• Nenhum resultado encontrado

Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL

5   A PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA NA ATIVIDADE REGULATÓRIA E A RESPONSIVIDADE DAS AGÊNCIAS REGULADORAS

5.4   Os mecanismos de participação popular e os canais de atendimento aos usuários e consumidores no âmbito da Anatel e da ANS

5.4.1   Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL

 

É   previsto   em   quase   todas   as   leis   instituidoras   das   agências   reguladoras   brasileiras.  

Os   Conselhos   Consultivos   são   órgãos   colegiados,   de   participação   institucionalizada  da  sociedade.  

Embora   sua   função   seja   de   caráter   consultivo   e   opinativo,   sem   poder   de   decisão   sobre   as   matérias   de   competência   das   agências,   o   conselho   consultivo   colabora  para  a  fixação  das  diretrizes  das  políticas  regulatórias  e  sobre  as  políticas   governamentais   para   os   setores   regulados.   Representam,   portanto,   um   avanço   na   participação  democrática  dentro  das  agências  reguladoras.  

 

5.4   Os   mecanismos   de   participação   popular   e   os   canais   de   atendimento   aos   usuários  e  consumidores  no  âmbito  da  Anatel  e  da  ANS  

 

Os   mecanismos   de   proteção   aos   usuários   e   consumidores   estão   previstos   em   cada   uma   das   leis   criadoras   das   agências   reguladoras,   em   seus   Regimentos   Internos  e  em  seus  Regulamentos.  

 

5.4.1  Agência  Nacional  de  Telecomunicações  –  ANATEL    

A   Agência   Nacional   de   Telecomunicações   -­   ANATEL   tem   existência   por   previsão   constitucional   (art.   21,   XI,   da   CF)   e   foi   criada   pela   lei   no   9.472/97,   a   denominada   Lei   Geral   das   Telecomunicações,   e   dentre   as   suas   atribuições   está   a   de  organizar  as  redes  de  telecomunicações  e  a  utilização  dos  recursos  de  órbita  e   espectro   de   radiofrequências   (parágrafo   primeiro,   do   art.   1º),   disciplinando   e   fiscalizando   a   sua   execução,   a   sua   comercialização,   a   sua   implantação   e   seu  

funcionamento.   Envolve,   portanto,   toda   a   exploração   dos   serviços   de   telecomunicações,  tanto  no  regime  público  como  no  privado.    

A  consulta  pública  é  prevista  no  art.  19,  inciso  III,  da  Lei  no  9.472/97.  Devem   ser  submetidas  previamente  a  ela  as  medidas  elencadas  nos  incisos  I  a  III  do  art.  18,   concernentes,   respectivamente,   à   instituição   ou   eliminação   de   prestação   e   modalidade   de   serviço   no   regime   público,   ao   plano   geral   de   outorgas   de   serviço   prestado   no   regime   público   e   ao   plano   geral   de   metas   para   a   progressiva   universalização   do   serviço   prestado   no   regime   público,   que   compete   à   Anatel   elaborar   e   propor   ao   Presidente   da   República,   por   intermédio   do   Ministério   de   Estado   das   Comunicações.   Igualmente   são   submetidas   à   consulta   pública   as   minutas  dos  atos  normativos  expedidos  pela  Anatel  (art.  42),  bem  como  a  minuta  de   instrumento  convocatório  na  licitação  para  outorga  da  concessão  da  exploração  do   serviço   de   telecomunicações   no   regime   público   (arts.   88   e   89).     O   procedimento   a   ser   observado   nas   consultas   públicas   está   delineado     no   art.   59   e   seus   §§,   da   Resolução  no  612/2013.  

A   audiência   pública   não   está   prevista   na   Lei  no   9.472/97.     É   tratada   no  

Regimento  Interno  da  Anatel  (Resolução  no  612/2013),  especificamente  nos  arts.  56  

a  58.    Destina-­se  a  fomentar  o  debate  sobre  matéria  de  interesse  relevante,  assim   definida   pelo   Conselho   Diretor.   A   participação   é   facultada   a   qualquer   interessado   que   poderá,   ainda,   diretamente   ou   por   meio   de   organizações   e   associações   legalmente  reconhecidas,  manifestar-­se  e  oferecer  documentos  ou  arrazoados.  Seu   rito  procedimental  é  disciplinado  por  Portaria.    

