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Organograma 01 − Estrutura hierárquica do mercado bancário

3.2 PERÍODOS DA QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL

3.2.2 Período II — 1988 a 1996 – Infância da consciência socioambiental

Esse segundo período, que já contava com a Política Nacional do Meio Ambiente há sete anos, foi rico no estabelecimento de legislação ambiental e também em eventos que aumentaram a conscientização da sociedade civil sobre a questão ambiental. Mas, o setor financeiro, que precisou adequar-se a um novo cenário econômico e tecnológico, mostrou poucas iniciativas em relação à responsabilidade socioambiental e à sustentabilidade.

3.2.2.1 Constituição Federal e o artigo 225 sobre meio ambiente

A Constituição Federal, de 1988, com artigo específico para o meio ambiente, configurou-se como uma resposta aos vários públicos preocupados com a conservação e com a preservação ambiental e foi uma maneira de o Brasil mostrar-se ao mundo como o país mais adequado para sediar a Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (VIOLA, 1998). Este artigo reza que

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Constituição Federal do Brasil, 1988, Art. 225.

A nova Constituição Federal possibilitou então, a criação de novos órgãos ambientais, de instrumentos e de normas para a Política Nacional do Meio Ambiente e deu impulso ao disciplinamento da gestão ambiental.

Embora reconhecida como descentralizadora, a Constituição Federal de 1988 concentrou essa disciplina mais no controle do que na tomada de decisão – por manter como propriedade da União os potenciais de energia elétrica e as terras destinadas à preservação – segundo Scárdua (2003), o que dificultou a gestão da questão ambiental.

As constituições estaduais promulgadas em seguida, contemplaram dispositivos sobre o meio ambiente em seu texto e de certa forma, reforçaram a atenção sobre a questão ambiental nos estados da Federação.

3.2.2.2 Conferência Rio–92

A estratégia de sediar a Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de Janeiro também culminou em atividades que deram maior importância à Política Nacional do Meio Ambiente e que, segundo Viola (1998), os seguintes fatores facilitaram o aceite do Brasil como sede da Conferência:

• Crise do modelo desenvolvimentista no País;

• Significativa abertura na opinião pública para a idéia de desenvolvimento sustentável;

• Sensibilidade e necessidade de consideração com problemas ambientais devido à soberania sobre dois terços da maior floresta pluvial do mundo; • Consciência da importância e necessidade de preservação da floresta

Amazônica como o grande reservatório mundial de biodiversidade;

• Matriz energética fundada em recursos naturais renováveis, basicamente hidrelétricas e biomassa.

A Conferência Rio–92 coincidiu com a época da retomada do crescimento econômico brasileiro, após a crise do seu modelo de desenvolvimento econômico e após uma crise financeira européia.

Esse cenário apresentava o Brasil como um parceiro de alto risco de investimento, haja vista o esgotamento financeiro do Estado em nível interno, com déficit na Balança Comercial e, em nível externo, perante seus credores internacionais com o estabelecimento, cinco anos antes, da moratória de sua dívida externa, decretada cinco anos antes.

Assim, a Conferência Rio–92 refletiu positivamente na imagem do País, que tinha interesse e necessidade em aumentar exportações e atrair recursos de investidores estrangeiros, os quais exigiam uma postura em prol do meio ambiente.

Enquanto isso, em nível mundial, as instituições financeiras viam-se pressionadas a exigirem de seus clientes, que o uso e aplicação dos recursos fossem investidos de forma

responsável. Entre as exigências estavam compromissos de preservação de ecossistemas e da biodiversidade junto a empresas e comunidades além de questionamentos junto a grandes bancos sobre a forma de aplicação de seus recursos.

Tanto o Relatório da Comissão Mundial “O Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987, quanto a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento ou Conferência Rio–92, foram marcos importantes para o aumento da conscientização ecológica e, por conseguinte do desenvolvimento sustentável, no Brasil e no exterior (VIOLA, 1998; SOUZA, 2000; LEFF, 2006).

3.2.2.3 Agenda 21 Global e Brasileira

A Conferência Rio–92 deu origem à Agenda 21 Global que também influenciou o modo de agir no meio financeiro. As propostas dessa Agenda sobre decisões de investimentos passaram a considerar e integrar de forma gradual questões sociais e ambientais nas políticas e processos de tomada de decisões, com avanços em termos legislativos. Deu seguimento, de forma sistemática, a posicionamento empresarial baseado em participação social, democracia, multisetorialidade e caráter interdisciplinar para construção de sociedades sustentáveis. (BOEIRA, 2004).

Da Agenda 21 Global derivou a Agenda 21 Brasileira, que trouxe recomendações de substituição dos padrões de desenvolvimento por outros mais sustentáveis e da qual participaram governos estaduais e instituições oficiais de crédito e de fomento, além de outros segmentos da sociedade. As instituições que participaram desse evento foram os bancos do Brasil, do Nordeste do Brasil, da Amazônia, Caixa Econômica Federal, Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul e a Petrobrás.

