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Processos de Cuidar em Enfermagem: Idosos com Hipertensão Arterial e

Actividade Física

Mártires, A.1; Costa, A.2; & Santos, C.3

Resumo

Os enfermeiros que acompanham os idosos com hipertensão arterial (HTA) estão conscientes da existência de necessidades que vão para além dos aspectos fisiopatológicos provocados pela doença.

Também o Plano Nacional de Saúde 2004-2010 (DGS, 2004), identifica a inadequação dos cuidados de saúde às necessidades dos idosos, não se fazendo, ao nível dos cuidados de saúde primários, um rastreio suficiente dos factores de fragilidade nos idosos, com insuficiente atenção aos determinantes da autonomia e da independência. Através da caracterização epidemiológica de 250 idosos hipertensos, tratados em regime ambulatório num centro de saúde da região norte do país, foi possível identificar necessidades de intervenção de enfermagem no que diz respeito à actividade física e à prática regular do exercício físico moderado.

Palavras Chave – Idosos; hipertensão; actividade física; cuidados de enfermagem

1 Alice Mártires, - Escola Superior de Enfermagem de Vila Real - UTAD; mmartires@utad.pt

2Arminda Costa, - Escola Superior de Enfermagem do Porto; arminda@esenf.pt

1 - INTRODUÇÃO

Os progressos científicos e sociais alcançados durante as últimas décadas impuseram um aumento da longevidade, dando origem à emergência de doenças crónicas não transmissíveis, passando a morte a acontecer com frequência no final de uma doença crónica evolutiva, mais prolongada. Saldanha (2009) refere que, embora se morra cada vez mais tarde, a maior parte dos cidadãos tem má qualidade de vida no último período da sua existência, dando origem a um desfasamento entre a esperança de vida e qualidade de vida. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003), as doenças crónicas representam mais de 60% da morbilidade mundial, estimando-se que para elas sejam canalizados cerca de 60% a 80% dos recursos globais investidos na saúde. Pela sua dimensão e implicações sociais, trata-se de um problema de saúde pública que acarreta consequências para as pessoas e famílias, para os profissionais de saúde e para os sistemas de saúde em geral. Dados recentes evidenciam que, em Portugal, aproximadamente 88% das pessoas com mais de 65 anos sofre pelo menos de uma doença crónica e 21% apresentam incapacidades crónicas (Sousa, Relvas & Mendes, 2007).

O diagnóstico de uma doença crónica representa sempre uma dificuldade na vida das pessoas, não só pelas limitações que a própria doença impõe e pelos constrangimentos que, naturalmente, lhe estão associados, mas também pela necessidade do cumprimento de um regime terapêutico durante o resto da vida. Baszanger (1986), afirma que a doença crónica altera o esquema habitual do sintoma – diagnóstico – tratamento – cura, dando lugar a um esquema aberto, dominado pela incerteza.

A HTA é uma doença crónica e um importante factor de risco cardiocerebrovascular. A sua relevância epidemiológica e as suas características clínicas e terapêuticas fazem desta doença uma das mais difíceis de controlar sob o ponto de vista do risco e consequentes efeitos negativos na qualidade de vida dos idosos. Em 2005, a OMS destacava o nosso país, com uma das taxas mais elevadas de mortalidade por acidente vascular cerebral. Segundo Pádua (2008), é a doença cardiovascular mais disseminada em todo o mundo desenvolvido e seguramente aquela que mais mortes causa, directa ou indirectamente. As lesões dos órgãos-alvo (rim, cérebro, olhos, coração) são provocadas pela aterosclerose, uma doença vascular que é uma espécie de ―ferrugem‖ gordurosa das artérias. A causa principal está ligada à HTA, a que também

se associa o consumo do tabaco, o álcool, o colesterol elevado, o excesso de açúcar no sangue e o sedentarismo.

A evolução de uma pré-hipertensão para a HTA é sobretudo atribuída aos estilos de vida cada vez mais errados, alimentação com muito sal, gorduras e açúcares, abuso de álcool, tabaco, stress e ainda falta de actividade física e exercício físico regular.

É importante que os enfermeiros que acompanham os idosos com HTA, desenvolvam intervenções mais direccionadas para esta problemática. Aprofundar conhecimentos em enfermagem, de modo a garantir mais autonomia e bem-estar, melhorar a qualidade de vida, oferecendo um cuidado de enfermagem mais humano e mais congruente com as reais necessidades dos idosos hipertensos. Em suma, contribuir para que os idosos vivam de uma forma mais activa, mais saudável e mais feliz.

