• Nenhum resultado encontrado

Alterações do controle de força e postura ao longo da vida adulta

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

As maiores evidências deste estudo são que adultos de meia-idade tem maior HQR que os idosos e que não diferem significativamente dos jovens adultos. Os resultados sugerem que a estabilidade funcional do joelho pode ser mantida até à quinta década de idade, deteriorando-se significativamente após essa idade. O grupo de meia-idade mostrou também melhor controle postural que os idosos, nos parâmetros avaliados. Foram ainda encontradas correlações negativas moderadas entre os parâmetros posturais e a força dos músculos extensores e flexores da articulação joelho.

O ICC encontrado para o MVC varia entre 0.95 e 0.98 indicando alta fidelidade nas medições e está em linha com estudos anteriores (Allen, Gandevia, & McKenzie, 1995; Izquierdo, et al., 1999). Nos parâmetros do controle postural o ICC variou entre baixo (0.49) e elevado (0.95), resultados semelhantes a outros estudos (Collins & De Luca, 1993). A baixa fidelidade dos resultados deve-se à natureza estocástica dos parâmetros seleccionados que torna difícil obter resultados repetíveis (para detalhes ver Collins & De Luca, 2003).

As alterações ao longo da vida adulta da MVC dos extensores do joelho encontrados neste estudo demonstram uma tendência semelhante a estudos já realizados (Overend, Cunningham, Kramer, Lefcoe, & Paterson, 1992; Young, Stokes, & Crowe, 1985). Contudo, existe pouca informação acerca dessas alterações nos músculos flexores do joelho. Os nossos resultados mostram uma diminuição significativa da KF-MVC do jovem adulto e meia idade para o idoso, sem que haja diferenças entre os dois grupos mais novos. Esta evidência pode ter implicações a nível funcional já que a força máxima dos KE e KF parece diminuir a diferentes ritmos. Com efeito, a KE-MVC

diminuiu cerca de 0.79% por ano entre YG e OG, enquanto a KF-MVC é mantida até à meia-idade, decrescendo depois a um ritmo de 1.5% por ano do MG para o OG.

No dia-a-dia a resposta motora do indivíduo a situações inesperadas depende do stiffness dos membros inferiores, dinâmica articular e força muscular (Hortobagyi, Devita, Money, & Barrier, 2001). O aumento do stiffness dos membros inferiores no idoso durante o caminhar pode ser devido à aumentada co-activação quer dos KE quer dos KF (Hortobagyi, et al., 2001). Um bom nível de força muscular dos KF permite ao indivíduo caminhar (sobretudo à retaguarda) com maior amplitude articular. Contudo, se a força muscular é reduzida a mobilidade processa-se em passos menores e mais lentos. Assim, a perda de força nos KF detectada no idoso pode resultar na redução da capacidade de ajustamento motor a situações imprevistas comparativamente a jovens adultos ou de meia idade.

Vários estudos têm analisado o HQR em diferentes tipos de contracção e a diferentes ângulos do joelho, mas os dados estão limitados a atletas e jovens adultos (Mjolsnes, Arnason, Osthagen, Raastad, & Bahr, 2004; Rosene, Fogarty, & Mahaffey, 2001). O HQR parece não ser afectado pela idade em jovens entre 12 e 17 anos, pelo género, lateralidade ou modalidade desportiva (Gerodimos, et al., 2003; Rosene, et al., 2001). Contudo, o HQR é dependente da velocidade, tipo de contracção e posição relativa da articulação do joelho (Aagaard, et al., 1998). O presente estudo recrutou adultos fisicamente activos, mas não atletas, e o HQR foi avaliado em contracção isométrica. O novo dado encontrado foi que o MG (0.47±0.09) apresentou um HQR mais elevado e significativamente diferente do evidenciado pelo OG (0.39±0.09, p<0.05), medido com o joelho a 90º.

Tem sido referido que o idoso para controlar a postura recorre à hip strategy a qual requer activação acrescida dos músculos da coxa (Collins & De Luca, 1995b; Laughton, et al., 2003; Nashner, Shupert, Horak, & Black, 1989). Contudo, pouca investigação tem examinado o potencial contributo do HQR para a referida estratégia de controle postural. Assim, pode ser especulado, com base nos presentes resultados, que o decréscimo de HQR no idoso pode comprometer o êxito da referida estratégia. Tem também sido referido que o HQR funcional (rácio KF excêntrico: KE concêntrico) e o HQR convencional aumentam à medida que a articulação do joelho se extende (Coombs, 2002; Kong & Burns, 2010). Este estudo não avaliou nem o nível de activação dos músculos extensores e flexores do joelho nem o HQR funcional, e o HQR isométrico avaliado foi limitado a 90º. Assim, será preciso mais investigação para

perceber a relação entre HQR isométrico e funcional, a ângulos mais próximos dos usados nas tarefas diárias.

A capacidade do indivíduo em manter equilíbrio na posição bípede é normalmente estudada pela trajectória do COP numa plataforma de forças já que este reflecte não só a orientação das diversas partes do corpo mas também os movimentos corporais para manter o centro de gravidade na base de suporte (Collins & De Luca, 1993; Prieto, et al., 1996). O controle postural é avaliado pelo deslocamento médio, velocidade média e coeficiente de difusão do COP, no plano AP, ML e bidimensional (Collins & De Luca, 1995a; Collins, De Luca, Burrows, & Lipsitz, 1995; Maki, Holliday, & Topper, 1994; Nagy et al., 2007; Prieto, et al., 1996).

