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Foto 20  Módulo 7: Gestão da Comunicação

3.1 Polo Epistemológico

3.1.1 A Epistemologia de Hans-Georg Gadamer

3.1.1.3 Contribuições de Gadamer para o diálogo

Já que se busca na avaliação uma postura dialógica por parte dos responsáveis por essa área, pretende-se, nesse tópico, trazer as contribuições de Gadamer (2012) para o diálogo. Considera-se que esse autor é uma das principais referências em termos de epistemologia da hermenêutica filosófica e traz aprofundamentos relevantes em torno do diálogo. Os especialistas da avaliação educacional precisam resgatar e discutir as ideias inovadoras e profundas que Gadamer (2012) faz em torno do diálogo.

E, para compreender melhor o termo “diálogo”, é preciso dominar com desenvoltura alguns termos que ele criou e que vão contribuir, sobremaneira, para avançar a avaliação educacional. Assim, considera-se oportuno trabalhar os termos usados por Gadamer, como a fusão entre os horizontes; consciência histórica efetiva e o diálogo, linguagem e experiência hermenêutica.

A Fusão de Horizontes/Consciência Histórica Efetiva é uma categoria que se destaca na obra de Gadamer. O autor trabalha horizonte numa perspectiva de visão de mundo global e amplo. O horizonte consiste numa abertura de uma amplitude superior de interpretação, que está em constante movimento de mudança, que nunca se fecha ou se completa, quando se trata de fusão dos horizontes.

O autor/filósofo aborda a lacuna entre o presente e o passado, visto que há horizontes que podem se juntar. Um texto antigo se apresenta, atualmente, em seu horizonte e ele tem muito a comunicar aos que estão no presente. O presente é colocado em seu horizonte, ele é dialógico por excelência, pois comunica suas verdades, que precisam ser compreendidas.

Se isso ocorre com textos antigos, com certeza, também é preciso trazer essas contribuições para a área de avaliação educacional. Guardar os textos contidos nos relatórios de avaliação de programas de uma instituição, ajuda a compreendê-la no seu horizonte e juntar tudo isso no horizonte atual. Os textos têm muito a dizer para os dias atuais, especialmente aquilo que ainda não foi dito, ou seja, o não-dito. Esse procedimento ajuda na compreensão da cultura organizacional. Mostra indicadores que apontam para as mudanças que podem ser implementadas na direção dos resultados.

Como o círculo hermenêutico possibilita uma gama variável de interpretações, a avaliação educacional precisa ser vista dentro de um círculo processológico, numa constante interação que se processa no agora em que presente, passado e futuro se fundem, como na fusão de horizontes proposto por Gadamer (2012). Os efeitos são significativos nas pessoas, na avaliação e no programa que está sendo conduzido.

O sujeito não é neutro, fixo ou passivo, mas está submetido a tensões nesse movimento de fusão de horizontes na busca de significados. Esses conflitos são necessários e representam certa passagem para um patamar que faz mais sentido, numa espécie de constantes aberturas e fechamentos que vão denunciando um sentido. Portanto, é necessário que os fatos sejam escutados, ouvidos, avaliados, interpretados, reinterpretados nas suas indicações e potencialidades. As avaliações anteriores dos programas, interagem de forma dialética com a avaliação atual e presente dentro de uma processologia da avaliação educacional de Lima (2005, 2008).

Fusão de horizontes, em Gadamer, é um conceito dialético, que surge quando há comunicação a distância entre consciências, diferentemente situadas. A comunicação ocorre em outra época, pela aproximação do leitor com um texto antigo. No contato com o texto, nas contínuas aproximações e afastamentos, o leitor formula questões desafiadoras e

pertinentes, que vão fazer com que o texto informe o que ainda não se afirmou, e, naturalmente, o que se pode e se tem a dizer. A tarefa do leitor consiste em revitalizar o texto, que se estreita e se amplia, de forma atualizada, diferentemente, portanto, da intenção primeira do autor. Desta fusão de horizontes, estabelece-se um diálogo autêntico entre o leitor e o autor.

Não se trata, pois, tanto, como se exigia quase sempre desde Schleiermacher de “se colocar” uma pessoa no ponto de vista de outra (do autor de uma obra do passado, por exemplo) para se poder compreendê-lo corretamente, mas antes, “nós” é que devemos e queremos entendê-lo, a saber, de nosso ponto de vista histórico. Mas podemos alargar, mediante a compreensão de outro, nosso próprio horizonte limitado, realizando-se então uma fusão de horizontes. (CORETH, 1975, p. 25).

