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Chaves, R.1; Gabriel, R.2; Monteiro, M.3 & Moreira, H.4

Resumo

Com base nos níveis de actividade física (baixo, moderado e elevado), o estudo procurou analisar as diferenças dos valores médios das variáveis de composição corporal e de metabolismo basal em mulheres pós-menopáusicas.

A amostra incluiu 109 mulheres (56,26±4,83 anos), a sua maioria documentando uma menopausa natural (73,4%) e um tempo de menopausa inferior a 10 anos (67,9%). O nível metabólico basal (NMB) e a composição corporal foram avaliados através da bioimpedância octopolar (InBody 720, Biospace) e o índice de massa muscular esquelética foi calculado pela fórmula: IMME= (MME/peso) ×100. A classificação da actividade física (AF) foi realizada através da versão longa do IPAQ, tendo a comparação das médias das variáveis entre os níveis moderado (600-2999 MET- minutos/semana) e elevado (≥3000 MET-minutos/semana) sido apreciada através do teste t para amostras independentes e considerando um grau de significância estatística de 5%. As mulheres com AF elevada apresentaram -2,64 % de MG e +1,46% de IMME (p≤0.05), comparativamente às mulheres com AF moderada, não tendo sido registadas diferenças em relação às restantes variáveis.

Os nossos resultados sugerem que a presença de níveis de AF≥ 3000 MET- minutos/semana influencia positivamente os níveis de adiposidade total e a condição muscular de mulheres pós-menopáusicas.

Palavras Chave — Pós-menopausa; actividade física habitual; composição corporal

1

Rafael Chaves - UTAD rafamartinschaves@oi.com.br

2

Ronaldo Gabriel - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde, CITAB, Vila Real, Portugal, rgabriel@utad.pt

3

Marco Monteiro - CIDESD, Vila Real, Portugal, mmonteiro@iol.pt

4

Helena Moreira - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde, CIDESD, Vila Real, Portugal. hmoreira@utad.pt

1 - INTRODUÇÃO

A menopausa marca o término do período fértil da mulher, resultante da perda da actividade folicular dos ovários, sendo reconhecida como natural após 12 meses consecutivos de amenorreia, sem causa patológica óbvia, e tendo uma idade média de instalação de 51 anos (SPM, 2009). Ela também pode ser induzida por cirurgia (ooforectomia bilateral) ou ablação iatrogênica da função ovárica (ex. quimioterapia ou radiação pélvica), gerando uma redução abrupta dos estrogénios endógenos (Birkhäuser, et al., 2005). Este evento biológico origina a manifestação e/ou o agravamento de vários problemas de saúde que afectam a qualidade de vida da mulher, entre os quais se incluem a osteoporose, a doença cardiovascular, a sarcopenia, problemas neurológicos, entre outros (Moreira, 2008).

Com a cessação da função ovárica a mulher tende a manifestar uma redução da massa magra, nomeadamente no que diz respeito às componentes muscular e óssea, e da taxa metabólica basal e um aumento da adiposidade total e central, com implicações no risco de queda, na autonomia funcional e na ampliação do risco cardiovascular (Moreira, 2008; Tengvall, et al., 2009; Elavsky, 2009).

A prática regular de actividade física está associada a um melhor controlo do peso corporal, à melhoria do perfil metabólico e hemodinâmico (Committee, 2008) e da condição músculo-esquelética nesta população, constituindo a prescrição individual do exercício e a sua adequada monitorização factores determinantes para a obtenção de maiores benefícios (Pines, 2009).

