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2 APRENDIZAGEM ATIVA: A PROPOSTA DA SALA DE AULA INVERTIDA

No documento Anais completos (páginas 102-105)

De acordo com Lévy (2010), a presença de uma tecnologia modifica significativamente a forma como o conhecimento é produzido.

Durante muito tempo a educação privilegiou a razão, segmentou o conhecimento. Hoje se entende que é importante proporcionar situações em que os alunos participem ativamente do seu processo de construção do conhecimento. Os conteúdos devem ser “integrados entre si não mais como um quebra-cabeça de peças perdidas, mas numa teia de fios inter-relacionados e leves, tecidos por mentes unificadas e mãos afetivas” (CELANO, 1991, p. 34), ou seja, a passividade do aluno no processo educacional deve ser revertida.

De acordo com Morin (2000) a escola costuma trabalhar conteúdos que não fazem sentido imediato para os alunos, são ineficientes e insuficientes para os cidadãos do futuro, ou seja, a escola fragmenta a realidade e ignora o verdadeiro sentido de educar.

É inegável a necessidade urgente de mudança, em contrapartida surge também o conflito em ter que abandonar velhos paradigmas como a fragmentação dos saberes e a organização dos currículos que até então lhes garantiram segurança.

Sobre a necessidade de um espaço educacional renovado, Berticelli (2006) destaca:

O tempo e o espaço, agora relativos, configuram um novo de ver. “A partir da emer- gência dos grandes meios de comunicação, assim como o tempo, o lugar (τόπος) ad- quiriu sentidos inteiramente novos. O virtual diz respeito tanto ao tempo quanto ao espaço. [...] Uma nova escola se configurou: a escola heterotópica, independente de tempo para percorrer o espaço portanto, a educação também se tornou heterotópica. Pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo e em tempo real. Com isto, a de- manda de nossa competência auto-organizacional cresceu vertiginosamente e, para tanto, dispomos de novos e poderosos dispositivos tecnológicos, que contribuem no traçado de um novo desenho epistêmico do processo de educar, assim como deter- minou um novo educando que já não é mais, definitivamente, o mesmo de algumas décadas atrás. (BERTICELLI, 2006, p. 15).

De acordo com Moran, Masetto e Behrens (2000, p. 32), com as novas tecnologias “o professor tem um grande leque de opções metodológicas, de possibilidades de organizar sua

comunicação com os alunos, de introduzir um tema, de trabalhar com os alunos presencial e virtualmente e também de avaliá-los”.

Uma das opções que atualmente se apresenta aos professores é a sala de aula invertida. De acordo com Moran (2014) A sala de aula invertida é um modelo de aprendizado caracterizado pela possibilidade de que os alunos sejam expostos ao conteúdo antes da aula, para que estejam preparados para a aprendizagem ativa em sala de aula. Em uma sala de aula invertida, há uma ligação clara entre atividades realizadas na classe e extraclasse.

Moran (2014) considera a sala de aula invertida um dos modelos mais interessantes da atualidade para mesclar tecnologia com metodologia de ensino, pois concentra no virtual o que é informação básica e, na sala de aula, atividades criativas e supervisionadas, uma combinação de aprendizagem por desafios, projetos, problemas reais e jogos.

Nesse contexto tecnológico Lévy (2010) afirma que as novas tecnologias modificam nossas consciências, visto as alterações que em nosso meio de conhecer o mundo representam. Outro fator relacionado ao surgimento de novas relações com o saber refere-se ao fato de que as novas tecnologias apresentam características que possibilitam amplificar, exteriorizar e modificar numerosas funções cognitivas humanas. Nesse contexto importa destacar a presença do virtual em nosso cotidiano, assim como o ciberespaço já faz parte da sociedade.

Também para Lévy (1999), as discussões acerca de processos de formação mediados pelas novas tecnologias exigem novas reflexões sobre as relações com o saber. As novas tecnologias têm promovido uma maior velocidade no surgimento e na renovação dos conhecimentos, pois “Pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no início de seu percurso profissional estarão obsoletas no fim de sua carreira.” (LÉVY, 1999, p. 157).

Para uma reflexão séria e comprometida acerca das tecnologias no contexto educacional importa destacar que há pensadores importantes do campo do ensino e da pedagogia que não veem com bons olhos a inserção da sala de aula invertida na educação. Como exemplo é possível citar o pensamento de José Pacheco, Professor Português, que tem se dedicado a estudar a educação no Brasil. Pacheco vem tecendo críticas a esse modelo, destacando a possibilidade de ser um novo “modismo” educativo advindo de terras estrangeiras. (PACHECO, 2014). E segue o autor afirmando que a ideia da sala de aula invertida cheira a escolanovismo reciclado.

Diante dos prós e contras em relação a aula invertida há de se considerar que nem todas as instituições de ensino possuem os aparatos necessários, nem todos os educadores estão preparados para tal mudança, enfim, nem sempre o que funciona em um local terá êxito em outro.

As experiências no trabalho com formação de alunos e professores para a utilização de metodologias ativas facilitam a compreensão de que a inserção das novas tecnologias nas instituições de ensino não deve acontecer pelo tecnicismo, determinismo ou conformismo a uma realidade, e sim necessita um posicionamento, conhecimento e envolvimento de todos.

A utilização das novas tecnologias no contexto educacional rompe relações pedagógicas habituais, descentraliza fontes de atenção, de modo que professores e alunos se tornam aprendizes. A função do professor é modificada. Ele deixa de ser um mero informante e passa a interagir com

104 VI Congresso Regional de Docência e Educação Básica | Anais Eletrônicos Eixo 2 - Práticas de ensino

o aluno, construindo junto o conhecimento e o saber necessário para a sua formação e para uma educação libertadora.

3 CONCLUSÃO

Para concluir é possível afirmar que não há uma fórmula definida para o modelo de sala de aula invertida. Isto é, depende muito do contexto de ensino e aprendizagem como por exemplo a disciplina ministrada, a turma, o tamanho da classe, estilo de ensino e acesso a recursos tecnológicos. O Planejamento e design são aspectos críticos para o sucesso da sala de aula invertida e devem sempre levar em consideração que não basta dividir um curso em componentes presenciais e online. É necessário um trabalho cuidadoso levando em consideração fatores como: proposta curricular da escola, planejamento de projetos, integração de tecnologias e suporte para os alunos.

REFERÊNCIAS

BERTICELLI, I. A. Epistemologia e educação – da complexidade, auto-organização e caos. Chapecó: Argos, 2006.

CASTELLS, M. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

CELANO, S. Corpo e mente na educação: uma saída de emergência. Petrópolis: Vozes, 1991.

LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 2010.

LÉVY, P. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.

MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Mudando a educação com metodologias ativas. In: SOUZA, C. A.; MORALES, O. E. T. (Org.). Convergências midiáticas, educação e cidadania: aproximações jovens. Ponta Grossa: UEPG, 2014. v. 2. p. 15-33. Disponível em: https://goo.gl/VkXLcq. Acesso em: 23 jul. 2018.

MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão técnica: Edgard de Assis Carvalho. 2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.

PACHECO, J. Sala de aula invertida: por que não reagem os pedagogos brasileiros ao neocolonialismo pedagógico? Revista Educação, São Paulo, 2014. Disponível em: http://www.revistaeducacao.com.br/ sala-de-aula-invertida/. Acesso em: 22 maio 2019.

ESTRESSE INFANTIL E DESEMPENHO ESCOLAR: AVALIAÇÃO

No documento Anais completos (páginas 102-105)

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