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ANTÓNIO NUNES RIBEIRO SANCHES

4.5. ACADEMIAS, JARDINS E GABINETES: ESPAÇOS DE PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E NORMATIVA

CIENTÍFICA

A partir de meados do século XVIII, também é possível notar uma progressiva preocupação em se criar, nos espaços coloniais, associações que pudessem abrigar os intelectuais residentes na colónia, e assim servirem como centros de estudo, e con‑ tribuírem para um melhor controle dos trabalhos que estavam sendo realizados em território colonial. Este foi o caso das academias científicas, que começaram a surgir desde o início do século, como a Academia Brasílica dos Esquecidos (1724‑1725) e a Academia dos Felizes (1736‑1740), ambas formadas com a intervenção e apoio de D. João V446. Apesar de as universidades, enquanto centros de formação, estarem

todas na Europa, havia instituições na colónia que formavam técnicos, principalmente militares, e que serviam de centros aglutinadores para aqueles que estavam fazendo trabalhos científicos espalhados pelo território colonial.

No final do século XVIII, sentiu‑se a necessidade de formar, na cidade do Rio de Janeiro uma academia científica que pudesse ser utilizada pelos intelectuais das mais variadas áreas que viviam e trabalhavam no Brasil. Como a extensão territorial era demasiado grande, e o número de viajantes a serviço da Coroa que produziam trabalhos sobre Filosofia Natural dos variados territórios necessitavam de uma certa organização antes do envio do material para Lisboa, criou‑se, em 1772, a Academia

Científica do Rio de Janeiro447, com o apoio do Marquês de Lavradio448 e o aval da

Coroa portuguesa449. A importância desta Academia foi lembrada por alguns dos

agentes daquele período, por exemplo Baltasar da Silva Lisboa, em um texto de 1786 — Discurso Historico, Politico e Economico dos Progressos, e estado actual da Filozofia

Natural Portugueza, acompanhado de algumas reflexoens sobre o Estado do Brazil, onde

o autor disse que foi a partir do trabalho empreendido naquele espaço (de recepção e produção de conhecimento científico) que algumas das potencialidades naturais da colónia começaram a ser divulgadas, não apenas dentro dos limites do Império, mas também fora dele450.

A Academia Científica do Rio de Janeiro foi idealizada pelo vice‑rei, visando o desenvolvimento de novas culturas para a América portuguesa, reunindo estudiosos, cientistas e pesquisadores de diversas áreas451. Este espaço serviria para que os espe‑

cialistas pudessem reunir para discussões sobre as suas pesquisas, e para encontrar soluções que pudessem fomentar os estudos sobre as potencialidades naturais da colónia, principalmente a agricultura, de um modo mais uniforme.

Um outro ponto fundamental no funcionamento das academias era a sua utili‑ zação pelos sócios como um espaço onde pudessem organizar os materiais de estudo coligidos para depois os remeter para Portugal. Os sócios desta Academia Científica do Rio de Janeiro produziam memórias sobre os mais variados assuntos, e os seus trabalhos circulavam não somente entre os sócios fixados na colónia, mas também os apresentados em outros espaços. Entretanto, a Academia foi fechada em 1779, pois a Coroa acusou alguns de seus membros de subversão452.

Mais de uma década depois da criação da Academia Científica do Rio de Janeiro, outros espaços foram formados — como a Casa de História Natural, em 1784. Esta Casa foi pensada por Luís de Vasconcelos e Sousa453, criada na cidade do Rio de

Janeiro, e serviu de espaço de apoio para as atividades de coleta de espécies zoológicas e botânicas454. Já a Sociedade Literária do Rio de Janeiro foi por sua vez criada em

1786, e constituiu‑se como um centro de estudos em História Natural, cujo foco seria a pragmatização e utilização imediata dos produtos naturais que eram coletados na

447 Também chamada de Sociedade de História Natural do Rio de Janeiro; Academia de Ciências e História Natural;

Academia Fluviense Médica, Cirúrgica, Botânica, Farmacêutica. Os fundadores atuavam, em grande parte, como médicos (PATACA, 2006: 262).

448 O Marquês de Lavradio foi vice‑rei entre 1769‑1778. Foi um grande fomentador, e implementou diversas medidas

para a pesquisa e desenvolvimento da agricultura no Rio de Janeiro, dando destaque para o anil e a cochonilha (PATACA, 2006).

