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Organograma 01 − Estrutura hierárquica do mercado bancário

3.2 PERÍODOS DA QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL

3.2.3 Período III – 1997 a 2002 – Adolescência da consciência socioambiental

De 1997 a 2002, intensificaram-se as preocupações com o meio ambiente no Brasil. Foram aprovadas, nesse período, as leis nacionais Política de Recursos Hídricos (1997), de Crimes Ambientais (1998) e Política Nacional de Educação Ambiental (1999) que influenciaram o exercício da Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA.

Um outro marco legal nesse período foi a instituição da Resolução Conama 237/1997 pelo Conama, cujos objetivos foram integrar a atuação dos órgãos do Sisnama e dispor sobre licenciamento, estudos, impactos e relatórios ambientais, mediante a descentralização gradativa da execução da PNMA.

3.2.3.1 Resolução Conama 237/1997

Por meio da Resolução Conama 237/1997 foram revistos definições, procedimentos e critérios de licenciamento ambiental e incorporados instrumentos para melhoria da gestão ambiental.

Essas mudanças foram a aplicação dos artigos 8 e 10 da Lei Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA e do que já havia sido proposto pela Resolução Conama 11/1994, ou seja, estabelecimento de normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras conforme abaixo transcrito:

atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Ibama, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis (LEI 6.938/1981 Art. 10) e

Compete ao Conama: I – estabelecer, mediante proposta do Ibama, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido8º pelos Estados e supervisionado pelo Ibama ((LEI 6.938/1981 Art. 8).

A Resolução Conama 237/1997 teve como objetivos a descentralização e simplificação dos procedimentos de licenciamento, além de regulamentar e especificar instrumentos de gestão ambiental, impor regras para o licenciamento e modificar normas e aspectos do estudo ambiental, cuja maior dificuldade consiste na mensuração de impactos. Definiu termos tais como licenças, licenciamento, impactos e estudos ambientais e estabeleceu critérios para o exercício da competência do licenciamento, com as responsabilidades de cada órgão nessas questões. Ao definir responsabilidades, permitiu a descentralização e o licenciamento simplificado.

A Resolução Conama 237/1997 também revogou o art. 3º. e o art. 7º. da Resolução Conama 01/1986, modificando a responsabilização de equipe técnica em estudos de impacto ambiental pelos resultados apresentados, a qual passou a ser do proponente do projeto.

3.2.3.2 Leis – Política de Recursos Hídricos, Educação Ambiental, Crimes Ambientais, Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

Aos poucos, a necessidade de se estabelecer legislação para setores específicos deu origem às seguintes leis:

• Lei de Política de Recursos Hídricos – Lei nº. 9.433/1997;

• Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza – Lei nº. 9.605/1998; • Lei da Política Nacional de Educação Ambiental – Lei nº. 9.795/1999; • Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Lei nº. 9.985/2000. A lei de Política de Recursos Hídricos – nº. 9.433/1997 disciplinou o gerenciamento de recursos hídricos e reuniu os princípios e instrumentos de gestão de águas.

A Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza – Lei nº. 9.605/1998, por sua vez, veio como um instrumento para exigir dos responsáveis ou co-responsáveis por potenciais atos poluidores ou danosos ao meio ambiente pagamentos pecuniários ou privação da liberdade pelos delitos causados. Dispõe sobre sanções penais e administrativas e conseqüentes mudanças de comportamento de pessoas jurídicas e pessoas físicas em relação ao meio ambiente como forma de cumprir artigo 225 da Constituição Federal.

anterior, como maior clareza nas normas e maior rigor com os infratores, aumentando valores das multas e do tempo de reclusão. Alternativas de pagamento das infrações com a recuperação dos danos e outras mudanças foram definidas - Quadro 14.

