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Dada a importância atribuída pelos autores ao fenômeno da

reeleição decidimos incluir algumas informações sobre o fenômeno entre os

membros da ALEP.

A tabela abaixo mostra a situação dos deputados paranaenses

eleitos para a 14ª legislatura quanto à experiência prévia na Casa. Contar com

deputados experientes é importante para o fortalecimento do corpo legislativo e,

consequentemente para a qualidade das leis produzidas por este. Como podemos

notar não são poucos os deputados que contam com uma longa experiência de

Casa. Havia deputados que estavam no seu quarto, quinto e até mesmo oitavo

mandato consecutivo. Isso é realmente uma marca distintiva da ALEP: a maioria de

seus membros já conta com certa experiência anterior, o que indica um certo grau

de institucionalização da prática legislativa.

Tabela 7 – Distribuição de freqüência sobre o número de mandatos exercidos na ALEP pelos deputados eleitos em 1998 Situação Nº de Deputados %

Deputado no primeiro mandato 18 29,0%

Deputado no segundo mandato 18 29,0%

Deputado no terceiro mandato 14 22,6%

Deputado no quarto mandato 6 9,7%

Deputado no quinto mandato 4 6,5%

Deputado no sexto mandato 0 0,0%

Deputado no sétimo mandato 0 0,0%

Deputado no oitavo mandato 2 3,2%

TOTAL 62 100,0%

Fonte: Núcleo de Pesquisa Democracia e Instituições Políticas

O índice de renovação na Assembléia Legislativa do Paraná, que

indica o número de deputados em seu primeiro mandato legislativo, foi o mais baixo

de toda a história da Assembléia: apenas 18 dos 62 deputados eleitos em 1998 para

o exercício de deputado estadual eram “novatos”. Este diferencial está na grande

quantidade deputados reeleitos que, como mostra a tabela a seguir em detalhes,

eram em média 71% do total da ALEP, um índice bastante alto tendo em vista que a

média das taxas de reeleição para a Casa girou em torno de 48%

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. Com isso, a

presença dos amadores na Assembléia é minimizada. Mas cabe observar que o

amadorismo não é um mal por definição; dependo do momento político, pode ser um

fator importante de renovação da elite política.

Tabela 8 – Situação dos deputados estaduais eleitos em 1998 quanto às taxas de reeleição na ALEP

Situação/Ano N %

Reeleito(a) 39 62,9%

Reeleito(a) após interrupção 5 8,1%

Eleito(a) pela primeira vez 18 29,0%

Total 62 100,0%

Fonte: Núcleo de Pesquisa Democracia e Instituições Políticas

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Esses dados foram sistematizados por Renato M. Perissinotto, do Núcleo de Pesquisa em

Sociologia Política Brasileira da UFPR, a partir de planilha elaborada por Emerson Urizzi Cervi, que

utilizou fontes do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (ver Anexo V).

A comparação com as taxas de renovação da Câmara dos

Deputados (44% em 1998) e de algumas Assembléias legislativas (Rio de Janeiro,

São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Minas Gerais em torno de 40 a 60%),

também pode fornecer algumas evidências de que a Assembléia do Paraná possuía

um alto índice de reeleição da Casa. Na Assembléia carioca, por exemplo, no estudo

de Fabiano Santos (2001, p.333), 59,8% dos deputados estaduais da 13ª legislatura

estavam em seu primeiro mandato. Em Minas Gerais, esse índice é bem menor:

38% dos deputados mineiros eram “novatos” (Anastasia, 2001, p.76).

Além disso, é importante atentar para o grande número de

deputados que tentaram dar continuidade a suas carreiras políticas na própria ALEP.

Dos 54 deputados que terminaram o mandato na ALEP em 2002, apenas quatro não

se candidataram à reeleição para o mesmo cargo (dois candidataram-se a deputado

federal, um a senador e um a vice-governador).

Tabela 9 – Tentativas de reeleição em 2002 entre os deputados estaduais da 14ª legislatura

Tentou novas eleições Tentou a reeleição

não sim total

Não ⎯ 4 4

sim(derrotado/a) ⎯ 20 20

sim(reeleito/a) ⎯ 30 30

Total ⎯ 54 54

Fonte: Núcleo de Pesquisa Democracia e Instituições Políticas

Nota: (n total) – apenas os deputados que estavam empossados no final do mandato

Dentre os 50 deputados que tentaram a reeleição para a ALEP, 30

obtiveram sucesso, o que é bem significativo. Passando esses números para

percentuais temos que aproximadamente 93% dos membros da ALEP buscaram

continuar suas carreiras políticas dentro da própria Assembléia. A taxa de sucesso

entre aqueles que tentaram novas eleições dentro da própria Assembléia foi

relativamente alta, aproximadamente 60% deles alcançaram este objetivo.

