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Interação da equipe multiprofissional

2 REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 Identificação e análise dos comportamentos

5.3.1 Interação da equipe multiprofissional

Essa categoria obteve 60 (28%) comportamentos positivos e negativos. Verificou-se como se revelavam as interações da equipe assistencial da unidade de internação não crítica, em conjunto com os profissionais do TRR.

Foi considerada a interação como uma forma de integração dos vários profissionais envolvidos no mesmo atendimento, mobilizados em um objetivo comum, configurando, assim, um trabalho em equipe, garantindo agilidade na assistência prestada à vítima:

“O acionamento em código azul é sempre bem assertivo na instituição e isso é muito benéfico ao paciente. Lembro mais recentemente que o

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paciente teve uma parada cardíaca no andar, fomos até o quarto e chegando lá o paciente já estava monitorizado, conseguimos reverter o quadro, estabilizar o paciente e conseguimos uma transferência para unidade avançada para dar suporte intensivo necessário...Mas o ponto positivo foi justamente você cumprir a missão que é de reverter a piora clínica ainda no andar que o paciente está internado e ele não apresentar nenhuma complicação secundária ao quadro. Então, é um ponto positivo muito importante, fazer o fluxo de alça fechada, você ter o acionamento, os profissionais das unidades e os integrantes do time, todos trabalhando juntos em equipe, monitorizando, estabilizando o paciente, cada um na sua função, se comunicando e assim prevenir um desfecho trágico ao paciente...” (M2)

“Me lembro que o atendimento de código azul, foi há poucos dias atrás, foi um atendimento em parada cardíaca de um paciente jovem. O trabalho foi em equipe mesmo, cada um tinha sua atividade definida, um ficava na medicação, um na ventilação, outros se revezam nas compressões torácicas, tinha um controlando o tempo da medicação e dos ciclos...Então quando você segue a risca o protocolo de Suporte Avançado de Vida em Cardiologia que determina a chegada em menos de três minutos no local da intercorrência, monitora o paciente, identifica o ritmo da parada, realiza as medicações, eu percebo que o atendimento foi realmente eficiente. Claro que cada caso é um caso, tem paciente que vai para UTI e sai até de alta hospitalar, alguns retornam da parada, outros não sustentam e acabam evoluindo ao óbito, mais o que marca é sempre o trabalho bem executado. Então considero que toda vez que conseguimos atender um código azul com esta gama de profissionais que se unem para compor uma verdadeira equipe, torna-se bem gratificante, pois cada um consegue complementar a ação do outro e isso é bastante positivo.” (M11)

O atendimento de situações de emergências em ambiente intra-hospitalar requer um conjunto de variáveis bem definidas para associar ao aumento da

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sobrevida do paciente. A chance de sobrevivência depende também da competência e habilidades interpessoais dos membros da equipe que realizam as manobras de RCP, com segurança e alta qualidade (MEIER, 2014).

Segundo Santana, Lopes e Queiroz (2014), o atendimento organizado, com as devidas distribuições de funções é uma forma de melhorar o atendimento ao paciente em parada cardiorrespiratória. O trabalho em equipe deve ser coordenado, havendo livre comunicação entre seus membros para que o atendimento seja realmente eficaz.

Conforme relatado pelos entrevistados (M2 e M11), houve um bom trabalho em equipe frente aos atendimentos realizados pelos profissionais da unidade e do TRR, sendo que cada profissional conseguiu complementar a ação do outro e manter a comunicação.

Segundo Duarte e Alves (2014), o trabalho em equipe multiprofissional exige características sociais, como coletividade, cooperação, compromisso e responsabilidade, as quais favorecem a interação, a harmonia, o respeito mútuo, a efetiva comunicação entre os profissionais de saúde e a assistência minuciosa ao paciente.

Pesquisas têm evidenciado que o trabalho realizado em equipe propicia melhor produtividade e comunicação efetiva, com tomada de decisões assertivas, além de proporcionar ao profissional melhoria da autoestima e bem-estar (MAXFIELD et al., 2013).

Nesta perspectiva, verifica-se que recentemente, os hospitais utilizam capacitações em equipes por meio de simulações realísticas multidisciplinares, para o aprimoramento do trabalho em equipe, o destaque da importância de cada profissional dentro do grupo, o uso da comunicação efetiva, a identificação da insuficiência de conhecimento dos profissionais, com a finalidade de minimizar ou detectar falhas assistenciais em saúde (BAGNASCO et al., 2013; DANIELS; AUGUSTE, 2013).

