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2. O SETOR PETROLÍFERO MUNDIAL

2.3 Segmentos do setor petrolífero

O setor é primeiramente dividido em dois segmentos: upstream (exploração e produção) e downstream (transporte, estocagem, refino, petroquímica e distribuição), conforme demonstrado na figura 1:

Figura 1 - Cadeia produtiva do setor petrolífero.

2.3.1- Upstream

As atividades de upstream são realizadas em áreas distantes dos centros de consumo dos derivados. A Lei 9.478/97 divide esta etapa da seguinte maneira:

Art. 6º, XV – Pesquisa ou Exploração: conjunto de operações ou atividades destinadas a avaliar áreas, objetivando a descoberta e a identificação de jazidas de petróleo ou gás natural;

XVI – Lavra ou Produção: conjunto de operações coordenadas de extração de petróleo ou gás natural de uma jazida e de preparo para sua movimentação. (BRASIL, 1997, p.4).

A exploração de petróleo pode ser feita, segundo Godoy (2004), em terra, onshore, ou no mar, offshore. O autor descreve que a Geologia analisa as características das rochas na superfície, o que contribui com a previsão do comportamento destas a grandes profundidades. Assim, os métodos geofísicos proporcionam dados para a escolha das melhores situações que justifiquem a existência de um campo petrolífero.

A importância da pesquisa e exploração consiste no fato de serem a base da cadeia produtiva. Somente com a descoberta de novas jazidas é que se pode garantir a existência dessa matéria-prima para as próximas gerações.

A necessidade de reposição das reservas no longo prazo justifica os altos investimentos nesta etapa, que normalmente são de longa maturação e altos custos (Ávila e Fernandes, 2007). Segundo Braga (2004), em 2004, 70% dos dispêndios de capital neste setor eram para atividades de exploração e produção. Lima (2008) cita que investimentos em upstream vêm sendo feitos nas bacias da África Ocidental e ao norte, regiões da Europa Central (como Cazaquistão e Mar Cáspio), no Oriente Médio, na Rússia, na China, em águas profundas na América Latina, na Costa do Golfo do México e no Brasil.

Ao estimar os investimentos necessários em atividades de upstream, é preciso considerar a capacidade necessária para compensar o declínio natural nos campos de

produção (OPEC, 2009). Essa capacidade de compensação é medida através do índice R/P, tido como a medida da eficiência das empresas em manutenção de reservas provadas e nível de produção. Este índice é demonstrado na tabela 4, em relação aos 20 países detentores das maiores reservas.

Tabela 4 - Níveis de produção e reserva dos países em 2007 País Reserva (bilhões de barris) Produção (bilhões de barris) Índice R/P (anos) Arábia Saudita 264,2 3,81 69,29 Irã 138,2 1,57 87,63 Iraque 115,0 0,78 147,06 Kwait 101,5 0,96 105,51 Venezuela 99,4 0,95 104,30 Emirados Árabes 97,8 1,06 91,66 Rússia 80,4 3,64 22,08 Líbia 43,7 0,67 64,84 Cazaquistão 39,8 0,54 73,57 Nigéria 36,2 0,86 42,09 Qatar 27,4 0,43 62,84 EUA 30,5 2,49 12,20 China 16,1 1,36 11,79 Brasil 12,6 0,66 18,83 Argélia 12,2 0,73 16,60 México 12,2 0,12 96,37 Angola 13,5 0,62 21,53 Noruega 8,2 0,93 8,80 Sudão 6,7 0,17 39,41 Azerbaijão 7,0 0,255 27,45 Fonte: BP p.l.c. (2009).

O índice R/P de cada empresa da amostra do trabalho é analisado no Capítulo 5, junto ao desenvolvimento metodológico.

