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4.2 D Dinis (1279-1325)

4.2.1 Acções político-administrativas relativas ao Clero

Nesse sentido, o monarca tomou atitudes, e, por isso, a relação entre a monarquia e o Clero sofreu alterações à sua época. D. Dinis outorgou leis26 que tiveram como objectivo disciplinar os religiosos e reaver o património régio.

Devido a essas leis, o Clero ficou descontente por causa da perda de privilégios, nomeadamente do direito de aplicar a justiça aos vizinhos que habitavam

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Maria Ângela Godinho Vieira da Rocha BEIRANTE - Estudo de Alguns Documentos da Chancelaria de D. Dinis. Livro II, fólios 7-57v (1291-1293) Coimbra: Dissertação de Licenciatura em História apresentada a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, policopiada, 1969, pp. CLXXXII a CLXXXVI.

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Hermínia Vasconcelos VILAR – O rei e a Igreja – o Estabelecimento das Concórdias (1245-1383). In: Ana Maria C. M. JORGE e Ana Maria S. A. RODRIGUES (Coord.) - História Relegiosa de Portugal. Círculo de Leitores, 2005. A Autora afirma: Coube a D. Dinis reforçar as leis contra a amortização da propriedade eclesiástica, iniciadas por Afonso II e reforçadas em 1286 pela lei que impedia a compra de bens de raiz por eclesiásticos, sem expresso mandado do rei, e em 1291 pela proibição feita às igrejas e mosteiros de herdarem bens dos seus professos. p. 324. Leis que comentarmos nesta dissertação.

os coutos, e pelo facto do impedimento para comprar bens de raiz, além de ter de devolver os que haviam sido dados pelos monarcas.

Outra questão importante que fundamentava as reivindicações dos eclesiásticos era que o código Visigótico27, ainda, parcialmente, em vigor em Portugal, que fora “redigido sob o predomínio do clero, introduziu a acção do

sacerdócio n’um grande número de actos de vida civil”28. Por causa disso, a Igreja e

a sociedade em geral entendiam que a morte era um momento especial das relações entre o homem e Deus, de modo que “avocava inteiramente ao foro da

Igreja tudo o que dizia respeito à execução dos actos de última vontade”29. Com o amparo no costume da época, não se admitia que os juízes laicos interferissem nessa matéria.

A Igreja agia, entretanto, “não só no interesse dos legítimos herdeiros mas

ainda na própria conveniência [...] [e] cujo património afluía sempre, por diversos modos, uma parte da riqueza dos fiéis defunctos [...]”30, razão pela qual, desde o governo de D. Afonso III, a Coroa passara a restringir essa função jurídico-civil da parte dos eclesiásticos, negando-lhes, por exemplo, autoridade nas causas testamentárias31.

Havia então esse quadro alarmante: aumentara em muito a riqueza, o poder e a influência da Igreja sobre a sociedade, bem como diminuíra a arrecadação de impostos e taxas, com os quais era possível investir noutros setores da economia, relevantes para o reino. D. Dinis outorgou um conjunto de textos legais, conhecidos como Leis de Desamortização ou Leis Contra a Amortização, criando, assim, um mecanismo legal que tentava coibir toda aquela situação32.

Foi assim, por exemplo, que, em 1286, outorgou uma lei que dizia:

que os Reys que anty mim foram, defenderam que hordiis, nem Creligos nom conprasen herdamento em seu Reyno. Outrossy o defedi e ora alguus Conselhos xhe me enviarom queixhar que

27

Para maiores esclarecimentos consultar Henrique da Gama BARROS - História da Administração Pública em Portugal nos Séculos XII a XV. Tomo II. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1945, pp. 13 e seguintes.

28

Henrique da Gama BARROS - História da Administração Pública em Portugal nos Séculos XII a XV. Tomo II. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1945, p. 17.

29

Idem, p. 201. 30

Henrique da Gama BARROS - Op. cit., p. 202. 31

Fortunato de ALMEIDA - História da Igreja em Portugal. Volume I, Porto: Portucalense Editora, 1965, p.162.

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Maria Rosa Ferreira MARREIROS - Propriedade Fundiária e Rendas da Coroa no Reinado de D. Dinis. Guimarães. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Volume I, Coimbra, 1990, policopiada, p. 101.