Os movimentos posturais, particularmente no plano ML, têm sido considerados como bons indicadores do risco de queda (Choy, Brauer, & Nitz, 2003; Maki, et al., 1994). No presente estudo o COP-MV no plano ML aumentou significativamente com a idade sendo que o OG apresentou valores significativamente maiores que os dois grupos mais jovens (p<0.001). Estes resultados estão de acordo com estudos anteriores (Choy, et al., 2003; Maki, et al., 1994; Prieto, et al., 1996) e suportam a ideia que diferentes estratégias são usadas por idosos (hip strategy) e por jovens adultos ou meia-idade (ankle strategy) (Winter, Prince, Frank, Powell, & Zabjek, 1996).

A informação visual e proprioceptiva tem sido considerada um dos mais importantes factores no controle postural. Qualquer alteração ou incapacidade nestas variáveis sensoriais pode causar instabilidade postural (Lord, 2006; Lord & Ward, 1994). No presente estudo os resultados do COP-MD nos planos ML e AP estão de acordo com Prieto et al (1996) já que não foram detectadas diferenças entre jovens adultos e idosos. Contudo, o COP-MD no plano AP aumentou significativamente do MG para o OG, mas não de YG para MG, em superfície rígida e soft com os olhos abertos (p<0.01) e superfície soft com olhos fechados (p<0.05). Estas evidências sugerem que o idoso tem maior dependência de informação proveniente dos receptores visuais e mecanorreceptores da planta dos pés para controlar a postura que o adulto de meia- idade. Assim, parece que a diminuição no controle postural com o avançar da idade poderá ser atribuída a alterações somatossensoriais (Choy, et al., 2003; Lord, 2006; Lord & Ward, 1994).

A análise do stabilogram tem sido feita em duas séries temporais - a curto e a longo prazo. No primeiro, o controle postural é feito em sistema open-loop, sem feed-back sensorial, no qual a actividade dos músculos posturais é controlada a nível periférico

(Collins & De Luca, 1993). No presente estudo, no período a curto prazo, o COP-DC foi significativamente mais elevado no OG que nos MG e YG e está em linha com estudos anteriores (Collins, et al., 1995; Laughton, et al., 2003). O aumento verificado no OG pode ser devido à diferente estratégia usada por estes no controle da postura, como atrás referido (Collins & De Luca, 1993). Todos os grupos mostraram significativas diferenças no COP-DC entre os testes realizados com os olhos abertos e com os olhos fechados, mas não se verificaram diferenças entre os testes executados nas duas superfícies seleccionadas. Esta evidência parece realçar a importância da informação visual no sistema open-loop.

As variações de produção de força, denominada steadiness, têm sido avaliadas como absoluta (desvio padrão) e normalizada (coeficiente de variação ST-CV) (Carville, Perry, Rutherford, Smith, & Newham, 2007; Manini, et al., 2005; Tracy, et al., 2004). A variação de força absoluta tem sido apresentada como sendo maior nos jovens adultos que nos idosos por aqueles serem mais fortes, mas a ST-CV tem mostrado uma tendência contrária (Tracy & Enoka, 2002). O presente estudo centrou-se na ST-CV para superar as diferenças individuais e permitir comparações directas entre pessoas com diferentes níveis de força (Carville, et al., 2007).

Tem sido referido que ST-CV diminui com o aumento da linha alvo (Tracy, et al., 2004; Tracy & Enoka, 2002). Os resultados deste estudo estão parcialmente de acordo com Tracy et al. (2002 e 2004) já que a flutuação de força em contracção isométrica diminuiu quando a linha alvo subiu de 5 para 25% MVC nos KF, mas aumentou com o aumento da linha alvo nos KE. Assim, não foi encontrado uma clara tendência na relação entre a flutuação de força e a intensidade da contracção muscular.

Em toda a amostra foram encontradas correlações negativas moderadas entre HQR e os parâmetros posturais (r=-0.32, p<0.05 a r=0.53, p<0.01). Estas evidências, em conjunto com as que mostraram que o OG tem mais baixo HQR e controle postural, sugerem que os músculos da coxa podem ter um papel importante na hip strategy adoptada pelo idoso (Collins & De Luca, 1995a; Laughton, et al., 2003). O KF-MVC foi negativamente correlacionada com COP-MV no plano ML, nas 4 condições testadas. Uma possível explicação é a importante função dos KF no alinhamento da articulação do joelho evitando a abdução do mesmo, como sugerido por Wilson (2006).

As avaliações no plano ML, principalmente o COP-MD, têm sido referidas como bons predictores do risco de queda (Prieto, et al., 1996). Neste estudo, as correlações encontradas entre KF-MVC e COP-MV sugerem que o KF-MVC é um bom indicador

do controle postural e equilíbrio. Contudo, será necessário mais investigação que envolva a avaliação do alinhamento do membro inferior, abdução do joelho e monitorização electromiográfica dos músculos da coxa, para melhor compreender as solicitações a essa mesma musculatura, em particular aos flexores do joelho, durante a manutenção da posição em pé.

5 - CONCLUSÕES

As evidências deste estudo indicam que o efeito do envelhecimento no HQR com o joelho a 90º tornam-se obvias depois da quinta década. A MVC dos KF mostraram um rácio de diminuição diferente dos KE que tem repercussões quer no HQR quer nos parâmetros de controle postural. Mais investigação na relação entre HQR e parâmetros posturais sob condições de maior instabilidade, como por exemplo ―posição unipedal‖, será necessária para validar HQR como indicador do controle postural.

Este estudo mostra ainda que os mecanismos responsáveis pelo aumento da força máxima são diferentes dos responsáveis pela melhoria do controle de força e controle de postura.