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Organograma 01 − Estrutura hierárquica do mercado bancário

1.3 RESPONSABILIDADE E SUSTENTABILIDADE NO MERCADO BANCÁRIO

1.3.2 Acordos e princípios para sustentabilidade no mercado financeiro

Em nível mundial, acordos e pactos têm sido feitos como forma de universalizar procedimentos éticos e socioambientais adequados, junto às instituições financeiras, as quais são consideradas importantes agentes da economia. Essas, ao administrar fluxos financeiros e influenciar níveis de desenvolvimento econômico, social e ambiental no mundo como um todo, influenciam e são influenciadas pelo desempenho de suas parceiras.

Acordos e pactos auxiliam e estabelecem padrões de comportamento, sendo que desde 1987, a supervisão bancária vem evoluindo e aperfeiçoando procedimentos para fortalecer a arquitetura financeira internacional com adesão de crescente número bancos de diversos países. Com a interligação dos mercados, e as freqüentes crises financeiras em nível global, há necessidade de estrito controle e supervisão das estratégias e dos riscos, de forma a evitar que desajustes afetem de maneira sistêmica todos os demais atores do sistema.

Devido à vulnerabilidade e a interdependência existente entre as instituições financeiras como um todo, foi adotada, em nível mundial, a partir de 1988, normatização de procedimentos bancários propostos pelo Acordo de Basiléia I, cujos objetivos foram o disciplinamento e o estabelecimento de níveis de transparência para o setor. Essa atitude visou a resguardar os mercados financeiros de rupturas sistêmicas, dado que a interconexão destes, incentivada pela globalização requereu uma supervisão bancária

prudencial, com redes de segurança e mínima exposição das instituições aos riscos.

A adoção dos acordos de Basiléia I e, posteriormente sua revisão, o Acordo de Basiléia II, buscou tornar mais robusto o mercado financeiro brasileiro, visto que a adequação aos padrões internacionais diminuiu a vulnerabilidade e em conseqüência atraiu grandes investidores devido ao maior nível de governança corporativa.

Além dos acordos de Basiléia I e II que estipulavam padrões de sustentabilidade eminentemente econômicos, o setor bancário na América Latina e não apenas do Brasil, devido à sua maior complexidade, foi incentivado a adotar também padrões em sustentabilidade sociais e ambientais, segundo pesquisa da International Finance Corporation – IFC (2005, p. 17).

Entre as medidas que foram tomadas preventivamente para disciplinamento e prevenção de potenciais desarranjos no meio social e ambiental estão o Protocolo Verde e a Carta de Princípios do Equador, entre outros comentados a seguir.

1.3.2.1 Acordos de Basiléia I e II

O Acordo de Basiléia I foi instituído pelo Comitê de Basiléia – International Basle Committee on Banking Regulations and Supervisory Practices – e pelo Banco de Compensações Internacionais – BIS e estabeleceu princípios de supervisão bancária e sistema de padronização e mensuração do capital mínimo requerido para cada instituição bancária. Tinha como principal preocupação, o risco das operações bancárias internacionais, até então não fiscalizadas.

Como formas de evitar desestabilidade do sistema foram estabelecidas regulações sobre a administração interna dos bancos, instituídos pilares de supervisão e fortalecido a disciplina de mercado por meio dos seguintes vetores:

• vinculação do Patrimônio Líquido à estrutura de risco das classes de ativos que compõem a carteira da instituição (risco de crédito ou contraparte);

• autonomia dos órgãos reguladores, para fixarem outras exigências além das previstas na norma básica; e,

• normas aplicáveis, prioritariamente, aos bancos que operam no mercado internacional.

Somente a partir de 1994, o Banco Central do Brasil instituiu as regras do Acordo de Basiléia I no mercado brasileiro, sendo inicialmente exigido dos bancos o índice de 8% do capital sobre ativos ponderados pelos riscos, elevado, posteriormente, para 11%.

Essas exigências levaram os bancos a ampliarem seus portfólios de produtos e serviços, e se tornarem cada vez mais bancos universais, com oferta de produtos diversificados para atendimento de pessoas físicas e jurídicas.

Como o Acordo de Basiléia I estipulava regras tão-somente para o risco de crédito bancário, deixando de lado o risco de mercado, houve migração de operações para o mercado de títulos, livres de regulação. Somente após junho de 2004 foram delineadas novas medidas pelo Acordo da Basiléia II, para aperfeiçoar a gestão de risco de crédito com pesos diferenciados para cada tipo de tomador.

