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CAPÍTULO 2. ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E REGIMENTAIS DA ALEP

2.2. Organização Interna da ALEP

A Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, com sede na capital

do Estado, funciona no Palácio Dezenove de Dezembro. Ela é composta de 54

deputados eleitos para um mandato de quatro anos. A ALEP organiza seus

trabalhos por legislaturas, com duração de quatro anos cada, que coincide com o

período de duração do mandado dos deputados.

Os deputados podem ser agrupados no interior da Assembléia de 2

formas: a) Bancadas Partidárias (Art. 10 do Regimento Interno): são representações

por partidos e poderão escolher o seu líder, desde que a representação seja igual ou

superior a 2 deputados

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; b) Blocos Parlamentares (Art. 13 do Regimento Interno),

são a representação de 2 ou mais partidos, tendo no mínimo 3 deputados, sob

liderança comum. Cada líder pode indicar dois vice-Líderes, mas tanto estes como

aquele não poderão integrar a Mesa Diretora.

As funções dos Líderes e vice-Líderes estão expressas no

regimento. Os líderes partidários representam as suas bancadas e, juntamente com

a Mesa Diretora, definem a pauta da votação e as matérias consideradas de maior

relevância e urgência. Em última instância, representam o posicionamento oficial de

seus pares quanto às matérias que serão analisadas em plenário. O Líder, além de

outras atribuições regimentais, tem o direito de participar pessoalmente ou por

intermédio dos vice-Líderes, dos trabalhos de qualquer comissão de que não seja

membro, com direito à voz, e não a voto, mas podendo encaminhar a votação ou

requerer a verificação desta. O Líder ainda tem o direito de indicar à Mesa os

membros da Bancada para compor as comissões e, a qualquer momento,

substituí-los.

O elemento-chave do poder dos líderes é o tamanho de sua

bancada. Quanto maior for a base, maior sua influência na escolha dos outros

cargos e na interferência sobre a agenda. Como no Paraná o limite mínimo para o

tamanho das bancadas é de apenas dois deputados, o poder dos líderes na ALEP é

quase nulo e não há sequer mecanismos mais eficientes capazes de potencializar o

poder dos líderes, estimulando-os a constituir e manter bases ampliadas. O

resultado de tal fenômeno é que os líderes acabam não tendo o controle sobre sua

base e correm o risco de ver parte dos parlamentares debandarem para outras

representações, por meio das migrações partidárias. De fato, como se verá mais

adiante, o índice de migração partidária durante a 14ª legislatura foi bastante alto

(cerca de 43,5% dos deputados migraram ao menos uma vez de partido).

De qualquer forma, mais uma vez não está prevista na ALEP a

questão do recurso a meios mais afirmativos nas mãos dos líderes. O Paraná, ao

contrário de alguns estados e da Câmara Federal, não possui a figura do Colégio de

Líderes

28

. Onde há o Colégio de Líderes, a ação dos líderes é potencializada.

Trata-se de um órgão auxiliar ao Legislativo composto pelos líderes de partidos ou blocos

partidários. A definição da pauta da votação, bem como os prazos de tramitação dos

projetos são as funções primordiais deste órgão. Figueiredo & Limongi (2001)

argumentam que o principal efeito político advindo do funcionamento do Colégio dos

Líderes é o de centralizar os trabalhos legislativos nas mãos das lideranças em

detrimento do poder das Comissões. Embora formalmente as Comissões

Permanentes sejam dotadas de poderes que teoricamente possibilitariam maior

influência do parlamentar individual, a ação do Colégio de Líderes neutraliza este

poder, seja através dos pedidos de urgência (retirando das comissões os projetos

encaminhados à sua apreciação), seja através da participação nos trabalhos das

comissões (encaminhando votação ou requerendo verificação de quorum); ou pelo

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Como nos informa André Ricardo Pereira (2001, p. 274), apenas sete estados regulamentam em

seus RIs a figura do Colégio de Líderes, são eles: Piauí, Minas Gerais, Rondônia, Ceará, Espírito

Santo, Pará e Mato Grosso.

controle exercido pela Mesa, encarregada de definir os projetos que, aprovados nas

comissões, entrarão ou não na Ordem do Dia. Assim, o processo decisório no

legislativo federal brasileiro caracteriza-se por uma alta centralização dos trabalhos

legislativos em torno da Mesa Diretora e do Colégio de Líderes (Figueiredo &

Limongi, 2001).