Clérigos e Hordeês fazem muy gran seu dano deles de guisa, que quando eu e os Cavaleiros da inha terá e os Conselhos ouvesse mester para meu serviço, que menom poderiam servir [...] conta nosso defendimento. E porem mando e defendo que Hordeêns nem Creligos non comprem herdamentos e mando a vós, que o nom so frades que os comprem e quelles herdamentos que comprrom, ou fezerom comprar pera sy ataa aqui desque heu foy Rey doulhis prazo que os vendam [...]33.

D. Dinis proibia a compra de bens de raiz pelos eclesiásticos e determinava

que, no prazo de um ano, fossem vendidos os que tinham sido adquiridos há pouco tempo. Esse monarca deixava claro que iria, por meio da promulgação de leis, corrigir e disciplinar a prática comercial de compra e ainda de herança das propriedades. O rei desejava diminuir o património eclesiástico, pois sabia com clareza que esse poderia ser um dos mecanismos para regularizar melhor as relações sociais em seu reino.

Com efeito, novamente em 1291, mediante uma outra lei34, proibiu que as ordens religiosas herdassem bens deixados em testamento pelos fiéis:

Dom Denis pela graça de Deus rey de Portugal e do Algarve. A quantos esta carta vyrem faço a saber que na cidade de Coymbra XVII dias andados do mez de Março na era de mil CCC.ª XXIXª anos o Infante dom Afonso meu hyrmaao e dom Nuno Gonçalviz e ricos homeens e filhos dalgo e outras gentes do meu reigno xi mi queyxarom dizendo que esses filhos dalgo e outras gentes som minguadas muyto e pobres e exerdados das possissões e das heranças de sas avoengas e nom podem viver en meu regno nem servir y mim tam bem nem tam onrradamente como servyrom os filhos dalgo e as outras gentes que forom ante eles os outros rex ante mim per razom que dizem que quando seus filhos e sas filhas entram nas ordiis e hy morrem professos que as hordiis veem aos beens e aas heranças per sucesson de seus padres e de sas madres e per esta razom das avoengas e das linhas decendem e analheasse por todo sempre. E pediranmi por mercee que eu sobre tal cousa onde se tanto perigo poderia seguyr que o regno nom averia liidimos defensores quando lhy mester fosse com mingua d´aver que eu posesse tal postura e tal ley qual se usa en muytas convem a saber que as ordiis a morte de seus professos nom veem aos beens nem aas heranças de seus professos quamdo morrem. E eu sobr´esta cousa com outorgamento de ricos homeens e doutrosmuytos homeens boons de mha terra avhudo conselho com dom Martinho35 meu alferez e co mha corte e com outros muyto

33 História florestal, aquícola e cinegética – Colectânea de documentos existentes no arquivo nacional da Torre do Tombo – Chancelarias reais – Volume I (1208-1483), Lisboa, 1980, pp. 109-110.

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Documento publicado por: Laura Oliva Correia LEMOS – Aspectos do reinado de D. Dinis segundo o Estudo de Alguns Documentos da sua Chancelaria. L. III F. 81 v. – 102 v. Coimbra, 1973.

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Consultar Biografias dos Oficiais do Desembargo Régio. In: Armando Luís de Carvalho HOMEM – O Desembargo Regio (1320-1433), Porto: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1990, biografia 193, p. 369.

