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Proposição II: O aumento em alavancagem

4. VALOR ECONÔMICO AGREGADO

4.1 Gestão baseada no valor

As análises de viabilidade e desempenho econômico constituíam-se na consideração de receitas provenientes da utilização de ativos, despesas para a manutenção deste, e custo de processamento de serviços ou produtos, sempre avaliados a custo histórico. Com o passar do tempo, percebeu-se a necessidade de avaliar a magnitude e a sustentabilidade dos retornos, conduzindo a uma gestão mais arrojada dos recursos. Isto porque, paralelo ao aumento da competitividade, as organizações necessitam de volumes expressivos de investimento para financiarem suas operações. Mediante isto, cria-se uma necessidade de as empresas voltarem- se para uma gestão baseada na criação de riqueza aos investidores, descartando a postura convencional de medição apenas do lucro e rentabilidade.

A teoria de finanças adota como objetivo primaz das empresas, a maximização da riqueza dos acionistas. Solomon (1977) coloca que este objetivo contribui com o bem estar da sociedade:

A razão lógica fundamental do objetivo da maximização da riqueza, é que essa maximização reflete a utilização mais eficiente dos recursos econômicos de uma sociedade, promovendo, assim, a maximização da riqueza econômica da sociedade. (SOLOMON, 1977, p. 40).

Porém, a dificuldade em medir a riqueza criada ao acionista, reside na complexa mensuração do lucro.

Para Souza e Almeida (2006, p. 7) o lucro é “(...) uma condição necessária, mas não suficiente para assegurar a sobrevivência sustentável das instituições na atualidade”.

Acrescentam que o importante não é apenas obter lucro, já que este, por si só, não basta. É preciso apresentar um potencial necessário para continuar prosperando.

Essa prosperidade é considerada por Araújo (2002) ao lembrar a definição de Adam Smith que considera o lucro como o montante que pode ser consumido sem a redução do capital. Nesta linha de raciocínio, Hendriksen e Van Breda (1999) afirmam que lucro é o desfrute de serviços num dado período, representado como o excedente após a preservação do bem-estar. Acrescentam que a medida do lucro será alcançada de acordo com a maneira pela qual os ativos e passivos estiverem sendo avaliados. A avaliação a custo histórico conduz ao lucro contábil. Por outro lado, a avaliação a valor de mercado conduz ao lucro econômico.

Copeland, Koller e Murrin (2002) definem lucro econômico como o resultado da multiplicação do valor do capital investido pelo retorno sobre este capital e posteriormente, subtraído o custo de oportunidade do mesmo.

Ehrbar (2004) argumenta que o lucro contábil, por si só, não garante a remuneração do capital investido e não indica a capacidade de maximização de riqueza. Decisões gerenciais devem ser baseadas no lucro econômico e a habilidade na geração deste, só pode ser analisada se considerar os custos de todas as fontes de financiamento das atividades da empresa. Se os administradores precisam competir por um recurso escasso chamado capital, o custo deste recurso precisa ser considerado. Os mercados não toleram, indefinidamente, o não- aproveitamento de oportunidades, bem como o desperdício de recursos. Por isso, o fato de tratar o capital como se fosse gratuito, significa que a demanda por este é virtualmente ilimitada (EHRBAR, 2004).

Assim surgiu a gestão baseada em valor, ou VBM, do inglês Value Based Management, implementada pela empresa de consultoria americana Stern Stewart & Co (2009). O foco desse sistema de gestão é o valor econômico agregado, tratado como EVA (Economic Value Added). Este indicador denota o quanto a empresa supera o custo de capital

investido. Para a Stern Stewart & Co. (2009) o EVA é a melhor métrica para análise de performance, já que nesta medida todos os custos de se gerir um negócio são considerados.

Ehrbar (2004) define o valor econômico agregado, EVA, da seguinte maneira:

Em seu nível mais básico, o EVA é uma medida de desempenho empresarial que difere da maioria das demais ao incluir uma cobrança sobre o lucro pelo custo de todo o capital que uma empresa utiliza. (EHRBAR, 2004, p. 1).

Pela definição do autor, nota-se uma necessidade de responsabilidade na aplicação dos recursos dos investidores. Knight (1997) complementa que modelos de gestão baseada em valor estão estritamente alinhados com a maximização da riqueza solicitada pelos acionistas, princípio básico de finanças corporativas.