Como na ALEP e o poder dos líderes é quase nulo, a implicação

disso é que o poder no interior da ALEP está altamente concentrado no presidente

da Mesa, e esse poder não é apenas “informal”, mas está consagrado no RI,

favorecendo uma relação direta entre parlamentar e presidente da Mesa, sem a

intermediação dos líderes partidários. Com base nesse critério pode-se concluir que

estrutura da ALEP é mais centralizada do que a da Câmara.

A Mesa é o órgão de direção, coordenação e regularização dos

trabalhos legislativos e dos serviços administrativos da ALEP. Deve ainda executar

as funções formais e de documentação com as demais instituições de poder do

estado, tais como Tribunal de Justiça, Governador, etc.A Mesa Diretora, da mesma

maneira que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, é composta de sete

membros: Presidente, dois vice- Presidentes e quatro Secretários (Art.15 do

Regimento Interno).

Os membros da Mesa Diretora são eleitos no dia 1º de fevereiro do

1º e 3º ano de cada legislatura, após a posse dos deputados, por um mandato fixo

de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente

subseqüente. A eleição dos membros da Mesa é feita por escrutínio secreto, exigida

a maioria absoluta de votos, em primeiro escrutínio, e maioria simples em segundo

escrutínio. A “presença” é o quorum para que a votação se dê. Os membros efetivos

da Mesa, bem como os Vice-Presidentes, não poderão fazer parte de qualquer

Comissão sejam Permanentes ou Especiais, a não ser da Executiva, da qual são

membros natos (Art. 17 do Regimento Interno).

As comissões da Assembléia dividem-se em Permanentes e

Temporárias. Segundo a concepção defendida pela teoria informacional, o grau de

autonomia e independência de que podem gozar os legislativos face ao Executivo

depende da existência de comissões e da especialização daí decorrente. Neste

sentido, um legislativo informacionalmente eficiente seria aquele resultante da

especialização dos parlamentares em comissões

29

. Na constituição das Comissões,

o artigo 27 do Regimento Interno determina que, tanto quanto possível, seja

assegurada a proporcionalidade na distribuição das vagas nas comissões aos

Partidos e Blocos Parlamentares que participem da Casa. Portanto, é provável que

maiorias governistas ou oposicionistas se reproduzam nas comissões, pelo menos

sob o ângulo da posição partidária em relação ao governo. Entretanto, devido à

especialização e aos interesses dos membros da comissão, o papel dessas

comissões não é irrelevante na determinação do prosseguimento das demandas

legislativas especializadas. Isto é, quanto maior o número de comissões, maior a

expectativa de que demandas sejam convertidas em proposições legislativas.

As Comissões Permanentes compõem-se de sete membros cada

uma, salvo a Executiva (composta pelo Presidente, 1º e 2º secretários) e a de

Constituição e Justiça (quinze membros). Elas devem ser organizadas no prazo de

15 dias após a eleição da Mesa, bem como devem ser reorganizadas de 2 em 2

anos, paralelamente a reorganização da Mesa. Os líderes da Bancada ou Bloco

Parlamentar designam os membros das comissões, mas o regimento não deixa claro

o que ocorre se estes não apresentarem os nomes no prazo estipulado.

Sua composição deve respeitar a seguinte norma: devem ser

compostas dividindo-se o número de membros da Assembléia pelo número de

membros de cada Comissão e o número de Deputados de cada Partido ou Bloco

Parlamentar pelo quociente assim obtido. O quociente final representará o número

de membros do Partido ou Bloco Parlamentar, cujos nomes serão indicados pelo

respectivo Líder

30

. O Regimento Interno prevê a existência de 15 Comissões

Permanentes (Art.30 do Regimento Interno):

I - Comissão Executiva;

II - Comissão de Constituição e Justiça;

II - Comissão de Finanças;

IV - Comissão de Orçamento;

V - Comissão de Agricultura, Indústria e Comércio;

VI - Comissão de Obras Públicas, Transportes e Comunicação;

VII - Comissão de Educação, Cultura e Esportes;

29

Para mais detalhes ver: Limongi (1994) e Domingues (1997).