Os números acima podem levar à aplicação de algum modelo

baseado na noção de conexão eleitoral para a análise do comportamento

parlamentar dos deputados estaduais do Paraná. É possível levantarmos a hipótese

de que o comportamento dos parlamentares se baseia nas possibilidades objetivas

de continuação da carreira política e por isso investem todos os recursos legislativos

de que dispõem para buscar essa meta. Neste sentido, uma das estratégias que

pode resultar em melhores resultados para o parlamentar que pretender ser reeleito

é a atuação individual, voltada essencialmente para beneficiar seus redutos

eleitorais, favorecendo assim a manutenção de sua carreira política. Isso pode se

dar através da obtenção de recursos (pork barrel) via emendas orçamentárias, por

exemplo, ou através da atuação na esfera interna do Legislativo, propondo leis que

atendam diretamente determinados segmentos ou regiões do distrito eleitoral.

Cervi (2006), em seu estudo sobre produção legislativa e reeleição

também na 14ª legislatura da ALEP, testou algumas variáveis

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que poderiam

identificar a atuação individual do deputado estadual do Paraná com seu

desempenho legislativo posterior, visando identificar possíveis correlações. Os

resultados a que o autor chegou mostraram que independentemente da atuação

coletiva do deputado estadual, aqueles que apresentaram uma produção legislativa

individualizada geograficamente, com projetos de lei de abrangência regional ou

municipal, por exemplo, tenderam a apresentar melhores chances de serem

reeleitos.

Tabela 10 – Situação em 2002 por tipo de votação

Categoria de votação em 2002 Votos

regionalizados Votos mistos

Votos dispersos Total Reeleito 17 (56,6%) 7 (23,4%) 6 (20%) 30 (100%) Situação em 2002 Não reeleito 3 (15%) 7 (35%) 10 (50%) 20 (100%) Total 20 (40%) 14 (28%) 16 (32%) 50 (100%)

Fonte: Cervi (2006)

A primeira evidência importante de sua pesquisa foi que a votação

concentrada geograficamente (chamada por ele de votação regional), é um

elemento significativo para a reeleição do parlamentar. Além disso, os dados

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Para isso, além dos resultados eleitorais dos candidatos à reeleição, que deram origem a uma

tipologia de votação (se concentrada ou desconcentrada regionalmente) como variável dependente,

foram incluídos no modelo três conjuntos de variáveis explicativas. O primeiro, formado por variáveis

sobre posição política institucionalizada (bancada a que pertence, ideologia, partido político,

ocupação de cargo na mesa, número de mandatos na ALEP e posição sobre tema polêmico). O

segundo, referente à visibilidade do mandato (número de aparições dos parlamentares no principal

jornal diário do Estado e tipo de aparições). O terceiro grupo de variáveis explicativas dizia respeito à

produção legislativa individual propriamente dita (tipo de projeto de lei apresentado, abrangência

geográfica do projeto de lei, abrangência social do projeto de lei, número de projetos apresentados e

número de projetos aprovados durante o mandato).

apresentados pelo autor revelaram a existência de uma relação consistente entre o

tipo de produção legislativa individual do deputado e o seu desempenho eleitoral,

comprovando que apesar de ser fiel à bancada partidária em relação a temas

polêmicos, quando age individualmente apresentando projetos de lei de abrangência

social segmentada e abrangência geográfica municipal ou regional, ele tende a

apresentar votações mais localizadas, o que está diretamente relacionado à maior

possibilidade de reeleição.

Ao final da 14ª legislatura na ALEP, pouco mais da metade dos

deputados reeleitos apresentou votação regionalizada, criando na prática uma

subdistritalização eleitoral. Dos outros 50%, cerca de metade teve votação mista,

ficando entre voto regional e disperso. Enquanto que apenas 20% do total de

reeleitos apresentaram votação dispersa, ou seja, tendo votos em todas as regiões

do Paraná, evidenciando que a concentração de votos em determinadas regiões do

distrito eleitoral é uma estratégia que resulta em melhores resultados para o

parlamentar que pretende ser reeleito, mas que depende em grande medida dos

resultados obtidos pela atuação individual do deputado no legislativo. Enquanto os

deputados candidatos à reeleição que produziram principalmente projetos de

abrangência estadual tiveram votos dispersos; os deputados com produção

localizada apresentaram maiores percentuais de votos regionalizados, indicando

para uma conexão eleitoral entre as atividades individuais do parlamentar e a

aceitação desse trabalho pelas bases eleitorais. Já a conexão entre a atuação

coletiva do parlamentar, como em temas polêmicos e de grande interesse do

Executivo Estadual, não se mostrou tão forte quanto a anterior.