449 PATACA, 2006: 262‑268. 450 LISBOA, 1786: 39‑40. 451 PATACA, 2006: 255. 452 PATACA, 2006: 262‑268.

453 Luís de Vasconcelos e Sousa, 4.º conde de Figueiró (Portugal, 1 de novembro de 1742 — Rio de Janeiro, 24 de

março de 1809).

colónia455. Como se pode observar, a produção de conhecimento sobre o Brasil, na

segunda metade do século XVIII, não ficou restrita às academias europeias, mesmo que estes centros não se tenham mantido ativos por muito tempo. De todo modo, estas associações eram disseminadoras de conhecimento, fosse este produzido na colónia ou vindo da Metrópole, promovendo, desta forma, uma significativa circu‑ lação de conhecimento filosófico‑natural entre a Europa e o Brasil.

Muitos intelectuais discutiram a importância de se implementar, em território colonial, tais academias científicas. António Nunes Ribeiro Sanches, por exemplo, na carta enviada ao sobrinho — José Henriques Ferreira — falou sobre a formação da Academia Científica do Rio de Janeiro, e credibilizou a iniciativa do sobrinho em participar ativamente na implementação deste centro de produção de saberes:

O haver se formado essa academia por insinuação de VMce e estabelecer-se pela inteligente proteção do Exmo. Senhor Marquês do Lavradio; acho da maior consequência da utilidade do Comercio do Reino; se em Lisboa quiserem entrar no gênio das nações que pensam na sua conservação; e aumento do que até agora estamos muito atrasados456.

Desde que Ribeiro Sanches escreveu os Apontamentos de 1763, muitas políticas foram implementadas neste sentido. A formação da Academia no Rio de Janeiro foi apenas uma delas. No entanto, para além das questões científicas que envolviam a formação e manutenção destes centros de pesquisa e ensino em território colonial, não podemos deixar de notar a intenção da Coroa por trás da formação desses espaços. É evidente que o incentivo à pesquisa era primordial, mas as reuniões de intelectuais em território colonial deveriam ser feitas em espaços coordenados e dominados pelo poder régio, para que assim a Coroa pudesse ter um maior controle das ações des‑ tes intelectuais. As articulações de poder, em suas formas típicas do Antigo Regime, também podem ser verificadas nestas iniciativas de incentivo à ciência, sendo de notar a preocupação de se manter uma ligação, e um controle, das suas atividades, por outras instituições congêneres existentes ou criadas na Metrópole.

O historiador Rómulo de Carvalho tratou desta questão, utilizando como exem‑ plo a formação do Jardim Botânico na Metrópole. Ele usou trechos de uma carta de Pombal onde o Marquês recusou e criticou o plano para a construção do jardim botâ‑ nico da Universidade de Coimbra. Os motivos da desaprovação de Pombal, segundo Rómulo de Carvalho, estavam baseados em questões econômicas, pois os custos totais excediam as expectativas do ministro457. O Jardim Botânico, devido a estas restrições,

455 KURY & MUNTEAL FILHO, 1995: 105‑122. 456 FERREIRA, [s.d].

acabou sendo formado com um espaço menor do que o esperado, e com um número reduzido de espécies. É de fato relevante notarmos como as questões políticas sempre estiveram entranhadas no desenvolvimento da ciência, e não foi exclusivo do caso português. Através da obra de Kapil Raj458, que analisou em seus estudos o caso das

possessões britânicas e francesas na Índia, é possível compreender estes processos como sendo intrínsecos das comunidades científicas. Os estudos de Kapil Raj podem ainda servir para se compreender as diferenças entre tais comunidades, sem que isso represente, necessariamente, comparações baseadas em parâmetros qualitativos.

Um outro exemplo importante, nesta conjuntura, é o do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, que teve o início de sua história quando D. José I, após o terre‑ moto de 1755, se mudou para a Ajuda. Alguns anos depois, em 1768, transformou‑ ‑se em Real Jardim Botânico, cuja organização foi delegada a Domingos Vandelli, que transpôs para Lisboa parte do acervo do jardim botânico da sua cidade natal, Padova. Domingos Vandelli não iniciou os trabalhos no Jardim da Ajuda sozinho, tendo contado com Júlio Mattiazi (?‑1794), o primeiro jardineiro de Horto Botânico de Padova, de 1768 a 1794459. A partir dos trabalhos neste espaço, Vandelli coordenou

os naturalistas formados na Universidade de Coimbra. O Jardim da Ajuda foi um importante espaço para a recepção dos trabalhos que eram feitos em Portugal e nas colónias, e também um importante centro de difusão das instruções de recolha de dados para os agentes que estavam conectados com a produção filosófica‑natural460.