Ampliação da possibilidade de prestação de serviços à comunidade em substituição às penas de prisão de dois para até quatro anos;

Criminalização da prática de fabricar, vender, transportar ou soltar balões, cuja punição ao infrator varia de prisão à multa;

Criminalização de desmatamentos ilegais e outras infrações contra a flora, com punições de prisões e multas;

Decretação de liquidação forçada da pessoa jurídica quando infratora ambiental ou no caso de ser criada ou utilizada para permitir, facilitar ou ocultar crime definido na lei, sendo o patrimônio transferido para o Patrimônio Penitenciário Nacional;

Definição clara da destinação dos produtos e instrumentos objetos da infração. Os produtos e subprodutos da fauna e flora tornaram-se passíveis de doação ou destruição e de venda, os instrumentos utilizados quando da infração;

Definição da conduta de funcionário de órgão ambiental, sendo os deslizes passíveis de sanções;

Definição de pena de até um ano de detenção para a prática de pichar, grafitar ou de qualquer forma conspurcar edificação ou monumento urbano;

Descriminação do abate de animais para saciar a fome, visto que independente do motivo, antes era crime inafiançável;

Destruição, dano, lesão ou maus tratos às plantas de ornamentação, ao invés de contravenção, passou a ser crime sujeito a punição de até um ano de prisão;

Estipulação de multa administrativa em valores pecuniários em substituição a base de grandezas territoriais, a qual passou a variar de R$ 50 a R$ 50 milhões;

Extinção da punição com a apresentação de laudo comprobatório da recuperação do dano ambiental;

Fixação e aplicação de multas por meio da lei e não mais por meio de instrumentos normativos passíveis de contestação judicial;

Inclusão da responsabilização criminal da pessoa jurídica e penal da pessoa física autora ou co-autora da infração;

Maus tratos, abusos contra animais domésticos e domesticados, bem como aos nativos ou exóticos passaram a ser crime e não apenas contravenção. Inclusive, experiências dolorosas ou cruéis com animal vivo, mesmo para fins didáticos ou científicos são consideradas crimes, quando existirem recursos alternativos;

Possibilidade de aplicação imediata das penas alternativas ou da multa, a partir da constatação do dano ambiental;

Sujeição de prisão de até cinco anos de prisão a quem dificultar ou impedir o uso público das praias.

Quadro 14 – Inovações da Lei de Crimes Ambientais – Lei 9.605/1998. Fonte: Elaboração pela autora, com dados do Ibama, 2008.

O Quadro 14 sintetiza as inovações introduzidas pela Lei de Crimes Ambientais – 9.605/1998, e deixa claro a possibilidade de co-responsabilização pelos danos causados ao meio ambiente. A consolidação das normas em um único documento e a definição das penas, a partir da uniformização, tornou mais fácil a aplicação da Lei. Pessoas jurídicas tornaram-se sujeitos passíveis de sanções, juntamente com as pessoas físicas autoras ou co-autoras de infrações, tendo de responder nas várias instâncias pelo dano causado, conforme determinam os art. 2º. e 3º., respectivamente, da Lei de Crimes Ambientais

Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de

pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. (Lei nº. 9.605/1998, Art. 2º.);

As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade. (Lei nº. 9.605/1998, Art. 3º.).

Ao ser constatado degradação ambiental, infratores devem responder nas esferas civil, administrativa e criminal. São obrigados a pagar multas pecuniárias, a recuperar áreas degradadas, investir em obras de infra-estrutura e a responder processos criminais. Exemplo de investimentos em obras para ressarcimento de danos ambientais este sendo realizado no Estado de Rondônia, no Município de Itapuã do Oeste, onde a Eletronorte deverá ressarcir o município, pelos alagamentos que fragilizaram o solo e pela contaminação dos lençóis freáticos, após construção da Usina Hidrelétrica de Samuel.

Com a Lei de Crimes Ambientais, toda a cadeia produtiva passou a ser responsável pelo meio ambiente. As instituições financeiras e correlatas, mediadoras de recursos, tornaram-se passíveis de responder solidariamente pelos danos causados por projetos por elas financiados.

Adami (1997) entende que os artigos 2º. e 3º. da Lei de Crimes Ambientais representaram grandes avanços na legislação brasileira, em termos de penalização. Mas, para proteger juridicamente o meio ambiente o autor sugere a combinação desses artigos com o crime de gestão temerária ambiental para se punir adequadamente o infrator. Diz-se gestão temerária, quando o administrador ao deixar de observar norma expressa, assume a postura de agente poluidor, podendo levar sua instituição a ressarcir potenciais prejuízos.

