• Nenhum resultado encontrado

Temos que acreditar em milagres? Existem prodígios? De onde vem esta necessidade de se maravilhar, surpreender, deslumbrar e ficar petrificado, que nos dá medo e ao mesmo tempo todos desejamos?

No documento Astrologia e Artes Adivinhatórias (páginas 89-91)

O

que é um milagre? Q u e é um prodígio? Q u e diferença existe entre ambos?

U m milagre é, etimologicamente, "algo surpreendente", admirável, estranho, maravilhoso, maravilha e milagre têm portanto raízes comuns. Mas o mila- gre tomou o sentido religioso, prin- cipalmente para os cristãos, de um "fato que, ao não ter uma explicação natural, se atribui a uma intervenção divina". Por esta razão, a história da cristandade está repleta de milagres, sendo fiel com isso aos fatos que cons- tam no Antigo Testamento onde Elo- him (Jeová ou Yahvé) aparecia e mani- festava-se como castigador ou salvador do povo, dependendo do caso, dire- tamente ou através de seus profetas ou anjos.

N o entanto, na acepção cristã, o mi- lagre é sempre conseqüência de uma intervenção divina. A mão de Deus já não pesa, mas sossega , alivia, liberta. N o sentido etimológico, uva prodígio é um "sinal profético". Tanto pode ser maravilhoso c milagroso, como mons- truoso ou associado à calamidade. Mas, enquanto o milagre tomava o sentido que já conhecemos, o prodígio trans-

formava-se propria- mente "no que depen- de do milagre". Em outras palavras, não podia ser mais que a conseqüência de uma intervenção divina. Mas teria sido sempre assim? Não. Eis aqui algumas provas que nos ajudarão a com- preender como nossos antepassados viam o que ainda atualmente é motivo de nossa atra- ção — o Céu, a Terra, a natureza, o sobrena- tural — com o olhar sempre atento e cu-

rioso e, contrariamente a nós, com essa capacidade de se maravilhar e encan- tar que perdemos e nos falta, bem como um espírito observador e dedu- tivo de grande pertinência.

PRODÍGIOS DA NATUREZA E SINAIS DOS DEUSES Para ilustrar o exposto, citemos algu- mas palavras de Jean Bittero: "Os an- tigos habitantes da Mesopotâmia esta-

vam convencidos de que o mundo só se explicava por si mesmo e para j u s - tificá-lo eram obrigados a colocar per-

Os deuses mesopotâmicos são personagens sobre-humanos, criadores e governadores do mundo, mas também autores de

milagres, já em sua própria representação. A passagem do rio Jordão: milagre ou si- nal dos deuses?

personagens sobre-humanos que deviam ter fabricado e que governa- vam (...). E nesse país de antiga tra- dição escrita, onde as decisões sobera- nas normalmente se promulgavam por escrito, os deuses deviam ser gravados e memorizados assim como a ex- pressão de sua vontade. Como? (...) Quando os deuses criavam um ser não conforme ao seu modelo, ou então um acontecimento singular, inopinado, excêntrico, manifestavam assim sua vontade de anunciar um destino igual- mente não habitual, que se podia co- nhecer se se soubesse decifrar essa vontade mediante a apresentação do fenômeno anormal em questão. (...) Esta era a base da adivinhação dedu- tiva: tratava-se de ler nos aconteci- mentos ou objetos singulares ou irre- gulares, para retirar ou deduzir as decisões divinas em relação com o ob- jeto do ato adivinhatório".

Como ilustram estes textos, os antigos habitantes da Mesopotâmia compila- vam prodígios, ou seja, todos

os acontecimentos que fu- giam do normal, isto é, so- brenaturais, invulgares, es- tranhos ou monstruosos, os quais consideravam sinais revelados pelos deuses para prevenir outros aconteci- mentos ou situações que os afetavam. Deste modo, o que podia parecer antinatu- ral ou sobrenatural tinha uma explicação racional e ló- gica, justificava-se e funda- mentava-se, ganhava um sentido.

N o entanto, se pensarmos bem, não se trata de um comportamento semel- hante ao atual espírito científico? Não existe, portanto, uma vontade nos cientistas de explicar o inexplicável, de decifrar e dominar os mecanismos mais sutis da vida, os prodígios da na- tureza que, no imenso jogo c vasto campo de probabilidades, se conver- tem em fenômenos compreensíveis, justificados e previsíveis? A única di-

ferença — que não é inofensiva, já que

implica outra mentalidade, isto é, uma atitude mental intervencionista e do- minadora, que é uma das caracterís- ticas de nossa civilização tecnológica — reside em que o homem antigo se admirava, maravilhava e respeitava os prodígios da natureza e estava atento a eles, enquanto o homem hoje em dia, ao querer racionalizá-los e dar expli- cações lógicas, escondeu-os e excluiu- os de sua cultura.

Onde estão os prodígios e os milagres da atualidade? Nas telas de cinema e da televisão. Porém todos sabemos que já não se trata de milagres ou prodí-

gios, mas de efeitos especiais realiza- dos por técnicos habilidosos.

OS MILAGRES DOS SANTOS Se você deseja entrar no m u n d o dos milagres reais ou imaginários dos san- tos do mundo cristão, aconselhamos a ler alguma das numerosas compilações publicadas com o evidente nome de

Vida dos Santos. Muitas delas foram

como São Martinho ressuscitou um de- funto, apareceu uma bola de fogo so- bre sua cabeça e foi visto em vários lu- gares depois de morto, errando entre os vivos com o propósito de curar um cego e um paralítico; descobrimos também como São Zózimo enterrou a santa Maria Egipciaca com a ajuda de um leão; como São Pedro apareceu a Santa Ágata e a curou e como a erup- ção de um vulcão se deteve de repente graças ao seu véu...

Este inventário de milagres atribuídos aos santos é interminável. Ao lê-los, compreendemos melhor como e por que fazem parte do universo das cren- ças enquanto os prodígios da natureza pertencem ao domínio dos presságios e da adivinhação. Cada época tem seus milagres e prodígios, que são os sinais dos tempos.

Acima: A multiplicação dos pães. A direita: Pazuzu, deus mesopotâmico dos maus espíritos e da atmosfera.

redigidas durante a Idade Média e ainda hoje continuam a ser editadas. Em uma delas descobrimos, por exem- plo, que Santa Isabel curou um monge, devolveu a vida a um enforcado e a , um afogado e deu a visão a um cego de nascença; também saberemos co- |

O magnetismo

Do ímã ao eletromagnetismo, o homem descobriu que nele

No documento Astrologia e Artes Adivinhatórias (páginas 89-91)

Outline

Documentos relacionados