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Organograma 01 − Estrutura hierárquica do mercado bancário

3.4 GERAÇÃO DE ENERGIA E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

Usinas hidrelétricas estão contempladas nas resoluções do Conama como uma das atividades que requerem atenção especial dos responsáveis pelos licenciamentos por causarem impactos consideráveis sobre o meio ambiente e social, a saber:

Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e de seu respectivo relatório de impacto ambiental – Rima, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do Ibama em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:

• [...];

• VI – Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KW;

• VII – Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW [...];

• Xl – Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW. (Resolução Conama 01/1986. Art.2º.). A Resolução Conama 237/1997, em seu art. 2º. e anexos, confirma a necessidade de licenciamento prévio para empreendimentos como os de transmissão de energia elétrica e atividades correlacionadas: A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis. Os empreendimentos de geração e transmissão de energia elétrica são também atividades que impactam positivamente o meio social, sendo o acesso à energia, um dos

meios para se promover o desenvolvimento econômico e a inclusão social. Exemplo disso são as várias comunidades brasileiras, a maioria localizada no meio rural, que ainda não tem acesso aos serviços de energia e apresentam os menores índices de desenvolvimento humano, conforme relatório do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, de 2007.

A utilidade da energia vai muito além da iluminação e refrigeração. Ao dar suporte aos setores industriais e de serviços promove desenvolvimento de outros setores, tais como da saúde, da educação e da segurança, entre outros, refletindo positivamente na qualidade de vida das pessoas. Assim, os empreendimentos hidrelétricos, dado o interesse das comunidades que vão desfrutar de seus benefícios, são de responsabilidade do Estado, embora causem, também, impactos negativos no meio ambiente e no meio social.

Os impactos negativos mais pronunciados se dão quando da construção das usinas. Assim sendo, programas de mitigação são exigidos por lei, como condicionante de liberação das licenças ambientais, os quais devem ser implantados no decorrer de desenvolvimento do projeto. Para isso, os estudos de viabilidade técnica da construção de uma usina hidrelétrica devem estimar o volume estrutural e de serviços, bem como de impactos socioambientais, os quais fornecerão orçamentos preliminares dos custos envolvidos em cada fase da obra, para serem repassados aos empreendedores e financiadores interessados. A assessoria de consultorias independentes passou a ser recomendada ou exigida pelos órgãos ambientais nos casos de grandes projetos de alto risco socioambiental. Bermann (2007, p. 140) destaca os seguintes impactos ambientais em usinas hidrelétricas, conforme Quadro 15.

Impactos ambientais em Usinas Hidrelétricas

Alteração do regime hidrológico, comprometendo as atividades a jusante do reservatório;

Comprometimento da qualidade das águas, em razão do caráter lêntico do reservatório, dificultando a decomposição dos rejeitos e efluentes;

Assoreamento dos reservatórios, em virtude do descontrole no padrão de ocupação territorial nas cabeceiras dos reservatórios, submetidos a processos de desmatamento e retirada da mata ciliar;

Emissão de gases de efeito estufa, particularmente o metano, decorrente da decomposição da cobertura vegetal submersa definitivamente nos reservatórios;

Aumento do volume de água no reservatório formado, com conseqüente sobrepressão sobre o solo e subsolo pelo peso da massa de água represada, em áreas com condições geológicas desfavoráveis (por exemplo, terrenos cársticos), provocando sismos induzidos;

Problemas de saúde pública, pela formação dos remansos nos reservatórios e a decorrente proliferação de vetores transmissores de doenças endêmicas;

Dificuldades para assegurar o uso múltiplo das águas, em razão do caráter histórico de priorização da geração elétrica em detrimento dos outros possíveis usos como irrigação, lazer, piscicultura, entre outros.

Quadro 15 – Lista de impactos ambientais comuns em usinas hidrelétricas. Fonte: Bermann (2007, p. 140).

Os impactos ambientais mais comuns estão relacionados às condições climáticas, à modificação do ambiente aquático, à destruição de habitats, surgimento de condições

químicas agressivas à biodiversidade e desinteressantes para a vida humana.

