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Foto 20  Módulo 7: Gestão da Comunicação

3.2 Polo teórico

3.2.1 Teoria da Avaliação Educacional

3.2.1.2 Avaliação Iluminativa de Parlett e Hamilton

A avaliação tem sido empregada como sinônimo de testes e medidas. Sua importância residia, principalmente, no seu caráter de objetividade de que a ideia de medida se revestia, aproximando-se o mais possível dos critérios de cientificidade adotados pelas ciências naturais. Hoje, essa abordagem é criticada em alguns aspectos por críticos, como Parlett e Hamilton (1982) que criaram a avaliação iluminativa como uma nova abordagem que descreve e interpreta situações complexas no estudo de programas inovadores.

Na avaliação iluminativa, os estudos avaliativos dos programas são vistos como inovadores e que alunos e professores são protagonistas especiais para que os trabalhos se efetivem num desenvolvimento que se deseja. É necessário um olhar mais detido nessas personagens que são cruciais para se compreender de forma global toda uma realidade complexa. As decisões serão levadas a bom termo se a avaliação for vista como iluminação e inovação.

Se gasta demais na avaliação de programas educacionais, mas não se gasta bem. Como envolve altos custos, a inovação se afigura como uma prioridade já que implicam um elevado consumo de verbas que precisam ser bem alocadas com prestação de contas. Apesar de ser ainda um campo novo, o avaliador passou a ter mais destaque nesse cenário e, como tal, ele precisa ser mais reconhecido e valorizado nas suas funções e nos papéis que desempenha. O preparo profissional do avaliador precisa de uma regulamentação que lhe dê uma sustentabilidade nos trabalhos que executa.

Além do mais, ultimamente, os estudos avaliativos foram mais intensificados e aprofundados. A avaliação alcançou um patamar de maturidade bastando que se examinem as últimas produções que trouxeram contribuições significativas que precisam ser aplicadas. Para compreender bem essa questão, é recomendável a leitura do artigo de Clarilza Prado de Sousa (1998), intitulado Descrição de uma trajetória na/da avaliação educacional.

Na avaliação iluminativa, como o próprio nome já denuncia, o avaliador avança nos objetivos dando-lhe mais consistência, na medida em que eles são modificados com constantes reinterpretações pelos que o executam e levados em conta como eles são percebidos pelos que o executam. O avaliador precisa conviver de perto com o cotidiano de sala de aula e interagir com uma gama complexa de variáveis culturais, sociais, institucionais e psicológicas. Frente a tudo isso e a todo esse arranjo de influências, o avaliador precisa focar as características mais significativas para iluminar o processo de compreensão da realidade.

O propósito da avaliação iluminativa é “iluminar”, ou seja, fornecer uma compreensão mais aprofundada sobre a realidade estudada in totum, além de verificar o impacto, a validade e a eficácia de um programa voltada à inovação. E eles registram as principais limitações do método tradicional ao ignorar, principalmente, as inovações que são sensíveis a diversas influências estranhas.

A finalidade da avaliação iluminativa é estudar o programa de inovação: como ele funciona, como é influenciado pelas diferentes situações escolares. [...], quais são, para os interessados, suas vantagens e inconvenientes [...]. A avaliação iluminativa não é um todo metodológico padronizado, mas uma estratégia geral de investigação [...]. O novo paradigma obtido ao adotar-se a avaliação iluminativa exige mais que uma simples mudança de método: implica também novos pressupostos, novos conceitos e uma nova terminologia [...]. A introdução de uma inovação gera uma cadeia de repercussões [...]. Por sua vez, consequências inesperadas podem afetar a própria inovação, mudar sua forma e moderar seu impacto [...]. Julgar o impacto da inovação sem levar em conta esses fatores, seria um verdadeiro absurdo [...]. Como a avaliação iluminativa se concentra sobre o exame da inovação, como parte integrante do meio [...] insiste-se resolutamente na (importância da) observação (ao nível da escola) e na entrevista com professores e alunos participantes. (PARLETT; HAMILTON, 1975 apud ABRAMOWICZ, 1980, p. 48).

Na avaliação iluminativa, três etapas se superpõem e são funcionalmente inter- relacionadas: observação exploratória; questionamento; explicação. A passagem de uma etapa para outra ocorre à medida que os problemas vão sendo progressivamente clarificados e redefinidos; o desenvolvimento do estudo não pode ser demarcado a priori. De início, os dados são extensos e depois vão sendo reduzidos sistematicamente e a atenção vai sendo voltada aos problemas que emergem. É traçado um perfil de informação, utilizando os dados coletados a partir de quatro fontes: observação; entrevista; questionários e testes; e documentos em geral (PARLETT; HAMILTON, 1982).

A metodologia da avaliação iluminativa é flexível e as técnicas são diversas visando analisar a complexa estrutura dos fenômenos. O elemento analisado contribui para a compreensão do todo. A avaliação iluminativa apresenta características diversas, sendo responsiva, naturalista, heurística e interpretativa (VIANNA, 2000).