Desta observação, verifica-se que o presente atual é, também, a fala do passado. Presente, passado e futuro estão presentes aqui-e-agora. O que se entende, no momento, corresponde a uma relação e fusão no passado. Ao ler um texto, o leitor é afetado pelo mesmo, ele dialoga com o autor desse texto. É o passado e o presente que interagem. Este leitor se encontra com o autor, e o horizonte do texto interage com o seu horizonte realizando uma combinação, de tal forma, que há efeitos do texto no leitor e no próprio texto. Percebe-se que, nesta conjetura, o leitor já não é o mesmo, ele se organiza, se redefine, e a consciência vai se efetivando, a partir dos efeitos que o texto proporciona e que afere-se ao texto. Muitos efeitos do texto impactam a consciência do leitor, numa interação constante.

Quando se interpreta um texto, não se permanece neutro, fixo ou passivo frente a ele, visto que, “[...] o efeito da interpretação prévia [...] o local de interpretação é, por si só, o efeito do passado sobre o presente. [...] Mas os efeitos da disrupção dos preconceitos podem ser experienciados, sentidos como um efeito” (LAWN, 2011, p. 95).

Inconteste que o leitor é parte, também, de um efeito da tradição e da história. Ele simboliza um efeito do texto, e enfrenta tensões, nesse movimento de fusão de horizontes, em busca do significado, que resulta da união do momento presente e do passado, que se deseja desvendar. Assim, o significado do texto se transforma, constantemente, em face de que novas e incessantes interpretações são levadas a efeito.

Nesse sentido, Gadamer exercita com precisão o diálogo, a linguagem/experiência hermenêutica. A filosofia é diálogo com os filósofos. A vida se torna uma escuta, prossegue-se numa investigação, não se pode interrompê-lo. É dialogando que se dá o posicionamento no âmbito da linguagem. O diálogo é a troca de significado das

palavras e faz parte da hermenêutica. A linguagem se realiza como diálogo e se constitui neste por ser ontológico.

Analisa-se a incapacidade para o diálogo em muitas relações que se estabelecem, tais como o juiz e o réu (diálogo jurídico); o professor e o aluno (diálogo pedagógico); a negociação (diálogo comercial); o terapeuta e o cliente (diálogo terapêutico); e, diálogo confidencial, social e político, dentre outros. Não há diálogo quando só se fala; só se comenta; só se diz ou só se obedece e se executa ordens. Diálogo não é monólogo.

Não obstante, o diálogo transforma e registra marcas nas pessoas, característica que lhe é peculiar. Interpretar um texto significa ressuscitar o autor e manter, com ele, um diálogo. Entretanto, para isso, precisa-se se posicionar no lugar e no contexto da escrita, para se alcançar um acordo compreensivo. Todo esse contexto se direciona à conciliação, à autenticidade do diálogo e à reciprocidade do acordo deste diálogo. É o que se dá e se efetiva, num jogo circular entre ambos.

O horizonte representa um consenso possível, visto que, na busca do sentido do texto não se pode deixar de considerar os juízos e pré-juízos do que interpreta o texto. Nesse diálogo, vivencia-se, sempre, uma experiência nova, que o texto suscita, em virtude de que, depara com algo novo, em termos de experiência. Rohden (2003, p. 194) esclarece, que, “[...] enquanto metodologia hermenêutica, ele não trata apenas do conhecimento em si, mas envolve, necessariamente, nosso modo de ser e, por isso, é ontológico.” (ROHDEN, 2003, p. 194).

O jogo do diálogo é o que se persegue e, nesse processo, se estabelece uma afinidade, constituída de amizade. Nesse jogo, a verdade não é uma significação neutra. A realidade de cada polo da relação está sendo descortinada e, há, sempre, um compromisso, nessa busca de sentido, daquilo que emerge. O acordo é aquilo que surge do diálogo, que não se submete ao outro. “Acordo sobre a compreensão que se tem acerca do que o outro diz ou quis dizer, pensa ou quer expressar, faz ou quer fazer, mesmo que um parceiro discorde do outro.” (ROHDEN, 2003, p. 196).

O objeto da hermenêutica é tudo o que pode vir a ser experiência, palavra, linguagem, sentido e acordo, que permitam o compromisso e a solidariedade de uns com os outros, a noção do bem-comum que se alcança. Essa prerrogativa ocorre através do diálogo hermenêutico livre, criativo e histórico. Entretanto, este possui uma lógica própria e não pode ser forçado. O diálogo hermenêutico é um saber ontológico, que redunda numa compreensão recíproca, interpessoal.

