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ADIVINHAÇÃO COM INFORMAÇÕES PRÉVIAS – HOT READING Alguns mágicos empresariais usam feitos notáveis de memória para

No documento Truques Da Mente (páginas 135-139)

O truque indiano da corda: ilusões mnêmicas

ADIVINHAÇÃO COM INFORMAÇÕES PRÉVIAS – HOT READING Alguns mágicos empresariais usam feitos notáveis de memória para

dar a impressão de que adivinham pensamentos. Por exemplo, quando recebem uma lista das pessoas que comparecerão a um seminário em determinada empresa, eles podem consultar os nomes no Google para encontrar subconjuntos de informações que tenham fotogra ias on-line. Memorizam então o rosto e o nome de cada uma, junto com qualquer informação pessoal que possam obter. (Antes do Google, esses mágicos consultavam arquivos de jornais em bibliotecas ou até mandavam cúmplices descobrir informações no escritório da empresa.) O volume de dados colhidos pode ser muito grande. No

seminário da empresa, o ilusionista pode então dizer que tem poderes telepáticos e “adivinhar o pensamento” de várias pessoas, fornecendo nomes, endereços comerciais e residenciais, números de telefone do trabalho e de casa, nomes de ilhos, nomes de animais de estimação, informações genealógicas etc. O objetivo é fornecer tantas informações detalhadas que pareça impossível que o mágico as soubesse todas de antemão, de modo que a única solução consista em ele estar lendo o pensamento do cliente em tempo real. No mundo da mágica, esse subterfúgio é chamado de hot reading. Mas o verdadeiro feito é o mágico realmente se lembrar de todas essas informações e conseguir evocá-las durante o seminário, como que por mágica.

Vimos outro tipo de baralho preparado em ação na Olimpíada da Mágica, em Pequim. Juan Tamariz, o famoso mágico espanhol, chamou um voluntário da plateia e, após muitas brincadeiras, pediu-lhe que “escolhesse uma carta, qualquer carta”. O baralho parecia normal, mas, na verdade, continha apenas seis cartas – o três de copas, o nove de paus, o sete de paus, o valete de ouros, o dois de espadas e o ás de copas – repetidos nessa ordem várias vezes. Tamariz abriu as cartas em leque na frente do voluntário, viradas para baixo, e observou a posição exata da carta escolhida. Contando a ileira de cartas, pôde identi icar e, em seguida, levantar sub-repticiamente uma carta idêntica do baralho preparado. Embora não conhecesse a identidade da carta escolhida, agora ele estava de posse de uma cópia exata dela e pôde exibi-la ao final do truque.

FIM DO ALERTA DE SPOILER

Logo depois, Tamariz demonstrou um truque em duas partes que envolvia a memória e deixou os especialistas reunidos atônitos. A esta altura, é provável que você já tenha percebido que é extremamente di ícil enganar um mágico. Eles conhecem todos os truques de prestidigitação que existem e vivem à procura de despistamentos, embaralhamentos falsos, acessórios inteligentes de apoio e coisas similares. Um gesto em falso e eles apanham o sujeito. Tamariz começou seu truque com uma rotina incrivelmente banal. Anunciou que iria nos ensinar um pouco de comédia. Andando de um lado para outro no palco e torcendo as mãos, pediu a todas as pessoas da plateia que juntassem os dois dedos indicadores, formando uma linha horizontal diante dos próprios olhos, e em seguida olhassem para um

ponto distante.

– Viram? – disse. – Vocês criaram uma salsicha mágica que lutua diante dos seus olhos. E se estiverem mesmo com fome, poderão usar seis dedos para fazer três salsichas.

Os mágicos presentes no enorme salão de conferências icaram embatucados. Do que é que Tamariz estava falando? Salsichas? Dedos? Nesse momento, o mágico deu um pulo para a plateia e corrigiu a posição dos dedos de um sujeito na primeira fila:

– Você está fazendo tudo errado! – exclamou. Em seguida, elogiou o homem da cadeira ao lado. – Perfeito! Está tão bom que você pode fatiar a salsicha e dividi-la conosco.

Dizendo isso, Tamariz deu um golpe de caratê no ar, passando pelas salsichas perfeitas formadas com os dedos, e exibiu uma ileira de três salsichões defumados.