O   Conselho   Consultivo   está   previsto   no   art.   33   e   seguintes   da   Lei   no  

9.472/97,  no  Capítulo  II,  do  Título  III,  que  trata  dos  órgãos  superiores  da  Anatel.  É   composto   por   doze   membros   indicados   pelo   Senado   Federal,   pela   Câmara   dos   Deputados,   pelo   Poder   Executivo,   pelas   entidades   de   classe   das   prestadoras   de   serviço,  por  entidades  representativas  dos  usuários  e  por  entidades  representativas   da  sociedade,  cabendo-­lhe  opinar  sobre  o  Plano  Geral  de  Outorgas,  o  Plano  Geral   de   Metas   e   demais   políticas   governamentais   a   serem   adotadas   no   setor   de   telecomunicações.   Suas   atribuições,   composição   e   forma   de   funcionamento   estão   detalhadas  no  Regimento  Interno  da  Anatel  (Resolução  no  612/2013,  arts.  31  a  35)  e   no  próprio  Regimento  Interno  do  Conselho  Consultivo,  cabendo-­lhe  a)  opinar,  antes  

do   seu   encaminhamento   ao   Ministério   das   Comunicações,   sobre   o   plano   geral   de   outorgas,   o   plano   geral   de   metas   para   universalização   dos   serviços   prestados   no   regime   público   e   demais   políticas   governamentais   de   telecomunicações;;   b)   aconselhar   quanto   à   instituição   ou   eliminação   da   prestação   de   serviço   no   regime   público;;  c)  apreciar  os  relatórios  anuais  do  Conselho  Diretor;;  d)  requerer  informação   e  fazer  proposição  a  respeito  das  ações  referidas  no  art.  35,  incisos  I  e  II,  da  Lei  nº   9.472,   de   1997,   que   é   o   de   aconselhar   quanto   à   instituição   ou   eliminação   da   prestação  de  serviço  no  regime  público.    

A  Ouvidoria  da  ANATEL  está  prevista  no  art.  45  da  Lei  no  9.472/97  (Lei  de   Telecomunicações)   e   regulamentada   pelos   arts.   138   e   139   da   Resolução   no   612/2013  da  Anatel  (Regimento  Interno  da  Anatel).      

A   ouvidoria   da   Anatel   é   órgão   independente,   isto   é,   sem   vinculação   hierárquica   com   o   Conselho   Diretor   ou   seus   integrantes,   cujos   titulares   são   nomeados  pelo  Presidente  da  República,  para  exercerem  um  mandato  de  dois  anos,   permitida  apenas  uma  recondução.    

Tem   a   função   de   colher   queixas,   reclamações   e   sugestões   dos   administrados   e   de   apurar   irregularidades   relativas   à   prestação   do   serviço   de   telecomunicações,   em   cumprimento   ao   que   dispõe   o   artigo   37,   §   3º,   I,   da   Constituição   Federal.   As   demandas   dos   usuários   e   consumidores   são   encaminhadas   pela   Ouvidoria,   através   de   apreciações   críticas   sobre   a   atuação   da   agencia,   ao   Conselho   Diretor,   ao   Conselho   Consultivo,   ao   Ministério   das   Telecomunicações  e  a  outros  órgãos  do  Poder  Executivo  e  ao  Congresso  Nacional,   conforme  preconiza  o  art.  45  da  Lei  no  9.472/97.  

Tem,  ainda,  a  prerrogativa  de  “opinar  sobre  o  conteúdo  da  regulação”  e  de   “propor  a  edição  de  atos  normativos”.258  

Embora   não   tenha   atribuição   para   solucionar   diretamente   os   conflitos   que   envolvem  os  operadores  econômicos  do  sistema  (concessionários,  permissionários   e  autorizatários)  e  os  demais  partícipes  da  atividade  regulatória  (Poder  concedente  e  

258  MATTOS,   Paulo   Tedescan   Lessa.   Agências   reguladoras   e   democracia.   In   SALOMÃO   FILHO,  

usuários   e/ou   consumidores),   a   Ouvidoria   exerce   a   função   de   colaboradora,   de   agente   capaz   de   intermediar   e   de   acelerar   as   soluções,   garantindo   o   direito   de   petição  e  de  informação.    

A   Ouvidoria   não   se   confunde   com   os   canais   de   atendimento   da   ANATEL;;   esses   colhem   as   reclamações   e   denúncias,   e   se   limitam   a   encaminha-­las   às   prestadoras   de   serviço;;   não   têm   legitimidade   para   propor   a   edição   de   atos   normativos  sobre  o  conteúdo  da  regulação.    