É preciso acompanhar as palavras do outro, caso contrário, o diálogo não acontece, e vai perdendo fôlego. Não se pode, portanto, desqualificar o outro, em virtude de que o diálogo hermenêutico se caracteriza a partir do jogo, rumo ao encontro com o outro, que é referido e implicado. A linguagem não pode ser individual, por se tratar de diálogo e, a palavra não pode ser morta, é preciso saber ouvir o outro. Sem estas premissas, não há diálogo, mas, doutrinação, onde há submissão, e, não, uma relação de parceria com compromisso ético.

O diálogo representa uma relação multifacetada, não é unilateral nem linear. Há um acompanhamento recíproco da experiência entre os polos da relação, além de um acolhimento mútuo da palavra do outro. Acolher a palavra do outro não significa concordar, mas, falar com o outro, ouvir, expor-se a este, e compreender o que o outro tem a dizer. Para isso, há que haver uma linguagem comum.

Gadamer (2012) afirma que, apesar do distanciamento entre as línguas, as pessoas podem se compreender e, para isso, ressaltam-se as pré-condições para esse empreendimento, tais como a confiança incondicional, a paciência, o tato, a simpatia e a tolerância. “Isso mostra que, onde parece faltar a familiaridade da linguagem, mediante a paciência e tolerância, pode haver compreensão, filosofia.” (ROHDEN, 2003, p. 207).

As pré-condições para o empreendimento de alargar os significados da compreensão passam pelos atributos pessoais, que já foram comentados em relação à figura do avaliador. Atrelam-se à tríade rogeriana, ou seja, um conjunto de atributos, como: aceitação incondicional do outro, empatia e autenticidade. E, aqui, merece destaque especial a capacidade do sujeito em exercitar a solidariedade humana no sentido da escuta sensível, o saber ouvir o outro com todo respeito e atenção de sua importância. Tudo isso é discutido por Gadamer (2012) quando fala das contribuições do diálogo em termos de qualidades para o avaliador no seu papel profissional.

Convém lembrar que ouvir é um princípio de vida, prestar atenção para, em seguida, elaborar perguntas ontológicas, que levem à compreensão. O ouvir representa um fenômeno hermenêutico, e nele reside a solidariedade para com o outro. Responde, satisfatoriamente, às palavras do outro quem souber ouvi-lo. Denota-se uma dimensão constitutiva do diálogo, que leva a um acordo, apesar das posições contrárias.

Nem tudo pode ser objetificado, mas o diálogo possui objeto próprio. Constituem objetos do diálogo hermenêutico o sentido, o acordo, a pergunta, a história, a linguagem e a experiência. O sujeito não determina, “[...] mas acolhe e integra as regras e o

imprevisível com a liberdade. Trabalha a necessidade e, contra o absolutismo da subjetividade, recoloca esta na relação originária com os outros.” (ROHDEN, 2003, p. 219).

Para Gadamer (2012), o diálogo é fundamental para explicitar a hermenêutica filosófica, ampliando-a e explicitando-a, como metodologia genuína e ontológica. Enquanto método, o diálogo hermenêutico tem toda uma estruturação para acontecer, já que dispõe de regras e exigências. “No diálogo hermenêutico, as perguntas e as respostas têm traços e tempos próprios, onde a simultaneidade entre o perguntar e o responder aponta para a unidade interna entre o dizer e o ouvir.” (ROHDEN, 2003, p. 22).

O entendimento é dialógico e essa vertente pode ser observada na fusão de horizontes. Portanto, não se pode abolir o horizonte do passado, mas expandi-lo no presente, atribuindo-lhe uma nova forma. No diálogo genuíno, tudo acontece e se direciona de forma imprevisível, com a emergência de mudanças e desafios. Nesse sentido, há momentos de surpresas, frente aos preconceitos, e as ocorrências acabam sendo notadas, sob outros ângulos e perspectivas.

É preciso que o leitor se despoje dos preconceitos, evitando impor categorias contemporâneas, num trabalho antigo. Caso contrário, comete-se uma injustiça com os antigos autores. Partindo dessa premissa, contribui-se para silenciar o texto, não se propondo a estabelecer um diálogo. Trata-se de uma recusa, em direção a um encontro com o autor. O diálogo ocorre através da linguagem, e esta possibilita desnudar uma experiência. O homem está sempre em ligação com esta linguagem. Em tudo que se faz recorre-se a ela, que ocupa os espaços de convivência do mundo e se faz presente, a todo instante, no cotidiano da vida.