Ao estudar os conceitos de lucro econômico, percebe-se que o valor econômico agregado é a consideração de fundamentos econômicos na administração de empresas. Desse modo, Rappaport (2001) interpreta o modelo do EVA como que os lucros de uma companhia só começam a existir a partir do momento em que a empresa remunerou o capital nela investido. Ou seja, o lucro é o que efetivamente sobra após a remuneração de um capital escasso.

McLaren (1999) considera o EVA uma medida completa de desempenho, pois permite a integração entre o orçamento de capital e as operações da empresa em termos de planejamento e controle. Para Stephens e Bartunek (1997), o EVA é o balanço comparativo entre a rentabilidade da companhia e o capital aplicado para gerar essa rentabilidade.

Santos (2006) afirma que o custo do capital e o EVA são indicadores indispensáveis não apenas em avaliação de empresas, mas também em processos de análise de crédito. Indicadores que apresentam dados satisfatórios fazem com que a empresa obtenha melhor rating de classificação perante empresas de análise de crédito. O autor concluiu que uma

empresa que agrega valor aos acionistas tem maior facilidade e rapidez para atrair recursos (próprios e de terceiros), a fim de financiar as necessidades de capital de giro e imobilizações.

As políticas adotadas pela empresa com a finalidade de gerar EVA, constituem-se no sistema de gestão baseada no valor. Santos e Watanabe (2005) o descrevem:

De acordo com o EVA, a administração da companhia só estará criando valor para os acionistas se gerar um resultado superior ao custo do capital investido na empresa. (SANTOS e WATANABE, 2005, p. 20).

Ehrbar (2004) afirma que o sistema de gestão baseada em valor serve como um modelo de mensuração de sucesso financeiro, porque está diretamente alinhado com a maximização da riqueza esperada pelos acionistas. O modelo tem sido amplamente adotado em grandes empresas ao redor do mundo. Segundo o autor, mais de 300 empresas já implantaram o sistema.

Para Assaf Neto (2006):

Uma empresa é considerada como criadora de valor quando for capaz de oferecer a seus proprietários de capital uma remuneração acima de suas expectativas mínimas de ganhos. (...) Nesse contexto, a criação de valor é entendida quando o preço de mercado da empresa apresentar uma valorização decorrente de sua capacidade em melhor remunerar o custo de oportunidade de seus proprietários. (ASSAF NETO, 2006, p. 171).

O modelo de gestão baseada em valor, segundo Araújo (2002), prioriza essencialmente o longo prazo, a continuidade da empresa e sua capacidade de competir, ajustando-se aos mercados em transformação. Hendriksen e Van Breda (1999) acrescentam que um dos motivos que explicam a preocupação quanto à continuidade é o interesse do investidor, que se concentra não apenas no fluxo de dividendos proposto pela empresa, mas também no potencial de crescimento da mesma. A ênfase no longo prazo também é descrita por Souza e Almeida (2006). Afirmam que o princípio contábil e financeiro da continuidade é um dos mais importantes norteadores de decisões gerenciais. Assim, o crescimento sustentado

proporcionado pela gestão baseada em valor, contribui diretamente para a continuidade da empresa que a implanta.

Souza e Almeida (2006), ao determinarem o objetivo de maximização da riqueza como uma meta fundamental, ponderam que esta depende de metas intermediárias, constituindo-se nos meios para que o fim maior seja atingido. Assim, Assaf Neto (2006) lista três grupos de estratégias financeiras voltadas para a gestão baseada em valor:

Quadro 7 - Estratégias financeiras em gestão baseada em valor

Estratégias

financeiras Objetivo Direcionadores de valor

Operacionais Maximizar a eficiência das decisões operacionais, estabelecendo políticas de preços, compras, vendas e estoques etc. voltadas a criar valor.

crescimento das vendas; prazos operacionais de cobrança e pagamentos; giro dos estoques; margem de lucro. Financiamento Por meio das decisões de

financiamento, procura-se minimizar o custo de capital da empresa,

promovendo o incremento de seu valor de mercado.

estrutura de capital; custo do capital próprio; custo do capital de terceiros; risco financeiro.