Enquanto o Acordo de Basiléia I teve como objetivo fundamental a minimização do risco de crédito, de forma a assegurar níveis mínimos de solvência e liquidez do sistema financeiro internacional, o Acordo de Basiléia II apoiou-se na amplitude do capital mínimo, na supervisão da adequação de capital e no fortalecimento da disciplina de mercado, oferecendo mais segurança aos clientes e investidores.

Embora sensível a riscos e ajustado às demandas mercadológicas, esse segundo acordo estipulou regras mais amplas e flexíveis em comparação ao Acordo de Basiléia I, mas ainda assim não contemplou, explicitamente, riscos ambientais ou sociais.

Para os países emergentes, por exemplo, o Acordo de Basiléia II procurou enfatizar tão-somente a supervisão bancária e a transparência de informações, mas pelo menos os princípios 7 e 15 que instituem regras e práticas de controle das operações bancárias fazem menção a decisões éticas de investimentos.

O princípio 7 diz que:

Um elemento essencial de qualquer sistema de supervisão é a avaliação das políticas, das práticas e dos procedimentos de um banco, relacionados com a concessão de empréstimos, e com as decisões de investimento, bem como as rotinas de administração de suas carteiras de crédito e investimento. (BIS, 2006, p. 9).

Já, o princípio 15 diz que:

Os supervisores bancários devem determinar que os bancos adotem políticas, práticas e procedimentos incluindo regras rígidas do tipo “conheça-seu-cliente” que promovam elevados padrões éticos e profissionais no setor financeiro e previnam a utilização dos bancos, intencionalmente ou não, por elementos criminosos. (BIS, op. cit., p. 10).

Mesmo não sendo exigida explicitamente pelo Comitê de Basiléia, há consenso geral dos participantes sobre a utilização de elevados padrões éticos e profissionais em termos de políticas, práticas e procedimentos de investimentos pelos bancos. Assim, os acordos de Basiléia atuam como proteção da estabilidade financeira em nível nacional e internacional ao disciplinar o enquadramento dos financiamentos e a alavancagem dos bancos. Exemplos são os financiamentos de grandes usinas hidrelétricas, na modelagem Project finance, cuja sociedade de propósito específico, ao separar as obrigações de cada projeto, diminui a vulnerabilidade e possibilita negócios do longo prazo.

1.3.2.2 Declaração internacional das instituições financeiras sobre o meio ambiente e Protocolo Verde

internacional, foram aprovadas medidas legais para proteção ambiental junto à comunidade financeira.

Por sua vez, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente − PNUMA promoveu nessa época, a Iniciativa Financeira para o Desenvolvimento Sustentável, com base na Declaração Internacional das Instituições Financeiras sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Nessa iniciativa, além de identificar e quantificar riscos ambientais nas avaliações e gestões de crédito, os signatários reconheciam, formalmente, que o “desenvolvimento sustentável dependia de uma interação positiva entre o desenvolvimento econômico e social, bem como a proteção do ambiente, para manter o equilíbrio entre os interesses da presente e futuras gerações”.

Ainda, segundo a Declaração, o desenvolvimento sustentável deveria ser de responsabilidade dos governos, das organizações e dos indivíduos, além de exigir interação cooperativa entre setores para se alcançar os objetivos ambientais. Posteriormente, em 1995, como resultado de um trabalho do Governo Brasileiro, foi instituído o Protocolo Verde, cuja primeira edição foi uma espécie de carta de intenções dos bancos públicos para incorporar normas e avaliação de custos ambientais em projetos. Tornou-se obrigatória a análise prévia de riscos ambientais na concessão de crédito de médio e longo prazo pelas instituições financeiras públicas e foram incluídas sanções penais e administrativas aos autores de transgressões, além da cobrança de reparação por danos causados.

O Banco Central do Brasil, os bancos públicos Banco do Brasil S.A., do Nordeste, da Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e a Caixa Econômica Federal convocados pelo Governo Federal, comprometeram-se a incorporar a análise do risco ambiental em suas decisões de crédito com prazo superior a um ano.

Foram incluídas no Protocolo Verde normas sobre seguro contra riscos ambientais e criada a Comissão de Risco Ambiental no Ministério do Meio Ambiente e Amazônia Legal – MMA, a qual teve como objetivo: “definir, acompanhar e apoiar a incorporação da variável ambiental nas instituições financeiras e para aperfeiçoar a gestão dos recursos financeiros governamentais e privados, em relação ao meio ambiente”.