Apesar do exposto, alguns atendimentos emergenciais realizados, apresentaram dificuldades de interação entre os profissionais da unidade e do TRR, conforme desvelado nas falas a seguir:

“Foi um final de semana, nós tínhamos uma paciente que havia realizado uma cirurgia, evoluiu para uma arritmia cardíaca no setor e o

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médico titular da paciente estava no quarto realizando sua avaliação e no momento a paciente evoluiu em PCR. Fomos então acionados para prestar o atendimento e ficamos por mais de uma hora na reanimação. Foram realizadas todas as intervenções necessárias, quando a paciente havia retornado da PCR, passado alguns minutos depois a mesma apresentou o segundo episódio de PCR e assim reanimamos por mais um período. Após a paciente retornar pela segunda vez da parada, o médico titular ordenou que transferíssemos imediatamente a sua paciente à UTI e então nós acatamos sua decisão. Ao chegar na unidade de cuidados intensivos a paciente estava novamente em PCR e isso gerou um desconforto muito grande para nós e mesmo após a reanimação a paciente evoluiu ao óbito. Depois do ocorrido todos os profissionais que realizaram o atendimento foram chamados, em separados, para relatar o atendimento à Comissão de Reanimação Cardiopulmonar do hospital. Na verdade não foi culpa do TRR, nós acatamos o que o médico titular havia solicitado, então creio que não houve uma boa interação entre os profissionais do time e o médico titular. O nosso protocolo de transferência interna de paciente grave, é claro, em definir que só possa ocorrer essa ação com a devida segurança. Ainda não tínhamos estabilizado a paciente, nós não havíamos realizado ainda outras condutas em conjunto com o nosso médico do time, enfim, este atendimento ficou muito marcado...” (F4) “... foi uma parada que me lembro que o médico do time estava bem afobado e ansioso, na verdade o atendimento de código azul em si já é bem estressante e, neste dia, o médico já veio armado e isso passou para toda equipe que acabou ficando mais estressada também. Esse atendimento me marcou bastante porque desse estresse todo me deu até um branco durante o atendimento, então a maneira de lidar com essa carga de estresse é que todo mundo tente manter a calma, se comunicando, para evitar que evolua para uma desordem como foi o que aconteceu nesse atendimento. O resultado foi ruim, foi um atendimento todo atropelado, você até sabe os passos que tem que fazer, mais a equipe toda estressada não realizou um atendimento bem

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estruturado e quem perdeu com tudo isso, com certeza foi o paciente.” (F16)

De acordo com os exemplos dos atendimentos negativos, observou-se que a equipe não manteve interação, dinâmica e sincronismo de trabalho entre os envolvidos durante as ações de RCP.

No primeiro exemplo, o médico titular da paciente ordenou que a equipe da unidade, em conjunto com os profissionais do TRR, transferisse a paciente à UTI imediatamente após o retorno à circulação espontânea, sem realizar os cuidados necessários pós-PCR, conforme endossa o guideline da American Heart Association (2015). Neste sentido, o atendimento prestado à paciente de alto risco ficou comprometido devido à falta de compreensão das ações a serem executadas nesse tipo de atendimento, fato que comprometeu a qualidade e a segurança da assistência realizada.

Para Johnson e Kimsey (2012), a eficácia do trabalho em equipe representa lidar com a diversidade de profissionais, respeitando a multiplicidade de saberes para o controle do problema em comum, para que as equipes potencializem o cuidado seguro em saúde, com a escuta e o entendimento da mensagem, a liderança, o comprometimento de todos os profissionais da equipe, as discussões salutares de informações pertinentes à assistência e à capacidade de prever com exatidão as possíveis falhas recorrentes do processo de trabalho.

A interação profissional harmoniosa entre a equipe de saúde pode influenciar o favorecimento do trabalho em conjunto, principalmente em atividades assistenciais determinadas como críticas, as quais são caracterizadas por altas cargas de labor e elevado nível de estresse e tensão. Para que o trabalho em equipe seja considerado colaborativo é necessário que haja entre os trabalhadores uma efetiva comunicação, a interação, o reconhecimento de papéis profissionais, articulação das ações, a confiança e o estabelecimento de objetivos assistenciais comuns. O conjunto desses atributos torna-se imprescindível para qualidade da atenção à saúde, da segurança e da satisfação de pacientes e profissionais (SOUZA et al., 2016).

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