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Proposição II: O aumento em alavancagem

4. VALOR ECONÔMICO AGREGADO

4.2 Adaptações às demonstrações contábeis

Sendo o objetivo principal de uma empresa a maximização da riqueza do acionista, então, fazem-se necessárias informações que demonstrem o quão hábil é a empresa em cumprir este objetivo.

Porém, Araújo (2002) ressalta que um sistema tradicional de contabilidade tem como objetivo oferecer à entidade relatórios que elucidam a medição voltada para o lucro e a rentabilidade. Um dos maiores problemas da contabilidade financeira é a desconsideração do custo do capital próprio. Isto conduz a conclusões equivocadas em relação ao desempenho da empresa. Uma companhia pode apresentar lucro contábil constantemente, e em conseqüência disto distribuir expressivos dividendos. Mas o fato de desconsiderar o custo do capital próprio pode levar à destruição de valor.

Copeland, Koller e Murrin (2002) afirmam que medidas contábeis tradicionais ignoram o custo de oportunidade do capital. Assim, o retorno sobre o capital investido ignora o crescimento como fonte de criação de valor. Rappaport (2001, p. 31) por sua vez, aponta outros motivos pelos quais o lucro contábil falha em medir as mudanças no valor econômico da empresa:

- o uso de métodos contábeis alternativos que podem alterar significativamente o lucro líquido da empresa;

- a exclusão das necessidades de investimento (tais como os realizados em capital de giro e ativos permanentes necessários nas atividades operacionais);

- a desconsideração do valor do dinheiro no tempo (ignorando a presença da inflação).

Stephens e Bartunek (1997) ressaltam que a existência de lucro não garante a remuneração do capital aplicado e, conseqüentemente, a atratividade econômica de um empreendimento. Ao invés do lucro, o valor é a melhor medida de desempenho de uma empresa. Isto porque este considera a geração de caixa atual e potencial, a taxa de atratividade dos proprietários de capital e o risco associado ao investimento. É uma visão de longo prazo vinculada à continuidade da companhia, indicando o poder de ganho e a viabilidade de um negócio.

Ehrbar (2004) afirma que teóricos da contabilidade justificam a não mensuração do custo do capital próprio sugerindo que todo lucro líquido é atribuível a acionistas e apenas a eles, como proprietários, podem determinar o que constitui retorno necessário ou exigido. Mas acrescenta que não se pode dizer se mais lucros são realmente uma boa coisa até que se saiba quanto capital adicional foi necessário para produzir o aumento. Em outras palavras, o retorno obtido nas operações deve ser comparado com o custo de todo o capital empregado. Por isso, o autor defende que o EVA é a única forma confiável e não ambígua de medição de melhoria contínua.

Devido à importância das informações baseada em geração de valor, Araújo (2002) defende que são necessários ajustes para a elaboração de um sistema contábil baseado no valor. Tal prerrogativa enfatiza a contabilidade partindo dos moldes tradicionais, sendo ajustada para se obter parâmetros relacionados ao valor. A autora afirma que não se trata de mudar a estrutura conceitual contábil, e nem mesmo os princípios contábeis. Mas sim, trabalhar com um sistema voltado para questões gerenciais e societárias, e ainda com o propósito voltado a ênfase da maximização de valor aos acionistas.

Assaf Neto (2006) corrobora, dissertando que a contabilidade como ciência demonstra enorme potencial em seus instrumentos e modelos teóricos em atender às qualificadas

exigências do mercado globalizado, necessitando, no entanto, que passe por ajustes para que proporcione os dados necessários à medição do valor econômico gerado pela empresa.

Nota-se que a defesa dos autores é com relação à adaptações do ponto de vista gerencial. Pois a utilidade da contabilidade, como fonte de informações para o mercado de capitais, deve basear-se em princípios e normas contábeis, comumente conhecidas e aceitas. Desse modo, Iudícibus (2004) enfatiza que a contabilidade deve fornecer informações relevantes para os usuários, mas não se pode invadir o campo do investidor, substituindo-o em todas as avaliações subjetivas de modelos de risco e retorno.