A composição, as atribuições e os procedimentos da Comissão de Risco Ambiental couberam ao Ministério do Meio Ambiente e Amazônia Legal – MMA e ao Banco Central do Brasil, que, em síntese, selecionaram os seguintes princípios básicos do Protocolo Verde:

• Proteção ambiental como dever de todos, inclusive com participação dos clientes;

• setor financeiro como instrumento para o desenvolvimento sustentável, cabendo aos bancos, inclusive divulgação e aplicação das leis e regulamentações ambientais;

• consideração de riscos ambientais nas análises e condições de financiamentos;

• gestão ambiental preventiva;

• criação de equipes especializadas nos bancos para execução da política ambiental; e

• estímulo ao aproveitamento, a práticas de reciclagem e à eficiência energética nos bancos.

Em 2008, foi feita uma revisão do Protocolo Verde pelas instituições bancárias públicas e o Ministério do Meio Ambiente e Amazônia Legal – MMA, cujas alterações consideraram os princípios e diretrizes registrados no Quadro 03.

Protocolo Verde: Princípios e Diretrizes

Financiar o desenvolvimento com sustentabilidade, por meio de linhas de crédito e programas que promovam a qualidade de vida da população, o uso sustentável dos recursos naturais e a proteção ambiental.

Diretrizes:

Aprimorar continuamente o portfólio de produtos e serviços bancários destinados ao financiamento de atividades e projetos sustentáveis;

Oferecer condições diferenciadas de financiamento (taxa, prazo, carência, critérios de elegibilidade, etc.) para projetos com adicionalidades socioambientais;

Orientar o tomador de crédito de forma a induzir a adoção de práticas de produção e consumo sustentáveis.

Considerar os impactos e custos socioambientais na gestão de ativos (próprios e de terceiros) e nas análises de risco de clientes e de projetos de investimento, tendo por base a Política Nacional de Meio Ambiente.

Diretrizes:

Condicionar o financiamento de empreendimentos e atividades, potenciais ou efetivamente poluidores ou que utilizem recursos naturais no processo produtivo, ao Licenciamento Ambiental, conforme legislação ambiental vigente.

Incorporar critérios socioambientais ao processo de análise e concessão de crédito para projetos de investimentos, considerando a magnitude de seus impactos e riscos e a necessidade de medidas mitigadoras e compensatórias.

Efetuar a análise socioambiental de clientes cujas atividades exijam o licenciamento ambiental e/ou que representem significativos impactos sociais adversos.

Considerar nas análises de crédito as recomendações e restrições do zoneamento agroecológico ou, preferencialmente, do zoneamento ecológico-econômico, quando houver.

Desenvolver e aplicar, compartilhadamente, padrões de desempenho socioambiental por setor produtivo para apoiar a avaliação de projetos de médio e alto impacto.

Promover o consumo sustentável de recursos naturais, e de materiais deles derivados, nos processos internos.

Diretrizes:

Definir e contemplar critérios socioambientais nos processos de compras e contratação de serviços;

Racionalizar procedimentos operacionais visando promover a máxima eficiência no uso dos recursos naturais e de materiais deles derivados;

Promover medidas de incentivo à redução, reutilização, reciclagem e destinação adequada dos resíduos, buscando minimizar os potenciais impactos ambientais negativos.

Informar, sensibilizar e engajar continuamente as partes interessadas nas políticas e práticas de sustentabilidade da instituição.

Diretrizes:

Capacitar o público interno para desenvolver as competências necessárias à implementação dos princípios e diretrizes deste Protocolo;

Desenvolver mecanismos de consulta e diálogo com as partes interessadas;

Comprometer-se a publicar anualmente os resultados da implementação dos princípios e diretrizes estabelecidos neste Protocolo.

Protocolo Verde: Princípios e Diretrizes

Promover a harmonização de procedimentos, cooperação e integração de esforços entre as organizações signatárias na implementação destes Princípios.

Diretrizes:

Implementar mecanismo de governança envolvendo os signatários para compartilhar experiências, acompanhar a efetividade e propor melhorias no processo de implementação dos princípios e diretrizes deste Protocolo, bem como sua evolução.

Quadro 03 - Protocolo Verde. Fonte: Banco do Brasil, 2008.

