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A sociedade portuguesa de então estava organizada em três Ordens: clero, nobreza e povo. Essas Ordens, dependendo dos interesses em disputa, aliavam-se, algumas vezes, contra ou favor do monarca, contra alguma outra Ordem. Cada Ordem tinha seu lugar e sua função social. Assim, no topo da hierarquia social estavam os religiosos - oratores, isto é, aqueles homens que eram os intermediários entre o Céu e a Terra, os que faziam chegar as orações do povo de Cristo a Deus e os únicos aptos a interpretar a palavra de Deus iluminando o mundo dos crentes. Abaixo do Clero estava a Nobreza - bellatores, que receberam de Deus a função, a missão de defender os outros Ordines. Na posição mais humilde na hierarquia social, estavam os trabalhadores - laboratores, destinados a trabalhar para o bem comum29.

O Clero, por sua vez, subdividia-se em dois grupos: o secular, que compreendia os bispos e dignitários subalternos, os párocos, os integrantes das colegiadas30, e o regular, constituído pelos membros das ordens religiosas que

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Georges DUBY – As conquistas Camponesas. In: Guerreiros e Camponeses. Os primórdios do crescimento econômico europeu. Séc. VII-VII. Lisboa: Imprensa Universitária, 1980, pp. 181-184. 30

viviam sob uma regula ou Regra, tais como os beneditinos, os cistercienses, cónegos regrantes de Santo Agostinho, os franciscanos. Cada uma possuía, no entanto, suas características:

Mesmo que não diferisse pela regra, individualizava-se pele organização interna, pelo hábito e pelo modo de viver dos seus filiados. Além disto, contava ainda com a fama dos seus patronos, dos seus fundadores, dos seus santos, das suas relíquias, etc. Dispunha assim de um vasto arsenal de meios de propaganda, de combate e de recrutamento, de que servia-se, muitas vezes com poucos escrúpulos. A rivalidade entre ordens religiosas era conhecida e pouco escondida. Quase à maneira de partidos políticos, cada ordem aspirava às preferências da corte dos poderosos equilibrando-se com outras ou predominando de acordo com a conjuntura31.

Ainda nesse contexto, havia as ordens militares, a saber, Ordem dos Hospitalários, Ordem Militar da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, criada no lugar da Ordem do Templo ou dos Templários pelo Rei D. Dinis, ou simplesmente Ordem de Cristo e a Ordem de São Tiago32. Essas Ordens possuíam sua própria organização administrativa, e cada uma detinha um número de comendas, que subdivida-se em priorados e outros cargos.

A homogeneidade e coesão do clero revelavam-se muito mais do ponto de vista religioso e intelectual do que social ou económico. Para essa coesão, contribuíram, indubitavelmente, o Direito Canónico, a rígida hierarquia eclesiástica e a própria concepção que se tinha acerca do poder espiritual, cuja raiz era diferente da do poder civil33, conforme tratámos no capítulo precedente.

Em princípio, todos os súbditos do rei, independentemente de seu status social, poderiam vir a ser um clérigo, desde que sentissem vontade para isso ou que tivessem sido escolhidos por uma diocese ou uma ordem religiosa. Se, entretanto, estivessem vinculados à terceira Ordem, ou seja, ao povo miúdo, não ocupariam grandes cargos na hierarquia, por exemplo, das Ordens militares, nas quais, em geral, quem ocupava os principais cargos administrativos eram pessoas

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A. H. de Oliveria MARQUES – Nova História de Portugal. Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV. Lisboa: Presença, 1987, pp. 384.

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Cf. Álvaro da Veiga COIMBRA - Ordens Militares de Cavalaria de Portugal. In: Revista de História. v. XXVI, S. Paulo, USP, 53 (1963), pp. 21 - 33. Ver também: Maria Cristina Gomes PIMENTA – As Ordens de Avis e de Santiago na Baixa Idade Média: O Governo de D. Jorge. In: Militarium Ordenum Analecta. Direção: Luís Adão da Fonseca. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 2001.

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pertencentes à alta nobreza ou ligadas à família régia, e isso se cristalizou durante o século XIV.

Os clérigos mendicantes, viviam humildemente, em virtude de seus valores religiosos e de possuírem bens em comum. A função social dos clérigos estava voltada, em particular, para a caridade, razão pela qual fundavam hospitais, orfanatos, asilos. No final do século XIV, todavia, o clero regular aumentou em muito suas rendas: por causa do medo que a Peste Negra34 despertou na sociedade, várias pessoas faziam dessas Ordens seus herdeiros.

A grande mortandade causada pela peste e pelas guerras diminuiu, no entanto, a renda fixa da Igreja. Essa renda provinha dos dízimos, das taxas cobradas pelas cerimónias realizadas pelos eclesiásticos – baptismos, casamentos, funerais. Todos tinham obrigação de contribuir com o dízimo para a Igreja. O dízimo arrecadado era dividido entre a cúria papal, o clero secular e o regular, porém, como essa divisão não era totalmente igual, surgiu um pequeno grupo de religiosos que possuía riqueza e, portanto, poder.

O reino estava dividido em várias dioceses: Porto, Coimbra, Viseu, Lamego, Guarda, Lisboa, Évora e Silves no Algarve. Essas dioceses, por sua vez, estavam subdivididas em paróquias ou freguesias, que ficavam sob a responsabilidade administrativa dum pároco ou vigário.

O segundo Ordo era a Nobreza, a qual também estava subdividida. Havia a alta nobreza – composta pelos ricos-homens, que representavam apenas 10% do total35 e controlavam os principais cargos administrativos do reino, junto com alguns homens do Clero e possuíam as melhores terras e vários outros rendimentos. A média nobreza, por sua vez, era composta pelos infanções36, que eram nobres não investidos com os poderes civil ou militar37.

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Armindo de SOUSA – Condicionamentos Básicos, In: José MATTOSO (Coord) – História de Portugal. A monarquia Feudal. Lisboa: Editorial Estampa, 1993, 341. Conforme disse atrás, a peste chegou ao reino em 1348, no Outono. Não se sabe bem onde começou nem os caminhos que trouxe. Mas sabe-se que antes de Janeiro de 1349 havia atingido e feito devastações no território inteiro. Em Lisboa, Coimbra, Braga, enfim, por todo o lado, os efeitos foram devastadores.

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A. H. de Oliveira MARQUES e Joel SERRÃO - Portugal da Crise dos Séculos XIV e XV. Nova História de Portugal. Lisboa: Editora Presença, 1987, p. 242. Ver também Henrique da Gama BARROS - História da Administração Pública em Portugal Séculos XII a XIV. v. II. Lisboa: Livraria Sá da Costa, p. 349.

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Infanção - Diminutivo de infante, vindo depois de rico-homem e antes de cavaleiro, como grau segundo da nobreza, não recebendo do rei diretamente algum benefício. Os infanções constituíram durante muito tempo o chamado grosso da nobreza, até que a partir do século XIV, se foi submergindo na classe de cavaleiros. Residiam sobretudo no campo e até na cidade, e

Podemos ainda dividir a Nobreza em dois grandes grupos, Nobreza de Corte

e Nobreza Regional. O primeiro grupo englobava várias famílias que mantinham

ligações com os meios cortesãos e que possuíam grande património. O segundo grupo era mais restrito política e economicamente. Encontramos como membros da

Nobreza de Corte famílias que, nos séculos XII e XIII, ocuparam os principais cargos

na administração do reino e que compunham também a alta Nobreza. Quanto à

Nobreza Regional, que podia ser subdividida ainda em uma Nobreza média regional

e uma Nobreza Inferior, notamo-la por meio de seu património e das suas alianças matrimoniais. Faziam parte da Nobreza de Corte a família real, e as famílias Souza, Chacim, que mantinham ligações com as famílias Baiã, Barbosa, Riba de Vizela, Briteiros, Azevedo Velho, Barreto, Ribeiro Cunha, Correia.

A Nobreza Regional era constituída pelas famílias Resende, Cerveira, Paiva, Taveira, Fonseca e Al Coforado, e mantinham relações com as famílias Barroso, Teixeira, Penela, Moela, Canelas, Bravo, Bastos, Vides, Pios, Alvelo, Carvalhois, Sande, Bezerra38.