A natureza biológica do homem, enquanto ser vivo, remete-nos para um certo número de necessidades, de cuja satisfação depende a sua sobrevivência. Para Costa (1998), ―necessidade‖, na linguagem corrente, designa alguma coisa que se precisa, remete-nos para a ideia do que é imprescindível, do inevitável, mas também de que a necessidade não tem existência senão no sujeito que a sente. Surge, por isso, ligada a valores, crenças, pressupostos e atitudes e diz sempre respeito aos indivíduos e aos contextos em que eles se encontram. Assim, todas as dimensões que caracterizam o ser humano definem cada uma das suas necessidades fundamentais: biológicas, psicológicas, sociológicas, culturais e espirituais (Phaneuf, 1986). Os enfermeiros situam as suas intervenções, por um lado, em relação a tudo o que promove a saúde e previne a doença - cuidados de manutenção; e, por outro, em relação a tudo que revitaliza e potencializa as capacidades funcionais das pessoas que sofrem processos de doença - cuidados de reparação (Collière, 1989). Costa (1998), defende que numa situação de doença, nas pessoas idosas, é importante determinar com elas (se possível), quais as condições e critérios que lhe permitirão viver o melhor possível, referindo a importância de incluir dados sobre a percepção que o idoso tem das suas disfunções e de como elas interferem nas suas actividades de vida diária.

A actividade física representa benefícios em todas as idades, mesmo quando a sua prática regular se inicia numa idade mais avançada. Nos idosos, para além de contribuir significativamente para a manutenção das funções cognitivas e da saúde mental, melhora a força muscular, a coordenação dos movimentos, a flexibilidade, a resistência, e é fundamental para o controlo da HTA (Barata, 2005). Trabalhos de investigação têm demonstrado que com exercício físico de baixa intensidade é possível

alcançar bons resultados, obtendo-se melhorias significativas no perfil lipídico e na redução de 10 mmHg, em média, tanto na tensão arterial (TA) sistólica como na TA diastólica nos indivíduos hipertensos (Mendes & Lourenço, 2008). Um trabalho prospectivo para avaliar os efeitos do exercício físico moderado e intenso em idosos hipertensos de ambos os sexos, demonstrou que o exercício moderado é mais eficaz para baixar a TA sistólica, sugerindo que o exercício físico moderado é o mais aconselhado para os idosos. Outro estudo demonstrou que, em idosos, três períodos de dez minutos de marcha, divididos ao longo do dia, têm o mesmo impacto na capacidade física que um único período de trinta minutos. Este conceito de que não é necessário exercício físico vigoroso para se obterem benefícios, veio facilitar a prescrição da actividade física nos idosos (Veríssimo, 2001).

É actualmente aceite que a actividade física regular e adequada à capacidade do idoso contraria o efeito do envelhecimento, quer a nível físico, quer a nível psíquico, sendo os aparelhos cardiovascular, respiratório, locomotor e neurológico os mais beneficiados.

No aparelho cardiovascular, a actividade física leva à diminuição da frequência cardíaca, aumenta o débito cardíaco e diminui a pressão arterial, o que se traduz por melhor tolerância ao esforço e melhor perfusão coronária, cerebral e periférica, ajudando a prevenir e a reabilitar doenças cardiovasculares (Martins, Guedes, Teixeira, Lopes & Araújo, 2009). Organizações, como a OMS, a International Society of Hypertension, a European Sociery of Hypertension, a Eutopean Society of Cardiology, a British Hypertension Society, a American Heart Association, recomendam a actividade física e o exercício físico regular como uma estratégia de intervenção não farmacológica e de modificação do estilo de vida, fundamental na prevenção primária, tratamento e controlo da HTA (Mendes & Barata, 2008). Segundo estes autores, o mecanismo da hipotensão, após o exercício físico, não é totalmente conhecido, embora se calcule que haverá uma interacção entre vários factores. Como se sabe, a TA é determinada pelo débito cardíaco e a resistência vascular periférica. A hipotensão pode ser vista como um estado hemodinâmico de transição entre o estado de exercício, envolvendo massas musculares e o estado de repouso. Durante o exercício, as resistências vasculares são reduzidas devido a uma vasodilatação predominante nos músculos exercitados. O débito cardíaco aumenta e tem como resultado um ligeiro aumento da pressão arterial diastólica e uma subida mais pronunciada na pressão arterial sistólica. Quando o exercício cessa, o débito cardíaco diminui rapidamente e a

resistência vascular recupera mais lentamente. A hipotensão parece ocorrer devido à diminuição da resistência vascular periférica, provocada por uma vasodilatação, sobretudo ao nível dos músculos exercitados e não tanto das alterações do débito cardíaco. Esta vasodilatação estará associada à atenuação da actividade do sistema nervoso simpático, após o exercício.

