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Sistematização do atendimento de emergência

2 REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 Identificação e análise dos comportamentos

5.3.4 Sistematização do atendimento de emergência

Esta categoria obteve a maior frequência de comportamentos, sendo incluídos 73 (34%) comportamentos positivos e negativos, relativos à demonstração da sistematização do atendimento de emergência, entre eles: reconhecer a situação do código azul, acionar o TRR, verificar o diagnóstico, realizar as manobras necessárias de compressões torácicas, efetuar a ventilação com bolsa-válvula- máscara, preparar e administrar as medicações de emergência, realizar a desfibrilação precoce (caso indicado) e os cuidados pós-PCR.

O cenário de ocorrência da PCR pode influenciar na sobrevida do paciente, pois se esse agravo ocorrer no ambiente hospitalar espera-se que o início da RCP seja mais rápido que aqueles ocorridos em ambiente extra-hospitalar e que o paciente apresente recuperação da circulação espontânea. As falas a seguir demonstram a sistematização dos atendimentos relatados como positivos:

“Na verdade, todo o atendimento em código azul que participei, julguei ser positivo, então qualquer um que te relate segue o mesmo padrão, independente do desfecho do paciente, se ele retornou para a circulação espontânea ou não...Lembro-me do último que fomos acionados para o atendimento em código azul e realizamos todas as manobras de acordo com os critérios de atendimento estabelecidos pela American Heart Association, com todas as medidas necessárias, as compressões torácicas bem efetivas, a droga sendo administrada no tempo certo, a organização do atendimento com cada profissional

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exercendo sua função, a equipe controlando bem o tempo das intervenções, com os equipamentos disponíveis e funcionantes para proporcionar o atendimento necessário...Como resultado desse atendimento que vivenciei é a sensação que a equipe faz sempre um bom atendimento, claro que muitas vezes o sucesso do retorno do paciente vai depender da função cardíaca e os motivos que levaram o paciente à parada, mas o atendimento foi realizado adequadamente e isso leva a uma sensação positiva de que fizemos tudo que era possível ao paciente, com o resultado do dever cumprido, independente do retorno a circulação espontânea ou não”. (M14)

“Em relação a um atendimento positivo, foi um acionamento por telefone, como é de rotina aqui na instituição. Assim que fomos acionados em código azul cheguei no quarto e presenciei que as manobras de reanimação já haviam sido iniciadas, o enfermeiro já estava fazendo as compressões torácicas, o carrinho de emergência já estava no local, o paciente estava monitorizado, o cardioversor estava no local, então foi muito satisfatório e positivo em chegar e encontrar todo o ambiente propício para prestar o atendimento da melhor forma possível. Logo em seguida, já conseguimos identificar o ritmo de parada, realizamos as medicações, os ciclos foram contados e o paciente retornou a circulação espontânea muito rápido. Então percebi que toda essa questão auxiliou muito na recuperação do paciente, o preparo dos profissionais para o atendimento, o trabalho sendo realizado em equipe, os materiais e equipamentos necessários durante a reanimação e esse tipo de atendimento fez o diferencial para a recuperação do paciente...” (M16)

Os entrevistados (M14 e M16) expuseram que durante os atendimentos realizados em código azul, foram efetivadas todas as ações e condutas inerentes ao tratamento da emergência clínica pelos profissionais, com os recursos materiais necessários, objetivando reverter o quadro de PCR, prestando assim um atendimento de modo organizado e sistematizado.

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evidenciam as modificações dos protocolos e sistematização relacionadas ao atendimento do paciente em PCR e RPC, enfatizando a importância da realização efetiva das compressões torácicas. O guideline delineia a correta realização das manobras de compressões torácicas e reforça que elas são essenciais para um adequado fornecimento de fluxo sanguíneo durante a RCP, para tecidos nobres como cérebro e coração. Por esta razão, todas as vítimas de PCR devem receber compressões torácicas, o mais precocemente possível.

Para oferecer compressões torácicas efetivas, deve-se comprimir com força e a velocidade de 100 a 120 compressões por minuto com uma profundidade de compressão de cinco centímetros e não superior a seis centímetros, propiciando assim o retorno do tórax após cada compressão, para permitir que o coração se preencha de sangue completamente antes da próxima compressão (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2015).

A American Heart Association (2015) recomenda que ocorra a minimização dos intervalos das compressões no tórax do paciente para maximizar o número de compressões oferecidas por minuto. Equipes integradas por profissionais bem capacitados podem usar uma abordagem coreografada que execute várias etapas e avaliações simultaneamente, em vez do modo sequencial (por exemplo: um profissional aciona o TRR, o outro inicia as compressões no tórax do paciente, um profissional fornece ventilações de resgate e um outro prepara o desfibrilador).

A relação compressão-ventilação é de 30:2 no paciente sem a via aérea definitiva e de 100 a 120 compressões torácicas associadas a 10 ventilações por minuto, em paciente com via aérea definitiva (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2015).

A utilização da terapia medicamentosa correta na RCP direcionada pelo guideline é imprescindível para o sucesso das intervenções. A vasopressina não oferece vantagem sobre o uso de epinefrina, sendo removida nesta última atualização do algoritmo de PCR para adulto. A amiodarona é indicada em PCR com ritmos chocáveis após uso do desfibrilador e a atropina passou a ser indicada, apenas, em casos específicos (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2015).