30

Regimento Interno da ALEP, 1990, p. 11. “Se por esse processo não se preencherem todos os

lugares de cada Comissão, caberão os lugares vagos aos Partidos ou Blocos Parlamentares ainda

não representados, na ordem decrescente do número de membros de bancada” (Art. 31 do R.I.).

VIII - Comissão de Terras, Imigração e Colonização;

IX - Comissão de Segurança Pública;

X - Comissão de Saúde Pública;

XI - Comissão de Redação;

XII - Comissão de Tomada de Contas;

XIII - Comissão de Turismo;

XIV - Comissão de Ecologia e Meio Ambiente;

XV - Comissão de Fiscalização da Assembléia Legislativa.

As competências das comissões permanentes estão descritas

detalhadamente no Art. 33 do Regimento Interno. Dentre algumas podemos citar:

apreciar, emitir pareceres e qualificar os assuntos e proposições de seu tema;

acompanhar os planos e programas governamentais; fiscalizar o orçamento do

estado; organizar seminários e audiências públicas na ocasião que determinados

temas necessitem; convocar Secretários de estado para prestar informações sobre

assunto previamente determinado; solicitar audiência ou colaboração de órgãos ou

entidades da administração pública ou fundações e da sociedade civil, para

elucidação de matérias sujeitas ao seu pronunciamento; solicitar o depoimento de

qualquer autoridade ou cidadão, entre outras atribuições.

Na ALEP também não existe o mecanismo do poder terminativo das

comissões para matérias relevantes. O poder deliberativo das Comissões

permanentes restringe-se em poder discutir e votar os seguintes projetos

(dispensando a competência do Plenário), salvo em possível recurso de um décimo

dos membros da Casa: (i) cidadão honorário e benemérito; (ii) utilidade pública; (iii)

convênios; (iv) doações de imóveis pelo poder público.

Duas Comissões são consideradas as mais importantes: a de

Finanças e Orçamento e a de Constituição e Justiça. A Comissão de Finanças e

Orçamento avalia as proposições que podem trazer ônus para os cofres públicos,

sendo seu parecer importante para que a propositura seja encaminhada à votação

em plenário. A Comissão de Constituição e Justiça decide sobre a legalidade das

proposições apresentadas. Quase todas as proposições que tramitam na

Assembléia devem passar pela mesma. Se uma matéria for declarada

inconstitucional, ela é imediatamente arquivada. Devido à sua centralidade, essa

comissão costuma ser ocupada por parlamentares da base governista. Portanto,

diante da oposição do executivo que conta com uma maioria parlamentar e da maior

confiabilidade dos membros governistas da CCJ, seria logicamente baixa a

probabilidade de encaminhamento de uma proposição não afinada com os

interesses da maioria parlamentar.

Quanto às Comissões Temporárias são três (Art.34 do Regimento

Interno):

I - Especiais:

II - de Inquérito;

III - Externas.

Os membros das Comissões Temporárias são designados pelo

Presidente por indicação dos Líderes, ou independente dela se, no prazo de 48

horas após ser criada, não se fizer a escolha. Na constituição das comissões

temporárias toma-se o cuidado para que todos os Partidos ou Blocos Parlamentares

possam fazer-se representar, de tal forma que haja rodízio entre as Bancadas não

contempladas.

As Comissões Temporárias Especiais são constituídas por

determinação da Assembléia Legislativa, que estipula o número de membros,

assunto, duração etc. (não se fala nada mais). As comissões Temporárias de

Inquérito podem ser requeridas de duas formas: com requerimento de 1/3 do total de

deputados ou com requerimento individual aprovado pelo Plenário. Já as Comissões

Temporárias Externas podem ser instituídas pelo Plenário da Assembléia, de ofício

ou a pedido de qualquer deputado, desde que aprovada pelo Plenário no caso de

trazerem ônus para a Assembléia.

É importante finalmente ressaltar que as funções desempenhadas

pela Mesa Diretora, pelas comissões permanentes e pelos líderes dos partidos são

consideradas de fundamental importância para o desenvolvimento das atividades do

Legislativo. Sobretudo, ter aliados à frente da Mesa Diretora e das comissões

permanentes pode significar a manutenção do controle político da Assembléia.