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Admissão do paciente em leito de UT

2 REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4 Identificação e análise das consequências

5.4.3 Admissão do paciente em leito de UT

Esta categoria obteve-se 27 (21%) consequências positivas e negativas. A categoria de admissão do paciente em leito de UTI ocorreu, em sua maioria, com exemplos de relatos positivos, conforme demonstrados nos exemplos a seguir:

“... fomos chamados no andar onde o paciente estava inconsciente, em PCR...Assumimos o atendimento que já havia sido iniciado pela equipe do setor, foi um atendimento muito rápido que teve uma resposta muito boa, a equipe do andar estava bem treinada e logo conseguimos transferir o paciente à UTI...” (E16).

“... depois de cinco minutos de reanimação o paciente retornou em ritmo sinusal, o médico solicitou um pouco de volume e depois de estabilizada já a transferimos à UTI...” (E18)

“... após a paciente retornar da PCR, pensei em encaminhá-la para tomografia por suspeita de tromboembolismo, mas achei melhor pedir um exame de ecocardiografia beira leito, que por sinal chegou bem rápido e tinha um trombo enorme, em pouco mais de quinze minutos depois do exame já encaminhamos a paciente à UTI, com diagnóstico estabelecido e em menos de uma hora da PCR a paciente já estava recebendo terapia trombolítica dentro da UTI...” (M15)

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Conforme os relatos positivos de admissão dos entrevistados (E16, E18 e M15) após os atendimentos de PCR, os pacientes necessitaram de suporte avançado e assistência de uma equipe multiprofissional especializada, para restabelecer suas funções vitais de forma eficiente em um ambiente de cuidados intensivos.

A UTI caracteriza-se como a dependência hospitalar destinada ao cuidado do paciente grave, potencialmente recuperável, que requeira assistência contínua de equipe de saúde multiprofissional, equipamentos capazes de manter uma monitorização e acompanhamento dos pacientes nas 24 horas e demais recursos especializados (MELO et al., 2012).

Diversas pesquisas foram realizadas para avaliar os desfechos dos atendimentos realizados por TRR. Estudo realizado na Dinamarca avaliou os resultados de 253 chamadas ao TRR, sendo 32% com indicação de transferência à UTI, 53% para permanecerem nas enfermarias e 3,5 % com evolução ao óbito (SORENSEN; PETERSEN, 2015). Já a pesquisa realizada na Austrália avaliou 2285 internações que desencadearam 132 acionamentos ao TRR. Após os atendimentos realizados 49,6% necessitaram transferência à UTI e 28% pacientes evoluíram ao óbito (VISSER et al., 2014).

Estudo multicêntrico internacional avaliou os desfechos clínicos de 1188 ativações do TRR, sendo que a mortalidade em 24 horas após o atendimento ocorreu em 10,1% (120), a transferência à UTI e à sala de cirurgia ocorreu em 24% (284) e 3% (40), respectivamente (BANNARD-SMITH et al., 2016).

Outro estudo realizado no Sul do Brasil avaliou 1024 pacientes atendidos em código amarelo e azul pelo TRR, em cinco anos de implantação do serviço em um hospital universitário público. Do total de pacientes, 27% foram transferidos à UTI após a realização do atendimento em código amarelo e 5,4% foram admitidos na UTI após o atendimento do código azul (MEZZAROBA et al., 2016).

Destaca-se que os relatos positivos descritos nessa categoria foram ocorridos, na totalidade, em instituição filantrópica. Já os negativos, relacionados à não admissão imediata em leito de UTI, foram relatados por profissionais que trabalham em instituição pública, conforme o exemplo a seguir:

“Depois de ser acionado para atender o código azul e chegar à unidade de internação a tempo, conseguimos realizar todas as manobras de

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reanimação padronizadas e revertermos a PCR...Mas depois do atendimento o paciente ficou aguardando por muitos dias uma transferência à UTI...A gente sabe que um hospital público de referência para a região tem uma carência de leitos de retaguarda de UTI, então o paciente acabou sendo prejudicado por não ter os benefícios dos cuidados praticados em ambiente de terapia intensiva.” (M18)

De acordo com o Conselho Federal de Medicina (2014), ainda existem deficiências em toda a Rede de Atenção às Urgências no Brasil, o que reflete diretamente no componente hospitalar, gerando crises permanentes cujas causas são multifatoriais, das quais se destacam a dificuldade de acesso do paciente ao atendimento primário; a falta de estrutura hospitalar no interior dos estados; o comprometimento da escala de profissionais e a falta de leito de retaguarda e de UTI.