Somente bancos públicos tornaram-se signatários do primeiro Protocolo Verde (Quadro 03) em 1995, mas, em 2009, os bancos privados Bradesco, Itaú Unibanco, Cacique, Citibank, HSBC, Safra e Santander Brasil – Real resolveram aderir a esse Protocolo, por intermédio da Febraban. Essa adesão reforçou publicamente o compromisso do setor bancário com a concessão de financiamentos apenas a organizações e projetos comprometidos com a sustentabilidade.

1.3.2.3 Pacto Global das Nações Unidas

Apresentado inicialmente no Fórum Mundial de Davos, na Suíça, o Pacto global (Global Compact) foi lançado oficialmente no ano 2000, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Foi feito então convite à comunidade financeira internacional e aos setores privados, para que se juntassem na busca de uma economia global mais sustentável e inclusiva. O Pacto Global envolveu instituições, tais como o Alto Comissariado para Direitos Humanos, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, a Organização Internacional do Trabalho – OIT, a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. Podem participar do Pacto Global organizações e outras entidades que se interessem pela promoção de princípios baseados na Conferência Rio–92, cujos princípios englobam direitos humanos e do trabalho, proteção ambiental e anticorrupção.

Em 2003, foi criado o Comitê Brasileiro do Pacto Global composto por instituições dos mais variados setores da economia.

Em 2004, vinte e sete organizações brasileiras representaram o Brasil na conferência de líderes na sede da Organização das Nações Unidas. Dessas organizações, três pertenciam ao setor financeiro: Bolsa de Valores do Estado de São Paulo – Bovespa, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Está entre os objetivos do Pacto Global para o Comitê Brasileiro, a ampliação da adesão de organizações brasileiras, bem como o apoio para implantação dos princípios, troca de experiências e fortalecimento de uma economia global sustentável e inclusiva, em busca dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM.

O gráfico 01 mostra a participação de instituições e empresas no Pacto Global, que incluem sindicatos, organizações privadas, governamentais, não governamentais, associações empresariais, escolas e cidades.

75% 8% 1% 11% 1% 3% 1%

Empresas Cidades Associações Empresariais

Sindicatos ONGs Instituições de Ensino

Setor Público

Gráfico 01 – Perfil dos signatários do Pacto Global no Brasil. Fonte: http://www.pactoglobal.org.br/PerfilSignatarias.aspx, 2010.

A participação dessas organizações (Gráfico 01), é voluntária e têm como compromisso publicar projetos e práticas de responsabilidade social corporativa junto ao público interno e externo, descrevendo medidas e resultados obtidos em situações práticas. No final de 2009, 351 organizações já participavam do Pacto Global, sendo 14 do setor de eletricidade e 14 do ramo financeiro. Entre essas estão os bancos do Brasil, Fibra, Itaú Unibanco e Caixa Econômica Federal que aderiram a este Pacto em 2003, e Bradesco e Santander Brasil em 2006.

1.3.2.4 Declaração de Collevecchio

Outro marco do posicionamento da comunidade financeira internacional com a sustentabilidade foi reforçado em 2002 com a Declaração de Collevecchio, a qual, endossada por mais de 200 organizações da sociedade civil, convocou instituições financeiras a se comprometerem com medidas relativas à sustentabilidade. Esta declaração estabeleceu expectativas sobre papel e responsabilidade do setor financeiro na promoção da sustentabilidade, na consideração de direitos humanos, na eqüidade social, nos impactos ao meio ambiente.

Segundo a Declaração, além do lucro financeiro, as instituições financeiras deveriam ser parceiras de outras organizações para protegerem o meio ambiente e promoverem a justiça social, pois, até então, poucas instituições financeiras tinham esse tipo de preocupação. A maximização do lucro, com preferência, a retornos de curto prazo refletiam um distanciamento das metas de sustentabilidade, as quais, normalmente, demandam maior tempo para sua consecução, como, por exemplo, metas de alcance de estabilidade social e manutenção da proteção ambiental.

Divulgada também no Fórum Mundial em Davos, Suíça, em 2003, a Declaração de Collevecchio promoveu, juntamente com alguns bancos privados, a elaboração de princípios para financiamento de projetos, tendo os seguintes compromissos como direcionadores: (i) sustentabilidade, (ii) não provocação de danos ambientais e sociais, (iii) responsabilidade, (iv) prestação de contas, (v) transparência e (vi) sustentabilidade dos mercados e da governança.