Investimento Implementar estratégias de

investimento voltadas a agregar valor aos acionistas, por meio da obtenção de uma taxa de retorno maior que o custo de capital.

investimento em capital de giro e em capital fixo; oportunidades de investimentos;

análise giro x margem; risco operacional. Fonte: Assaf Neto (2006, p. 178).

Araújo (2005) argumenta que a maximização da riqueza dos acionistas é condição necessária para se chegar na maximização da riqueza da sociedade. Em economia de mercado, todos se beneficiam quando a gerencia coloca os acionistas em primeiro lugar. Se as empresas não são aptas a criar valor aos acionistas, estas começarão a sentir escassez de capital. A contribuição com a criação de riqueza à sociedade, faz com que exista uma demanda por produtos e serviços que agreguem mais vantagens também aos consumidores.

No cenário de economia de mercado, vivido nos últimos anos, a exigência por produtos e serviços com qualidade e custos menores torna-se constante. Essas duas exigências são cumpridas, conforme Shank e Govindarajan (1997), quando uma unidade empresarial desenvolve uma vantagem competitiva com base em dois aspectos: liderança em custos ou liderança em diferenciação. O principal enfoque da liderança em custos é a estratégia de baixo custo, sem perder a qualidade, obtendo economias de escala e aproveitando o máximo do potencial de um investimento em ativo. Em relação à liderança em diferenciação, o intuito é prover aos clientes um diferencial em valor, relacionado aos concorrentes. Os autores completam:

Tanto intuitiva, quanto teoricamente, a vantagem competitiva no mercado advém em última instância de oferecer mais valor ao cliente por um custo equivalente (isto é, diferenciação) ou valor equivalente por um custo inferior (isto é, baixo custo). (SHANK e GOVINDARAJAN, 1997, p. 61).

Nota-se que a prática da vantagem competitiva, faz com que a empresa proporcione ao mercado produtos e serviços de boa qualidade, ou a um custo menor. O benefício recebido pelo mercado é entendido pela concepção do raciocínio de que os concorrentes tenderão a igualar a vantagem competitiva apresentada por uma empresa, para não perder seu espaço no mercado. Vellani et.al. (2005) corrobora ao dizer que o processo de geração de valor econômico não começa e termina no momento da venda dos produtos de uma empresa. Ele se dá ao longo de todas as atividades empresariais, adequando-se de acordo com as especificidades de cada empresa e do setor em que elas atuam.

Outra importante ferramenta da gestão baseada em valor, que merece destaque, é a participação dos funcionários no resultado da empresa. Ehrbar (2004) defende que a remuneração dos funcionários e gestores deve ser variável, condicionada à melhoria no EVA. Assim, é preciso alinhar os interesses dos gerentes com o dos proprietários. O autor argumenta que:

Para fazer com que gerentes se comportem como proprietários, a chave não reside em ações ou propriedade legal, mas sim em dinheiro mantido em risco que será perdido se as melhorias de desempenho não forem sustentadas. (EHRBAR, 2004, p. 6).

A maneira mais óbvia pela qual o EVA auxilia gerentes a tomarem melhores decisões é cobrando suas operações pelo custo de todo o capital utilizado (EHRBAR, 2004). Eles precisam entender que capital tem um custo, e só receberão seus bônus se cobrirem este custo. Para Santos (2006), a gestão baseada em valor responsabiliza os gestores pela adequada aplicação destes recursos. O pressuposto é que eles passem a pensar, agir e serem remunerados como se fossem acionistas.

Neste contexto, percebe-se a contribuição da gestão baseada em valor para com a governança corporativa, devido ao sistema que vincula a remuneração dos gerentes ao desempenho da companhia e a criação de riqueza. Rogers, Securato e Ribeiro (2008) verificaram que o custo de capital das empresas que possuem melhores práticas de governança corporativa é menor. Os autores explicam que estas práticas podem reduzir o risco para os investidores, com a conseqüente valorização das ações em virtude da maior demanda, liquidez e volume negociado. Assim, a governança corporativa pode ser tida como uma prática para aumentar o valor das ações e criar valor aos acionistas.

Nota-se que a gestão baseada em valor é um modelo baseado em teorias sólidas e aplicações lógicas. As ferramentas que envolvam gerenciamento de custos, formação de preços, análises de rentabilidade e decisões financeiras, entre outras, continuam sendo importante, mas desde que considerando o custo de todo o capital utilizado, que é o aspecto principal na gestão baseada em valor.