homeens boons achey qye mi pediam cousa guysada sabendo por verdade que as ordiis avyam a mayor parte de meu regno. E prende consiirando prol de meus filhos dalgo e das outras mhas gentes que am a defender o reyno e consiirando aynda que o regno podesse seer melhor defeso e melhor amparado se pela ventuyra lhe acaessesse guerra de mouros e doutras gentes e consiirando que as ordiis de meu reyno som muy ricas e muyto avondadas assy an heradmentos e en possissões come en outros averes de guysa que podem muy bem servyr Deus Poren ponho e faço tal ley e tal costituçom en meu reyno pera todo sempre que se filhos dalgo ou outras gentes quer homeens quer molheres de meu reyno entrarem en ordiis que a morte <deles> as ordiis nom venham a sas successões quant´e nos herdamenos e nas possições nem nas possam vender nem dar nem alhêar nem en outra maneyra fazer deles cousa que se faça engaano per que os ajam as ordiis. Mays se alguuns destes alg~ua cousa quiserem dar por sa alma vendam o terço de seus herdamentos e possissões e as duas partes fiquem a seus hereos e vendam o terço a taaes pessões que nunca se possam tornar aas ordiis mays esses herdamentos e possissões fiquem sempre en taaes pessõas que non sejam frades nem freyres nem donas d´ordim e os que non ouverem hereeos liidimos ordinhem e façam dessses herdamentos e possições aquelo que por bem teverem en tal guysa e en tal maneyra que poys ono fiquem esses herdamentos aas ordiis. Por que mando a todolas justiças do meu reyno que façam esta mha ley e costiçom teer e comprir e aguardar. E mando e defendo que nenhum homem nem molher non seja ousado de viir contra esta mha ley e costitiçom ca aquel que o provasse faria eu contra ele assy como manda o dereyto que rey e senhor deve a fazer contra aquel que vem contra sa leu e sa constitiçom e seu mandado e contra onra e prol de comonydade de seu reyno. E mando a todolos tabeliões de meu reyno que cada huum registre esta mha carta em seus livros Dante em Coymbra XXI dia de Março. El rey mandou per sa corte. Lourenço Steveez a fez. Era M.º CCCª XXIX.ª

Esse documento foi expedido em face da solicitação de alguns nobres que haviam empobrecido porque seus parentes, ao invés de lhes deixarem herança, tinham preferido doar seus bens à Igreja, conforme assinalamos.

Nesta lei, o monarca demonstra que agiu em conformidade com os homens bons e muitos outros do reino e, lembra que esse facto não impediria que a Igreja continuasse a servir a Deus. Determina que ninguém devia agir contra a lei, que toda sua justiça fosse cumprida e, ainda, manda que os tabeliães a registassem em seus livros, pois sabia que precisava estabelecer um controlo sobre o património eclesiástico, como D. Afonso III tinha tentado fazer.

Dessa forma, ele conseguiria ter um apoio maior das outras Ordens do reino e, por conseguinte, teria um possível aumento do erário régio. Devemos ressaltar que, nesse reinado, as determinações para que se escrevessem as leis outorgadas

pelo monarca tornaram-se uma constante, semelhantemente, ao modo de proceder de seu pai e antecessor.

Na continuação do documento, afirma, entretanto, que permitiria aos herdeiros de clérigos que, se fosse do interesse deles, tinham o direito de vender o bem de raiz, desde que viessem a destinar 1/3 da importância obtida à Igreja, a fim de que seus ministros rezassem pela salvação de suas almas. No mesmo documento, D. Dinis ressalta que, com tal medida legal, a Igreja não seria prejudicada. No teor, lembra aos eclesiásticos que eles já possuíam um património muito extenso, graças ao qual não enfrentavam dificuldades económicas, ao contrário do que ocorria com muitos outros de seus súbditos.

Em 1292, outra lei proibia que os tabeliães emitissem escrituras de venda de propriedades feitas aos clérigos, e também que os fiéis, daí por diante, deixassem testamento em favor das congregações religiosas. Para que todos ficassem sabendo do teor dessa lei, ordenou, mais uma vez, que os tabeliães a registassem em seus Livros.

Nova lei, datada de 30 de julho de 1305, proibiu que os tabeliães passassem escritura de compra-e-venda de uma herdade, se dela não constassem os nomes do comprador e vendedor. Ameaçando-os com os castigos da lei, dava a entender que havia um acordo entre os tabeliães e os eclesiásticos, com o intuito de burlar todas as leis que vetavam a ampliação do património eclesiástico. Reza tal documento:

Tenho por bem e defendo E mando que nehuum tabaliam des aquy adiante nom seia ousado que faça carta de venda a nehuum homem nem molher de nen-hua posysan se ante nom jurar o comprador ou os conpradores sobre os santos auangelhos que as conpram pera sy bem e dereitamente. / E que non ha hi encoberta nehua nem conluyo nëhuum36.

