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Porém, mais, especificamente, seu papei de mediador está situado entre o reino dos mortos e dos vivos.

No documento Astrologia e Artes Adivinhatórias (páginas 57-59)

A

palavra "médium" foi usada popu- larmente a partir do ano 1860, du- rante uma época em que as qualidades, dotes e os eventuais poderes dos mé- diuns tiveram um grande sucesso. Foi a escritora Marguerite Yourcenar quem, durante uma entrevista na

televisão, observou que os testemunhos das aparições e contatos com os espíritos nunca tinham sido tão nu- merosos como durante a época em que, simultane- amente, nasceram a foto- grafia e o telégrafo sem fios. C o m o se o fato de poder fixar imagens da re- alidade c transmiti-las atra- vés de sons, palavras ou música através de ondas estivesse em correlação com a capacidade que al- guns seres têm para entrar em comunicação com o que chamamos o invisível. Poderíamos acrescentar que, a partir daquele mo- mento, procuramos ins- trumentos tecnológicos que nos permitem ver, não apenas virtualmente o in- visível, mas intervir direta ou indiretamente em cam- pos que não são perceptí- veis à primeira vista: por exemplo, os micróbios, os vírus, os genes e os áto- mos.

Mas nem todos os terre- nos invisíveis são iguais. Assim, deveríamos utili- zar sempre o condicional para falar de fenômenos próprios da arte dos mé- diuns, pois de maneira al-

guma devemos influir nas crenças ou convicções de cada um. De nossa parte, nos limitaremos a revelar as qualidades do médium, no sentido em que se dis- tingue de um vidente ou de um visio- nário.

OS MÉDIUNS EA CIÊNCIA Parece que a palavra "médium" foi usada pela primeira vez pelo pesquisador e erudito sueco Emmanuel Swedenborg (1688-1772) que fundou a primeira re- vista científica sueca, mas se destacou

principalmente por seu espírito inventivo e sua grande imaginação cientí- fica. Assim, foi ele quem definiu os grandes princí- pios do mundo submarino, um novo sistema de com- portas, a futura máquina a vapor, um aparelho voador e uma bomba de mercúrio. Mas também se interessou por geologia, física, quí- mica c, principalmente, pela biologia.

Eleito membro da Real Academia de Estocolmo em 1741, foi depois con- siderado — até hoje — um autêntico filósofo da natu- reza e fez muito pelo de- senvolvimento das artes e da indústria sueca. Paralelamente, a partir de 1736 aproximadamente, le- vado por um espírito cu- rioso e científico como era o seu, inclinou-se com muita seriedade para alguns fenômenos específicos. De maneira que observou que algumas vezes era vítima de vertigens e de visões de lu- zes. De um ponto de vista psicanalítico clínico, os fe- nômenos que Swedenborg testemunhou foram consi- derados desde então como os estados que precedem a esquizofrenia.

William Blake interessou-se amplamente pelas pesquisas de Sweden- borg. Para o pintor e poeta britânico, a "escada de caracol sem fim que leva ao último céu" é uma representação do canal auditivo. Para o pesquisador e erudito sueco, "a abertura do ouvido subjetivo ou interior" permite relacionar-nos com os mundos superiores.

N o entanto, a partir de 1747, parece que se produziu uma reviravolta em sua vida e em seu pensamento. De fato, este homem sério, rigoroso, lúcido, ponde- rado, reconhecido unanimemente por suas qualidades de homem de ciências, afirma de repente que estava prestes a entrar em comunicação com os espíri- tos e os anjos.

A partir deste momento, e até o final de sua vida, Emmanuel Swedenborg dedi- cou-se sobretudo às ciências físicas e biológicas. E sua reputação nunca foi maculada nem rebaixada pelo fato de, concomitantemente aos seus trabalhos científicos, se interessar bastante pelos fenômenos inerentes à alma, pelas re- lações psíquicas com o mundo dos es- píritos e pelas visões e manifestações so- brenaturais. As obras que dedicou às suas visões e aos fenômenos estranhos, dos quais foi protagonista ou teste- munha, tiveram uma profunda difusão em toda a Europa do século XVIII e no pensamento científico e filosófico do sé- culo XIX. Sua fama foi tal que o filó- sofo Immanuel Kant (1724-1804) es- creveu ura livro inspirando-se nos

testemunhos e na obra de Emmanuel Swedenborg: Os Sonhos de um Visionário

Explicados pelos Sonhos da Metafísica, pu-

blicado em 1766. Embora tenha sido de- clarado herege pela Igreja em 22 de março de 1769, seus semelhantes nunca duvidaram de sua clarividência e é con- siderado, ainda hoje, um precursor no campo da cristalografia e da biologia moderna.

O escritor Honoré de Balzac afirma em relação ao assunto: "Swedenborg recu- pera do ocultismo, do bramanismo, do budismo e do misticismo cristão o que estas quatro religiões têm em comum, real, divino, e devolve à sua doutrina uma razão, por assim dizer matemática. Sua religião é a única que admite um es- pírito superior."

0 QUE É UM MÉDIUM? Assim, segundo Emmanuel Sweden- borg, o médium é um ser dotado de ta- manha capacidade psíquica, que lhe per- mite entrar em comunicação com os espíritos de almas defuntas. Devemos, portanto, distinguir o médium de um vidente e de um visionário.

O médium

Simplificando, diremos que é um ser que consegue entrar em comunicação com os mortos.

Para admitir que tal fenômeno existe, devemos partir necessariamente do pressuposto segundo o qual há outra forma de vida para além da vida terrena e material, em uma dimensão que se en- contra além do universo do mundo fe- nomênico e perceptível à primeira vista, e do qual conhecemos hoje em dia a sua existência. Trata-se do universo das cé- lulas, dos átomos, das ondas, das estru- turas da matéria e da luz.

Os espíritos dos defuntos empregariam de alguma forma este canal, se é que po- demos chamar-lhe assim, para entrar em comunicação com o espírito do mé- dium. Atualmente, existe uma técnica, a transcomunicação, que parte deste postulado e que parece oferecer novas perspectivas neste campo de investi- gação.

O vidente

E um ser que, quer por indução — ou seja, explorando suas faculdades cog- nitivas espontâneas, e assim sem ne- nhum suporte, — quer por dedução — isto é, utilizando artes adivinhatórias e maneias —, se encontra em condições de penetrar na consciência e na memó- ria intuitivas de um terceiro e revelar os acontecimentos e os fatos relativos ao seu passado e ao seu futuro.

O visionário

E um ser cujas preocupações ou estados de espírito são do tipo místico ou reli- gioso e que, também neste caso, quer por indução — ou seja, sob a influência de fenômenos devidos quase sempre a uma grande receptividade psíquica — quer por dedução, empregando técni- cas de meditação e orações, consegue ser objeto de visões proféticas.

Durante uma sessão de espiritismo, Wil- liam Blake teve a visão do espírito de uma mosca. Desenhou-a, enquanto a mosca lhe explicava que a alma das moscas era a dos indivíduos sanguinários (segundo as pa- lavras do astrólogo e paisagista John Var¬ ley). (William Blake, O Espírito de uma Mosca, ca. 1819.)

Antes de se consagrar em exclusivo às suas visões, Emmanuel Swedenborg elaborou teorias sobre a origem do sistema solar (Em- manuel Swedenborg, Opera philosophia et mineralia, Dresden e Leipzig, 1734).

No documento Astrologia e Artes Adivinhatórias (páginas 57-59)

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