E, ainda segundo Adami (2001, p.1 e 2), devido às dificuldades de “estabelecer o nexo causal entre a ordem emanada de determinado dirigente e o ilícito penal” poder-se-ia deixar impunes os infratores, mas, o parágrafo único do artigo 3º., da Lei 9.605/1998, diligentemente ao responsabilizar as pessoas jurídicas, não excluiu as “pessoa físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato”. Ou seja, a responsabilidade deve ser imputada ao infrator e àqueles que guardam relação de causalidade com o dano, mesmo que indiretamente, opinião compartilhada por Enei (2007, p. 269).

O artigo 4°. – da Lei de Crimes Ambientais, ao admitir a “possibilidade de desconsideração da pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”, facilitou a punição imediata dos poluidores, tornando a questão fiscalizadora mais ágil e menos custosa que antes. A possibilidade de aplicação de multas imediatamente à constatação do dano ambiental dificultou o uso do subterfúgio protelatório via contestação judicial. Em vista disso, os decisores e responsáveis por pessoas jurídicas devem tornar-se mais cautelosos quanto

a infrações ao meio ambiente, para não serem pessoalmente punidos ou até mesmo para evitar a liquidação das empresas.

Por outro lado, a apresentação de laudo comprobatório da recuperação do dano ambiental, ao extinguir imediatamente a punição, facilitou o andamento de projetos, visto que antes, por falta de clareza na legislação, muitos projetos sofriam longas interrupções, causando prejuízos às partes interessadas.

Enei (2007, p. 268) lembra que as leis 6.938/1981, 8974/1995 (revogada) e 11.105/2005 − passaram a exigir que o financiador além de evitar infrações em relação ao meio ambiente, também contribuísse para a prevenção, negando serviços e recursos aos infratores à legislação ambiental. A Lei 11.105/2005 regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal e estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, entre outras providências.

A lei 9.795/1999 dispõe sobre o Inciso VI do artigo 225 da Constituição Federal, responsabilizando o Poder Público pela Política Nacional de Educação Ambiental, tendo como obrigação a inserção de disciplinas de educação ambiental nas escolas e a conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente.

No ano 2000, foi instituído pela Lei nº. 9.985, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – Snuc, que estabeleceu critérios e normas para criação, implantação e gestão das unidades de conservação, em atendimento ao art. 225, da Constituição Federal. As unidades de conservação que compõem este Sistema podem ser divididas em dois grupos: as unidades de proteção integral e as unidades de uso sustentável. Esses espaços territoriais foram definidos pelo Poder Público Federal, e devem ser protegidos, sendo “vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção”. Posteriormente, a Lei 11.132/2005 acrescentou o seguinte artigo à lei do Snuc, pretendendo aprimorar o dispositivo legal em favor das unidades de conservação com a seguinte redação:

O Poder Público poderá, ressalvadas as atividades agropecuárias e outras atividades econômicas em andamento e obras públicas licenciadas, na forma da lei, decretar limitações administrativas provisórias ao exercício de atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de degradação ambiental, para a realização de estudos com vistas na criação de Unidade de Conservação, quando, a critério do órgão ambiental competente, houver risco de dano grave aos recursos naturais ali existentes (Lei 11.132/2005, Art. 22–A).

Deve haver compensação pelo uso de unidades de conservação:

O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração e distribuição de energia elétrica, beneficiário da proteção oferecida por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica. (Lei nº. 9.985/2000, Art. 48).

Projetos de infra-estrutura devem atentar para esses dispositivos legais, evitando impactos ou quando for o caso, efetuar a devida compensação ao meio ambiente e à pessoas impactadas. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama é o órgão responsável pela fixação da compensação ambiental e a mensuração é feita a partir do estudo prévio e relatório de impacto ambiental – EIA/Rima.

Essas várias leis instituídas até 2002, com o intuito de aprimorar a Política Nacional do Meio Ambiente influenciaram pouco o modus operandi dos bancos brasileiros financiadores de grandes projetos de infra-estrutura, os quais se mantiveram na estrita observância das exigências legais aos empreendedores. O posicionamento dos bancos somente começou a mudar a partir de 2003, diante das iniciativas do mercado financeiro internacional. Para alinharem-se às novas tendências, já que os maiores bancos brasileiros detêm filiais no exterior, passaram a assinar acordos de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental.