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CAPÍTULO 5. ESTUDOS DE CASO

5.2. Estratégia Governamental, Colaboração e Conflito na Assembléia Legislativa do Paraná

Como já ressaltamos em vários momentos do trabalho, logo no início

da legislatura o governador reeleito Jaime Lerner (PFL) contava com ampla maioria

parlamentar, dado que a coligação que o elegeu detinha 40 das 50 cadeiras da

Assembléia, ou seja, 74% dos assentos, assegurando uma ampla coalizão

majoritária que, apesar de algumas cisões, manteve-se durante toda a gestão. Em

todas as votações importantes na Casa o governo obteve maioria simples de votos

em função do apoio principalmente do PFL e do PTB, os dois partidos sempre fiéis

ao Executivo estadual.

As cisões que ocorreram na base governista não podem ser vistas

sem levar em conta um fator bastante importante: a crise econômica e financeira do

período que era mais ou menos geral em todo o país e o desgaste político do

governo, que já algum tempo vinha corroendo a administração Lerner. Os deputados

reclamavam da falta de verbas para suas bases, sendo que muitos deputados

situacionistas se voltaram contra o governo, deixando de votar a favor do governo

em alguns projetos polêmicos como forma de protesto. Isso atinge diretamente uma

das principais bases de sustentação de uma coalizão fisiológica de governo, que é a

transferência de recursos do Estado para as bases político-eleitorais dos

parlamentares. Isso teve uma importância muito grande no processo de governo,

porque a partir disso, quebra-se a segurança do Executivo em ver seus projetos

aprovados tranquilamente. Também em outros momentos em que o conteúdo da

questão era bastante polêmico, aproveitando as pressões da opinião pública, os

parlamentares situacionistas constantemente obstruíam sessões, adiando a votação

em determinadas matérias, até que a legislação de seu interesse fosse aprovada.

Pode-se dizer que o Executivo na gestão Lerner logrou o

estabelecimento de uma “Coalizão Fisiológica” na Assembléia Legislativa, montada

em bases mais clientelistas do que propriamente fisiológicas. Os deputados

proporcionavam sustentação ao Executivo e este, em troca, proporcionava aos

parlamentares a transferência de recursos às suas bases. Porém, essa coalizão, em

alguns momentos, sofreu rupturas eventuais em virtude de pressões da sociedade e

opinião pública em geral em cima dos parlamentares, o que se mostrou essencial

para que no estado no Paraná não vigorasse a regra do ultrapresidencialismo

estadual. Os efeitos que foram produzidos no comportamento legislativo do

parlamentares, em decorrência das cisões na base parlamentar governista no

interior da ALEP ao longo do último período legislativo, se mostraram que grande

importância para que a Assembléia Legislativa fizesse valer suas preferências em

determinados momentos. Por isso a Assembléia Legislativa do Paraná apresenta

situações de processo de tomada de decisões bem diferentes.

São oito os casos estudados que tiveram grande discussão na

Assembléia entre os anos de 1999 e 2002: Plano de Cargos, Carreiras e Salários

dos trabalhadores em educação da rede estadual de ensino público do estado do

Paraná (PCCS); Lei dos recursos hídricos; Projeto de lei com proposta do governo

sobre o IPVA; o caso da “Indústria de multas”; Projeto de lei que incentiva titulação e

autonomia das universidades estaduais; Luta por aumento salarial dos policiais

militares; Lei estadual de incentivo à cultura e; finalmente, o caso da COPEL.

No conjunto dos casos estudados, constatamos a seguinte

distribuição segundo o tipo de processo decisório: quatro casos de Competição

Cooperativa (CC) e igualmente quatro casos de Não Cooperação (NC) entre os

atores envolvidos. Na categoria NC incluem-se um caso de total marginalização da

oposição (que é o caso da luta salarial dos policiais militares), dois casos de

tentativas frustadas de colaboração (o caso da Copel e o Projeto que incentiva a

titulação e autonomia das Universidades estaduais) e um caso de “não decisão”

(Plano de cargos, carreiras e salários dos trabalhadores em educação da rede

estadual de ensino público do estado do Paraná).

As pressões externas no processo decisório foram intensas em

quase todos os casos analisados, tanto através da ação da opinião pública em geral

como através de lobbies. Na maioria dos casos o impacto no Legislativo foi

perceptível, quando não decisivo.

O caso mais visível de forte impacto da opinião pública foi o caso da

Copel. A intensidade dos movimentos contra a privatização da estatal e a amplitude

dos protestos indignados de amplos setores da população indignados com o projeto,

“balançaram” os parlamentares. Apesar da pressão e do inevitável desgaste político,

os deputados votaram a favor da privatização.

Os lobbies podem modificar a posição inicial dos parlamentares

mesmo em situação de CFG. Foi o que se verificou no processo de votação sobre a

cobrança do IPVA (que por proposta do governo, deveria ser modificado). Os

poderosíssimos lobbies dos empresários do setor de transportes agiram na

Assembléia Legislativa, modificaram a posição dos governistas e romperam o

monolitismo da CFG.

Cabe observar também a importância dos recursos regimentais no

jogo parlamentar tais como a obstrução, o veto e os pedidos de urgência, que foram

usados em vários momentos, seja para retardar ou acelerar uma decisão, seja para

forçar a não decisão. Há também os casos de utilização de ameaças.

Nos estudos de caso detalhados a seguir não há informações para a

avaliar a natureza das barganhas realizadas em troca do voto favorável ao governo

(se houve distribuição de cargos ou apenas a liberação de recursos orçamentários).

Certamente houve promessas de liberar verbas para obras de interesse dos

deputados. Mas esse tipo de barganha não é necessariamente clientelista no

sentido “perverso” do termo. É importante lembrar que clientelismo não é sinônimo

de fisiologismo. Como coloca Cláudio Couto (1998, p.56), no caso do clientelismo

ocorre a destinação de recursos públicos a setores da população (os governados) e

não diretamente aos próprios policy-makers (governantes). Já no caso do

fisiologismo, os recursos são apropriados pelos próprios tomadores de decisão, que

se aproveitam dessa sua condição para apropriar-se privadamente de cargos ou

recursos públicos, sem qualquer justificativa de caráter universal.

Vejamos agora como foi o desempenho legislativo da Assembléia

Legislativa Paranaense através dos estudos de caso.