Na literatura é identificado um número limitado de estudos que analisa os níveis de actividade física de mulheres pós-menopáusicas com base no IPAQ (França, Aldrighi, & Marucci, 2008; D. K. Silva & Nahas, 2004; R. B. Silva, Costa-Paiva, Pinto-Neto, Braga Ade, & Morais, 2005; R. B. Silva, Costa-Paiva, Pinto Neto, Braga Ade, & Morais, 2006) e que os relacionada com a composição corporal avaliada por bioimpedância octopolar (Almeida, 2008; Moreira, et al., 2008; Moreira, et al., 2009). De referir também que, na sua grande maioria, os estudos recorrem à utilização da versão curta deste questionário. Com base na classificação dos níveis de actividade física habitual avaliados pelo IPAQ em baixo, moderado e elevado (IPAQ Research Committee, 2005), o estudo procurou analisar as diferenças nos valores médios da taxa metabólica basal e das variáveis de composição corporal de mulheres pós- menopáusicas. Pelo facto da amostra reunir apenas um elemento com níveis de

actividade física inferiores a 600 METS-minutos/semana, o nível baixo não foi considerado na análise.

2 - MÉTODO

A recolha de dados realizada neste estudo enquadra-se no Projecto ―Menopausa em Forma‖, dirigido a mulheres pós-menopáusicas com idade superior a 40 anos e promovido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Moreira, 2004). Ele foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pelo Programa Operacional Ciência e Inovação 2010 (POCI 2010) e comparticipado pelo fundo comunitário europeu FEDER, tendo também tido o apoio do Instituto de Desporto de Portugal.

2.1- Participantes

A amostra foi constituída por 109 mulheres pós-menopáusicas (NAMS, 2010a) com idades compreendidas entre 41 anos e 68 anos, documentando a sua maioria uma menopausa natural (73,4%), um tempo de menopausa inferior a 10 anos (67,9%) e a utilização de terapia hormonal (60,6%). A sua inclusão na amostra foi realizada após avaliação da história clínica e reprodutiva, sendo observados os seguintes critérios de inclusão (Moreira, 2004): (a) ausência de menopausa prematura (instalação da menopausa numa idade inferior a 40 anos), (b) inexistência de doença cardiovascular (sintomas de angina de peito ou de enfarte no miocárdio nos últimos 3 meses) e de valores de triglicéridos superiores a 400 mg/dl; (c) ausência de hipertensão descontrolada (pressão arterial sistólica superior a 200 mmHg e/ou diastólica superior a 105 mmHg) e de doença renal, hepática ou hematológica significante; (f) não utilização de medicamentos beta-bloqueadores ou anti-arrítmicos e sem limitações músculo- esqueléticas susceptíveis de condicionarem a prática do exercício ou serem agravadas pelo mesmo.

2.2 - Material

A recolha de dados foi realizada no Laboratório de Aptidão Física, Exercício e Saúde da UTAD, recorrendo-se à utilização dos seguintes materiais: estadiómetro SECA 220 (Seca Coporation, Hamburg, Germany), bioimpedância octopolar InBody 720 (Biospace, Seoul, Coreia), versão longa do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) e programa estatístico SPSS (versão 16, SPSS Inc., Chicago, Illinois).

2.2- Procedimentos

A altura foi medida em posição antropométrica com o estadiómetro SECA 220, sendo o resultado considerado no final da inspiração profunda. O peso (P), a massa gorda (MG), a massa isenta de gordura (MIG), a massa muscular esquelética (MME), a área de adiposidade visceral (AAV) e a massa isenta de gordura e de osso total (MIGO) e regional (MIGOB, braços; MIGOT, tronco, MIGOP, pernas) foram avaliadas com a

bioimpedância octopolar InBody 720, cumprindo-se os seguintes procedimentos de avaliação (Chumlea & Sun, 2005; Heyward & Wagner, 2004), (a) estar em jejum; (b) não consumir bebidas alcoólicas nas 48 h anteriores a avaliação, (c) não praticar exercício de intensidade moderada a elevada nas 12 horas prévias à apreciação da composição corporal, (d) não realizar a avaliação diante de uma situação febril ou de desidratação; (e) não usar bijutarias metálicas ou implantes dentários com metal; (f) realizar a avaliação em fato de banho ou roupa interior e; (g) informar o técnico sobre o uso de medicação diurética.

