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2. O SETOR PETROLÍFERO MUNDIAL

2.4 Demanda, oferta e preço

“O fator chave para a determinação de demanda são as premissas de crescimento econômico, sendo que este ritmo afeta o consumo de óleo em todos os setores” (OPEC, 2009, p. 49). Mas existem vários fatores que influenciam a cotação do petróleo. Estes fatores foram descritos neste tópico. As principais referências de cotações no mundo são o petróleo Brent, de referência na Europa, que representa uma mistura de óleos produzidos no Mar do Norte; e o petróleo intermediário do Texas, conhecido como WTI – West Texas Intermediate, negociado na Bolsa Mercantil de Nova York – Nymex. A instabilidade nos preços do barril (e conseqüentemente dos seus derivados) é uma importante característica do setor petrolífero, sendo este afetado por fatores geopolíticos, econômicos e sociais em nível mundial (BARÃO, 2006). A combinação entre concentração de oferta, crescente demanda dos países asiáticos e dinâmica conjuntural adversa contribui para a pressão nos preços, a alta nos custos de fretes e seguros e a especulação nos mercados a termo e de derivativos. O Gráfico 1 demonstra a movimentação do preço de 1976 a 2008:

Gráfico 1 - Preço do Petróleo de 1976 a 2008

Porto (2006) cita a disparidade entre os centros produtores e consumidores. De um lado, têm-se os grandes centros produtores, normalmente com mercados pouco desenvolvidos. De outro, grandes centros consumidores, com mercados altamente desenvolvidos. A América do Norte é a principal consumidora, seguida pela Europa, enquanto a Ásia detém o maior crescimento de demanda. No primeiro caso, o elemento dinâmico são os EUA, que respondem por aproximadamente 25% da demanda global enquanto produzem 10% do total da produção mundial. A Europa responde por 60% do consumo mundial enquanto a produção local está fortemente decrescente desde que os campos do Mar do Norte ultrapassaram o pico. Os grandes consumidores destes continentes, como EUA, Canadá, Grã-Bretanha e Noruega não são auto-suficientes. E ainda, Alemanha, França e Itália produzem volumes inexpressivos, sendo totalmente dependentes de importações. Uma exceção é a Rússia, a qual apesar de apresentar reservas em declínio, há potencial para novas descobertas. Mas o país passa por problemas logísticos relacionados à possibilidade de oferta ao mercado mundial.

Estudando o continente asiático, sabe-se que a China é a segunda maior consumidora mundial, com expectativas de aumento. O país consome mais que o dobro do total produzido internamente, provocando dependência de grandes volumes de importação. O mesmo ocorre com a Índia, mas em menor volume. O Japão é outro país altamente consumidor, mas o volume produzido é inexpressivo.

Nota-se que os países mais industrializados, assim como as grandes companhias petrolíferas mundiais são fortemente dependentes de importação (PETROBRAS, 2009).

A capacidade de produção é muito próxima à demanda mundial, o que deve continuar ao menos até 2030, conforme dados do Boletim Anual da OPEC (2009), constantes na tabela 7. Isto conduz de forma vigorosa à volatilidade dos preços. Principalmente ao considerar de um lado demanda relativamente inelástica no curto prazo, de outro, o fato de o recurso ser finito e não-renovável. Segundo Porto (2006), desde 1980 tem sido consumido, no mundo, em

cada ano mais petróleo do que o que tem sido encontrado. Em 2006, o mundo consumia por ano, entre duas e três vezes mais petróleo do que a quantidade que era adicionada às reservas neste mesmo período.

Tabela 6 - Projeções da OPEC em relação a oferta e demanda Curto prazo 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Demanda 85.6 84.2 84.6 85.6 86.7 87.9 Oferta 85.8 93.1 84.7 85.8 87.0 88.2 Longo prazo 2008 2010 2015 2020 2025 2030 Demanda 85.6 84.6 90.2 95.4 100.4 105.6 Oferta 85.8 84.7 90.5 95.7 100.7 105.9 Fonte: OPEC (2009, p. 277).

É importante também estudar a influência que a cotação do óleo exerce sobre a economia mundial. Em ambiente de desenvolvimento econômico, a alta no preço tende a ser freqüente. Segundo Ferreira (2006), os ganhos das empresas do setor são contrários às variações do PIB, pois preços maiores geram bons resultados às petrolíferas, mas oneram todos os demais setores, a começar por transportes. Juhasz (2008) descreve a tendência de comportamento de leve alta no preço do óleo, em período contínuo, seguido por uma queda brusca. O autor lembra que em 1981, o preço do barril de petróleo atingiu US$ 100,00 (ajustado pela inflação) pela primeira vez. O resultado foi uma grande recessão mundial, que atingiu com severidade principalmente os países em desenvolvimento. Em caso de recessão, observa-se um declínio na demanda e um colapso do preço, que cai bruscamente. Neste momento, devido ao preço baixo do óleo, as companhias sentem a necessidade de maior estocagem, na tentativa de garantir lucros futuros. Isto se deve ao fato de que o petróleo é mais barato para entrega imediata do que para entrega nos próximos meses ou anos, o que influencia a cotação, ao menos no curto prazo.