Assim, o EVA inicia-se pelo lucro contábil, baseado nos princípios fundamentais de contabilidade, sendo em seguida, ajustado. As adaptações normalmente utilizadas envolvem, principalmente, dois aspectos:

a) a correta representação da estrutura patrimonial. No balanço patrimonial, o passivo corrente precisa ser decomposto em cíclico e financeiro;

b) a correta representação do lucro operacional. Na DRE, é necessário ajustar o lucro operacional em função das decisões de investimentos, descontados o imposto de renda.

4.2.1 Adaptações no Balanço Patrimonial

Para Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) o passivo deve ser dividido de acordo com a relação de seus componentes com o ciclo operacional. Assim, os autores propõem uma divisão em dois subgrupos:

- as contas que estão relacionadas diretamente com o ciclo operacional do negócio apresentando um movimento contínuo e cíclico, denominado de contas cíclicas.

- as contas que não estão diretamente relacionadas com o ciclo operacional apresentando movimento descontínuo e errático, denominado de contas erráticas.

As contas erráticas são constituídas de dívidas que geram encargo financeiro. Assaf Neto (2006) a denomina passivo financeiro, por serem os passivos causadores das despesas financeiras constantes na DRE, como empréstimos e financiamentos. São os passivos que oneram o capital investido. Uma consideração importante apontada pelo autor, é a realocação das duplicatas descontadas. Os princípios e normas de contabilidade recomenda que estas sejam representadas no passivo corrente. Mas para os objetivos de análise financeira, estas são consideradas como passivo financeiro, por causar encargo financeiro.

Defendendo a proposta de Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), Damodaran (2007) acrescenta que a característica essencial do endividamento é originar uma obrigação dedutível de imposto que as empresas devem honrar. Assim, passivos que não carregam juros são mais bem tratados como parte do capital de giro não monetário e afetarão os fluxos de caixa.

4.2.2 Adaptações na Demonstração do Resultado do Exercício

São necessários ajustes na determinação do lucro operacional, quando considerado para finalidades gerenciais de avaliação de desempenho.

Assaf Neto (2002) conceitua o lucro operacional da seguinte maneira:

Esse resultado refere-se ao lucro que os ativos geraram na consecução da atividade- objeto da empresa. É determinado essencialmente pela decisão de investimento da empresa, não sendo, por conseguinte, influenciado por sua estrutura de financiamento. (ASSAF NETO, 2002, p. 212).

Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) comentam que os passivos não financeiros, ou cíclicos, representam contrapartida no lucro operacional na DRE por serem provenientes de atividades operacionais. Por outro lado, ressaltam os autores que, para efeito de avaliação da empresa, os passivos financeiros, ou onerosos, devem ter sua contrapartida na DRE fora do lucro operacional. O fato de as despesas financeiras constarem no lucro operacional condiz apenas com a obrigação de publicação de demonstrações contábeis. Porém, sendo o lucro operacional proveniente da utilização dos ativos, ou seja, de atividades de investimento, faz-se necessário a exclusão das despesas financeiras deste lucro. Isto por que estas provêm de decisões de financiamento, e não de investimento.

É importante também considerar o efeito do imposto de renda sobre o lucro da empresa. Ao reestruturar a DRE, de acordo com as ponderações consideradas a respeito do lucro operacional, o imposto sobre este lucro também deve ser considerado. É necessário calcular o imposto de renda sobre o lucro operacional, e logo após, descontar as despesas financeiras determinando a economia de imposto gerada por estas. Dessa forma, Assaf Neto (2002) propõe a seguinte estrutura de cálculo da DRE, mais adequada para fins de avaliação econômica e financeira:

Figura 4 - Estrutura da DRE para fins de análise econômico-financeira

Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2006, p. 193).

Receita Operacional XXXXX

(-) Custo dos produtos vendidos (XXX)

= Lucro Bruto XXXXX

(-) Despesas operacionais (XXX) = Lucro Operacional antes do IR XXXXX IR s/ o lucro gerado pelos ativos (XXX) = Lucro operacional após o IR XXXXX (-) Despesas financeiras (XXX) + Economia de IR s/ despesas financeiras XXXXX