• Nenhum resultado encontrado

2 REFORMULAÇÕES E OBJETIVOS PROCLAMADOS DO SAEB

No documento Anais completos (páginas 78-81)

Desenvolvido desde a década 1990 no Brasil, o Saeb foi institucionalizado como sistema nacional de avaliação da educação básica somente em 27 de dezembro de 1994, por meio da Portaria n. 1.795. Dentre os objetivos declarados na Portaria que o institucionalizou estava o de “contribuir para o desenvolvimento, em todos os níveis do sistema educativo, de uma cultura avaliativa que estimule a melhoria dos padrões de qualidade e equidade da educação básica e adequados controles sociais de seus resultados.” (BRASIL, 1994).

Como é possível constatar, desde seu nascedouro, o Saeb surgiu com a ideia de ser um sistema nacional da avaliação da qualidade. Contudo, as primeiras avaliações realizadas não atingiam todos os níveis do sistema educativo e, tampouco, todos os estudantes daquele nível. Logo, não constituía um sistema nacional de avaliação da qualidade.

Esse equívoco, no entanto, não foi corrigido de imediato. Foi somente em 2005, a partir da Portaria n. 931, exarada em 21 de março, que o Saeb deixou de se constituir como um sistema nacional. A partir da referida Portaria, o Saeb passou a ser composto por duas avaliações: Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), de caráter amostral, e a Avaliação do Rendimento Escolar (Anresc), divulgada como Prova Brasil, de caráter censitário.

A Aneb manteve os mesmos objetivos até então previstos para o Saeb. À Anresc, foram atribuídos os seguintes objetivos:

a) avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas, de forma que cada unidade escolar receba o resultado global;

b) contribuir para o desenvolvimento, em todos os níveis educativos, de uma cultura avaliativa que estimule a melhoria dos padrões de qualidade e equidade da educação brasileira e adequados controles sociais de seus resultados;

c) concorrer para a melhoria da qualidade de ensino, redução das desigualdades e a democratização da gestão do ensino público nos estabelecimentos oficiais, em conso- nância com as metas e políticas estabelecidas pelas diretrizes da educação nacional; d) oportunizar informações sistemáticas sobre as unidades escolares. (BRASIL, 2005).

Como podemos constatar, na sua reconfiguração, o Saeb manteve alguns de seus objetivos originais. Contudo, a inclusão da Anresc agregou um novo objetivo ao Saeb, qual seja, o de avaliar as escolas oportunizando-lhes informações sistemáticas sobre os resultados globais obtidos por estudantes de 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio em exames nacionais realizados nos componentes de língua portuguesa e matemática.

No ano de 2015, uma nova avaliação foi incluída ao Saeb, a Avaliação Nacional de Alfabetização (Ana), de caráter censitário, aplicada anualmente a estudantes do ciclo de alfabetização. Dentre os objetivos para essa avaliação estava o de “avaliar a qualidade, a equidade e a eficiência (incluindo as condições de oferta) do Ciclo de Alfabetização das redes públicas.” (BRASIL, 2013).

Com a alteração realizada pela Portaria n. 482, de 7 de junho de 2015, o Saeb então passou a ser constituído por três avaliações nacionais, a Aneb, a Anresc e a Ana. Faltava, no entanto, incluir o ensino médio no processo de avaliação censitária, uma vez que, mesmo com a reformulação de 2015, o segmento contava apenas com avaliação amostral, realizada pela Aneb. Falha essa corrigida

com a mais recente reformulação do Saeb, operada por meio do Decreto Presidencial n. 9.432, de 29 de junho de 2018, que incluiu, além do ensino médio, também a educação infantil no processo de avaliação externa da educação básica.

Com a aprovação do referido Decreto, foi regulamentada a Política Nacional de Avaliação e Exames da Educação Básica. O Saeb passou a ser constituído, então, por um conjunto de instrumentos com a finalidade de produzir e disseminar “[...] evidências, estatísticas, avaliações e estudos a respeito da qualidade das etapas que compõem a educação básica.” (BRASIL, 2018).

