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o Nirvana é o grau mais alto de consciência que um homem pode alcançar.

No documento Astrologia e Artes Adivinhatórias (páginas 49-51)

Segundo os hinduístas e os budistas,

o Nirvana é o grau mais alto de consciência que um homem pode alcançar.

E

sta palavra que se emprega, de forma tão errônea e equivocada, para designar uma felicidade indescri- tível, uma alegria profunda, corres- ponde, na realidade, ao estado de cons- ciência mais alto que existe, segundo o hinduísmo. Literalmente, não significa alegria, felicidade e êxtase ou qualquer noção que implica um grau supremo de felicidade, mas sim "extinção". Seu verdadeiro sentido escapa tanto à nossa cultura e à nossa mentalidade, que a afastamos de sua acepção original, pre- ferindo ver nela a descrição de uma espécie de segundo estado no qual se submerge o iogue ou o adepto entregue aos ritos ou técnicas hinduístas. Na verdade, da mesma forma que o xamã, e ao contrário da maioria dos místicos ou reli- giosos ocidentais, o autêntico iogue não busca uma perfeição qualquer, nem um paraíso neste mundo ou no mundo do além, mas sim que tenta dis- solver seu eu individual, o qual cm astrologia, como você pode lembrar, se define pela posição do ascendente.

A DISSOLUÇÃO PO EU INDIVIDUAL Primeiro, segundo os hinduís- tas, e, mais tarde, segundo os budistas, o eu individual é o que causa as divisões, tensões, crises, conflitos, doenças, dra- mas, desordens de todo tipo e, além disso, as guerras e catás- trofes de ordem coletiva que nos afetam ou das que somos vítimas, mais cedo ou mais tarde c de forma cíclica.

É fácil compreender porque somos tão reticentes com respeito ao que é uma das verdades fundamentais das crenças hinduístas. De fato, não chegaremos a dizer que o eu individual é tudo, mas todos conhecemos a grande importân- cia que lhe concedemos, pois nossas so- ciedades e os sistemas políticos que as governam, qualquer que seja sua ideo- logia, se baseiam no princípio da liber- dade individual e, portanto, na noção do indivíduo. N o entanto, para não criar confusão, devemos entender que esta

extinção ou dissolução do eu individual ou Nirvana não põe sua existência em dúvida, nem se opõe às liberdades in- dividuais. Pelo contrário, para o adepto ou discípulo hinduísta ou budista autên- tico, ninguém pode conhecer o Nirvana se não for um indivíduo completo e re- alizado. Dito de outra forma, um dos princípios básicos que indicam como al- cançar esta extinção ou dissolução do eu individual, que leva a paz à alma c ao es- pírito, o fim de todos os sofrimentos fí- sicos e morais, uma espécie de liberação

— subentende-se a liberação das paixões e tensões engen- dradas pelos desejos, cobiças e possessividade —, consiste cm se ser a si mesmo, rea- lizar-se, conhecer-se a si mesmo e não identificar-se com ideologias, crenças, dogmas, convicções ou, sim- plesmente, tópicos ou luga- res comuns, que anulam todo pensamento e todo ato pessoais, que emanam do eu individual. Mencionemos de passagem um trecho do Evan- gelho apócrifo de Tomás, ma- nuscrito escrito em copto, en- contrado no Alto Egito em

1945, na localidade de Nag Hammadi e que, para alguns, é o texto original no qual te- riam se inspirado os quatro evangelistas para redatar seus correspondentes Evangelhos, hipótese, por outro lado, muito controvertida. A dissolução do eu individual, que traz a paz à alma e ao espírito, é o Nirvana.

"Disse Jesus:

Quem for conhecedor de tudo,

mas falhe (no tocante a) si próprio, falha em tudo."

(Evangelho de Tomás, Apócrifos gnósticos de Nag Hammadi, tradução do castelhano

procedente da edição realizada a cargo de Aurélio de Santos Otero, cm 1956, para a Biblioteca de Autores Cristãos. 7.a ed.: 1991).