Hmm, que negócio foi esse? Os mágicos se remexeram nos assentos, apreensivos. Coitado do velho Tamariz, devia estar perdendo o jeito. Naturalmente, o sexagenário recomeçou a andar para lá e para cá e fez uma sucessão impecável de truques fantásticos. Todos se esqueceram da bobagem das salsichas.

Passados uns 45 minutos, Tamariz convidou uma mulher a subir ao palco e lhe pediu que contasse dez cartas. Fez com que ela as prendesse com um elástico, levasse-as para uma mesa do outro lado do palco e voltasse para o lado dele. Em seguida, convidou um homem a subir ao palco e icar ao lado das cartas presas com o elástico. Os dois voluntários estavam a uns cinco metros de distância um do outro e em momento algum Tamariz saiu de perto da mulher. Pediu que ela contasse mais dez cartas em uma mesa e depois as segurasse com as duas mãos. Com grande estardalhaço, proclamou então que faria algumas dessas cartas serem teletransportadas pelo palco. Quando terminasse, deveria haver treze cartas em uma pilha do outro lado do palco. Tamariz agitou magicamente as mãos na direção da mulher e pediu que ela lhe entregasse as cartas, para ele poder contá-las aos olhos de todos. Restavam apenas nove. Faltava uma. Ele as devolveu à mulher e repetiu o gesto mágico. Tornou a contá-las, e faltavam duas. Terceira vez… e faltaram três cartas.

– Vamos ver como estou indo – disse ele, e pediu que o homem contasse as cartas do seu lado. O voluntário o fez e disse baixinho:

Tamariz fingiu-se arrasado:

– Dez? Você só tem dez? Tem certeza? Pode contar de novo?

Sim, eram apenas dez, não treze. Tamariz icou profundamente pensativo:

– Hmm, pode veri icar o seu bolso esquerdo? – Não havia nada nele. – O bolso direito? – Nada. As pessoas começaram a se remexer nos assentos. Todos queriam sumir. – Você pode veri icar o bolso interno do paletó, do lado esquerdo? – pediu Tamariz. Continuou não acontecendo nada.

Com ar desolado, o mágico disse:

– E o bolso interno do paletó, do lado direito?

A mão esquerda do homem entrou no bolso interno direito e, de repente, ele levantou os olhos, surpreso. Ficou atônito. Mil nucas se arrepiaram. Lentamente, o homem tirou a mão do bolso. Nele havia três cartas.

– Três cartas! – exclamou Tamariz. – Três cartas! É um milagre! ALERTA DE SPOILER! A SEÇÃO SEGUINTE DESCREVE

SEGREDOS DA MÁGICA E SEUS MECANISMOS CEREBRAIS!

Mas você sabe que não era. Ele havia plantado as cartas nesse sujeito durante o truque das salsichas, um arti ício já esquecido fazia muito tempo. (O voluntário do palco foi o mesmo indivíduo que Tamariz havia corrigido, logo antes de tirar salsichas do rosto do homem na poltrona ao lado.) E ninguém, nem o voluntário nem os melhores e mais brilhantes mágicos do mundo, se lembrou de que ele tivera essa oportunidade, uma hora antes. A memória é capaz de pregar peças em todos nós. FIM DO ALERTA DE SPOILER 1 Ver http://sleightsofmind.com/media/magicsymposium/JohnnyThompson. 2 Pode-se assistir a um vídeo dessa ilusão em http://sleightsofmind.com/media/twistingarm. 3 O vídeo do Daily Planet está disponível em http://sleightsofmind.com/media/Daily Planet. 4 O palácio da memória de Matteo Ricci, de Jonathan Spence, é uma leitura fantástica para quem se interessa por esse período histórico. [Jonathan D. Spence, O palácio da memória de Matteo Ricci:

História de uma viagem: da Europa da Contra-Reforma à China da dinastia Ming, trad. Denise

Bottmann, São Paulo, Companhia das Letras, 1986. (N.T.)]

5 Essa palavra, cuja tradução seria “perseguido”, é a sigla formada pelas iniciais inglesas dos naipes, na ordem indicada (clubs, hearts, spades e diamonds), intercaladas pelas vogais que completam a palavra. (N.T.)

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Expectativa e suposição: como os mágicos

No documento Truques Da Mente (páginas 135-139)