As mulheres com %MG≥35% foram classificadas de obesas, de acordo com os critérios definidos por Lohman & Going (1998) e o índice de massa muscular esquelético foi calculado através da fórmula proposta por Janssen et al (2002): IME (%) = MME (kg) /P (kg) × 100. O IMME permitiu realização a classificação da condição muscular em normal (IME> 28%), sarcopenia de classe I (IME entre 22% e 28%) e sarcopenia de classe II (IME <22%). Os erros técnicos e os coeficientes de variação destas variáveis foram calculados com base na realização de medições em duplicado em 10 mulheres pós-menopáusicas, estando os mesmos expressos no Quadro 1.

Quadro 1 - Erro técnico e coeficiente de variação associados a cada uma das medidas antropométricas e da composição corporal.

Variáveis Erro Técnico Coeficiente de Variação (%)

Estatura (m) 0,09 0,04

Peso (kg) 0,06 0,70

Massa Gorda (kg) 0,32 0,70

Massa Isenta de Gordura (kg) 0,20 0,30 Massa Isenta de Gordura e de Osso Total 0,35 0,70 Massa Isenta de Gordura e de Osso no Membro Superior Direito (kg) 0,04 1,46 Massa Isenta de Gordura e de Osso no Membro Superior Esquerdo (kg) 0,04 0,94 Massa Isenta de Gordura e de Osso no Tronco (kg) 0,19 0,84 Massa Isenta de Gordura e de Osso no Membro Inferior Direito (kg) 0,03 0,35 Massa Isenta de Gordura e de Osso no Membro Inferior Direito (kg) 0,03 0,20 Massa Muscular Esquelética (kg) 0,21 0,70 Área de Adiposidade Visceral (cm2) 0,97 0,29

A taxa metabolica basal (TMB) foi estimada recorrendo à equação definida por (Cunningham, 1991) e a actividade física foi avaliada através da versão longa do questionário IPAQ, sendo classificada de elevada (≥3000 MET-minutos/semana), moderada (600-2999 MET- minutos/semana) ou baixa (<600 MET- minutos/semana). As participantes do estudo recebiam o questionário com instruções e recomendações para o seu preenchimento, não sendo estabelecido limite de tempo para a sua execução e as eventuais dúvidas manifestadas pelas mulheres eram esclarecidas pelo técnico que acompanhava a recolha dos dados. Vários estudos (Craig, et al., 2003; Dinger, Behrens, & Han, 2006; Ekelund, et al., 2006; Fogelholm, et al., 2006; Hagstromer, Oja, & Sjostrom, 2006; Sjostrom, Oja, Hagstromer, Smith, & Bauman, 2006) examinaram a validade e a fiabilidade do IPAQ, encontrando um nível de confiança de razoável a muito bom na versão curta e longa.

A comparação das médias das variáveis entre os níveis moderado e elevado foi realizada através do teste t para amostras independentes, sendo considerado um grau de significância estatística de 5%.

3 - ANÁLISE DE RESULTADOS

A amostra incluiu 109 mulheres, com idade média 56,26 anos (±4,83) a sua maioria revelando uma menopausa relativamente recente (<10 anos) e que se instalou de forma gradual (menopausa natural em 73,4% dos casos).

No Quadro 2 são apresentadas as médias, desvio padrão e a amplitude, para as variáveis da composição corporal, idade e taxa metabólica basal. Da sua análise constatamos que os valores médios de %MG e de AAV foram, respectivamente, 39,09 % (±6,99) e 128,59 cm2 (±25,68), tendo 71,6% da amostra rapresentado sobrecarga ponderal patológica e 88,1% valores de adiposidade central iguais ou superiores a 100 cm2. O excesso de adiposidade central foi identificado em todas as mulheres obesas.

Quadro 2– Caracterização da amostra (n= 109).

