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NÓS LEMOS O SEU PENSAMENTO…

No documento Truques Da Mente (páginas 85-94)

O gorila entre nós: mais ilusões cognitivas

NÓS LEMOS O SEU PENSAMENTO…

Retiramos a sua carta! Teremos adivinhado a que você escolheu na p.91? Se assim for, será que o sistema de percepção extrassensorial de Pickover explica a nossa resposta correta, ou haverá uma explicação mais simples? Não prossiga a leitura se não quiser saber a resposta.4 Desistiu? Olhe mais uma vez para as seis cartas da p.91,

depois compare-as com as cinco retratadas na p.93. Notou alguma diferença? Se o ato de circundar um olho o(a) distraiu e fez você cair no truque (a maioria das pessoas cai), você foi vítima do que os psicólogos chamam de cegueira para a mudança. Uma mudança, mesmo que seja grande e óbvia, pode ser praticamente invisível até você dar uma segunda olhada.

ALERTA DE SPOILER! A SEÇÃO SEGUINTE DESCREVE

Vejamos como é o truque. Tamariz para com o lado direito do corpo voltado para você. Sua mão esquerda ica estendida, com a palma para cima e vazia. A mão direita aponta para essa palma aberta. Tamariz olha para você, atraindo seu olhar diretamente para os olhos dele. Retém sua plena atenção. Em seguida, baixa os olhos para a palma da mão vazia. Você acompanha esse olhar e ita a palma da mão dele. Durante a fração de segundo em que você mexe os olhos, Tamariz levanta a mão direita na sua direção, em um gesto natural que diz: “Espere, não ique impaciente.” E ali, no meio da palma da mão direita, está uma moeda clara e reluzente. Ela ica completamente visível. Mas você não a vê, porque Tamariz guiou poderosamente sua atenção para a palma da mão vazia. Você se concentra tanto que deixa de enxergar um objeto que re lete fótons diretamente na sua retina. FIM DO ALERTA DE SPOILER A técnica do olhar cruzado de Tamariz (na qual o movimento do olhar deve cruzar o movimento da mão, para que as duas trajetórias se equivalham mas tenham sentidos opostos) teve inspiração no mágico ítalo-argentino Tony Slydini, um dos mestres de Tamariz. (Cortesia de Juan Tamariz) Então, qual é o objetivo dessa manobra? Se você nem mesmo sabia que a moeda estava lá, então por que ele se dá ao trabalho de desviar sua atenção? Um bom mágico pode tirar proveito dessa situação de inúmeras maneiras. Por exemplo, agora Tamariz pode fazer alguma outra coisa com a mão direita, para exibir a moeda. Mas você “sabe” que as duas mãos estavam vazias, porque as “viu” assim. É esse tipo de prova convincente, embora enganosa, que leva a posterior aparição da moeda a dar a

impressão de ser um milagre.

Os neurocientistas icam igualmente encantados com as possibilidades suscitadas pela cegueira por desatenção. Anos atrás, dois colegas nossos, Daniel Simons e Christopher Chabris, conceberam um experimento brilhante, que nunca deixa de assustar e encantar as pessoas que com ele se deparam pela primeira vez. As instruções são simples. Pedem que você assista a um vídeo curtinho de pessoas circulando uma bola de basquete entre si. Um time usa camisetas brancas, o outro, pretas. Sua tarefa é contar o número de passes feitos por um time, ou contar os passes quicados e os passes por cima da cabeça. Depois de três ou quatro minutos, o vídeo termina e lhe perguntam se você viu algo inusitado.5

Não? Olhe de novo. Dessa vez, o cientista para o vídeo na metade. E ali, de repente, sem qualquer explicação, você a vê – uma pessoa vestida de gorila, parada bem no meio dos jogadores de basquete, batendo no peito cabeludo e olhando diretamente para você. Retroceda a ita e você verá tudo. O gorila caminha até os jogadores, vira-se para a plateia, dá socos no peito, gira e sai andando devagar. Metade das pessoas que assistem ao vídeo não o percebe.