Os exemplos listados no Quadro 15, não contemplam a totalidade de impactos negativos causados pela construção e operação de usinas hidrelétricas, muitos de difícil mensuração. Por outro lado, os impactos positivos advindos do acesso à energia elétrica são relevantes, senão imprescindíveis, para a qualidade de vida da população.

Mas, falando de impactos negativos, entre os principais estão os impactos sociais em aproveitamentos hídricos, principalmente em se tratando de grandes usinas hidrelétricas. Podem ser citados o despovoamento involuntário de populações ribeirinhas e a destruição da cultura local que repercutem negativamente em outras esferas da vida da comunidade.

As comunidades afetadas em sua maioria são indígenas, tribais e camponesas, as quais reclamam, além de pressão e assédio quando são contrários aos projetos, também da falta de informação sobre os empreendimentos, sobre as medidas de mitigação, de compensação e de indenização dos danos, no entendimento da organização não governamental Instituto Socioambiental - ISA, a qual tem como missão “propor soluções sustentáveis e integradas a questões sociais e ambientais” e objetivo principal “defender bens e direitos sociais, coletivos e difusos relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos e valorizar a diversidade socioambiental”.

Segundo Bermann (2007, p. 142), mais de 34 mil km2 já foram inundados para a

formação de reservatórios para usinas hidrelétricas no Brasil, provocando deslocamento compulsório de 200 mil famílias de ribeirinhos.

Ainda, segundo o autor, os deslocamentos têm sido origem de conflitos e ações judiciais devido ao descontentamento com as compensações financeiras oferecidas ou recebidas pelos empreendedores e também nos processos de reassentamentos que muitas vezes não suprem as expectativas das populações impactadas.

Além do mais, os ribeirinhos apresentam-se, na maioria das vezes, como a parte fraca do processo, tendo pouca ou nenhuma voz para impedir a entrada de forças externas, sendo que a eles resta pouco a fazer senão digerir a mudança.

Estudos desenvolvidos pela Comissão Mundial de Barragens, criada em 1997, para avaliar as barragens construídas no mundo, mostram que os ribeirinhos têm dificuldades de participar da tomada de decisão sobre a instalação das usinas em suas comunidades, tornando-se sujeitos passivos de interesses econômicos, não obstante as audiências públicas realizadas, mas cujo teor e vocabulário, são inacessíveis para muitos dessas comunidades.

Em seu relatório “Barragens e Desenvolvimento – uma nova estrutura para a tomada de decisão”, de 2000, a Comissão relata que a transparência desses processos costuma ser pouco abrangentes e com limitada participação das populações afetadas.

de saúde pública ocasionados pelo grande afluxo de trabalhadores diretos e indiretos no empreendimento, que acabam por inchar as comunidades e a demandar serviços públicos ainda inexistentes ou insuficientes.

São também registrados nessas localidades, surgimento e aumento de doenças de natureza endêmica, de violência, de desemprego ou de competição e aumento da economia informal, mudanças abruptas no modo de produção das populações ribeirinhas, desestruturação familiar e conflitos sociais originados entre os nativos e os imigrantes.

Somam-se a esses problemas sociais, dificuldade de abastecimento de água, racionamento e encarecimento de víveres, de locação, podendo inflacionar o mercado local e adjacências ou provocar diminuição da qualidade de vida dos mais vulneráveis financeiramente.

A demanda repentina e crescente por água para os diferentes usos doméstico e industrial pode comprometer a qualidade e quantidade de água dos reservatórios e das fontes vizinhas, impactando atividades da pecuária, da agricultura e da pesca, com modificações substanciais na forma de subsistência das populações nativas.

No tocante à ocupação geográfica, há riscos de inundação à jusante, perda de terras cultiváveis, de espécies vegetais e animais com a construção e operação da usina, prejudicando de forma irreversível a biodiversidade local e regional, mesmo com os cuidados dispensados pelas equipes responsáveis pela remoção de espécies.

Sevá (2008, p. 44–45) cita ainda, a ocorrência de sismos após a formação de barragens, além de outros acidentes naturais registrados no Brasil e no mundo.