Gadamer (2012) reforça, no homem, essa imersão em linguisticalidade. Permanecem imersos em linguagem. Examinando a experiência, a conclusão que se extrai é: “[...] que todos os aspectos da vida têm uma estrutura hermenêutica e que tal estrutura é [...] linguística. Toda experiência é revelada como algo que não pode ser expresso através da linguagem, pois ela também tem uma estrutura hermenêutica de linguagem.” (LAWN, 2011, p. 109).

A hermenêutica de Gadamer (2012) objetiva revitalizar a palavra escrita, para que se retorne à condição de fala. Há o favorecimento da fala sobre a escrita de Gadamer e o seu ponto fundamental é a linguagem, como diálogo. A palavra escrita é uma fala secundária, alienada e inferior. É preciso que o texto se transforme em linguagem, perfazendo, assim, uma boa leitura. Ademais, a linguagem, como fala, é diálogo. Interpretar um texto é conferir vida às palavras que estão inertes, e o diálogo, juntamente com o texto, é o que se impõe.

Com efeito, o texto precisa ser respeitado e bem-tratado. É necessário que se estabeleça uma relação de parceria nesse diálogo, para, então, dar-se vida ao texto, atingindo o verdadeiro entendimento. A linguagem tem uma função precípua, que é a comunicação, a partilha e o compartilhamento, não só do texto literário, como, também, de uma obra de arte ou de outra situação qualquer.

Para Gadamer, a experiência com uma obra de arte transcende os horizontes subjetivos da interpretação. A obra de arte não pode ser tomada de forma isolada da sua realidade. Há que se considerar, ainda, o caráter dialético de sua hermenêutica. Sua dialética é socrática, e, a verdade não se alcança de forma metódica, mas, dialética, consoante aduz Palmer (1969, p. 170): a verdade se fundamenta, não, na autoconsciência, mas no ser, “[...] na linguisticidade do ser humano no mundo e, por conseguinte, no caráter ontológico do acontecimento linguístico. [...] é uma dialética entre o contexto em que cada pessoa se insere e o contexto da tradição [...]”.

Na hermenêutica de Gadamer, há uma tensão entre o tempo passado e presente, como um aspecto essencial, que produz os seus efeitos na consciência. O que se apresenta no texto é algo significativo e, não, necessariamente, o sentimento e a opinião do seu autor. Só o tempo permite a compreensão das situações, e a hermenêutica visa compreender, não o autor do texto, mas o próprio texto. O texto é compreendido, não porque se estabelece uma relação entre pessoas, mas devido à participação no tema que o texto comunica. Mais uma vez, esta participação enfatiza o fato de que não só saímos do nosso próprio mundo como deixamos que o texto nos interpele no nosso mundo atual (PALMER, 1969).

Gadamer (2012) discute uma relação dialógica ou dialética numa relação EU –

TU. O texto precisa ser falado e o leitor necessita deixar transparecer o texto e abrir-se a este mais do que como um objeto. Essa abertura interage com a estrutura EU – TU, da consciência, historicamente, operativa. “[...] o texto levanta uma questão ao seu intérprete. De um modo geral, a estrutura dialética da experiência, e particularmente da experiência hermenêutica, reflete-se na estrutura pergunta – resposta de todo o verdadeiro diálogo.” (PALMER, 1969, p. 200).

Oportuno asseverar que, para Gadamer (2012), a tarefa da hermenêutica é trazer o texto para o presente, para o aqui-e-agora, e encontrar um caminho de abertura, num movimento de conversação, em que a interrogação ocorra nos dois polos da relação, ou seja, do intérprete e do texto. O diálogo passa a se tornar algo vívido, com alternâncias entre perguntas e respostas. Cada questão instiga o intérprete a pensar nas suas respostas, dentro de uma linha de interpretação. “[...] se compreendermos o texto em termos das questões a

que responde, é óbvio que temos que continuar a sondá-lo interrogativamente, de modo a interpretá-lo. Temos também que questionar aquilo que não é dito [...]” (PALMER, 1969, p. 203).

Atesta-se que, quando se responde as questões, criam-se novas tensões e novos questionamentos, parte-se do que é dito para novas respostas possíveis, que vão despontando nesse horizonte de indagações. Muito do que foi dito vai sendo ultrapassado nesse processo, e é essencial que o leitor se sinta estimulado, desafiado, intrigado, com vestígios de surpresa, para não se satisfazer com uma mera explicitação, inserida no texto. Corrobora-se que esse processo de ultrapassagem acaba apresentando momentos de revelação ontológica. As questões que vão sendo reconstruídas, tanto pelo texto quanto pelo evento histórico e pelo leitor, permitem que haja uma dialética nesse diálogo instigante, que Gadamer denominou de fusão de horizontes, conforme visto anteriormente.

