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Organograma 01 − Estrutura hierárquica do mercado bancário

2.2 CENÁRIO E MUDANÇAS NO MERCADO BRASILEIRO

Em 1981, o sistema financeiro estava fechado à entrada de novos concorrentes e os negócios se resumiam entre os bancos brasileiros e as poucas filiais de bancos estrangeiros já instaladas no Brasil, desde o início do século. A fraca concorrência e as altas taxas de juros providenciaram alta rentabilidade aos esses bancos, que preferiam concentrar seus negócios nas rentáveis operações de curtíssimo prazo.

No ano 1981, a inflação superou os 100% ao ano e os créditos de longo prazo praticamente desapareceram, com exceção das linhas com os recursos do Finame, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, direcionados ao financiamento de máquinas e equipamentos (AFFONSO NETO, 2003, p. 164).

56,85 33,53 9,62 71,54 13,01 15,45 60,1 11,33 28,57 53,46 7,55 38,99 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 1988 1994 1998 2008

Privado Nacional Público Estrangeiro

Gráfico 02 – Controle acionário dos bancos no Brasil

Fonte: Elaborado pela autora com dados do Bacen/Cadinf/Deorf/Copec (2009).

O Gráfico 02 mostra que a fatia dos bancos estrangeiros no mercado bancário brasileiro, menor que 10%, em 1988, revelava pouca penetração no mercado financeiro brasileiro e, só mais tarde, os bancos aumentaram a competição por meio de operações de longo prazo, mas, mantendo o mesmo patamar de juros praticados pelos bancos nacionais.

As altas taxas inflacionárias proporcionavam altos retornos aos bancos, principalmente em operações de tesouraria, possibilitando-lhes acumulação de capital e investimentos em desenvolvimento tecnológico. Mas, impactos conjunturais internacionais e planos econômicos internos cortaram abruptamente essa fonte de receitas. Dois eventos do Governo Federal foram determinantes para essa mudança: o Programa de desestatização e o Plano Real.

A partir de 1994, o programa de desestatização implantado levou à diminuição do número de bancos públicos e aumento de bancos com controle estrangeiro. Nessa época, muitos bancos de capital nacional foram liquidados, incorporados ou tiveram seus controles acionários transferidos a outros bancos. Foram estabelecidas medidas preventivas do sistema financeiro via fiscalização do Banco Central do Brasil, responsabilização das empresas de auditoria contábil, liberalização da entrada do capital externo para a indústria brasileira e menores exigências para implantação de um banco estrangeiro, cujo capital mínimo exigido era o dobro do banco de capital nacional.

Com a implantação do Plano Real, além de regras e condições para novas emissões de moeda, a inflação foi expurgada, cessando os vultosos ganhos dos bancos, originados das altas taxas inflacionárias. Esse novo cenário exigiu mudanças e adaptações no mercado financeiro, conforme registro de Lundberg (1999):

A primeira iniciativa para essa adaptação foi a de modernizar e aumentar as exigências de capitalização das instituições financeiras, em linha com as recomendações internacionais dos Acordos de Basiléia (Res. 2.099/94). Com a medida, o Banco Central sinalizava às instituições financeiras de que estas deveriam ajustar-se aos novos tempos de moeda estável. (LUNDBERG, 1999, p. 8).

Nesse contexto do Plano Real, os bancos tiveram que racionalizar custos, buscar seus ganhos via tarifas, serviços e se voltar para o seu principal negócio, o crédito. Mas, a falta de tecnologia segura para liberação de empréstimos e a expansão das carteiras de crédito no mercado de varejo, até então tímidas, trouxeram, como conseqüência, alta inadimplência, dificultando a situação para muitos bancos.

Com objetivos de reordenar o sistema bancário e evitar desestabilização da economia, alguns bancos públicos foram privatizados, instituições privadas passaram por processos de fusões e aquisições, receberam injeção de recursos externos ou foram liquidados.

A entrada de bancos com capital estrangeiro no mercado financeiro brasileiro, a partir de 1995, foi permitida pelo Presidente da República através da Exposição de Motivos 311, a qual estabelecia “ser do interesse do país a entrada e ou o aumento da participação de instituições estrangeiras no sistema financeiro”.

A medida visou, ao aportar instituições mais eficientes em termos operacionais: • aumentar a oferta de capitais nacionais;

• capitalizar instituições domésticas em desequilíbrio patrimonial;

• baixar preços de serviços e custo dos recursos oferecidos à população; • receber novas tecnologias.