A avaliação iluminativa está bem relacionada à avaliação responsiva. Ela se preocupa com os interessados pelo programa ao oferecer detalhes mais complexos do programa. Com o seu relatório, vai estimular os leitores à análise e discussão de questões inacabadas e que precisam ser resolvidas. E, para o contexto nacional, Vianna (2000, p. 42) advoga que o caminho da avaliação passa pela “[...] estruturação de um sistema que seja responsivo e iluminista, para que seja compreensivo às diversas clientelas e possa solucionar os nossos problemas, que são graves e exigem pronta ação.”

A avaliação é sempre uma tarefa que mexe com as pessoas e provoca ameaças e assim é geradora de medo já que lida com o estudo de um programa, ela implica a emergência de novos pressupostos com novos conceitos e terminologias que vai influir na quebra da estabilidade. E na avaliação iluminativa, o medo se alastra em todos os elementos envolvidos no projeto, como os participantes, os que pagam o projeto e as pessoas interessadas nos seus resultados (ABRAMOWIC, 1980).

Frente a isso, há uma prolongada resistência no ponto de vista emocional. Há uma resistência a mudanças nas relações sociais, nas mudanças de atitudes e posturas. Isso gera tensões e inseguranças, pois a avaliação iluminativa pode ser vista como ameaça à prática existente. O agente avaliador pode ser uma pessoa externa à instituição e isso gera medo e insegurança que cria um clima ameaçador, pois vai perturbar a rotina dos que participam desse esquema (ABRAMOWIC, 1980).

Em sua pesquisa sobre o impacto de um projeto de avaliação do tipo iluminativo sobre um sistema educacional, Abramowic (1980) mostra como a avaliação iluminativa pode provocar medo num sistema escolar. Esta avaliação usa diversos métodos e técnicas no processo de desenvolvimento do trabalho avaliativo. E comenta uma primeira etapa de sua estratégia de pesquisa, que é a observação que lembra controle que desencadeia inibição, receio e temor. Numa segunda etapa, é proposta uma observação dirigida e sistemática, o que também gera apreensões e temores. Numa nova etapa, a metodologia geral da avaliação iluminativa “[...] busca explicar os fenômenos focalizados, procurando os princípios gerais subjacentes à organização do programa também surge o temor despertado agora pelo enfoque crítico [...] obtém-se um perfil de informação, usando grande número de recursos de análise [...]” (ABRAMOWIC, 1980, p. 50).

Nesse processo de análise dos documentos, dos questionários, das intervenções dos participantes e todo esse amplo levantamento de dados, os participantes vão redefinindo e reordenando os objetivos e os reinterpretam tendo em vista a sua situação particular. Daí, a grande dificuldade de modificar e avaliar um sistema escolar. Frente a toda uma hierarquia do sistema, além das diferenças de status, há uma tendência a deformar e a desencorajar um sistema de informações, e as pessoas hesitam em dar informações, a não ser que elas estejam frente a dados sérios e, em se tratando de inovação, isso é uma coisa rara. “Esta distância entre o que se escreve e o que realmente existe, fica patenteado nos relatórios de avaliação, sendo um indicador significativo do papel ameaçador da avaliação num sistema escolar.” (ABRAMOWIC, 1980, p. 51).

O caráter burocrático das instituições, bem como a cultura do conformismo e da acomodação, que reina nas instituições acaba servindo de obstáculos para as transformações. Esse procedimento trava os avanços da avaliação e a isso se junta a atitude de muitos educadores que se engessam em suas posturas. Eles se fecham e essa conduta permite que se aumente ainda mais a resistência no sentido da abertura para as inovações que se fazem necessária. Há o predomínio do medo e das tensões que acabam por contaminar todo cenário.

A avaliação iluminativa enfrenta a problemática do medo e da insegurança, fazendo com que haja dificuldades para avaliar resultados ou processos. A tônica que impera é a manutenção da estabilidade e não da mudança. A situação ameaçadora provocada pelo papel ameaçador da avaliação iluminativa pode ser mudada pela criação de um clima propício de abertura na própria equipe. Há a necessidade de se trabalhar numa equipe interdisciplinar e que as pessoas trabalhem realmente num sentido de constituírem uma equipe de trabalho e que essa atividade seja valorizada.

Dessa forma, essa situação permite criar um espaço para haver intercâmbio na equipe com discussões, diálogo, um esforço de auto avaliação, além de um estímulo necessário para o desenvolvimento das competências voltadas para a área de relacionamento humano. “Para enfrentar todos os obstáculos assinalados, um projeto de avaliação, conduzido dentro dos moldes da avaliação iluminativa, deveria prever o provável desencadeamento de sentimentos de medo e insegurança relacionados às características próprias desse paradigma avaliativo.” (ABRAMOWICZ, 1980, p. 53).