Havia, ainda, os cavaleiros, que formavam a baixa ou pequena nobreza. O cavaleiro podia ser vassalo de um rico-homem, mas devia possuir algum patrimônio (terra, gado, bens móveis). Durante o século XIII e primeira metade do seguinte, o cavaleiro e o infanção não poderiam opor-se um ao outro, pois havia os infanções pobres, que eram também cavaleiros, mas um cavaleiro jamais poderia vir a ser um infanção, quer dizer, nobre de nascimento39. Existiu, também, a figura do escudeiro, ou portador do escudo, o qual pertencia à baixa nobreza40. O que determinou seu surto foi o empobrecimento de parte da nobreza.

A terceira Ordem era composta pelo povo. Não era homogénea, pois dela faziam parte, em primeiro lugar, os camponeses, que eram a maioria, os burgueses, os letrados, os tabeliães, os advogados, os boticários, os mesteirais – tecelões, tintureiros, alfaiates, sapateiros, oleiros, etc. -, médios e pequenos comerciantes, aristocratas do dinheiro – mercadores, armadores -, os funcionários, os representavam uma aristocracia poderosa, chegando a desempenhar cargos influentes. Cfr. Joel SERRÃO - Pequeno Dicionário de História de Portugal. Porto: Figueirinhas, 1993, p. 353.

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Henrique da Gama BARROS - História da Administração Pública em Portugal. Séculos XII a XIV. V. II. Lisboa: Livraria Sá da Costa, p. 359.

38

Cf. José Augusto de Sotto Mayor PIZARRO - Estratégias. In: Linhagens Medievais Portuguesas. Genealogias e Estratégias (1279-1325). V. I-II-III. Porto, 1998, pp. 1139-1167.

39

José MATTOSO - Identificação de um país. Ensaio sobre as origens de Portugal. 1096-1325. Lisboa: Editorial Estampa 1933, p. 136.

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Joaquim Veríssimo SERRÃO - História de Portugal. Estado, Pátria e Nação. (1080-1415). Povoa de Varzim, 1990, p. 180.

assoldadados, os cavaleiros-vilãos, os peões, besteiros, os herdadores, os almocreves e almotacés, entre outros. Além da atípica situação dos judeus, mouros e moçárabes.

Devemos ressaltar o papel e a relevância social de alguns desses grupos. Iniciemos pelos cavaleiros-vilãos, que foram de grande importância no processo de reconquista, nos séculos XII e XIII, e em momentos de crise política entre o rei, o clero e a nobreza. O carácter militar desse grupo o fez distinto dos demais, visto haver se tornado verdadeira aristocracia municipal, graças à sua função guerreira. Esses cavaleiros-vilãos possuíam várias responsabilidades, principalmente tarefas militares. Ademais, obtiveram dos monarcas isenção de pagamentos de jugada, não estavam obrigados a dar pousada e estavam isentos de pagar impostos41. Isso lhes conferiu lugar de destaque na sociedade portuguesa da época. Inicialmente, imitaram o comportamento social dos infanções e passaram a exigir os mesmos privilégios destes. Com o tempo, perceberam que sua superioridade advinha do fato de serem proprietários de terras e possuírem instrumentos de lavoura, gado e bens móveis. Esse acúmulo económico possibilitava-lhes possuir um cavalo e sustentá- lo42. Em razão disso, viam-se e, de facto, estavam próximos da média Nobreza.

No interior, os cavaleiros-vilãos perderam sua individualidade como grupo, em favor da comunidade. O que importava era a comunidade local e não, necessariamente, determinado grupo social43.

Os peões, grupo social que praticamente foi o sustentáculo da aristocracia vilã, pois eram eles que trabalhavam e que pagavam impostos, acompanhavam os cavaleiros em combate, andando a pé, pois não tinham condições económicas de comprar um cavalo. Ainda competia a esse subgrupo social o trabalho braçal nas

obras de muralhas e fortificações de calçadas, pontes e fortes [que] era por eles assegurado, bem como os demais serviços de transportar e guardar os presos ou escoltar os dinheiros44.