Variáveis Média DP Amplitude Idade (anos) 56,26 ± 4,83 41,37 – 68,66 Peso (kg) 66,60 ± 12,41 44,10 – 108,60 Altura (cm) 155,66 ± 5,47 143,00 – 171,60 Massa Gorda (kg) 26,50 ± 9,65 2,79 – 57,70 Massa Gorda (%) 39,09 ± 6,99 23,20 – 53,80 Área de Adiposidade Visceral (cm2)

Massa Isenta de Gordura (kg) 128,59 ± 25,68 40,13 5,22

66,50 - 204,50 31,30 – 67,90 Massa Muscular Esquelética (kg) 21,63 ± 2,69 16,40 – 30,60 Índice de Massa Muscular Esquelética (%) 32,98 ± 3,73 24,70 – 41,65 Massa Isenta de Gordura e de Osso (kg)

Total 37,63 ± 4,31 29,50 – 52,50 Braços 4,21 ± 0,76 2,87 – 6,67 Tronco 18,71 ± 2,35 14,50 – 26,60 Pernas 11,72 ± 1,67 7,80 – 17,22 Taxa Metabólica Basal (kcal/dia) 1231,09 ± 96,92 1046,00 – 1575,00

Os valores médios de MME situaram-se entre 16,40 kg e 30,60 kg, sendo reconhecidas apenas 14 mulheres com sarcopenia, todas elas de nível 1 (IMME entre 24,70% e 41,65%). No que se refere à MIGO, os valores médios mais elevados foram observados para o tronco (18,71 ± 2,35 kg), seguidos das pernas (11,72 ± 1,67 kg), variando a TMB entre 1046 e 1575 kcal/dia.

No Quadro 3 são apresentadas as médias, desvio padrão, amplitude e o intervalo de confiança, dos níveis de actividade física total e relacionados com cada uma das dimensões (AFC, caminhada; AFM, moderada; AFV, vigorosa). Os valores médios de AFTot foram de 3579,65 MET-minutos/semana, reflectindo a presença de uma maior proporção de actividade moderada (56,54%) e quantidades equivalentes de AFV (795,96 MET-minutos/semana, 22,21% do total de actividade física) e de AFC (759,79 MET-minutos/semana, 21,23% do total de actividade física).

Quadro 3– Caracterização dos níveis de actividade física habitual da amostra (n= 109). Actividade Física Habitual

(MET-minutos/semana) Média DP Amplitude Intervalo de Confiança Caminhada 759,79 ± 871,14 0 – 4158 594,39 – 925,18 Moderada 2023,90 ± 2406,34 0 – 9660 1567,04 – 2480,76 Vigorosa 795,96 ± 789,04 0 – 4320 646,16 – 945,77 Total 3579,65 ± 2825,27 346 – 11484 3043,25 – 4116,05

No Quadro 4 são comparadas as médias da idade, da TMB e da composição corporal das mulheres com actividade física moderada (n=59) e elevada (n=49).

Quadro 4 - Comparação da média da idade, do nível metabólico basal e da composição corporal entre as mulheres com actividade física moderada e elevada.

Variáveis Actividade Física Moderada (n=59; média DP) Actividade Física Elevada (n=49; média DP) Diferença (média DP) Idade (anos) 55,70 ± 4,78 57,09 ± 4,79 -1,40 ± 0,93 Peso (kg) 67,99 ± 12,85 65,62 ± 11,92 2,38 ± 2,43 Altura (cm) 155,56 ± 5,59 155,62 ± 5,49 -0,05 ± 1,08 Massa Gorda (kg) 28,28 ± 9,98 24,87 ± 9,05 3,41 ± 1,87 Massa Gorda (%) 40,48 ± 7,34 37,84 ± 6,26 2,64 ± 1,34* Área de Adiposidade Visceral (cm2) 132,16 ± 27,15 125,43 ± 23,90 6,73 ± 5,02

