdade dos cidadãos, ao mesmo tempo que uma sociedade democrática é responsável para que essa consciência de espírito livre exista. Esse contexto pode ser traduzido no seguinte excerto da obra O ódio à democracia, de Rancière (2014, p. 8): “[...] democracia, isto é, o reino dos desejos ilimitados dos indivíduos da sociedade de massa moderna.”

Dentro da ameaça que podemos observar ao espaço democrático, uma análise da forma de como os estudos sobre o período de ditadura civil-militar estão acontecendo dentro das escolas se fez imprescindível, uma vez que, em tempos tão incertos, onde existe aqueles que exaltam abertamente a ditadura no Brasil (inclusive ascendendo ao máximo posto do poder executivo do país através desse discurso), parece ter se instalado, de fato, um ódio à democracia.

Tendo essas questões em mente, passamos a observar as aulas sobre ditadura civil-militar ministradas à turma 301. Sobre o conteúdo, foram feitas aulas expositivas, através de seminários organizados pelos alunos. Houve uma unanimidade de opinião quanto ao caráter negativo da ditadura, no sentido de ela restringir liberdades e, principalmente, ter causado dano à vida de muitas pessoas, seja no caráter físico no moral ou psicológico.

Nesse sentido, trazemos alguns pontos negativos quanto ao decorrer das aulas, como o de que algumas apresentações de seminários deram mais conta de narrar dados biográficos e não tão relevantes para o contexto, do que de levantar um debate sobre direitos humanos, por exemplo, e de explicitar um senso crítico sobre. Em contrapartida, a professora conseguiu contornar muito bem a situação, trazendo diversos paralelos com o momento presente da política brasileira e, também, explicitando mais questões referentes ao período ditatorial. Além disso, um recurso que foi apresentado e também é interessante para elucidar alguns pontos da questão do ensino de História, dialogando com os novos meios tecnológicos.

Podemos compreender que o discurso de ódio à democracia traz consigo um aspecto de moralidade para a civilização, evocando valores os quais afirma que se perderam a partir do exercício democrático. Nesse sentido, a democracia é apresentada como um elemento ainda mais perigoso e inexoravelmente imposta a ser eliminada. O sentimento antidemocrático afirma que a democracia é ruim

quando se deixa corromper pela sociedade democrática que quer que todos sejam iguais e que todas as diferenças sejam respeitadas. Em compensação, é bom quando mobiliza os indivíduos apáticos da sociedade democrática para a energia da guerra em defesa dos valores da civilização, aqueles da luta das civilizações. (RANCIÈRE, 2014, p. 10).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi levantado, pensamos na importância do espaço da escola, no que diz respeito à parte de crítica à experiência da ditadura civil-militar, pois é nesse lugar que se transforma o senso comum em pensamento crítico. Nesse sentido, as aulas de história se inserem como um

190 VI Congresso Regional de Docência e Educação Básica | Anais Eletrônicos Eixo 3 - Relato de experiências

importante momento de discussão e diálogo sobre questões sociais, relacionadas não apenas ao passado, mas também pertinentes ao momento presente.

Pontuamos outras questões ao longo do artigo tais como a observação da estrutura da escola na qual fizemos estágio e de que forma essa questão impacta na maneira como as aulas decorrem. Além disso, pensamos também em como o ensino de história se dá na sala de aula, considerando a formação e discussão de conceitos-chave dentro da história para o desenvolvimento do senso crítico das alunas e alunos.

Juntando todas as questões expostas, compreendemos que o ensino de História e na temática específica deste artigo, sobre a ditadura civil-militar brasileira, a questão da consciência de regimes autoritários se deu de uma forma bem conscientizada nas aulas observadas em nosso estágio. Os alunos foram interativos e percebemos na prática como é essencial a assimilação entre o conteúdo do passado relacionado ao contexto atual, bem como com a realidade jovens adolescentes.

REFERÊNCIAS

ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

BRASIL. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,

que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB). Brasília, DF, 10 mar. 2008. E. E. B. TANCREDO DE ALMEIDA NEVES. Projeto Político-Pedagógico. 2018.

FERREIRA, J.; DELGADO, L. de A. N. (org.). O tempo da ditadura: regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

MORETTI, F. O estágio supervisionado em História: limites e possibilidades na atuação docente do acadêmico em História.

PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e Docência. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2012. RANCIÈRE, J. O ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014.

RIBEIRO, J. R. História e Ensino de História: Perspectivas e abordagens. Educação em Foco (UNISPE), n. 7, p. 1-7, set. 2013.

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No documento Anais completos (páginas 188-191)

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