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Foto 20  Módulo 7: Gestão da Comunicação

3.2 Polo teórico

3.2.2 Teoria Humanista da Pedagogia

3.2.2.1 ACP – Conceitos Básicos

Na ACP, há a crença e confiança ilimitadas em todos os seres humanos, de uma maneira incondicional. Para que se dê a sua realização, é indispensável um contexto positivo de relações humanas. Criar essa situação-ambiente passa pelo compromisso com o self, o ser total e estrutural, pela descoberta de uma interação profunda do homem com ele mesmo (autodesenvolvimento), e com os outros, através da recorrência às ilimitadas possibilidades de aquisição de um grau de liberdade experiencial, no seu ambiente social.

Na vida das pessoas, há duas tendências, que, juntas, constituem a pedra fundamental da ACP: “[...] uma delas é a tendência à realização, uma característica da vida orgânica. A outra é a tendência formativa, característica do universo como um todo” (ROGERS, 1983, p. 38).

Tendência à realização/atualização é uma tendência atualizante que evidencia um processo direcional na vida, e encontra-se presente em todos os seres vivos, mesmo em condições as mais adversas. Enquanto houver vida e existência humanas, haverá, naturalmente, luta, esforço, empenho e encontro, rumo ao crescimento, permanecendo todos os recursos à disposição, em direção à saúde e à vida, para poder ser pessoa. “Esta noção corresponde à seguinte proposição: todo organismo é motivado por uma tendência inerente, para desenvolver todas as suas potencialidades e para desenvolvê-las, de maneira a favorecer sua conservação e seu enriquecimento.” (ROGERS; KINGET, 1977, p. 159).

A tendência atualizante é construtiva e poderosa, direcionada ao aperfeiçoamento pessoal, à sua própria realização, auto regulação e independência do controle externo. Há uma tendência do ser vivo à totalidade e à plenitude, à realização de todas as suas potencialidades possíveis, como a manutenção e o crescimento do organismo, constituindo o alicerce básico da ACP. Utiliza-se, no mesmo sentido, o termo tendência à atualização, que visa constantemente o desenvolvimento das potencialidades do indivíduo.

A tendência atualizante procura atingir aquilo que o indivíduo percebe como valorizador ou enriquecedor, que favorece o pleno desenvolvimento do indivíduo, tornando- o pessoa preparada para se relacionar, cada vez mais, com novas pessoas. Referida tendência está sempre valorizando, conservando, mantendo, enriquecendo e atualizando o Eu. E, à medida em que o indivíduo adquire uma noção do seu Eu, esse processo influi na determinação do grau de sua eficácia, estando, ainda, na dependência do caráter realista da noção do Eu, ou seja, do estado de congruência ou acordo entre os atributos que o indivíduo acredita possuir e os que, de fato, possui.

Um ponto que merece ser destacado, nessa discussão, refere-se ao funcionamento ótimo de personalidade, que é uma tendência do organismo humano. Para conseguir atingir essa plataforma, torna-se necessário acrescentar uma condição primordial e precípua, qual seja, a liberdade experiencial. Neste contexto, o indivíduo permite se sentir livre o suficiente para reconhecer e elaborar as suas experiências e os sentimentos pessoais, como os entende. Trata-se do conceito de liberdade experiencial, que “[...] supõe que o indivíduo não se sinta obrigado a negar ou a deformar suas opiniões e atitudes íntimas para manter a afeição ou o apreço das pessoas importantes para ele [...]” (ROGERS; KINGET, 1977, p. 46-47).

Tendência formativa é uma característica do universo, dentro de uma ordenação crescente e complexa que se inter-relaciona em direção a uma constante construção, assim como à deterioração. Este processo ocorre, também, no ser humano, como um ente inserido

no mundo, que é complexo. “Na espécie humana, essa tendência se expressa quando o indivíduo progride de seu início unicelular para um funcionamento orgânico complexo, [...] para uma consciência transcendente da harmonia e da unidade do sistema cósmico, no qual se inclui a espécie humana.” (ROGERS, 1983, p. 38).

Nesta pesquisa, residem os fundamentos da ACP. Tudo, na natureza, se reveste de uma ordem, uma harmonia, um equilíbrio no universo e, segue um caminho da unidade, no sistema cósmico e transcendental. Evidencia-se um caminho do equilíbrio transcendente, em que as pessoas não se esforçam por estar bem com as outras pessoas, e, esta vertente acontece, naturalmente, como resultado de um longo investimento pessoal e interpessoal. “Os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para a autocompreensão e para modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses recursos podem ser ativados se houver um clima [...]”. (ROGERS, 1983, p.38).

Para se criar um clima facilitador do crescimento psicológico, há três principais condições “[...] que se convencionou chamar de tríade rogeriana, ou seja, três condições fundamentais à aprendizagem: ter empatia; aceitar incondicionalmente o aluno; ser autêntico.” (BARROS, 1991, p. 10). Esse tripé de sustentação e embasamento redunda num ótimo funcionamento da pessoa que busca, através dessa conquista, uma plenitude, uma totalidade, uma verdade única, que vai se aproximando da meta final desejada, embora, nunca se chegue lá, dadas as limitações do ser humano.

O desenvolvimento humano se realiza e se processa, basicamente, tendo em vista um procedimento constante de interação recíproca entre as tendências à realização ou à atualização e a tendência formativa. Os efeitos dessa interação recíproca repercutem no desenvolvimento da personalidade, que representa a atualização máxima das potencialidades do organismo. “Quando a tendência atualizante pode se exercer sob condições favoráveis, isto é, sem entraves psicológicos graves, o indivíduo se desenvolverá no sentido da maturidade.” (ROGERS; KINGET, 1977, p. 53).

A autorealização representa um horizonte a ser perseguido pelo homem, a sua vocação ontológica, observada nos preceitos de Freire (2004), quando trata do ser mais humano, em sua magnitude. A autorealização pode ser definida como uma necessidade existencial da pessoa, para realizar-se de maneira criadora, autônoma e socializada. “É a tendência fundamental que motiva o processo de contínuo vir-a-ser do indivíduo no sentido de sua plena realização como pessoa humana individual e social. [...] a pessoa sente uma pressão interior no rumo de uma personalidade madura e sadia” (RAMOS, 1979, p. 63).

Ao longo da história da humanidade, poucas pessoas se destacaram no sentido de alcançar esse patamar sublime. Trata-se de um nível de aperfeiçoamento pessoal em que a pessoa se torna um ser iluminado. É uma busca incessante de perseguir o rumo da atualização máxima das potencialidades do organismo.

Aqui temos, então, o meu modelo teórico da pessoa que emerge da terapia ou do melhor da educação, o indivíduo que experimentou um crescimento psicológico ótimo: uma pessoa funcionando livremente em toda a plenitude de suas potencialidades organísmicas; uma pessoa em que se pode confiar que seja autêntica, autorealizadora, socializada e apropriada em seu comportamento; uma pessoa criativa, cujas formas específicas de comportamento não são facilmente predizíveis; uma pessoa que está sempre em mudança, sempre se desenvolvendo, sempre descobrindo a si própria, em cada momento. (ROGERS, 1985, p. 313). A avaliação dos programas de desenvolvimento gerencial deve estar comprometida com esse modelo humanista. O gestor é um facilitador que cria condições para que as pessoas se desenvolvam, no sentido máximo de suas potencialidades. Criar condições favoráveis para o desenvolvimento das pessoas implica que o gestor deve buscar, também, o seu autodesenvolvimento, e que aperfeiçoe, em si, a tríade rogeriana, já debatida.