Massa Muscular Esquelética (kg) 21,53 ± 2,62 21,83 ± 2,82 -0,30 ± 0,53 Índice de Massa Muscular Esqulética (%) 32,21 ± 3,88 33,67 ± 3,37 -1,46 ± 0,71*

Massa Isenta de Gordura e de Osso (kg)

Total 37,45 ± 4,06 38,01 ± 4,66 -0,56 ± 0,85 Braços 4,20 ± 0,76 4,25 ± 0,78 -0,04 ± 0,15 Tronco 18,74 ± 2,35 18,78 ± 2,41 -0,04 ± 0,46 Pernas 11,69 ± 1,58 11,79 ± 1,81 -0,10 ± 0,33 Taxa Metabólica Basal (kcal/dia) 1227,34 ± 92,51 1238,92 ± 103,96 -11,57 ± 19,09

*p≤0,05

Os resultados demonstram a ausência de diferenças entre os dois grupos para a TMB, idade e a grande maioria das variáveis da composição corporal analisadas, com excepção da %MG e do IMME. As mulheres com níveis de actividade física iguais ou superiores a 3000 MET-minutos/semana revelaram menores níveis de adiposidade total (-2,64%, p≤0,05) e uma melhor condição muscular (+1,46%, p≤0,05).

4 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O objectivo do presente estudo foi avaliar a composição corporal e a TMB em 109 mulheres pós-menopáusicas, em função dos níveis de actividade física moderado e elevado. A amostra revelou um elevado número de mulheres com acentuados valores de adiposidade total e central, reflectindo o efeito do envelhecimento e da menopausa. O aumento do depósito dos triglicéridos nos adipócitos, com a redução estrogénica, é explicado por vários factores entre os quais se incluem os seguintes: (a) diminuição da sensibilidade dos receptores para as hormonas lipóliticas (St-Onge & Bjorntorp, 2005); (b) redução da conversão dos androgénios adrenais em estrona devido à redução da hormona adrenocorticotrófica (H. Moreira & Sardinha, 2003); (c) restrição da globulina de ligação às hormonas sexuais, interferindo negativamente com o transporte dos estrogénios e dos androgénios no plasma (H. Moreira & Sardinha, 2003); (d) incremento da densidade dos receptores androgénicos, muito abundantes no tecido adiposo visceral, favorecendo a aquisição de um modelo de deposição da adiposidade

do tipo andróide (St-Onge & Bjorntorp, 2005) e; (e) acentuada acumulação de triglicéridos nas células adiposas viscerais articulada ao menor volume dos adipócitos intra-abdominais, à importante irrigação e enervação destes, bem como à marcada acção da lipoproteína lípase, (H. Moreira & Sardinha, 2003).

Apenas foram identificadas 14 mulheres sarcopénicas, todas elas de grau 1, situação que é justificada pela idade média exibida pela amostra (56,26 ± 4,83 anos). Segundo Moreira (2008), a partir dos 40 anos, a mulher perde cerca de 5% da massa muscular em cada década, mas esse declínio tende a ocorrer de forma mais pronunciada a partir dos 65 anos, elevando-se a perda de 10% para 40% entre os 50 e os 70 anos. Estes resultados também são influenciados pelas características da menopausa exibidas pela amostra, nomeadamente pelo facto da maior parte das mulheres revelar uma redução gradual dos níveis de estrogénio (NAMS, 2010b), um tempo de menopausa inferior a 10 anos (Shuster, Rhodes, Gostout, Grossardt, & Rocca, 2010) e a utilização de TH (Chen, et al., 2005). No que se refere à MIGO, os valores médios mais elevados foram observados para o tronco (18,71 ± 2,35 kg), seguidos das pernas (11,72 ± 1,67 kg), sendo os nossos resultados similares aos documentados por Hunter, Weinsier, Gower, & Wetzstein (2001), os quais tendo avaliado a composição corporal por densitometria radiológica de dupla energia, constataram que a massa magra do tronco era, comparativamente à localizada nos membros inferiores, mais resistente às mudanças associadas ao envelhecimento.