Os investimentos em upstream objetivam a garantia de uma relação reserva/produção (R/P) equilibrada no longo prazo. Al-Attar e Alomair (2005) apontam que muitos países exportadores abriram-se ao investimento de empresas petrolíferas internacionais, principalmente em atividades de upstream, visando o equilíbrio na relação R/P. Os autores afirmam que quanto mais audacioso for o plano de produção de uma empresa petrolífera, maior é o número de descobertas que precisam transformar-se em reservas de forma que

aquelas que foram exploradas sejam repostas. Neste âmbito, devido ao esgotamento de reservas on-shore, os investimentos tendem a direcionarem-se para o fortalecimento de posição em águas profundas e ultra-profundas, onde estima-se haver possibilidade de descobrimento de novas reservas, por exemplo, o bloco Pré-Sal no litoral brasileiro, o qual encontra-se a aproximadamente 6 quilômetros de profundidade (TEIXEIRA JUNIOR, 2008).

As principais reservas comprovadas mundiais pertencem aos países que formam a OPEC - Organization of the Petroleum Exporting Countries (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Os 12 membros atuais são: Argélia, Angola, Indonesia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigeria, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Venezuela. As reservas deste grupo representam 80% da reserva mundial (OPEC, 2009). A tabela 6 demonstra o nível de reserva, produção e demanda no mundo:

Tabela 5 - Reserva, produção e demanda no mundo em 2007 (bilhões de barris)

Reserva 1.261

Produção diária 0,869

Demanda diária 0,857

Fonte: BP p.l.c. (2009).

2.3.2 – Downstream

As atividades de downstream são realizadas nas proximidades dos grandes centros de consumo dos derivados. A Lei 9.478/97 divide esta etapa em:

Art. 6º, V – Refino ou Refinação: conjunto de destinados a transformar o petróleo em derivados de petróleo;

(...)

VII – Transporte: movimentação de petróleo e seus derivados ou gás natural em meio ou percurso considerado de interesse geral e;

(...)

XX – Distribuição: atividade de comercialização por atacado com a rede varejista ou com grandes consumidores de combustíveis, lubrificantes, asfaltos e gás liquefeito envasado, exercida por empresas especializadas, na forma das leis e regulamentos aplicáveis. (BRASIL, 1997, p.3).

As refinarias são destaques no downstream, pois são elas que tornam o petróleo comercializável, já que em sua forma natural praticamente não proporciona benefícios. Segundo Barão (2006), nessa etapa ocorre o processo de produção conjunta, resultando em diversos derivados, de finalidade energética e não-energética. Os investimentos em refino tem sido no sentido de melhorar a estruturação do parque para a geração de produtos de maior valor agregado, como diesel, gasolina e GLP, em detrimento daqueles de menor valor agregado.

A atividade de transporte é responsável pelo deslocamento do petróleo desde os campos de produção até as refinarias e dos derivados até os mercados consumidores.

Estas atividades, conforme relatório da OPEC (2009) precisarão de investimentos nos próximos anos para superar a demanda crescente. O relatório aponta ainda que, dadas as incertezas econômicas e políticas, é necessário estimar a demanda futura para que se possa dimensionar os investimentos necessários para manter e expandir a capacidade e infra- estrutura do downstream.

Estudos envolvendo o setor petrolífero demonstram ser provável a manutenção do ritmo de alta nos custos nos próximos anos, tanto em atividades de downstream como upstream, devido à falta de equipamento disponível, pessoal qualificado e capacidade nas plataformas de extração. Esse aumento de custo também tem relação direta com o fato de as descobertas recentes no mundo serem predominantemente de petróleos pesados (o que exige tratamento especial no refino) e em águas ultraprofundas (exigindo maior investimento em upstream). Neste raciocínio, Godoy (2004) ressalta que a satisfação de condições geológicas que asseguram a existência de uma jazida, não garante a sua viabilidade econômica, pois existem outros fatores que podem inviabilizar a extração do óleo, por exemplo, taxa de juros, custo de produção e o preço no mercado internacional.