Em relação a estes espaços, o maior e mais importante foi, sem dúvida, a Acade‑ mia das Ciências de Lisboa, que concentrava o maior envolvimento do Estado, e um grande número de sócios. Foi criada em 1779, como um projeto pensado e elaborado por D. João Carlos de Bragança de Sousa Ligne Tavares Mascarenhas da Silva (1719‑ ‑1806) — 2.º Duque de Lafões e José Francisco Correia da Serra (1750‑1823) — o Abade Correia da Serra. No seu núcleo inicial, ainda se destacam as figuras de Luís António Furtado do Rio de Mendonça e Faro — 6.º Visconde de Barbacena (1754‑1830), e de Domingos Vandelli (1735‑1816). Tida como exemplo para o período, desde a sua fundação, a Academia das Ciências de Lisboa teve papel fundamental neste processo de fomento às pesquisas científicas nas colónias, através do apoio do Observatório Astronómico, do Gabinete de História Natural, do Gabinete de Física, e do Labora‑ tório de Química, que eram ligados à Universidade de Coimbra. Além disso, a Aca‑ demia distribuía prêmios aos trabalhos que apresentavam propostas para resolução de problemas, como por exemplo, a deficiente utilização de recursos naturais, tanto em Portugal, quanto nas colónias. Também promoviam a publicação dos trabalhos produzidos nas colónias, e sobre as colónias, nas Memorias da Academia: Memorias

458 RAJ, 2010; RAJ, 2013. 459 PATACA, 2006; DEAN, 2013. 460 PATACA, 2006.

de Agricultura (1788‑1791), nas Memorias Economicas (1789‑1815), e nas Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa (1797‑1856)461.

A partir destas políticas de base, os seus membros produziram trabalhos que de alguma forma circularam e auxiliaram os agentes a realizar os estudos filosófico‑na‑ turais nos espaços coloniais, e fora deles. Por ser a mais importante fundação para o período, pois angariava a maior parte dos recursos e a atenção do Estado, e aglomerava a maior parte dos intelectuais, a Academia das Ciências de Lisboa e os indivíduos ligados a ela, acabaram por se destacar no cenário de produção de conhecimento sobre a natureza dos espaços coloniais. Muitos foram os trabalhos produzidos pelos seus sócios correspondentes, mas foi igualmente numeroso o número de trabalhos produzidos e encaminhados para a instituição, no intuito de se conseguir reconhe‑ cimento pessoal e do trabalho realizado através da sua publicação nas Memorias.

Nestes espaços específicos, o conhecimento poderia ser exposto, discutido, reformulado e depois transmitido, seja em forma de trabalhos escritos, remessas de espécimes de animais e plantas, tratados e trocas de correspondência entre os sócios, e entre estes e suas redes de contatos. Neste caso, as academias científicas podem ser consideradas como um locus462 de produção de conhecimento, e como veremos

em outras análises, muitos foram os trabalhos que circularam entre estes espaços. Diante disso, duas vias de análise são possíveis: podemos analisar o papel destas academias apenas como espaços isolados dentro de um contexto maior, no âmbito científico do período, ou podemos pensar nesses espaços como um local de discussão, aprimoramento, difusão, circulação e reconfiguração do conhecimento produzido, que conectavam indivíduos e seus trabalhos em uma complexa rede de trocas e cir‑ culação. As academias científicas instaladas no Brasil ao longo do século XVIII, mas principalmente na segunda metade do século, podem ser consideradas como espaços basilares para que o conhecimento filosófico‑natural produzido na colónia pudesse ser transferido entre indivíduos, seja em território colonial ou não, segundo meca‑ nismos de validação de conhecimento. Estes poderiam, como vimos, ser de natureza política e/ou científica. Mesmo com problemas de implementação e funcionamento, as academias científicas tiverem papel fundamental nos processos de construção de conhecimento sobre as potencialidades naturais das colónias. A circulação de ideias entre os membros dessas academias; o fato de estes espaços terem sido utilizados para reuniões e discussões filosóficas; a produção dos trabalhos, preparação e pos‑ terior envio para Lisboa dos resultados obtidos; tornaram‑se fatos relevantes no que diz respeito à produção do conhecimento, sua assimilação e disseminação entre o Brasil e Portugal. A partir do momento em que os trabalhos produzidos nas colónias