Convém ressaltar que a maioria dos camponeses não cultivava sua própria terra. Pagavam rendas ao senhor, além de vários tributos feudais. Com o tempo, embora uma boa parte desses trabalhadores recebesse seus pagamentos a partir do que produziam em terras de outrem, o pagamento passou a ser feito em dinheiro,

41

José MATTOSO - Op. cit, p. 351. 42

Maria Helena da Cruz COELHO e A. L. de Carvalho HOMEM - Op. cit., p. 254. 43

Idem, p. 356. 44

semelhantemente aos trabalhadores das cidades e vilas. Daí receberem o soldo conforme o combinado, ou, ainda de acordo com a jornada de trabalho.

O grupo dos besteiros compunha também a terceira Ordem, cujos integrantes dominavam a técnica do uso da besta45. Os Concelhos eram responsáveis em fornecer ao exército real esses homens especializados na arte da guerra46. Recrutados entre os peões, possuíam um estatuto especial: nunca chegariam a integrar o grupo dos cavaleiros-vilãos47. Com o crescimento de sua importância, chegaram, todavia, a substituir os cavaleiros que serviam a determinados alcaides. Com o incremento da recirculação monetária, eles passaram a ser pagos em dinheiro e pode-se considerá-los como soldados, com um mínimo de profissionalização.

O grupo dos herdadores, consoante o Prof. José Mattoso, eram “os homens que não são de alguém, que não dependem de nenhum senhor, são do Rei, têm de lhe obedecer”48. A professora Maria Helena da Cruz Coelho identifica-os

com os forarii, ou seja, como aqueles indivíduos a quem os monarcas concederam terras para o povoamento, defesa e cultivo, com todos os direitos que nelas tinham (propriedade e usufruto), mediante o foro de cavalaria, julgada e de montaria, ou a satisfação à Coroa de outros encargos de natureza pública e senhorial49. Quanto aos numerosos integrantes dos mesteirais, podemos considerá-los homens que possuíam determinado conhecimento técnico, uma profissão. Esse conhecimento era usado para atender às necessidades dos moradores dos campos, vilas e cidades. Na produção do vestuário, destacavam-se os tecelões, tintureiros e alfaiates:

Assim, existiam: na indústria de confecções, alfaiates em geral, alfaiates de pano de cor, alfaiates de pano de linho, alfaiates de pano de burel, botoadores, calceteiros (fabricantes de calças), gibeteiros ou jubeteiros (fabricantes de gibões), ataqueiros (fabricantes de atacas) safoeiros, sombreireiros, etc. na sapataria, sapateiros em geral. sapateiros da correia, sapateiros da linha, sapateiros da polaina, chapineiros, borzeguieiros, soqueiros e outros; na

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Arma portátil que consiste de um arco de madeira, chifre ou aço, montado em uma coronha, cujas extremidades estão ligadas por uma corda que se retesa por meio de mola e que ao ser solta, arremessa setas curtas, pelouros etc. In: Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2001.

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Idem, p. 167. 47

José MATTOSO - Op. cit., p. 360. 48 Idem, p. 236.

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tecelagem, tecelões em geral, tecelões do linho, tecelões da seda, tecedeiras, penteadores de lã, tasquinhadeiras, sirgueiros fabricantes de seda, cardadores, tosadores, feltreiros, etc50.

Devemos mencionar também os ferreiros, os barbeiros, os cesteiros, os cutileiros, os sapateiros51. No sector da construção urbana, sobressaíam os pedreiros, os carpinteiros, e serradores; na produção de calçados e curtumes, encontrávamos os sapateiros, os peliteiros.

Os mesteirais mantinham relações sociais com todas as outras Ordens e com os integrantes daquela a que pertenciam, ou seja, viviam numa teia de relações muito variada.

Os médios e pequenos comerciantes, outro grupo da terceira Ordem, estabeleceram um contacto maior com os mesteirais, pois eram eles que compravam grande parte da produção desses profissionais. Esses homens e mulheres52 podiam vender seus produtos em lugares fixos ou caminhando pelos lugarejos, vilas e cidades.