No Brasil, a Eletronorte mantém estações sismográficas para monitorar as usinas Tucuruí, Samuel e Balbina, segundo publicações da própria empresa, procurando precaver- se desse tipo de impacto causado pelas barragens das usinas. Na realidade, não há consenso nem mesmo entre os especialistas sobre a gravidade dos impactos causados pelas grandes barragens e pelas hidrelétricas, em si.

Grandes projetos de hidrelétricas estão em franco desenvolvimento, mesmo em regiões de rica biodiversidade, como na Região Amazônica. Ou seja, as justificativas para a implementação de grandes hidrelétricas, como a necessidade de maior oferta de energia, têm sido mais contundente que as defesas de ambientalistas.

E, com falta de energia elétrica que aconteceu seguidas vezes, em 2001 e em 2009, a construção de grandes hidrelétricas vê-se justificada pela necessidade de maior oferta de energia, principalmente após seguidos apagões nos grandes centros urbanos.

Assim, a construção de várias usinas foi priorizada pelo governo, cujo andamento pode ser visto na Tabela 05.

Tabela 05 – Usinas hidrelétricas em construção em 2009.

UHE Localidade Potência (Megawatt) Situação

Santo Antônio Rondônia 3.150 14% realizado

Jirau Rondônia 3.300 4% realizado

Estreito Tocantins /Maranhão 1.087 63% realizado

Foz do Chapecó Santa Catarina /Rio Grande do Sul 855 80% realizado

Dardanelos Mato Grosso 261 75% realizado

Corumbá III Goiás 94 Operação em teste

Total 8.747

Fonte: Ministério de Minas e Energia – 8º Balanço do PAC. Brasília: 2009, p. 91.

Essas usinas (Tabela 05), foram priorizadas pelo Governo Federal em seu Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, mesmo apresentando uma série de não conformidades e batalhas judiciais por danos ao meio ambiente e social, especialmente em comunidades indígenas. Essa prioridade de investimentos em usinas hidrelétricas deve-se à expectativa do aumento da demanda de energia nos próximos anos.

Dados da Eletrobrás mostram que o Brasil apresenta-se como um dos países em desenvolvimento com maior crescimento da demanda de energia elétrica nas áreas industrial, comercial e residencial. A taxa de crescimento do consumo de eletricidade tem se mostrado superior ao Produto Interno Bruto – PIB e ao próprio consumo total de energia do País de acordo com estudos técnicos desenvolvidos pela organização ambientalista World Wide Fund for Nature (2007, p. 22).

Os bancos públicos e privados, a partir de 2004, passaram a financiar hidrelétricas, juntamente com o BNDES, reforçando a estratégia governamental de mais geração de energia, que por vários anos foi deixada em segundo plano pelos órgãos responsáveis.. Coincidentemente, nessa mesma época, verificou-se um movimento de adesão a acordos socioambientais, além de um discurso empresarial de responsabilidade socioambiental e sustentabilidade nos financiamentos.

Segundo o discurso dos bancos públicos e privados, eles passaram a exigir dos tomadores de empréstimo, o cumprimento dos planos de mitigação de impactos, além de outras medidas para alcançar maior nível de sustentabilidade nos projetos financiados. Neste estudo será visto a evolução dessas questões com crivo em projetos de hidrelétricas.

A seguir, os procedimentos metodológicos utilizados e, os casos dos bancos selecionados, os quais revelam como estão sendo financiados projetos de hidrelétricas e as estratégias e procedimentos que sinalizam responsabilidade socioambiental e sustentabilidade.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nos capítulos anteriores foram apresentados os conceitos de responsabilidade socioambiental e sustentabilidade, a situação do mercado bancário, o posicionamento dos bancos diante das questões de sustentabilidade nos negócios que financiam, dentre os quais projetos de grandes hidrelétricas.

A seguir, serão detalhados os procedimentos metodológicos utilizados neste estudo para identificar e analisar estratégias dos bancos BNDES, Banco do Brasil, Bradesco, CEF, Itaú Unibanco e Santander Brasil no financiamento de projetos de hidrelétricas no período 1981 a 2009.