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Proposição II: O aumento em alavancagem

3) EVA no nível pragmático O nível pragmático diz respeito ao efeito que as regras causam

nas pessoas. Para Kam (1990), a preocupação de uma relação pragmática é o interessem em como conceitos contábeis e suas medidas correlacionam-se no mundo real, afetando o comportamento dos stakeholders. Segundo Hendriksen e Van Breda (1999) os conceitos pragmáticos estão associados às decisões de investidores e credores quanto às reações dos preços de títulos. Nota-se o efeito da VBM no nível pragmático, ao considerar que a implantação desta faz com que os gerentes pensem como donos, e funcionários pensem como gerentes, conforme descrito anteriormente. Provoca uma série de alteração no comportamento dos funcionários da empresa. O nível pragmático é reforçado também pela consideração da Hipótese de Eficiência de Mercados, já que a reação dos preços dos títulos é conseqüência de importantes variáveis, notadamente a criação de valor econômico.

4.4.2 – EVA perante a Teoria da Entidade

Os direitos de propriedade determinam a participação dos indivíduos em dada companhia. Cada teoria, perante estes direitos, interpreta a posição econômica da empresa de maneira diferente. Entre as teorias sobre direitos de propriedade, Iudícibus (2004) destaca a

Teoria da Entidade como a mais completa. Segundo o autor, esta desenvolve-se em conformidade com o postulado contábil da entidade, o qual assume a premissa de que a organização possui identidade própria. Perante esta teoria, tanto os credores quanto os acionistas são provedores de fundos, sendo assim, partes externas da empresa.

Kam (1990) acrescenta que se a aproximação convencional à Teoria da Entidade for seguida pelo seu fim lógico, então, despesas de juros deveriam ser consideradas como distribuição de resultado ao invés de despesas, pois constituem-se em pagamentos aos credores pela utilização de seus recursos. Enfatiza ainda a determinação do lucro como elemento essencial desta teoria, pois é uma variável necessária e indispensável para a sobrevivência da empresa. A ênfase no lucro é explicada por ser este, segundo o autor, o elemento “criador” de mais ativos.

A visão tradicional desta teoria reconhece que a empresa trabalha para gerar benefícios aos provedores de fundo. Assim, a contabilidade fornece informações que possibilitem aos investidores acompanhar o status e as conseqüências dos investimentos. O centro das atenções é a empresa, e esta precisa de fundos para operar. A dependência de fundos só é suprida a partir de um momento em que a empresa seja hábil a “pagar” o capital que foi aplicado, através do retorno gerado nos investimentos. Se a ênfase desta teoria é no resultado gerado, nada melhor que considerar o valor econômico agregado no negócio. Se o resultado é o que “cria” mais ativos, então para que esta criação seja sustentada, deve ocorrer considerando todo o custo do capital.

Por fim, o ajuste proposto na DRE, de acordo com o tópico 4.2.2, condiz com esta teoria, pois as despesas financeiras são tratadas como distribuição de resultado, e não como despesas constantes do lucro operacional.

4.4.3 EVA e disclosure

Hendriksen e Van Breda (1999) pregam que calcular o lucro econômico não é tarefa dos contadores, mas devem fornecer informações ao mercado para auxiliar o cálculo deste lucro. Acrescentam que, pelo enfoque estrutural, os contadores buscam a uniformidade no registro e na divulgação de transações, de acordo com os princípios e normas contábeis geralmente aceitos. Isto devido ao fato de que, a normatização contábil nacional e internacional, de acordo com suas respectivas estruturas conceituais2, determinam que o objetivo das demonstrações financeiras é fornecer informações que dê suporte à avaliações. Assim, estão fora da estrutura conceitual, as informações elaboradas para fins específicos e também gerenciais.

Iudícibus (2004) coloca a evidenciação como uma condição acima dos próprios princípios, e que está intimamente ligada ao objetivo da contabilidade. Mas o autor defende que não se deve substituir o julgamento do tomador de risco, mas assessorá-lo, e por fim, lembra a máxima: “Forneça a informação relevante para o usuário, mas não pretenda invadir o campo do investidor, substituindo-o em todas as avaliações subjetivas do modelo decisório e do risco”. (IUDÍCIBUS, 2004, p. 126).

Sobre o assunto valor econômico, muito se tem comentado a respeito de uma possível publicação acerca do fair value e sua consideração por parte da contabilidade. Sobre fair value, Iudícibus e Martins (2007) dissertam:

Valor justo seria, assim, o valor de mercado, definido como o quanto se deveria desembolsar no mercado para que uma entidade adquirisse o ativo objeto de avaliação, aproximadamente no mesmo estado em que se encontra. (IUDÍCIBUS e MARTINS, 2007, p.17).

2 Estrutura conceitual internacional: INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD. Disponível em: http://www.iasb.org/Current+Projects/IASB+Projects/Conceptual+Framework/Conceptual+Framework.htm

Acesso em: 15 de março de 2010.

Estrutura conceitual no Brasil: CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis. Resolução nº 1.121, de 28 mar. 2008.

Os autores defendem que a contabilidade não é um modelo voltado inteiramente para a avaliação do valor justo de uma entidade, mas sim, um modelo alocativo de recursos, que deve ser praticado com a máxima clareza possível. Finalizam os autores: “Deixe-se aos investidores a utilização dos modelos finais de avaliação e a decisão sobre qual ou quais devam, no futuro, ser praticados”.

Considerando que as análises de criação de valor econômico tratam-se de ferramentas de avaliação em âmbito “pessoal” do investidor, a contabilidade deve fornecer apenas dados necessários que os auxiliem em avaliações neste âmbito. Na posse de tais informações, os investidores podem ser capazes de avaliar o potencial de criação de valor econômico futuro, pois ao somá-las à avaliações de mercado, aproximando-se de análises fundamentalistas, podem estimar o retorno requerido em um negócio. Por fim, posicionar-se a favor da publicação de EVA como parte integrante do conjunto de demonstrações contábeis, implica em afirmar que também deveriam ser publicados outros métodos de avaliação de empresa, como fluxo de caixa descontado ou avaliação por múltiplos. O EVA apresenta, em sua essência, características fortemente financeiras e gerenciais, não sendo dependente apenas de informações contábeis, estando, portanto, fora do escopo de contabilidade societária.