Essa medida, que também procurou neutralizar os impactos da crise econômica do México, mantendo o mercado brasileiro com adequada oferta de crédito resultou em concentração dos ativos, mas que na visão de Carvalho e Vidotto (2007, p. 1),

[...] foi justificada pelo governo como uma iniciativa indispensável para aumentar a concorrência e induzir os bancos brasileiros a baratear e ampliar a oferta de crédito, o que não ocorreu, pelo menos nos anos seguintes. [...]. O objetivo central do governo era outro: estimular o ingresso de capitais externos para o equacionamento das dificuldades do setor bancário com a queda abrupta da inflação e a crise de 1995. O discurso adotado pelos bancos estrangeiros, por seu lado, prometeu mudanças e inovações, "qualidade e preço justo", mas evitou compromissos com estratégias de atuação diferentes daquelas adotadas pelos grandes bancos brasileiros, que o governo dizia querer reverter com a abertura.

Logo em seguida, a Resolução Bacen nº. 2.212/1995, do Banco Central do Brasil, liberou os bancos estrangeiros de manter o dobro do capital mínimo exigido dos bancos nacionais e contribuiu para aumentar o número de bancos estrangeiros (Gráfico 03), que contava com facilidades de captação de recursos a taxas inferiores no exterior.

172 157 141 123 120 105 95 87 88 92 90 90 88 85 38 41 49 59 65 70 72 65 62 58 57 56 56 62 32 32 27 22 19 17 15 15 15 14 14 13 13 12 0 30 60 90 120 150 180 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Bancos públicos Bancos com controle estrangeiro Bancos privados nacionais

Gráfico 03 – Número de bancos no mercado financeiro brasileiro.

Fonte: Elaborado pela autora com dados do Bacen/Cosif-Deorf/Copec, 2009.

O Gráfico 03 mostra que houve aumento constante do número de bancos estrangeiros no mercado brasileiro, os quais mantinham no Brasil, escritórios de representação de suas matrizes no exterior, e atendiam seleta fatia do mercado de atacado com oferta de produtos como a modelagem Project finance, que viabilizou financiamento de grandes projetos de infra-estrutura.

Enquanto isso, os bancos privados, que perdiam fatia de mercado, buscaram manter sua posição, concorrendo com os bancos públicos. Estes, contudo, mantiveram a liderança em vás segmentos.

0 30 60 90 120 150 180

Bancos priv ados nacionais 172 157 141 123 120 105 95 87 88 92 90 90 87 85 88

Bancos com controle estrangeiro 38 41 49 59 65 70 72 65 62 58 57 56 56 62 60

Bancos públicos 32 32 27 22 19 17 15 15 15 14 14 13 13 12 10

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Gráfico 04 – Ativos em poder dos maiores bancos do mercado brasileiro 1996 a 2008. Fonte: Elaborado pela autora com dados do Bacen/Cosif–Deorf/Copec, 2009.

Houve aumento da concentração dos ativos em poder de pequeno número de bancos, como pode ser visto no Gráfico 04. Os cinco maiores bancos, em termos de ativos totais, passaram a controlar metade dos ativos do mercado financeiro brasileiro e a liderar o financiamento das grandes obras de infra-estrutura que, diferentemente dos anos 1980, apresentava-se atraente

[...] a abertura da exploração dos serviços em infra-estrutura ao capital estrangeiro, por meio da privatização e da concessão, conduz ao chamado efeito sinalização, no qual novos investimentos tenderão a ser canalizados para o país de forma direta (com melhoria e expansão dos serviços) e indireta (ambiente favorável à entrada de capitais externos). Portanto, em países como o Brasil, a infra-estrutura é, atualmente, a área mais atrativa para os investimentos privados nacional e estrangeiro (PÊGO FILHO et al., 1999, p.8).

Teve início nessa época, a utilização de modelagens financeiras mais sofisticadas para a contratação de operações de grande porte e a longo prazo. Mas, alguns contratempos dificultaram negócios com o capital internacional. Por exemplo, o aumento das taxas de juros no mercado norte-americano tornou este mercado mais atrativo e as crises econômicas (México e Argentina) abalaram a confiança dos investidores internacionais para os mercados emergentes, retraindo a oferta de recursos de longo prazo. Assim, grande parte dos financiamentos de infra-estrutura precisou ser feita pelos bancos de investimento e desenvolvimento brasileiros, até que organismos multilaterais e investidores internacionais se voltassem para o Brasil.

Esses investidores, preocupados com racionalização de custos, com riscos e passivos socioambientais, impuseram condições para empréstimos. Concomitantemente, a necessidade de alinhamento do sistema financeiro brasileiro ao sistema financeiro internacional, advinda da globalização financeira, motivou também a submissão a acordos financeiros internacionais para reforço da transparência, solvabilidade e credibilidade, além da racionalização das estruturas dos bancos e do setor.