Por quê? Como é possível deixar de notar um símio monstruoso em meio a estudantes universitários jogando bola? É que você ica tão profundamente empenhado em contar o número de passes que um gorila não basta para desviar sua atenção da bola. Você olha direto para o bicho peludo e não o vê.

Nós mesmos exibimos esse vídeo em dezenas de palestras. É comum perguntarmos às pessoas que veem o gorila: “Quantos passes você contou?” A resposta em geral está errada, ou então elas admitem não ter contado passe algum. Ironicamente, quanto melhor o indivíduo se sai na tarefa de contagem, menor é a probabilidade de notar o gorila que passeia. Em outras palavras, a atenção concentrada garante o desempenho ótimo em determinada tarefa, mas nos cega para dados que parecem irrelevantes e que talvez sejam mais cruciais do que a tarefa em si. Nossas pesquisas mostram que o cérebro elimina os distratores com mais intensidade durante as tarefas di íceis (quando tentamos nos concentrar com grande a inco) do que nas que não exigem esforço (quando levamos a coisa na lauta). Na vida cotidiana, isso signi ica que, mesmo quando a pessoa se concentra em realizar um trabalho crucial, ela ainda precisa se lembrar de dar uma olhadela em volta de vez em quando para não correr o risco de deixar passar fatos importantes e oportunidades potenciais.

O experimento do gorila levanta uma questão interessante. Para onde olham os olhos? Será que a bola é a única coisa que incide sobre a retina? Ou será que a imagem do gorila também atinge os olhos mas não é registrada pelo cérebro? Alguns dispositivos de rastreamento ocular podem nos ajudar a encontrar uma resposta. Um aparelho de rastreamento ocular pode medir a posição dos olhos em condições experimentais e naturais. Por exemplo, com uma câmera de vídeo apontada para os olhos, um programa de computador consegue encontrar as pupilas na imagem da câmera e detectar quanto elas giram de um instante para outro. Isso permite que os cientistas saibam para onde o olhar está voltado.

Em 2006, usando gravações do rastreamento ocular, Daniel Memmert mostrou que muitas pessoas não notam o gorila nem mesmo quando o

itam diretamente. As que o deixam passar despercebido gastam tanto tempo (cerca de um segundo) olhando para ele quanto as que o veem. Esse resultado foi incrivelmente surpreendente. Muitos neurocientistas haviam suposto que o gorila era invisível porque o jogo de basquete atraía os olhos dos observadores para diversos pontos da imagem, mas para longe do gorila, em qualquer momento considerado, como no despistamento explícito. Os resultados obtidos por Memmert mostraram que eles estavam enganados; na verdade, tratava-se de um despistamento disfarçado. O gorila era invisível, mesmo quando diretamente itado, porque a tarefa de contar os passes desviava a atenção para longe dele. Esse estudo indicou que a percepção visual é mais do que uma questão de fótons penetrando nos olhos e ativando o cérebro. Para ver de verdade, é preciso prestar atenção.

O rastreamento ocular também foi usado para estudar a atenção e o ilusionismo. Em 2005, no primeiro estudo a correlacionar a percepção da magia com uma medição isiológica, Gustav Kuhn e Benjamin Tatler empregaram um rastreador para acompanhar os movimentos oculares de pessoas que assistiam a um truque em que o mágico faz um cigarro “desaparecer”ao deixá-lo cair no colo. Os pesquisadores se perguntaram: será que o truque nos escapa porque não olhamos na hora certa, ou será que não prestamos atenção, independentemente de onde incida o olhar? Descobriram que a incapacidade de notar a queda do cigarro não podia ser explicada no nível da retina. Os índices de detecção não foram in luenciados pelo piscar dos olhos nem pelos movimentos oculares sacádicos ou pela distância entre o cigarro e o centro da visão dos

observadores no instante da queda. O mágico manipula a atenção do espectador, não seu olhar.