Quanto ao compromisso com a sustentabilidade, esta Declaração passou a exigir das instituições financeiras, também uma visão socioambiental, que considerasse a eqüidade social e econômica e as limitações do meio ambiente nas estratégias empresariais com estabelecimento de metas. Além dos riscos financeiros, as instituições passariam a arcar com total responsabilidade pelos impactos ambientais e sociais resultantes de seus investimentos.

Baseadas no princípio da precaução, as instituições financeiras deveriam fazer negócios e aplicações, evitando investimentos em negócios de alto risco para a sustentabilidade. Ainda, as instituições financeiras deveriam prestar contas, tal como nos Princípios do Equador, a uma comunidade impactada por um projeto por elas financiado, permitindo-lhe a participação nas decisões. As decisões deveriam ser transparentes, além de participativas, com informações sobre procedimentos, transações e políticas, sem a utilização da “confidencialidade bancária” como embargo à transparência.

Por fim, o último compromisso da Declaração de Collevecchio diz respeito ao apoio a políticas públicas e a mecanismos de regulação de mercados, os quais devem promover a sustentabilidade e o reconhecimento do custo das externalidades sociais e ambientais. Contudo, a Declaração de Collevecchio mesmo facilitando licenças sociais para operar no mercado e promovendo interpretações mais claras sobre o que se quer das instituições financeiras, ainda não se configura como um instrumento eficaz para o alcance das mudanças esperadas, sendo necessária a criação de regulamentos para o setor financeiro. 1.3.2.5 Carta de Princípios do Equador

Em junho de 2003, mais um documento foi lançado à comunidade financeira internacional, em busca da sustentabilidade: a Carta de Princípios do Equador, a qual contém um conjunto de direcionadores de políticas socioambientais para investimentos em projetos de infra-estrutura.

Posteriormente, em junho de 2006, esse documento foi revisado e aperfeiçoado pela comunidade financeira e tem sido adotado por grandes instituições, tornando-se alvo prioritário para disciplinamento de financiamento de projetos em vários países.

A Carta de Princípios do Equador, nome que procede da Linha do Equador, foi iniciada com dez signatários e, posteriormente, várias outras instituições financeiras transnacionais

que operam em mais de 100 países também se tornaram signatárias. Essas instituições representam mais de 80% dos recursos globais dos financiamentos e se comprometeram a apoiar prioritariamente projetos que atendam a pautas ambientais e sociais, segundo a própria Carta de Princípios do Equador. Não obstante, a mídia tem registrado seguidamente, denúncias de descumprimento e inobservância dos princípios em projetos de alto risco, em nível mundial e nacional.

Os Princípios do Equador são adotados de forma voluntária e independente e não criam direitos, como devem ser naturalmente assumidas as estratégias de responsabilidade corporativa. Representam uma maneira de padronizar rotinas e políticas internas das instituições, visto que sua aplicação proporciona uma estrutura de trabalho única que facilita a avaliação, documentação e monitoramento de riscos. Por se valer de um idioma comum nos assuntos sociais e ambientais, independente do país em que está sendo desenvolvido o projeto, esses princípios simplificam a comunicação entre os vários atores.

O Quadro 04 mostra a síntese dos Princípios do Equador com as mudanças pactuadas na revisão feita em 2006 e que teve a participação dos bancos e de grandes empresas brasileiras.

Princípios do Equador

1º Os projetos serão classificados pelo risco, de acordo com as diretrizes internas baseadas em critérios de seleção ambiental e social do IFC, contidas no Manual de Prevenção e Redução de Poluição do Banco Mundial (Ppah), o qual entrou em uso oficial em 1o de julho de 1998. 2º Projetos da Categoria A e B deverão ter Avaliação Ambiental (AA), consistente com o resultado

de processo de categorização do IFC e abordagem de questões-chave ambientais e sociais identificadas durante o processo de Classificação.

3º O relatório de Avaliação Ambiental, dependendo da área do projeto, tratará de: a) avaliação das condições ambientais e sociais básicas;

b) exigências de acordo com as leis e regulamentações do país em questão, tratados e acordos internacionais aplicáveis;

c) desenvolvimento sustentável e utilização de recursos naturais renováveis;

d) proteção da saúde humana, de propriedades culturais e da biodiversidade, incluindo espécies ameaçadas e ecossistemas sensíveis;

e) utilização de substâncias perigosas; f) principais riscos;

g) saúde e segurança no trabalho;