Esta passou a distribuir responsabilidades e co-responsabilidade entre os vários atores da sociedade, em setores da indústria, do comércio e entre instituições governamentais e não governamentais, além de preconizar a avaliação de impacto ambiental dos projetos de desenvolvimento dentre outras ações:

Avaliação da capacidade e potencial existentes para o manejo integrado de meio ambiente e desenvolvimento, compreendendo a capacidade e os potenciais técnico, tecnológico e institucional, assim como os meios para avaliar o impacto ambiental dos projetos de desenvolvimento; e a avaliação da capacidade de atender as necessidades de cooperação técnica, inclusive a relacionada com a transferência de tecnologia e de conhecimentos técnicos científicos [...] (AGENDA 21 BRASILEIRA,Cap. 37).

As exigências para a implementação da Agenda 21 Brasileira levantaram a questão sobre a necessidade de estipulação de indicadores de desenvolvimento sustentável (MOUSINHO, 2001, p. 292). Esses indicadores deveriam ser passíveis de monitoramento e possibilitar a confecção de relatórios sobre a evolução dos compromissos acordados, de forma a monitorar o desenvolvimento sustentável do País, que resultou, em poucos anos, na aprovação de leis ambientais.

As crescentes pressões do cenário nacional e internacional, exigindo padrões de proteção ambiental dos setores exportadores, estipulados pelos importadores dos países desenvolvidos, aliadas à necessidade de captação de recursos estrangeiros, obrigaram o Brasil a criar organizações para atender as questões ambientais.

Instituições financeiras multilaterais, tais como, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento também passaram a exigir estudos de impacto ambiental para liberação de recursos destinados a projetos em países da América Latina. As exigências incluíam a obrigatoriedade de legislação interna que contemplasse estudos e avaliação prévia de impactos ambientais e até a criação de departamentos de meio ambiente junto às empresas do setor elétrico, em vários países (SANTOS, 2003, p. 89).

Para a construção de usinas hidrelétricas, segundo Santos (Op. Cit. p. 5), desde meados da década de 1970, estudos de impactos já eram feitos, por exigência do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE ou pelo Banco Mundial. Ao mesmo tempo, instituições financeiras, especialmente as oficiais, procuraram adequar-se formalmente às exigências dos investidores, em relação a critérios para liberação de empréstimos (VIOLA,1998; ARAUJO, 2001; SANTOS, 2003).

Mas, muitas das adequações feitas nas instituições foram apenas formais e não influenciaram fundamentalmente decisões governamentais em benefício da política ambiental (BURSZTYN, 1993) ao mesmo tempo em que a estratégia de industrialização do País preferiu valer-se de recursos naturais e de setores intensivos em emissão de poluentes, como metalúrgico, químico e petroquímico para o crescimento econômico (VIOLA, 1998).

Nessa mesma época, a política energética careceu de direcionamento que valorizasse a conservação das energias renováveis descentralizadas, conforme aponta Viola (1998). Esse fato pode ser constatado nos relatórios do Plano Decenal Ministério das Minas e Energia, que mostram a oferta de energia, do ano 1976 ao ano 2006, preponderantemente em fontes não renováveis, mesmo com a diminuição das matrizes de lenha e de carvão vegetal.

Bursztyn e Bursztyn (2002, p.18) afirmam que o “esverdeamento” das políticas públicas como resultado dos compromissos assumidos na Conferência Rio–92 foi um mito:

O que ocorreu, de fato, foi um aumento da efetividade dos instrumentos de comando e controle [...] a própria crise fiscal do Estado representou uma retração das políticas públicas potencialmente geradoras de degradação do meio ambiente. Por cerca de dez anos, muito pouco foi investido pelo poder público em energia, rede de transportes, grandes projetos agropecuários e mineração, que sempre foram focos de empreendimentos governamentais portadores de riscos ambientais.

Mesmo com uma “série de propostas governamentais de eixos de desenvolvimento regionais conflitantes com o enfoque ambiental”, os debates ocorridos na Conferência Rio–

92 e os compromissos ali assumidos deixaram alguns resultados concretos, como algumas alterações na Política Nacional do Meio Ambiente e reforço desta, por meio de leis, decretos, criação e reformulação de estruturas voltadas à proteção do meio ambiente. (BURSZTYN e BURSZTYN, 2002, p.18).

Embora incipientes, essas mudanças frente à demanda da sociedade, possibilitaram o aumento do nível de conscientização e da capacitação para a conservação e educação ambiental em todos os setores da sociedade brasileira. Como resultado, houve aprovação de legislação afim, como a Lei da Política de Recursos Hídricos e criação de instrumentos reguladores, assinaturas de pactos e de protocolos.

O Governo Federal conclamou, nesta época, a participação dos bancos públicos na condução das questões ambientais por meio da anuência ao Protocolo Verde, cujo objetivo era evitar a utilização de créditos oficiais e benefícios fiscais em atividades que fossem prejudiciais ao meio ambiente. Esse foi o primeiro passo de uma série de iniciativas, o qual partiu do Governo Federal e não dos bancos. O documento fazia menção também aos bancos privados, mas esses não se sensibilizaram pelo alinhamento aos preceitos de sustentabilidade naquele momento:

É fundamental, também, que a incorporação da variável ambiental não fique restrita ao crédito oficial ou aos benefícios fiscais.[...] é importante a ampliação do processo a todas as instituições financeiras, públicas ou privadas (PROTOCOLO VERDE, p. 7).