Levando em consideração o intervalo de confiança encontrado para a AFTot (3043,25 – 4116,05 MET- minutos/semana), podemos dizer que os níveis apresentados são superiores aos valores recomendados (780 a 1560 MET- minutos/semana) para adultos saudáveis pelo American College of Sports Medicine and the American Heart Association (Haskell, et al., 2007), sendo estes valores suficientes para o controlo do peso, podendo até gerar uma diminuição do mesmo. Segundo vários autores (Committee, 2008), a prática de actividade física equivalente a mais de 1560 MET- minutos/semana gera uma perda de pelo menos 5% do valor ponderal inicial.

A presença de uma maior proporção de actividade moderada (56,54%) seguida pela AFV (22,21% do total de actividade física) pode ser justificada pelo facto das mulheres exibirem habitualmente, comparativamente aos homens, uma menor percepção dos benefícios da actividade física para a saúde (nomeadamente de intensidade vigorosa); estarem mais dependentes de equipamentos e de programas de exercício existentes na comunidade para essa prática (Cavill et al., 2006; WHO, 2007); revelarem um maior

envolvimento com tarefas e responsabilidades no contexto familiar (Henderson & Ainsworth, 2003) e; exibirem um maior número de condições crónicas de saúde, que as leva a valorizar, particularmente numa idade mais avançada, a prescrição e a avaliação do exercício por profissionais qualificados (Cohen-Mansfield et al., 2004).

A ausência de diferenças na idade entre as mulheres com actividade física moderada e elevada poderá estar associada aos critérios de inclusão considerados no estudo que obrigavam, nomeadamente as mulheres mais velhas, a não exibirem condições músculo- esqueléticas que comprometessem a capacidade de realização do exercício ou situações cardiovasculares que condicionassem a prática do mesmo, a um nível de pelo menos a 40% da FC de reserva.

As mulheres que praticavam actividade física ≥3000 MET-minutos/semana exibiram uma melhor condição muscular e níveis mais reduzidos de adiposidade, comparativamente às mulheres com níveis de intensidade moderada. A presença de menores niveis de %MG pode ser justificada por vários factores associados ao metabolismo do tecido adiposo, entre os quais se enquadram os seguintes: (a) maior irrigação deste tecido; (b) redução do volume dos adipócitos; (c) maior estimulação dos receptores lipóticos relacionada com o aumento das hormonas lipolíticas (catecolaminas, hormona do crescimento, cortisol e T3) e com a melhoria da densidade e da funcionalidade dos referidos receptores e; (d) incremento da acção da lipase homono-sensitiva, responsável pela clivagem dos triglicéridos e pela sua transferência para a corrente sanguínea, entre outros (Moreira & Sardinha, 2003).

O trabalho cardiovascular realizado a uma intensidade moderada a vigorosa na maior parte dos dias da semana, combinado preferencialmente com pelo menos duas sessões semanais de reforço muscular, permite aumentar o potencial oxidativo das mitocôndrias, favorecendo a síntese proteica muscular (Newman, Pettee, Storti, Richardson, Kuller & Kriska, 2009). Segundo Goodpaster, Goodpaster, Chomentowski, Ward, Rossi, Glynn, Delmonico, Kritchevsky, Pahor & Newman, 2009), a actividade física de intensidade pelo menos moderada permite atenuar a perda muscular associada ao envelhecimento, reduzindo a infiltração de gordura no músculo, com reflexos na melhoria da condição muscular. Estes aspectos poderão justificar a presença de uma melhor condição muscular nas mulheres pós-menopáusicas com actividade física elevada em relação à que exibiam níveis de actividade física total entre 600 e 2999 MET-minutos/semana.

5 - CONCLUSÕES

Os nossos resultados sugerem que a presença de níveis de AF≥ 3000 MET- minutos/semana influencia positivamente os níveis de adiposidade total e a condição muscular de mulheres pós-menopáusicas.

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