Destaca-se a importância da sistematização da RCP entre os profissionais do setor e do TRR. A diretriz da AHA (2015) recomenda a adoção do TRR como medida eficaz na redução da ocorrência da PCR, entre as diversas

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possibilidades de constituição do serviço (enfermeiro, fisioterapeuta e médico), que são convocados ao quarto do paciente quando o profissional da unidade constata a sua instabilidade clínica. O TRR, normalmente, traz consigo equipamentos e medicamentos para a realização da reanimação. Embora as evidências ainda estejam em evolução, há nítida validade no conceito de ter equipes capacitadas na complexa coreografia da reanimação (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2015).

Pesquisa realizada em um hospital de alta complexidade na cidade de São Paulo verificou que os profissionais do TRR, ao se deslocarem para os atendimentos em código azul, observaram que as manobras de RCP já haviam sido iniciadas, imediatamente, pelas equipes da unidades que acionaram esse time (SANTANA-SANTOS et al., 2017).

Por outro lado, nesta categoria, também aconteceram comportamentos negativos, referentes ao desconhecimento da sistematização do atendimento de emergência utilizada mundialmente e reconhecida na execução da RCP, conforme os exemplos citados a seguir:

“Lembro-me de um atendimento negativo que o aluno de medicina estava avaliando o paciente em insuficiência respiratória e não conseguia falar com o residente médico da clínica titular do paciente. Então esse aluno foi falar com o enfermeiro da unidade, porém nesse meio tempo o paciente evoluiu com rebaixamento do nível de consciência e foi neste momento que o enfermeiro da unidade acionou o time...Quando chegamos a unidade o carrinho não estava próximo ao paciente e demorou para alguém ir buscar. O atendimento ao meu ver ficou muito prejudicado, não conseguíamos evoluir em todos os passos da PCR, sem contar que precisou sair uma pessoa do quarto para buscar um outro dispositivo de bolsa-válvula-máscara, por que aquele que tinha no carrinho desmontou na minha mão. Eu fiquei bem perdida, porque não conseguia realizar as ventilações de resgate, não sabia se aguardava chegar um novo material ou se iria ajudar quem estava nas compressões, porque ainda faltava uma pessoa para revezar nas compressões e percebi que não chegava ninguém das outras enfermarias para nos ajudar...Creio que a equipe da unidade acaba ficando bem fragilizada por este tipo de atendimento, então se o

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enfermeiro não tiver esta visão da dinâmica do código azul na unidade, pode prejudicar todo esse atendimento ao paciente...” (F9)

“Na semana passada tive um chamado de emergência, uma parada cardíaca...Quando cheguei a equipe de enfermagem da unidade não havia monitorizado a paciente, não havia um acesso venoso para administrar as drogas, as ações demoravam para acontecer, você solicitava os materiais as pessoas da unidade que se perdiam na sequência...Então a questão do atendimento neste dia não foi de qualidade, não ocorreu uma sequência lógica do atendimento, foi se perdendo, parece que os profissionais da unidade saíram do “trilho”, então classifiquei este atendimento como negativo...” (M19)

A sobrevida dos pacientes em parada cardíaca depende de vários motivos, como a integração do SBV, SAVC, além dos cuidados pós-reanimação. Estudos comprovam que a ausência de sistematização na assistência ao paciente em PCR minimizam as chances de sobrevida desses pacientes pelo atraso no início da RCP e falta de seguimento da cadeia de sobrevivência (TALLO et al., 2012; GONZALEZ et al., 2013a).

Uma desorganização nos atendimentos relacionados às emergências clínicas juntamente com um ambiente tumultuado e estressor refletem a falta da sistematização das ações em RCP dos profissionais, que ficam sujeitos ao acometimento de erros durante a assistência, sendo necessário, portanto, a sua capacitação para uma atuação direcionada pelo guideline (KALLESTED et al., 2012; PLAGISOU et al., 2015).

Os profissionais de saúde devem receber capacitações periódicas sobre a sistematização do atendimento de PCR, pois reforça lhes o processo de realização de RCP de maneira organizada, calma e efetiva. Ademais, há a necessidade do provimento de recursos materiais e equipamentos necessários para que o infortúnio do atendimento não seja relacionado a falta de algum desses itens (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2013).

Os enfermeiros ao realizarem a assistência ao paciente, durante as 24 horas por dia, nas diversas unidades de internação detectam os eventos de PCR, solicitam o acionamento do TRR e iniciam imediatamente a RCP. Diante deste fato,

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os enfermeiros necessitam possuir o raciocínio clínico adequado, as habilidades técnicas e o domínio emocional para vivenciar as situações de emergências, garantindo assim, o sincronismo da equipe multiprofissional (ALVES; BARBOSA; FARIA, 2013; SJOBERG; SCONNING E SALZMANN-ERIKSON, 2015).

Salienta-se, de acordo com os resultados encontrados nesta categoria, que a desorganização no atendimento relacionado à emergência clínica por parte dos profissionais pode levar ao acometimento de falha durante a assistência prestada, sendo necessário portanto a sua capacitação para a atuação em evento de PCR, pautado no guideline, adotado nas instituições de saúde.