Esta passagem (ao contrário de mui- tas outras contidas neste texto e em- bora possa não ser original ela é, em todo caso, reconhecida, cronológica e historicamente, como anterior aos

Evangelhos canônicos, e não tem seu

equivalente em tais Evangelhos) pode ser interpretada da maneira seguinte: se uma pessoa tem a oportunidade de assimilar todo o conhecimento e todo o saber e viver muitas experiências, in- clusive compreender os grandes prin- cípios universais do mundo, mas, por outro lado, ignora quem é ele próprio e desconhece seu eu individual, então, tudo que conhece, sabe, assimilou, viu ou viveu, não lhe serve de nada. Se destacamos o conteúdo desta pas- sagem para ilustrar nossas palavras c

porque pretendemos demonstrar que os princípios e crenças de onde provém o cristianismo primitivo não estão opostos aos enunciados pelo hin- duísmo e pelo budismo. N o século II de nossa era, Nâgârjuna — um dos principais filósofos do budismo, cujo sistema de pensamento seria muito próximo tanto de talmudistas e caba- listas como das teorias modernas da re- latividade, ou dos quanta, pois segundo ele, e de forma evidentemente resu- mida, qualquer coisa neste mundo só existe ou se distingue graças ao seu contrário, de maneira que tudo é re- lativo e nada possui uma realidade ver- dadeira —, escreveu o seguinte:

"Nirvana não é a não-existência. Como podes pensar isto?

Chamamos Nirvana à cessação

de todos os pensamentos da não-existência e da existência."

(Citado por Robert Linssen, em Boudd¬

hisme, Taoïsme et Zen, Le Courrier

du Livre, 1972.)

Aqui vemos uma noção que podería- mos comparar com a que fizemos alusão ao falar do Aleph e de Urano, tal como se definem a partir das fontes ca- balistas da astrologia hebréia. Final-

mente, citemos Hui Hai, maestro do budismo zen:

"A compreensão como conseqüência de uma percepção particular não tem porque implicar a compreensão da realidade da coisa percebida. O que se percebe no pro- cesso de percepção do comum é o Nirvana, também conhecido como liberação."

(Citado por Robert Linssen, já citado.) Também encontramos palavras do Evangelho apócrifo de Tomás que tem muitos pontos em comum com as do budismo zen e que, desta vez, encon- tram um equivalente em três dos qua- tro Evangelhos canônicos:

"Disse Jesus:

Reconheces o que tens ante teus olhos, e se manifestará o que está oculto, pois nada há escondido que não venha a manifestar-se."

(Evangelho apócrifo de Tomás, já citado.)

A "percepção comum" aludida no pri- meiro texto e a idéia de "conheces o que tens ante teus olhos" têm o mesmo sentido: ver o que vemos sem inter- pretá-lo, nem querer dar-lhe um sen- tido: ver o significado.

Vejamos quatro textos dos Evangelhos, parecidos ao que acabamos de ler:

"Porque nada há oculto mas sim para ser descoberto, e não há nada escondido mas sim para que venha à luz."

(Marcos, 4, 22.)

"Não os temeis, porque nada há oculto que não venha a descobrir-se, nem segredo que não venha a conhecer-se."

(Mateus, 10, 26.)

"Pois nada há oculto que não tenha que descobrir-se, nem segredo que não tenha que conhecer-se e vir à luz."

(Lucas, 8, 17.)

"Pois nada há oculto que não tenha que descobrir-se, e nada escondido que não chegue a saber-se."

(Lucas, 12, 2.)

(Traduções procedentes da Sagrada Bí-

blia de Eloíno Nácar e Alberto

Colunga, La Editorial Católica, 1966.)

A percepção direta e comum leva ao Nirvana. É o mesmo que dizia Jesus em outros termos.

Os 5 profetas

No documento Astrologia e Artes Adivinhatórias (páginas 49-51)

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