461 AMARAL, 2012; SILVA, 2015. 462 RAJ, 2010; RAJ, 2013.

chegavam até Portugal, o conhecimento neles contido poderia sofrer outro processo de absorção e reconfiguração no âmbito das academias portuguesas.

Muitos agentes envolvidos nos processos de reconhecimento do ambiente natu‑ ral do Brasil utilizaram estes espaços, não apenas para ter acesso ao conhecimento produzido na Europa, mas também para buscar a validação daquilo que estava sendo produzido e que se pretendia enviar para a Metrópole. Por sua vez, e para a produção de seus trabalhos, muitas vezes, estes indivíduos acabaram por utilizar alguns dos textos produzidos pelos membros das academias científicas, que tinham por objetivo instruir aqueles que pretendiam contribuir com a produção de conhecimento sobre a natureza das colónias.

Do trabalho produzido dentro do complexo das academias científicas, não podemos deixar de notar aqueles que foram elaborados com o intuito de fornecer indicações relativas aos métodos de recolha de dados sobre a natureza, a enviar aos mais variados agentes, principalmente aqueles que estavam em território colonial e que não tinham formação acadêmica em História Natural. No conjunto dos trabalhos produzidos sobre Filosofia Natural das colónias na segunda metade do século XVIII, estes textos instrutivos tiveram um papel relevante na divulgação dos interesses da Coroa em envolver indivíduos «não treinados» nos estudos sobre o Mundo Natural. Um dessas instruções foi publicada pela Impressa Régia, em 1781: as Breves ins-

trucções aos correspondentes da Academia das Sciencias de Lisboa, sobre as remessas dos productos, e noticias pertencentes a Historia da Natureza, para formar hum Museo Nacional, cujo objetivo era formar um museu nacional com coleções de espécimes

coletadas nas colónias, e em Portugal:

Considerando, pois, a Academia das Ciências de Lisboa, cujos trabalhos se encaminham todos ao bem público, a grande utilidade, que de uma semelhante Coleção, sendo bem ordenada, pode resultar para o adiantamento das Artes, Comercio, Manufaturas, e todos os mais ramos da Economia; propôs-se o projeto de formação nesta Capital um Museu Nacional, onde principalmente se juntem e conservem os produtos, ao menos os mais notáveis, que se acham dentro do Reino e suas colónias (1781)463.

Além destas iniciativas que saíam do cerne da Academia, também havia um número significativo de textos instrutivos produzidos por indivíduos ligados à Academia.

Em 1779, alguns anos antes da publicação oficial das Instruções da Academia, Vandelli escreveu as Viagens Filosóficas ou dissertação sobre as importantes regras

que o filósofo naturalista, nas suas peregrinações, deve principalmente observar, um

documento para instruir agentes nos estudos filosóficos. Neste texto, Vandelli dei‑

xou claro alguns pontos que deveriam ser seguidos por aqueles indivíduos que não tinham qualquer formação em História Natural. Para ele, os aspirantes a naturalistas deveriam seguir algumas regras básicas, pois um bom trabalho de História Natural não se resumia apenas a conhecer e dar nomes aos animais, plantas e minerais, mas também se destinava a «conhecer, para os animais, a sua anatomia, maneira de viver e o modo de se multiplicarem e de se alimentarem; para as plantas, o seu interesse económico e virtudes medicinais; para os minerais, as suas propriedade»464.

Segundo Lorelai Kury, para a escrita deste texto, Vandelli baseou‑se em um outro documento465 com as mesmas características e que pretendia os mesmos obje‑

tivos, escrito em 1759 pelo discípulo de Lineu, Eric Anders Nordblad — Instructio

peregrinatoris. As duas obras, a de Vandelli e a de Nordblad e Lineu, ressaltavam

a necessidade de observação e anotação cuidadosa a respeito das plantas, dos ani‑ mais, dos minerais, das populações autóctones, do clima e da geografia, além de se salientar a importância das técnicas de coleta de espécimes e da produção dos respetivos desenhos466.