Nas   diversas   Resoluções   da   agência   são   previstas   outras   formas   de   atendimento   aos   usuários   e   consumidores   e   de   participação   democrática   na   atividade   regulatória   no   setor   de   telecomunicações,   tais   como   o   Conselho   de   Usuários  de  Grupo,  criado  e  regulamentado  pela  Resolução  no  623/2013  da  Anatel.    

Esse   Conselho   tem   caráter   consultivo   e   a   função   de   avaliar   os   serviços   prestados   e   a   qualidade   de   atendimento   das   prestadoras   de   serviços   de   telecomunicação,   tanto   no   regime   público   como   no   privado.   Esse     conselho   de   usuários  não  se  confunde  com  o  conselho  consultivo  da  ANATEL,  pois  é  instância   de   participação   institucionalizada   de   usuários   do   chamado   “Grupo”   de   prestadoras   de  serviços  de  telecomunicações,  mantido  e  gerido    pelas  diversas  prestadoras  de   serviço  do  setor  de  telecomunicações.    Não  se  trata,  portanto,  de  órgão  superior  da   agência,  mas  de  órgão  externo,  de  consulta,  voltado  para  a  avaliação  dos  serviços  e   da   qualidade   do   atendimento   das   prestadoras   de   serviços   de   telecomunicações,   e   para   a   formulação   de   propostas   de   melhoria   do   atendimento   e   dos   serviços,   pautando   suas   reuniões   a   partir   dos   principais   motivos   constantes   no   registro   de   reclamações  dos  usuários  nos  canais  de  relacionamento  do  “Grupo”,  bem  como  em   demandas  colhidas  nos  órgãos  de  defesa  do  consumidor.  Todas  as  prestadoras  têm   que  ter  pelo  menos  um  componente  do  Grupo  em  cada  uma  das  regiões  do  país.  O   relacionamento  dos  Conselhos  de  Usuários  com  a  Anatel  se  dá  através  do  Comitê   de   Defesa   dos   Usuários   de   Serviços   de   Telecomunicações   (CDUST),   que   é   vinculado   à   agência,   cuja   função   é   a   de   assessorar   e   de   subsidiar   o   Conselho   Diretor   da   Anatel.   O   referido   Comitê   colhe   as   informações   sobre   as   ações   desempenhadas   e   as   discussões   levadas   a   efeito   pelo   Conselho   dos   Usuários,   ao   Serviço  de  Informação  ao  Cidadão  (SIC),  e  as    encaminha    ao  Conselho  Diretor  da   agência.  

A  Resolução  no  612  de  29.4.2013  (Regimento  Interno  da  ANATEL),  prevê  três   tipos   de   participação   política   direta   na   atividade   regulatória   e   na   prestação   dos   serviços   de   telecomunicações,   garantindo-­se   o   direito   de   petição   contra   as   prestadoras  de  serviços.  São  elas:  

1-­  A  Reclamação  Administrativa,  prevista  no  art.  102,  que  garante  a  quem  tiver   seu   direito   violado,   nos   casos   relativos   a   legislação   de   telecomunicações,   o   direito   de  propor  reclamação  administrativa  perante  a  agência,  que  deverá  ser  apresentada   por  escrito,  acompanhada  das  provas  julgadas  pertinentes  ou  da  indicação,  de  forma   especificada,   daquelas   que   se   pretende   produzir,   obedecendo   o   rito   e   os   prazos   fixados   na   Resolução   no   612/2013.   Haverá   uma   reunião   de   conciliação   e   havendo   composição  entre  as  partes,  o  acordo  será  homologado,  extinguindo-­se  o  processo.   O  descumprimento  do  acordo  homologado  dá  enseja  à  abertura  de  Procedimento  de   Apuração  de  Descumprimento  de  Obrigação  (PADO).  