Apesar de atenderem aos habitantes do campo e das vilas, foi nos centros urbanos que atuaram mais intensamente, em locais próprios ou alugados:

Eram alguns destes homens, no geral, proprietários das oficinas - tendas em que trabalhavam ainda que também pudessem arrendar casas para aí desempenharem a sua profissão. Tinham, além disso, de possuir os instrumentos para o desempenho do seu labor, desde os de maior vulto, como forjas, fornos ou teares, até aos mais ligeiros, como martelos, serras, cinzéis, etc. Acresce ainda que deviam fruir de capital para adquirir a matéria-prima para o seu labor - ferro, madeira, peles, pano, etc. - e o imprescindível combustível (lenhas) para activar muitos deles , além de disponibilidade para recrutar mão - de - obra, fosse a mais barata de mouros e moçarabes, ou de alguns outros assalariados53.

Havia ainda a aristocracia do dinheiro constituída pelos armadores e grandes comercantes: – um escasso número de homens das nossas mais importantes

cidades e portos litorâneos, […]. Mormente os do Porto, Coimbra, Lisboa, Santarém

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Documentos Históricos da Cidade de Évora, I, p/137-142. Apud. A. H. de Oliveira MARQUES e Joel SERRÃO - Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV. Volume IV. Lisboa: Editorial Presença, 1987, p. 121.

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José MATTOSO - Op. cit., p. 365. 52

“A mulher, ao lado do homem , monta, colhe , cuida dos animais, mas não lavra. Ao lado do homem, no quadro urbano, aprende e desempenha deversos mesteres, detém a maior parte do comércio a retalho de produtos alimentares, mas não é, por via de regra, membro de pleno direito nas corporações, não se lança no grande comércio, não desempenha profissões letradas, não freqüenta as Universidades. Maria Helena da Cruz COELHO - Homens, Espaços e Poderes. Séculos XI - XVI. Notas do viver social. Lisboa: Livros Horizonte, 1990, pp. 37 a 59.

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e de algumas cidades algarvias”54. Os primeiros proprietários de frotas mercantes negociavam com artigos têxteis, mas também comercializavam produtos importados e ainda exportavam vinho e azeite.

Ocupando quase a última posição no interior desta Ordem, encontravam-se os assoldadados (assalariados), homens livres que vendiam sua força de trabalho para sobreviverem. Eles não tinham nem um senhor nem tampuco uma actividade fixa ou certa, trabalhando, geralmente, em terras senhoriais ou vilãs e/ou onde houvesse ocupação:

Viveram estes homens nas dependências dos seus patrões, quando estavam nas suas terras por tempo mais prolongado. Habitavam outros em morada própria, sempre de inferior qualidade, pois se um camponês tinha uma casa, este possuía só uma cabana e daí a sua designação de Cabaneiro. Como o seu instrumento de trabalho era, por excelência, a enxada com que cavava, também dela podia colher nome, o de cavão55.

À margem dessa organização sócio-religiosa, ainda havia os judeus, que viviam das actividades que desempenhavam e habitavam nas judiarias, que estavam agregadas a núcleos urbanos56. Havia distinções entre eles, baseadas na riqueza e na linhagem. Ocupavam o primeiro lugar os ricos mercadores e os arrendatários de

rendas públicas, os físicos, cirurgiões e astrólogos mais conceituados e outros que serviam a família real (Rabinos), e os grandes senhores57.

Abaixo daqueles vinham os pequenos e médios mercadores, os mesteirais e ainda pequenos e médios proprietários de terras. Durante a Idade Média Tardia, os judeus desempenharam as mais importantes actividades económicas nas vilas e cidades58.

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Idem, p. 288. 55

Idem, p. 276. e CF. José MATTOSO - Op. cit. pp. 259/260. 56

Maria Helena da Cruz COELHO e A. L. Carvalho HOMEM - Op. cit., p. 347. 57

A. H. de Oliveira MARQUES - Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV. Volume IV. Lisboa. 1987, p. 277.

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