Sabendo-se que a actividade física está associada a benefícios físicos, psíquicos e sociais, talvez nenhuma outra medida possa concorrer de modo tão abrangente e global para o bem-estar e a saúde das pessoas idosas. Valenzuela, Miranda e Martinez (2007) defendem que caminhar é o exercício de eleição para melhorar o estado de saúde dos utentes idosos, afirmando que a caminhada é um exercício físico moderado do tipo aeróbico, que melhora o funcionamento cardiovascular e o aparelho locomotor e permite um bem-estar físico e psíquico. É recomendável fazê-lo acompanhado, não necessitando de instalações especiais nem material desportivo exclusivo. Trata-se de uma actividade tanto preventiva como de controlo de patologias crónicas como a HTA, a diabetes, a obesidade, entre outras. Tarefas da vida quotidiana como ir às compras, tarefas domésticas, jardinagem, horticultura, passear, ou actividades em grupo como ginástica rítmica, danças de salão, golfe, bicicleta, são tipos de actividade física também recomendadas para idosos (Saldanha, 2009).

2 - MÉTODO

Com o objectivo de caracterizar os idosos hipertensos da consulta de enfermagem de um centro de saúde da região norte do país, através de um conjunto de indicadores epidemiológicos, entre os quais, a actividade diária e a prática de exercício físico regular, desenvolvemos este estudo de carácter exploratório, transversal e quantitativo.

2.1 - Participantes

Participaram 250 idosos com o diagnóstico de HTA, acompanhados em regime ambulatório na consulta médica e de enfermagem. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão dos idosos:

- Ter 65 e mais anos;

- Estar referenciado na consulta de enfermagem e médica como hipertenso; - Estar em regime de tratamento ambulatório;

- Estar a fazer terapêutica anti-hipertensiva; - Não estar institucionalizado;

- Aceitar participar de forma livre, esclarecida e voluntária.

2.2 - Material

Foram utilizados um formulário, construído para este efeito, constituído por um conjunto de questões de caracterização social e demográfica, avaliação clínica (TA sistólica e diastólica, peso corporal, altura, Índice de Massa Corporal [IMC], colesterol total e HDL) e ainda por um conjunto de questões sobre factores de risco relacionados com a HTA, como a actividade diária e o exercício físico, A escala de Graffar para a determinação da classe social dos idosos e a escala de adesão aos tratamentos (MAT), constituíram igualmente instrumentos de colheita de dados.

2.3 - Procedimento

De Março a Dezembro de 2009, foram aplicados os instrumentos de colheita de dados já referidos, após autorização escrita do então Director e Enfermeira Supervisora da Sub-Região de Saúde de Vila Real. Foram explicitados os objectivos do trabalho e solicitada a colaboração dos idosos, garantindo o seu anonimato e confidencialidade. A realização deste trabalho foi bem acolhida pela equipa do Centro de Saúde.

Foi utilizada a Base de Dados do Programa Statistical Package for the Social Science (SPSS) 16 para a organização e tratamento estatístico dos dados.

3 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Relativamente à caracterização sóciodemográfica dos idosos, conforme podemos observar no quadro abaixo, 62,4% são idosos hipertensos do género feminino e 37,6% do género masculino, maioritariamente casados (66%), provenientes do meio rural (63,6%), 58,8% situam-se no grupo etário dos 65-75 anos e a viver em casa própria (93,2%).

10,0 27,6 20,4 42,0 0 10 20 30 40 50 % Masculino Feminino

Gráfico 1. TA Sistólica segundo o Género

Controlada Não Controlada

Quadro 1. Caracterização sóciodemográfica dos idosos hipertensos

Variáveis Ítens % Género Masculino 94 37,6 Feminino 156 62,4 Total 250 100% Grupo Etário 65 - 75 147 58,8 76 - 85 90 36,0 86 - 95 13 5,2 Total 250 100% Proveniência Rural 159 63,6 Urbana 91 36,4 Total 250 100%

Estado Civil Solteiro/a 8 3,2 Casado/a 165 66,0 Viúvo/a 76 30,4 União de Facto 1 0,4

Total 250 100%

Situação Social Vive em casa própria 233 93,2 Vive em casa de familiares 16 6,4 Outra (hotel) 1 0,4

Total 250 100%

Com quem Vive Sózinho/a 56 22,4 Com o Cônjuge 148 59,2 Com o Cônjuge e Familiares 17 6,8 Com Familiares 28 11,2 Outro (empregada) 1 0,4

Total 250 100%

A TA sistólica apresenta valores superiores a 140 mmHg, em 69,6% dos idosos inquiridos, enquanto os valores da TA diastólica são inferiores a 90 mmHg em 88,4%, como podemos observar nos gráficos 1 e 2.

32,0 5,6 56,4 6,0 0 10 20 30 40 50 60 % Masculino Feminino

Gráfico 2. TA Diastólica segundo o Género

Controlada Não Controlada

Estes resultados confirmam que a HTA mais frequente nas pessoas com 65 e mais anos é a TA sistólica isolada. Segundo Ramos e Miranda (1999), esta situação