Mas, tanto o Clero quanto a Nobreza continuaram a adquirir propriedades, incluindo as reguengas, desrespeitando a nova legislação. Esse facto levou D. Dinis, em 1311, a outorgar uma Carta de lei, reiterando as proibições anteriores, especialmente no tocante à aquisição das propriedades reguengas por parte das igrejas, dos fidalgos, dos clérigos e das congregações religiosas:

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Ordenações Del-Rei Dom Duarte – ed. Martim de ALBUQURQUE e Eduardo Borges NUNES. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, p. 204. Publicado também no Livro das Leis e Posturas. Lisboa: Faculdade de Direito, 1971, p.205.

[...] Johane Lourenço vogado en mha casa porque foy achado que alguuns tanben eigrejas como ordiins come filhos d’algo como clerigos conpravam nos meus regaengos que eu tragia muytos deles enalheados de guisa que mi non davamendo os meus direitos [...]37. Ainda, neste documento, pode-se constatar que os castigos imputados aos infractores eram bem duros:

non possam conprar nem gaanhar per nenhua manera nos meus regaengos mando que o que vender perca o preço que reçeber e o que conprar perca a herdade que conprou. E porque achei ainda que avya tenpo que El rey Don Afonsso meu padre deffendera com conselho da sa corte que as ditas pessõas nom comprassem nos seus regaengos tenho por ben e mando aque se for achado que alguas das sobreditas pessõas conprarom [...]38.

A preocupação do rei em não perder uma parcela do património régio, por menor que fosse, explica-se por dois factos: o primeiro é que, àquela época, a terra era fundamentalmente a base da economia do reino, bem como do próprio poder político, até mesmo aquele possuído pelo monarca; o segundo porque, tendo a propriedade e a posse, D. Dinis poderia vir a aforá-la e, com tal procedimento, obter mais recursos monetários para aplicar noutros negócios de interesse da monarquia.

Para mais, se, por um lado, o Clero pudesse continuar a adquirir terras, iria continuar alegando a imunidade fiscal de que gozava para não pagar impostos e taxas sobre elas, de modo que o círculo vicioso permaneceria. Por outro lado, os leigos, ao comprarem ou arrendarem uma propriedade reguenga, jamais poderiam avocar para si aquele direito, porque nunca o tinham possuído. Assim, era uma forma de romper com os empecilhos ao ingresso de mais recursos no erário régio.

Convém salientar que D. Dinis já havia feito vários acordos com a Igreja, mas, pelo visto, necessitou continuar a editar leis de reforço aos acordos estabelecidos com ela. Dentre tais acordos, sobrelevam-se as concordatas feitas com os clérigos. Esses acordos serão comentados no decorrer deste trabalho.

A recuperação posterior de terras reguengas foi uma estratégia utilizada pelos monarcas para aumentar seu poder, tema que será aprofundado em capítulo subseqüente.

O pensamento do monarca era que a justiça régia estava acima das demais e

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Chancelaria de D. Dinis, Livro III, fls. 76-76v, Doc. 1. Publicado por Maria Rosa Ferreira MARREIROS - A administração Pública em Portugal no Reinado de D. Dinis Através do Estudo de Alguns Documentos da sua Chancelaria. Dissertação de Licenciatura em História policopiada, 1973, p. 148.

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deveria regulamentar todas as questões do reino. Citamos, como exemplo, uma querela entre D. Dinis e o Bispo do Porto - como contenda fosse perdante mim antre

o onrrado Don Fernando bispo do Porto e Gonçalo Pereira dayam por si e polo

cabidoo -. Após reclamação do Concelho, de que o bispo e o cabido lhe

embargavam as apelações para el-rei, D. Dinis outorgou uma Carta de Sentença, em que se posta como o rei-juiz nas questões jurídicas entre a Igreja e o Concelho.

[...] pedirom a mim que eu de dereito lhos alçasse os ditos

enbargos e torvas e que deffendesse que daqui adeante lhos non fezessem e que outrossi os fezessem seer entregues das outras cousas de suso ditas de que diziam que estavam forçados 39.