Não obstante, as questões que provêm do horizonte do texto são abordadas de forma interrogativa, a partir do horizonte do leitor, e, ao interpretá-las, este não é abandonado, mas ampliado e alargado, perfazendo uma fusão com o horizonte do texto. Isso é permitido através do ser, que carrega dentro de si, que é universal. Palmer (1969, p. 203- 204) explica da seguinte forma:

[...] o encontro com o horizonte do texto nos foi transmitido, de fato ilumina o nosso horizonte e leva à autorrevelação e à auto compreensão; o encontro transforma-se num momento de revelação ontológica. É um evento em que algo sai da negatividade – a negatividade que é compreendermos que há algo que não sabíamos, que as coisas não eram como pensávamos.

Essa revelação ontológica ocorre através da linguagem. Todos participam desse caráter vivo. O homem comunica o seu pensamento através da linguagem e a linguagem é, também, uma forma simbólica de revelação ou de representação do mundo. A hermenêutica, como compreensão do homem, é histórica, dialética e linguística. Para Gadamer, a consciência histórica passa pela mediação de passado e de presente e a linguagem é um meio para essa mediação. Assim, a linguística e a ontologia estão presentes e ajudam no desenvolvimento verdadeiro de uma hermenêutica histórica.

As contribuições de Gadamer ao diálogo são essenciais para os avanços da interpretação e da busca da verdade que é um horizonte a ser perseguido sabendo-se que nunca se atinge esse patamar. E isso permite que se situe a avaliação como um processo dialógico, de negociação entre as pessoas no sentido da tomada de decisões. O diálogo permite uma aproximação com a humanidade e a avaliação precisa avançar para ser mais

humana e humana ao máximo, buscando, dessa forma, mais humanidade entre as pessoas do entorno.

Decerto que o diálogo nos aproxima da linguagem, portanto, nos aproxima da humanidade, do ser mais humano. Gadamer amplia a concepção de linguagem. Através dela, o homem se constitui e se experiencia. Ela não se dá apenas pela palavra, pois, há a linguagem não-verbal, a gestual, a dos olhos, a das mãos, o silêncio, etc. Ratifica-se que a linguagem existe na relação entre as pessoas e se realiza como diálogo; é um nós – um – com – o – outro, e, se não toca o outro, resta inútil. Há um jogo linguístico no processo de compreensão ontológica e, nesse processo, o pensamento se constrói pelo alimento que recebe da palavra.

A linguagem hermenêutica transcende e vai além, sendo considerada uma fonte inesgotável. Há um sentido implícito e subjacente à experiência hermenêutica. As dimensões da linguagem para Gadamer são: “[...] o não – dito na linguagem e, contudo, atualizado por esta; e o encoberto pela linguagem.” (ROHDEN, 2003, p. 238). Cumpre transcrever referidas dimensões:

a) o não-dito na linguagem: há vários sentidos em um enunciado; e,

b) o encoberto pela linguagem: a mentira, como uma linguagem encobridora. Os pré-juízos, os pré-conceitos e as pré-compreensões precisam de uma ruptura para explicitá-los. “Sabermos que é impossível tomar consciência de todos os nossos pré-juizos, pré-conceitos, e, é tarefa da hermenêutica não os eliminar necessariamente, mas explicitá-los.” (ROHDEN, 2003, p. 239). A linguagem não apresenta um sistema de regras estáticas, haja vista que caminha e amplia os seus horizontes. A linguagem da hermenêutica filosófica não exclui: “[...] outras formas de linguagem, como a ética, a arte, a política, a metafísica. [...] Embora haja um enriquecimento, uma ampliação linguística, a experiência da linguagem filosófica não caminha, teleologicamente, rumo à cientificidade do tipo lógico-matemático.” (ROHDEN, 2003, p. 242).

Adiante, o autor reitera, que “A hermenêutica distingue e integra, discursivamente, os limites do dito e do não-dito, ou pelo menos mantém-se aberta ao ainda não-dito ou ao dito que pode ser dito de múltiplos modos, continuamente.” (ROHDEN, 2003, p. 243).

A experiência do mundo vai além da linguagem e, é pré-linguística,