A cegueira por desatenção pode nos criar problemas na vida cotidiana. Quantas vezes você conversa ao telefone celular e de repente esbarra em outro pedestre? Em 2009, alguns psicólogos da Western Washington University observaram quatro categorias de estudantes universitários que atravessavam uma praça central do campus. Uma delas simplesmente andava, cuidando de sua vida. Uma segunda categoria caminhava em pares, conversando. Um terceiro grupo ouvia música em seus iPods enquanto andava. E o quarto tagarelava em telefones celulares. Em todos os casos, um palhaço de roupa escandalosa, montado em um monociclo, pedalou até os estudantes, circundou-os com cômica desinibição e foi embora.

Os alunos que caminhavam aos pares foram os que mais tenderam a ver o palhaço. Os que usavam iPods ou andavam sozinhos mostraram-se apenas um pouco menos atentos. Mas metade dos estudantes que falavam ao celular deixou escapar por completo o palhaço no monociclo. Esses alunos também andavam mais devagar, deslocando-se de maneira mais sinuosa pela praça. Os pesquisadores concluíram que conversar pelo celular leva à cegueira por desatenção e perturba a atenção. Perturba até o andar. SOBRE AS MULTITAREFAS Você acha que pode digitar uma mensagem de texto enquanto dirige? Que pode ouvir música ao mesmo tempo que paga suas contas, manda recados pelo Twitter e monitora um jogo de futebol na televisão? Que pode redigir um e-mail, jogar paciência e veri icar as cotações das ações enquanto tem uma discussão com seu cônjuge?

Pois está enganado. Uma década de pesquisas mostra que o dom das multitarefas – a capacidade de fazer várias coisas simultaneamente, com e iciência e bem-feitas – é um mito. O cérebro não foi projetado para atentar para duas ou três coisas simultâneas. Ele é configurado para reagir a uma coisa de cada vez.

As pesquisas mostram que não se pode dar completa atenção à tarefa visual de dirigir e à tarefa auditiva de escutar, mesmo que se utilize um aparelho viva-voz. Na verdade, as pessoas que conversam

pelo celular enquanto dirigem têm o mesmo foco de atenção das que estão bêbadas, segundo os padrões legais.6 Quando presta atenção à

conversa telefônica, o indivíduo “diminui o volume” das partes visuais do cérebro, e vice-versa.

Os estudos também mostram que as pessoas que são bombardeadas por vários luxos de informações eletrônicas não prestam atenção, não controlam a memória nem passam de um assunto para outro tão bem quanto as que concluem uma tarefa de cada vez. Os adeptos crônicos das multitarefas “são tarados pela irrelevância”, diz Clifford Nass, professor de comunicação na Universidade Stanford. “Tudo os distrai.” Eles não conseguem ignorar as coisas, não conseguem lembrar-se delas tão bem e têm menos autocontrole.

Outro colega nosso, Russ Poldrack, da Ucla, mostrou que as pessoas usam o corpo estriado, uma região do cérebro envolvida na aprendizagem de novas habilidades, quando estão distraídas, e usam o hipocampo, uma área envolvida na armazenagem e recuperação das informações, quando não estão distraídas. “Temos de estar cientes de que há um preço a pagar pela maneira como nossa sociedade vem se modi icando, de que os seres humanos não foram feitos para funcionar dessa maneira”, diz Poldrack. “Fomos realmente estruturados para nos concentrar. E, quando nos forçamos a exercer uma multiplicidade de tarefas, talvez estejamos contribuindo para que percamos e iciência a longo prazo, ainda que às vezes pareçamos estar sendo mais eficientes.”

Os mágicos sabem que o dom das multitarefas é uma lenda urbana. Por isso, utilizam uma abordagem do tipo “dividir para conquistar”: cindem a atenção do espectador para que ele não possa se concentrar por inteiro em nenhuma parte do palco em determinado momento. Quando uma lista de tarefas tem páginas de comprimento, você pode sentir a tentação de fazer duas ou mais coisas de cada vez – por exemplo, responder a e-mails em seu iPhone enquanto participa de uma reunião de equipe. O provável é que você não execute bem nenhuma das duas tarefas. Para ter um desempenho melhor, faça uma coisa de cada vez.

cansa de nos surpreender, encontrou-se conosco no restaurante Monterey Fish House, na Califórnia, onde nos munimos de nossos guardanapos e sorvemos tigelas gigantescas de cioppino,7 bebendo taças de Chianti.