O monarca afirma que está intervindo por causa de uma solicitação do Concelho do Porto, que havia feito reclamações contra o bispo e o cabido, que embargavam questões de interesse colectivo, construindo seu discurso a partir da “fala” da parte interessada. Assim, relata que o Concelho e seus procuradores alegavam que o bispo com o cabido e seus oficiais, embargavam as apelações que os primeiros faziam, solicitando a intervenção régia em acções que perdiam. Contavam que recorriam em última instância à justiça régia, mas não eram atendidos em suas solicitações. As questões levantadas pelo Concelho demonstravam até onde ia a interferência dos clérigos em acordo com funcionários régios para burlarem o direito do Concelho e, ainda, o direito do monarca ao corrigir os abusos cometidos. Era estratégico para o monarca ver-se e atuar como o árbitro entre as Ordens do reino, daí ser importante ele poder intervir nessas questões que envolviam diferentes esferas do poder no reino.

Igualmente sensível à maior eficiência à aplicação da justiça pública, D. Dinis decretou várias outras leis, nas quais regulamentava:

- acerca da tramitação do processo;

- da obrigatoriedade de proclamar as sentenças por escrito, não importando a instância em que fossem proferidas;

- da possibilidade de recorrer das sentenças em grau de apelação na Corte, até a última instância;

- do valor dos emolumentos e honorários dos escrivães, tabeliães,

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Publicado por Laura Oliva Correia Lemos – Aspectos do reinado de D. Dinis segundo o estudo de alguns documentos da sua chancelaria. L III F. 81v. – 102v. – Dissertação de licenciatura em História apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1973.

procuradores, advogados, juízes e demais funcionários subalternos, relativos ao serviço que prestavam.

- das condições requeridas para a apelação à sua pessoa.

Constata-se que D. Dinis preocupou-se, sempre, em pautar sua acção por instrumentos jurídicos. Dentre estes, além das leis outorgadas, se encontram os forais.

O conjunto de forais outorgados por D. Dinis para o reino, praticamente desde o início do seu reinado, demonstra que ele, seguindo o exemplo político de seu pai, Afonso III, julgava este procedimento legal, como um dos meios mais adequados para que viesse a atingir seus objectivos económicos, sociais, estratégicos e políticos de fortalecimento do poder monárquico.

Ao outorgar as Cartas de Foral, o rei confirmava Concelhos antigos ou estabelecia novos, com suas vilas e os respectivos termos. Tal outorga assegurava uma autonomia política para o local, em face dos poderes feudais, subordinando-os, juridicamente, a si próprio e passando a auferir preciosos dividendos fiscais, em troca da concessão de alguns direitos a seus habitantes. Mediante a concessão destes direitos, estreitava os laços que os uniam aos súbditos e que podiam valer- lhe em caso de necessidade. Por outro lado, restringia os poderes senhoriais e económicos que o Clero e a Nobreza exerciam sobre um bom número de habitantes do reino.

Mediante esses procedimentos legais, é possível afirmar que D. Dinis alcançou plenamente seu intento, sobretudo após ter firmado algumas Concordatas com o Clero, as quais vieram a contribuir para melhorar as relações tensas entre a Igreja e a Monarquia. Com esses acordos, procurava-se delimitar os campos de intervenção régia e clerical, o que não impedia a continuação do choque entre os bispos portugueses e as Cortes, embora lhe diminuíssem o impacto inicial40.

Ainda no tocante aos conflitos que este monarca enfrentou, destacam-se os problemas que teve com o Infante Afonso. Vejamos, rapidamente, como se deu esse conflito.

Segundo a historiografia, as desavenças entre D. Dinis e seu filho primogénito enfeixam as seguintes explicações. Uma delas consistiu no fato de que o Infante,

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José ANTUNES et alii – Conflitos Políticos no Reino de Portugal entre a Reconquista e a Expansão. Estado da Questão, Revista de História das Ideias, Vol. 6. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1984, p. 116.

homem feito, já desejava o trono, considerando seu pai idoso para governar, embora não tivesse coragem de se indispor com ele. Outra relaciona-se com a antipatia que o Infante nutria contra seu meio irmão, Afonso Sanches, de quem D. Dinis não escondia gostar bastante, talvez, pelo fato de o príncipe bastardo, assim como o pai, ser igualmente um trovador e intelectual, e o Infante recear que viesse a ser