PADO   são   os   Procedimentos   de   Apuração   de   Descumprimento   de   Obrigação,    que   a   ANATEL   move   contra   as   concessionárias   de   serviço   público   de   telecomunicações  para  apurar  o  descumprimento  do  contrato  de  concessão.  Desde   2011,  por  força  da  sentença  proferida    pelo  juízo  da  2ª  Vara  Federal  de  Porto  Alegre   nos   autos   de   Ação   Civil   Pública   no   5007684-­30.2010.404.7100/RS   movida     pela   ANDICOM   -­   ASSOCIAÇÃO   NACIONAL   DE   DEFESA   E   INFORMAÇÃO   DO   CONSUMIDOR   contra   a   ANATEL,   a   agência   deve   tornar   para   tornar   públicos,   a   partir   da   fase   decisória,   os   Procedimentos   de   Apuração   de   Descumprimento   de   Obrigação   (PADOs)   em   trâmite   na   agência   e   permitir   aos   órgãos   de   defesa   dos   consumidores  o  acesso  às  decisões  administrativas  e  sua  fundamentação.259  

2   -­   A   Reclamação   do   Consumidor,   prevista   no   art.   103,   garante   que   o     “consumidor   de   serviço   de   telecomunicações   que   tiver   seu   direito   violado   poderá   reclamar   contra   a   prestadora   perante   a   Superintendência   de   Relações   com   os   Consumidores”,   observado   o   seguinte   procedimento:   (§   1º)   A   reclamação   do   consumidor   poderá   ser   formulada   pelos   canais   de   comunicação   destinados   pela   gência   para   esta   finalidade   e   deverá   conter   a   identificação   do   consumidor   e   da  

259  CONJUR.  Justiça  obriga  ANATEL  a  tornar  públicos  os  procedimentos  de  apuração  In  Boletim  de  

Notícias   ConJur:.   Disponível   em:   http://www.conjur.com.br/2011-­out-­31/justica-­obriga-­anatel-­tornar-­ publicos-­procedimentos-­apuracao,  acesso  em  18.12.2015.  

prestadora,   a   descrição   dos   fatos   e   a   comprovação   de   tentativa   de   resolução   do   problema  junto  à  prestadora.  (§  2º)  Recebida  a  reclamação,  a  agência  fornecerá  ao   consumidor   número   de   protocolo   de   atendimento   e   informações   sobre   a   forma   de   tratamento   de   sua   demanda,   cujo   tratamento   empregado   pela   Prestadora   e   resultado  alcançado  devem  ser  comunicados  ao  consumidor  e  à  Anatel.260    

As  reclamações  dos  usuários  e  consumidores,  junto  à  ANATEL,  podem  ser   (i)     presenciais,   nas   chamadas   “Sala   do   cidadão”,   que   são   mantidas   em   todos   os   Estados;;   (ii)   por   meio   eletrônico   (internet),   através   do   canal   denominado   “Fale   conosco”   e/ou   pelo   aplicativo   Anatel   consumidor;;   e   (iii)   por   telefone,   com   ligações   para  o  número  “1331”  (ou  1332  para  deficientes  auditivos  ou  da  fala).  

3  -­  A    denúncia,  que  é  mais  um  mecanismo  de  participação  da  população  no   processo  regulatório,  está  prevista  no  art.  105  e  assegura  que  “qualquer  pessoa  que   tiver   seu   direito   violado   ou   tiver   conhecimento   de   violação   da   ordem   jurídica,   envolvendo   matéria   de   competência   da   Agência,   poderá   reclamar   ou   denunciar   o   fato   à   Agência”.   A   denúncia   obedece   a   um   procedimento   simplificado   e   informal,   exigindo-­se,   no   entanto,   que   o   denunciante   se   identifique,   que   indique   o   fato   em   questão   e   suas   circunstâncias   e,   sempre   que   possível,   as   partes   envolvidas.   Quando  apresentada  verbalmente,  será  lavrado  termo,  assinado  pelo  denunciante  (§   1º,  art.105|).  

 

5.4.2  Agência  Nacional  de  Saúde  Suplementar  –  ANS      

 

  O   sistema   de   saúde   no   Brasil   é   formado   por   dois   setores:   o   público   e   o   privado.   A   rede   pública   é   uma   estrutura   formada   pelo   Sistema   Único   de   Saúde   (SUS),   previsto   no   art.   198   da   Constituição   Federal,   e   implementada   através   das     Leis  no  8.080/90  e  8.142/90.  Constitui    uma  rede  de  prestação,  promoção,  proteção  e  

260  Segundo  a  dicção  do  Art.  104  da  Resolução  no  612/2013  da  ANATEL,  “as  reclamações  recebidas  

serão   utilizadas   pela   Agência   como   subsídio   nas   ações   de   acompanhamento   e   controle   de   obrigações  das  prestadoras  pelas  áreas  competentes,  e  no  planejamento  de  ações  de  fiscalização,  e   poderão  ensejar  a  instauração  de  Pado.”