Consagrou-se, pois, ao Saeb, a intencionalidade de ser um instrumento de avaliação da qualidade da educação básica, em todas as suas etapas. Contudo, como aludido, entre a aparência e a essência há um longo caminho a ser percorrido. Constituído para ser um instrumento capaz de regular a qualidade da educação básica, os resultados produzidos pelo Saeb ao longo de cada ciclo de avaliação (de dois anos) passaram a ser utilizados como mecanismo para classificar as escolas e pressionar os professores para a produção de resultados medidos pela via dos exames aplicados aos estudantes da educação básica.

A despeito dos subsídios que oferece para a formulação, reformulação e monitoramento das políticas públicas voltadas para a melhoria da educação básica, com a possibilidade de análises sazonais e comparadas do desempenho dos estudantes, a meta principal das escolas e redes de ensino passou a ser melhorar os resultados educacionais. Resulta daí que, na sua essência, o Saeb não vem produzindo os efeitos esperados e o seu principal objetivo, o de melhoria da qualidade das aprendizagens dos estudantes.

No tocante aos resultados que, na essência, podemos vislumbrar em relação ao Saeb está o tensionamento gerado entre os profissionais da escola, tanto no estágio que antecede aos exames nacionais como também após a divulgação dos resultados. Recai sobre a escola e os profissionais que nela atuam a responsabilidade pela produção de bons resultados nos exames nacionais sem, necessariamente, melhorar as aprendizagens dos estudantes.

O foco no desempenho das escolas revela traços de uma política de accountability educacional, com ênfase na prestação de contas e responsabilização dos profissionais da escola, sem, contudo, assegurar certos padrões de qualidade conforme intenta o Saeb. As ferramentas mobilizadas na accountability, por meio de uma política nacional de avaliação em larga escala, concorre com perspectivas gerenciais de gestão das escolas, as quais se voltam à atuação performativa dos profissionais da educação básica.

Para verificar se os objetivos definidos para o Saeb estão sendo alcançados faz-se necessário compreender a essência do fenômeno que compreende a política nacional de avaliação da educação básica. É preciso, pois, compreender o Saeb e suas múltiplas determinações, já que é um sistema para orientar o planejamento e a produção de políticas educacionais.

80 VI Congresso Regional de Docência e Educação Básica | Anais Eletrônicos Eixo 1 - Práticas escolares

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Refletir sobre a essência e a aparência do Saeb torna-se um exercício desafiador, por se tratar de um fenômeno que se revela de imediato. Em sua aparência sinaliza melhorias na qualidade de ensino, apresentando-se como instrumento para superar desigualdades no sistema educacional. Contudo, em sua essência, acaba, pois, servindo como instrumento para premiar ou punir a escola posta atenção central nos resultados produzidos.

O Saeb essencialmente cifra, contabiliza o valor de cada individuo, num sistema de trocas econômicas educacionais como formação humana para o desenvolvimento de um capitalismo desenfreado e subverso. Uma espécie de mercantilização do saber, no qual o conhecimento é produzido para transformar pessoas em engrenagens do mercado. A escola passa a valer pelos resultados que produz.

Analisar a essência do Saeb implica ir além do proclamado por meio de seus objetivos. Requer compreendê-lo teoricamente e nas suas contradições no campo da realidade concreta.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Portaria n. 1.795, de 27 de dezembro de 1994. Cria o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 1994. Seção 1, n. 246, p. 20.767-20.768.

BRASIL. Portaria Ministerial n. 174, de 13 de maio de 2015. Diário Oficial da União, Brasília, 7 de junho de 2015a. Seção 1, n. 90, p. 16.

BRASIL. Portaria Ministerial n. 249, de 28 de dezembro de 2018. Diário Oficial da União, Brasília, 28 de dezembro de 2018. Seção 1, n. 90, p. 132.

BRASIL. Portaria Ministerial n. 482, de 7 de junho de 2015. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 jun. 2015b. Seção 1, n. 55, p. 17.

BRASIL. Portaria Ministerial n. 931, de 21 de março de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 mar. 2005. Seção 1, n. 55, p. 17.

HEGEL, F. Ciência de la lógica. Buenos Aires: Ediciones Solar, 1968. KOSIK, K. Dialética do Concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

Práticas de ensino

No documento Anais completos (páginas 78-81)

Outline

Documentos relacionados