Alguns anos mais tarde, em 1788, Vandelli publicou o livro Diccionario dos

termos technicos de Historia Natural: extrahidos das Obras de Linnéo, com a sua explicaçao, e estampas abertas em cobre, para facilitar a intelligencia dos mesmos: e

a Memoria sobre a utilidade dos jardins botanicos467. Neste trabalho, escreveu sobre

algumas instruções para que os mais variados agentes pudessem produzir trabalhos filosóficos com alguma linearidade de conceitos e técnicas descritivas, principalmente aquelas estabelecidas por Lineu em sua sistemática.

Também em 1781, os naturalistas ligados ao Real Museu da Ajuda, a Vandelli e à Universidade de Coimbra, julgaram ser necessário haver instruções para que agen‑ tes nos espaços coloniais pudessem realizar trabalhos de História Natural com certa orientação. O texto redigido por eles, que possivelmente contou com a participação de Alexandre Rodrigues Ferreira, dissertou sobre métodos de conservação de espécimes naturais468. No texto Methodo de Recolher, Preparar, Remeter, e Conservar os Productos Naturais. Segundo o Plano, que tem concebido, e publicado alguns Naturalistas, para o uzo dos Curiozos que visitaão os Certoins, e Costas do Mar dissertaram sobre os possí‑

464 CARVALHO, 1987: 58.

465 Ainda segundo Lorelai Kury, para escrever suas instruções para os naturalistas, Vandelli pode ter se baseado em

outras obras, tais como: Fragen na eine Gesellschaft Gelehrter Männer, die auf Befehl Ihro Majestät des Königes von

Dännemark nach Arabien reisen, Johann David Michaelis, 1763; Le voyageur naturaliste ou Instructions sur ler moyens de ramasser les objets d’historie naturelle et de les bien conserver, Lettsom, 1775; Avis pour le transport par mer des arbres, des plants vivaces, des semences, et de diverses autres curiosités d’historie naturelle, de Duhamel Du Moceau, e Mémorie instructif sur la manière de rassembler, de préparer, de conserver, et d’envoyer les diverses curiosités d’historie naturelle,

de Étienne‑François Turgot (KURY, 2008: 76).

466 KURY, 2008: 75; PEREIRA & CRUZ, 2012: 115‑134. 467 VANDELLI, 1788.

veis motivos que poderiam levar os espécimes a se corromperem, e depois apontaram o que para eles seriam as melhores técnicas de conservação. No entanto, no último parágrafo, os autores alertaram seus leitores para o fato de que seus apontamentos poderiam ser úteis, mas que a prática seria a melhor maneira de se conhecer e aplicar as técnicas: «Persuadimo‑nos que é quanto se deve dizer, o exposto acima: enquanto a prática, que é para cada um o melhor livro, não sugere outras ideias»469.

Para além dos naturalistas de formação, outros indivíduos escreveram instruções, mesmo que breves, sobre os processos de recolha de dados e métodos de preparo e envio para a Metrópole. Um exemplo deste tipo de agente, que procurou dar algu‑ mas indicações de como as coletas de espécimes e as descrições deveriam ser feitas, foi o médico português Manoel Joaquim de Souza Ferraz em sua Memoria sobre a

Botanica, as vantagens, que della rezultão para a praxe Medica […], em Março de

1792470 (transcrição —Anexo 5). O trabalho de Ferraz, ao contrário dos de seus con‑

temporâneos, permaneceu manuscrito na secção da Colecção de memorias fizicas e

economicas oferecidas a Academia Real das Sciencias de Lisboa que não puderão entrar nas colecçoens impressas, não chegando por isso a ser impresso.

Manoel Joaquim de Souza Ferraz licenciou‑se em Filosofia na Universidade de Coimbra e em Medicina na Universidade de Montpellier. Intitulado sócio cor‑ respondente da Academia das Ciências de Lisboa em 2 de março de 1792, viajou para o Brasil, chegando à cidade do Rio de Janeiro no final do século, onde partici‑ pou ativamente nas políticas de incentivo para que se criasse na cidade um Jardim