A Resolução do CFM nº 2.077/14, dispõe sobre a normatização do funcionamento dos hospitais na rede de urgência e emergência, com vista a melhoraria das condições de acesso dos pacientes, tais como a implantação de hospitais de referência regionais; a adequação das equipes de saúde dos hospitais de urgência e emergência às necessidades da demanda; a adequação da estrutura física; as campanhas de prevenção para a epidemia do trauma; a abertura imediata de novos leitos de UTI possibilitando o acesso dos pacientes que se encontram intubados externos aos leitos de UTI e o aumento da chance de sobrevivência, comprometida no cenário atual (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2014).

A universalização dos serviços de saúde desencadeada pelo SUS tem se mostrado deficiente quanto às ações de racionalização de recursos e de inclusão de toda a população de forma equânime na atenção pública à saúde, principalmente nas atividades de alta complexidade, as quais demandam alto custo, como as internações em leitos de UTI. Quando a demanda supera a oferta de serviços, o acesso torna-se limitado, o atendimento aos pacientes é postergado e criam-se longas filas de espera (GOLDWASSER et al., 2016).

Pesquisa realizada em um hospital público no Brasil concluiu que dos 401 pacientes do estudo, 31% foram imediatamente admitidos na UTI e 69% apresentaram atrasos na transferência nesta unidade quando indicado, por

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indisponibilidade do leito. Os pacientes que sofreram atrasos na transferência à UTI apresentaram maior letalidade correlacionados com aqueles admitidos, imediatamente, na unidade de cuidado intensivo (CARDOSO et al., 2011).

Nesse sentido, a insuficiência de leito na UTI, em hospital público, pode comprometer a qualidade e a segurança do atendimento prestado ao paciente, uma vez que, durante o tempo de espera pela vaga, ele permanece em locais quase sempre não especializados que, muitas vezes, não possuem condições de atendê-lo a contento, conforme identificado pelo entrevistado M18.

5.4.4 Óbito

Nesta categoria as 10 (8%) consequências foram negativas, sendo relacionadas aos óbitos dos pacientes após o atendimento das vítimas em RCP, conforme exemplos a seguir:

“... era uma paciente cardiopata, quem detectou a parada foi a enfermeira do setor, ao chegar no local já presenciei a equipe de enfermagem nos primeiros atendimentos...Realizamos todo o protocolo de PCR... Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, mas a paciente evoluiu ao óbito.” (M5)

“...fizemos todas as manobras de reanimação, tentamos por quase uma hora e o paciente não respondeu as manobras e foi ao óbito...” (E2).

“...começamos a realizar o atendimento de ressuscitação, a doutora foi bem tranquila na condução das atividades, toda equipe trabalhava bem, a gente ficou uma hora neste atendimento e infelizmente o paciente foi ao óbito...” (F19).

Os depoimentos dos entrevistados M5, E2 e F19 indicaram que as equipes multiprofissionais lidam, constantemente, com a morte durante os atendimentos emergenciais realizados nas unidades de internação não críticas.

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passível de prognóstico indeterminado, o que desencadeia nos profissionais de saúde o repensar da morte como um evento inevitável e de sofrimento, com possibilidade de permear conflitos éticos e emocionais, por parte da equipe, do paciente e seu familiar (SALTBAEK; TVEDEGAARD, 2012).

De acordo com Salimena et al. (2014), a morte é vista como um evento natural, uma consequência da vida e, por isso, precisa ser encarada de forma tranquila e serena, principalmente quando o profissional de saúde tem a percepção de que todos os esforços foram realizados para manter o paciente vivo, apesar de não se ter obtido sucesso. Assim, todo o sentimento de dever cumprido aliado à cessação do sofrimento do paciente e de familiares, culmina num desfecho natural do processo de viver.

A equipe de saúde em sua atividade laboral, lida constantemente com as perdas alheias, sendo, portanto, necessário aprender a superá-las ou desenvolver mecanismos de adaptação, fortalecendo-se como pessoa, para que dessa forma, concilie racionalidade e sensibilidade assegurando a dignidade do paciente e sua família nos momentos de suas perdas (SILVA; PEREIRA; MUSSI, 2015).

Concordam Monte et al. (2013), que os profissionais de saúde que exercem suas atividades em situações de urgência e emergência deparam-se, cotidianamente, com pacientes em estado crítico e convivem com o sofrimento e a morte, o que pode gerar desgastes físicos e psíquicos nos trabalhadores.

Apesar dos entrevistados relatarem sentimentos negativos em relação aos óbitos dos pacientes que se tornaram graves nas unidades de internação não críticas, os mesmos conseguiram realizar todas as ações de reanimação antes da tomada de decisão da não continuidade da RCP, por falha nas respostas terapêuticas instituídas aos pacientes.