Um dos motivos que elevaram o preço do petróleo até o ano de 2008, foi o declínio, nos anos anteriores, do valor do dólar norte-americano perante as demais moedas

internacionais. Como as cotações do petróleo são denominadas em dólar, estas sofrem uma correção de valores em caso de queda da moeda. Por outro lado, os mercados de petróleo e de outros itens como metais e commodities são usados pelos investidores internacionais como aplicações que oferecem proteção contra as flutuações cambiais e contra as oscilações de títulos de renda fixa. Em caso de desvalorização do dólar, os investidores migram seus recursos em direção ao petróleo, provocando aumento em seu valor, que por sua vez enfraquece a economia norte-americana, depreciando o poder de compra do dólar (JUHASZ, 2006).

O fato deste mercado exercer influencia na economia mundial, e também sofrer influencia desta, faz com que seja um dos que mais sofrem especulações. Quanto mais a demanda cresce, mais o preço sobe, provocando o ingresso de especuladores no mercado. Quanto mais especuladores, maior a demanda provocando a reativação do ciclo. Este é um dos motivos pelos quais Juhasz (2008) ressalta que o aumento do preço, em algumas situações, pode não ter relação direta com a oferta real e, portanto, não se trata de um reflexo apenas das leis de oferta e procura.

O controle sobre o petróleo mundial é uma fonte sem igual de hegemonia regional e global. Quanto mais petróleo se controla, mais pode ser utilizado para assegurar alianças e debilitar os adversários (JUHASZ, 2006). Assim, fatores políticos são elementos importantes que influenciam a variação nas cotações. Pode-se citar a instabilidade e o descontentamento social no Oriente Médio, de onde provem em torno de 40% da oferta mundial. O ambiente político destes países é uma preocupação global, principalmente pelo fato de que as jazidas nesta região serem nacionalizadas. As empresas internacionais que prestam serviços nestes territórios não têm controle ou participação direta sobre o óleo extraído. A África tem se tornado outra fronteira das descobertas com óleo leve de ótima qualidade, mas Porto (2006) ressalta que o continente tem práticas políticas longe de democráticas. O risco político é

notável ao considerar que as companhias petrolíferas estatais, controladas por governos, dominam 77% da propriedade das reservas mundiais (PETROBRAS, 2009). Barnett e Ossowski (2002) afirmam que o controle de preços da commodity por parte do governo é ferramenta de política fiscal, sendo comum em países como Argentina, Venezuela, México e China. Nos Estados Unidos e Europa, os custos são repassados aos consumidores.

O aspecto negativo dos países detentores de altas reservas e dependentes de exportação, relaciona-se à situação econômica em caso de queda no preço do barril. Maranhão (2008) exemplifica o caso da Rússia que, em 2008 apresentou sinais de desaceleração em vários setores da economia devido à enorme dependência da produção e da venda de petróleo e gás. Outros países viveram situações semelhantes, como o Irã (país que tem 80% da renda nacional dependente das exportações de petróleo), Kuwait (que apresentou déficit no orçamento pela primeira vez em dez anos) e a Arábia Saudita (que perdeu mais de 50% do volume negociado na bolsa de valores local, entre agosto e dezembro de 2008). Por outro lado Gianini (2009) descreve a situação da Noruega como um modelo a ser seguido. O país administra com responsabilidade a renda de sua maior riqueza natural, o petróleo, responsável por 25% do PIB. Os recursos provenientes da exportação são geridos sob a forma de um fundo soberano. Graças a este fundo, o governo norueguês pôde estimular a economia em 2009.

As reservas do óleo proporcionam hegemonia aos países detentores. Em cenário de conflito de interesses, a garantia do suprimento é questão de segurança nacional. Esta hegemonia também mesmo ocorre com as companhias petrolíferas. As Big Oil, descritas no item 2.1.1, representam um poderio econômico considerável. Suas reservas são maiores do que as dos EUA e da China juntas e diariamente, as empresas produzem mais petróleo do que a Arábia Saudita (JUHASZ, 2006). As empresas Big Oil por serem integradas, tomam importantes decisões em todas as etapas da cadeia produtiva. Ávila e Fernandes (2007)

lembram que, além das fusões, o setor petrolífero apresenta associações em diversas formas jurídicas entre as empresas, para atividades em áreas de concessão. Exemplificam que uma companhia pode participar de dois ou mais blocos ou campos de petróleo, tendo como sócias diferentes empresas em cada um deles, gerenciando tais empreendimentos de forma conjunta. A forte participação das grandes empresas neste setor, aliado às suas grandes reservas, proporcionam fatores determinantes na oferta disponível e consequentemente do preço do óleo cru.