Susana perguntou se em algum momento Eric usava sua formação de mágico na vida cotidiana. Sem pestanejar, ele fechou os olhos e descreveu em detalhes os clientes sentados à nossa volta – quantos havia em cada mesa, o sexo e a idade aproximada, o que estavam comendo e até suas conversas e seu aparente temperamento.

O casal à esquerda comemorava um aniversário. A família ao fundo estivera em um enterro mais cedo naquele dia. A cerimônia deve ter sido para alguém que não pertencia à família imediata (já que eles estavam jantando ali), mas próximo o bastante para levar o clã inteiro a comparecer ao funeral. As pessoas atrás de Susana viviam um casamento infeliz. À direita de Steve, um grupo de colegas de trabalho comemorava um feito de alguém, Eric ainda não sabia ao certo qual. O homem mais adiante estava se divertindo. Uma mulher do outro lado do restaurante estava de mau humor. O casal aniversariante trocava olhares sensuais e não queria ser perturbado.

Eric disse que precisa desse tipo de informação quando escolhe pessoas em suas apresentações de mentalismo, e contou que as colhe praticando a consciência situacional – a percepção deliberada de tudo o que acontece no espaço e tempo imediatos, a compreensão de seu signi icado e a previsão do que poderá acontecer em seguida. Enquanto entramos no restaurante, sentamos à mesa, escolhemos nossos pratos no cardápio e começamos a jantar, Eric voltou despreocupadamente seu foco de atenção para todas as pessoas que nos cercavam, por hábito.

Ele nunca para de avaliar o ambiente. Nunca se sabe quando se precisará de informações para uma demonstração improvisada de magia, disse-nos. Deslocando seu foco de atenção como um farol no céu noturno, Eric aprendeu a não se deixar absorver em demasia por nenhum aspecto isolado do que acontece ao redor, e diz que por isso já não vivencia a mágica do mesmo modo que a maioria das pessoas. Ele não é insensível ao despistamento, mas resiste a usá-lo. Também não é nada bom em exercer tarefas múltiplas, segundo sua própria admissão. A habilidade que ele descreve envolve a atenção sequencial.

Ficamos pensando em qual seria a di iculdade de aprender técnicas de consciência situacional. Para tanto, assistimos a um curso de treinamento no Centro de Treinamento de Sobrevivência em Aviação do Corpo de

Fuzileiros Navais, em Miramar, na Califórnia. A Marinha ensina seus aviadores a usar a consciência situacional – a otimizar a percepção e a cognição em condições di íceis, tanto ambientais como de carga mental de trabalho. Quer você esteja escolhendo um prato num cardápio enquanto mantém uma conversa, quer esteja se recuperando de uma descida em parafuso chato em um jato de asas ixas, um padrão ótimo de varredura da atenção maximizará o seu sucesso, não importa o que você tente fazer.

Experimentamos pessoalmente esse desa io ao prendermos os cintos de segurança e, em um simulador de milhões de dólares, pilotar um dos maiores helicópteros do arsenal militar dos Estados Unidos, o CH-53 Super Stallion. Sentados na cabine, procuramos distribuir nossos sistemas de atenção e examinar os instrumentos enquanto pilotávamos aquela fera enorme. Nosso instrutor, o capitão Vincent Bertucci, um piloto naval conhecido como “Fredo”, explicou que a capacidade de vasculhar o meio circundante se desarticula quando a atenção ica presa a uma rotina. O mundo fora do para-brisa nos chama enquanto os sentidos nos dão informações erradas. Surgem problemas com os motores, com o navio em que o piloto vai pousar, com a carga que ele tenta levantar com o helicóptero, com os sistemas de comunicação dentro e fora da aeronave. Todos esses eventos requerem atenção, às vezes por tempo demais, se o piloto não tiver cuidado. Enquanto sua atenção se concentra em determinado problema, sem vasculhar os outros problemas potenciais – por exemplo, ele ixa os olhos em um único medidor –, o piloto, sem querer, pode mergulhar o helicóptero na água.

