• Nenhum resultado encontrado

Agora tentaremos explicar o comportamento dos parlamentares

paranaenses não apenas motivados pela conexão eleitoral, mas orientados por

regras e procedimentos centralizadores da arena legislativa, que colocam os

partidos em vantagem às ações individuais dos políticos. Nesse caso, veremos que

alguns partidos passam dar acesso à cargos estratégicos na Assembléia, e que esse

controle é significativo para a aprovação de proposições de seu interesse.

No Brasil uma série de autores (Figueiredo & Limongi, 2001; Santos,

1997; Amorim Neto, 2000; Pereira & Mueller, 2002; Meneghello, 1998) tem

destacado as regras internas do processo de decisão e os poderes constitucionais

do presidente de legislar e de distribuir recursos políticos e financeiros que

proporcionam grandes incentivos para a centralização do sistema político brasileiro.

Já vimos no capítulo anterior a este, os poderes de agenda que

conta o executivo e o legislativo. Agora, o que importa efetivamente é saber os

agentes de maior influência na ALEP. A questão central gira em torno da vantagem

que tem os deputados governistas, pois são estes que controlam a maioria dos

postos na burocracia parlamentar.

Com as funções de controlar e dirigir os trabalhos legislativos

durante as sessões plenárias e decidir sobre as questões administrativas das quais

dependem o funcionamento e a infra-estrutura da ALEP, a Mesa detém os cargos

mais estratégicos. Sua eleição constitui um dos momentos de maior disputa interna

e de articulação política, com interferência quase sempre direta do governador.

Para o governador, ter seus aliados à frente da Mesa Diretora

significa contar com o principal mecanismo legislativo em termos de influencia na

aprovação de seus projetos. É a Mesa Diretora, em consonância com as lideranças

partidárias, especialmente dos partidos majoritários da Casa e que integram a base

governista, que decide sobre a agilidade de uma matéria e que, muitas vezes, utiliza

todos os instrumentos de obstrução para adiar a apreciação de outras.

A Mesa diretora, como já ressaltado, é composta de três deputados

eleitos bienalmente para mandatos de presidente, 1º e 2º secretários. No caso da

necessidade de substituição de um deles existem os suplentes, que são

denominados 1º e 2º vice-presidentes e 3º e 4º secretários.

Durante o período de 1999-02, houve duas eleições para a direção

da ALEP para a ocupação nos biênios 1999/00 e 2001/02, com vitórias expressivas

da base governista

48

.

Tabela 11 – Integrantes da Mesa Diretora, por partido e alinhamento em relação ao governo (1999-2002)

Cargo Ocupante 1 (jan/99) Governo ou Oposição? Ocupante 2 (fev/99-dez/00) Governo ou Oposição? Ocupante 3 (jan/01-dez/02) Governo ou Oposição?

Presidente PFL Governista PTB Governista PSDB Governista 1º

Vice-Presidente PTB Governista PMDB Oposição PFL Governista

Vice-Presidente PMDB Oposição PSDB Governista PT Oposição

Vice-Presidente PFL Governista PFL Governista PDT Independente

Secretário PTB Governista PTB Governista PTB Governista

Secretário PSDB Governista PSDB Governista PMDB Oposição

Secretário PSDB Governista PSDB Governista PPB Governista

Secretário PT Oposição PT Oposição PSDB Governista

Secretário PDT Independente PDT Governista PFL Governista

Fonte: Núcleo de Pesquisa Democracia e Instituições Políticas

O controle da Mesa da Casa foi fundamental para que projetos

importantes do governo, como a privatização da Copel, a solução para o caso dos

professores e todas as discussões sobre o orçamento estadual pudessem tramitar e

passar pela aprovação dos membros da Assembléia Legislativa sem que

ocorressem maiores surpresas.

Por último, verificaremos como foi feita a divisão do controle sobre

as comissões permanentes e qual comissão foi controlada por cada um dos partidos

durante os biênios 1999/2000 e 2001/02. As tabelas mostram que os partidos

governistas (PFL, PPB, PTB, PSL, PSDB e PPS) controlaram cerca de 68% das

comissões permanentes, o que facilita a utilização dos recursos de urgências ou

obstrução para a análise das matérias feitas por cada uma das comissões. Isso é um

dos reflexos da política de coalizão adotada pelos governistas desde o início da

gestão Lerner. Situação semelhante pode ser verificada no estudo realizado por

48

São dois momentos diferentes no biênio 1999/2000: com a morte do presidente da Mesa em

jan/1999, deputado Aníbal Khury (PFL), quem assume a presidência da Mesa foi o então o primeiro

vice-presidente, deputado Nelson Justus (PTB).

Fabiano Santos sobre a ALERJ e por Abrucio (et al.) sobre a ALESP, no livro

organizado por Fabiano Santos (2001a)

49

.

Tabela 12 – Participação dos partidos na Presidência das comissões (1999-2002)

Partido Governo ou oposição?

Nº de comissões (1999-2000) (%) Nº de comissões (2000-2001) (%) PFL Governo 4 26,7% 4 26,7% PPB Governo 2 13,3% 1 6,7% PSDB Governo 0 0,0% 2 13,3% PTB Governo 4 26,7% 1 6,7% PSL Governo 0 0,0% 1 6,7% PPS Governo 0 0,0% 1 6,7% PMDB Oposição 3 20,0% 4 26,7% PT Oposição 1 6,7% 1 6,7% PDT Independente 1 6,7% 0 0,0% Total 15 100,0% 15 100,0%

Fonte: Núcleo de Pesquisa Democracia e Instituições Políticas

Tabela 13 – Comissões Permanentes e filiação partidária de seus presidentes

Comissão Permanente Partido do Presidente (1999-2000) Partido do Presidente (2001-2002) 1. Executiva PFL PSDB 2. Constituição e Justiça PFL PFL 3. Finanças PMDB PMDB 4. Orçamento PTB PPS

5. Agricultura, Indústria e Comércio PDT PFL

6. Obras Públicas, Transportes e Comunicações PMDB PMDB

7. Educação, Cultura e Esportes PT PT

8. Terras, Imigração e Colonização PMDB PMDB

9. Segurança Pública PTB PMDB

10. Saúde Pública PTB PTB

11. Redação PPB PSDB

12. Tomada de Contas PPB PPB

13. Turismo PFL PFL

14. Ecologia e Meio Ambiente PFL PFL

15. Fiscalização PTB PSL

Fonte: Núcleo de Pesquisa Democracia e Instituições Políticas

O fato de ter a maioria absoluta nas comissões garantiu decisões a

seu favor. Além disso, o governo Lerner dominou duas comissões estratégicas da

Assembléia, a de Constituição e Justiça e a do Orçamento. Com maioria no plenário,

49

No Rio de Janeiro, os partidos governistas controlaram a presidência de 77,7% das 27 comissões

permanentes e em São Paulo, os governistas controlaram 75% da comissões permanentes.

nas principais comissões e na Mesa Diretora, pode-se prever que o governo contará

com uma certa facilidade em manter a capacidade de iniciativa e aprovação de seus

projetos. No entanto, para que esses dados sejam confirmados, cruzaremos agora

os dados dos perfis dos parlamentares com a produção legal.