Ferreira (2006) aponta outro fator determinante da volatilidade do preço: a extensão global da cadeia produtiva, o que representa grande dificuldade logística e custos de transporte consideráveis. OPEC (2009) afirma que os custos são movidos por fatores cíclicos e estruturais. Por cíclicos, entende-se aqueles relacionados a taxas de câmbio da moeda, ritmo de crescimento econômico, disponibilidade de mão de obra, etc. De outro lado, os fatores estruturais dependem de poços mais profundos, ambientes mais ásperos, acoplados com descobertas menores e saúde mais estrita, regulamentos da segurança e do ambiente.

Porto (2006) salienta que o estudo do Balanço Energético proporciona uma dimensão sobre a tendência de aumento nos custos, principalmente considerando os esforços necessários, que são cada vez maiores, para extração do óleo em águas profundas. Segundo o autor, o balanço energético é a relação entre o investimento e o retorno, considerando apenas a energia despendida e gerada. Nos primeiros tempos de exploração, a relação entre energia investida e energia gerada em um barril na boca do poço era da ordem de 100 para 1, isto é, usava-se a energia de 1 barril para extrair 100. Por volta de 1920 eram extraídos e refinados 50 barris ao custo de 1 barril; em 1970 a relação era ainda 23/1. Em 2005, na maioria dos poços americanos era de apenas 3/1, mas na Arábia Saudita e no Iraque a relação ainda é da ordem de 10/1, ou maior. O balanço tem diminuído pois quanto mais complicado ou tecnologicamente evoluído for o processo de extração e refino, mais energia se perde.

Apesar de avanços tecnológicos observados nos últimos anos, os custos de extração são crescentes no mundo todo, pela necessidade de aplicação de tecnologias cada vez mais onerosas, em áreas menos acessíveis, tais como as águas profundas e ultraprofundas do Brasil. É muito provável que esses custos mantenham-se nesse ritmo de alta, pelo fato de haver falta de equipamento disponível, de pessoal qualificado e de capacidade nas plataformas de extração.

Ferreira (2006) descreve as mudanças climáticas ocorridas no mundo como outro fator que influencia o preço do óleo. A preocupação cada vez maior quanto aos impactos ambientais e transformações climáticas decorrentes da queima constante e em larga escala de combustíveis fósseis, tem levado a busca de substitutos. De acordo com Lima (2008), em 2006, 86,7% da oferta de energia no mundo provinha de fontes não-renováveis. Para ajustarem-se às exigências de redução de emissão de poluentes, determinada pelo protocolo de Kyoto, os países mais industrializados já estão colocando em marcha programas com o objetivo de utilizar fontes renováveis e limpas de energia (MELLONI, 2008). O uso da força dos ventos, por exemplo, como fonte energética, embora ainda pequena, tem crescido nos últimos dez anos. Na Dinamarca, a fonte eólica já responde por quase 20% da energia (LIMA, 2008). Os substitutos tendem a provocar redução na demanda pelo óleo. Porém têm apresentado dificuldades de ordem técnica. Por exemplo, Porto (2006) ressalta que as fontes alternativas de energia também dependem de petróleo. A biomassa não tem condições de se tornar uma alternativa de longo prazo porque não se sustenta autonomamente sem fertilizantes e sem o pesado suporte energético do processo agroindustrial de produção.

O comportamento sazonal da demanda da commodity é outro fator que precisa ser considerado. Este comportamento sofre forte influência de eventos naturais, como furacões e período de inverno. No hemisfério norte, esta sazonalidade concentra-se nos meses de verão para a gasolina e nos meses de inverno para o óleo de aquecimento. Ferreira (2006) indica que

o consumo apresenta os maiores picos nos dois primeiros meses do ano, picos moderados de julho a setembro e vales entre abril e junho.

A movimentação no estoque americano é outro fator que influencia o preço da commodity, já que este país é, conforme descrito, responsável por 25% da demanda de petróleo no mundo. Com a demanda sazonal e produção estável, espera-se variação sazonal nos estoques, segundo Lowry (1999), o que limita a capacidade de estocar para garantir um consumo longínquo. Assim, o autor considera como a melhor estratégia, a manutenção de estoque mínimo, o suficiente para comprar e produzir, similar ao sistema just-in-time. A gestão dos estoques é importante também nas empresas petrolíferas, pois dada a volatilidade do preço, os efeitos financeiros são altos. Espera-se que as companhias integradas tenham melhores condições de gerir os estoques uma vez que podem prever e controlar a necessidade dos produtos.