Os ilusionistas usam o despistamento explícito e o disfarçado para produzir efeitos semelhantes a essas condições de voo. Dividem a atenção do espectador e o levam a um desastre cognitivo. Se pudermos fazer uma engenharia reversa do modo como eles fazem isso e aplicar tais princípios ao desenvolvimento de métodos que se contraponham aos deslizes da atenção, poderemos reduzir as falhas de atenção que ocorrem em condições de sobrecarga mental de trabalho.

Dois anos após o simpósio A Mágica da Consciência em Las Vegas, estávamos no antigo vilarejo pirenaico de Benasque, na Espanha, participando de uma conferência internacional sobre arte e ciência. Era um grupo eclético de especialistas que vêm explorando os limites da percepção humana. Havia mestres-cucas junto com cientistas que estudavam o sentido do olfato, arquitetos trabalhando com especialistas na percepção espacial humana, pintores ligados a neurocientistas da visão, e

nós dois nos juntamos a um dos maiores jovens talentos do ilusionismo na Espanha.

Enquanto lidávamos com os aspectos mais acadêmicos dos despistamentos explícito e disfarçado e sua relação com os mecanismos cerebrais da atenção, Miguel Ángel Gea foi direto ao ponto, fazendo truques que deslumbraram os doutos ali reunidos, provando como era frágil a apreensão que tinham da realidade.

Miguel Ángel é um rapaz grandalhão, com uma longa cabeleira castanha presa em um rabo de cavalo. Com calças utilitárias e uma camisa de tecido transparente, ele exalava um bom humor descontraído, o que não é de admirar, uma vez que foi formado pelo próprio Juan Tamariz. Ele é um espírito que ama tanto as diversões que, embora sua intenção original fosse passar menos de 24 horas conosco em Benasque, acabou icando quatro dias – tudo graças à acolhida calorosa que recebeu dos participantes da conferência e da população local. Nossa apresentação conjunta na conferência começou às 21 horas e, a pedidos, prosseguiu até a meia-noite, depois do que Miguel Ángel correu os bares e os restaurantes do vilarejo, regalando os habitantes (que o conhecem da televisão espanhola) com mais truques até altas horas da madrugada. Fez isso todas as noites e só terminou a festa quando anunciou estar completamente esgotado e não ter mais forças para segurar uma moeda ou um baralho.

Seu amor à vida é profundo. Igualmente profunda é sua compreensão do comportamento humano. Ele usa a bibliogra ia mais recente da ciência cognitiva como uma luz para orientar o desenvolvimento de novos truques. Por exemplo, nosso colega Dan Simons, famoso pelos “gorilas entre nós”, concebeu outro experimento engenhoso que ilustra a cegueira para a mudança. Em uma versão do experimento, observa-se um professor proverbialmente distraído atravessar um pátio do campus. Um aluno se aproxima dele e diz: “Com licença, o senhor pode me dizer onde ica o ginásio?” Puxa um mapa do campus e completa: “Não sei andar por aqui.”

O professor, satisfeito por ajudar, olha para o mapa, em atenção conjunta com o aluno, e começa a apontar o caminho. Mas, nesse exato momento, dois operários que carregam um grande objeto retangular – ora uma porta, ora um quadro grande – aproximam-se e forçam a passagem. “Com licença. Por favor, nos deem licença”, dizem, enquanto carregam o objeto por entre o professor e o aluno. Passam-se apenas uns dois segundos, durante os quais vem a guinada súbita: o aluno – de jeans, camiseta vermelha e cabelo preto – abaixa-se atrás do objeto e se retira.

Um segundo estudante, que vinha andando agachado atrás do objeto – louro e vários centímetros mais baixo, usando calças e camisa social –, levanta-se no lugar do primeiro. Está segurando o mapa quando torna a se aproximar do professor, que, espantosamente, não percebe a mudança. Talvez os estudantes sejam “unidades homogêneas” na cabeça dele, mas ainda assim é inevitável nos maravilharmos com essa cegueira para a mudança. O experimento foi repetido muitas vezes, trocando toda sorte de características, como a altura, o sotaque e as roupas.

No documento Truques Da Mente (páginas 85-94)