CAPÍTULO 2. ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E REGIMENTAIS DA ALEP
2.3. O Processo Legislativo
De acordo com o artigo 63 da Constituição Estadual, o processo
legislativo compreende a elaboração de: emendas à Constituição; leis
complementares; leis ordinárias; decretos legislativos; resoluções e leis delegadas.
A prerrogativa de iniciativa legislativa no Paraná (ver Quadro 2)
possui pouca diferença em relação a outros estados brasileiros. Além, obviamente,
dos legisladores estaduais (sob a iniciativa de qualquer Deputado ou Comissões), o
Executivo (Governador do Estado), o Judiciário (Presidente do Tribunal de Justiça) e
o Procurador-Geral possuem a prerrogativa, mais ou menos extensa (quanto à
natureza da legislação), de enviar projetos de Lei (PL’s e PLC’s) à apreciação da
Assembléia Legislativa. Os eleitores também possuem esta prerrogativa. Os projetos
de iniciativa popular, de autoria dos cidadãos, percorrem o mesmo trâmite dos
demais, integrando sua numeração geral, e devem ser subscritos por, no mínimo,
um centésimo do eleitorado paranaense, distribuído pelo menos por cinqüenta
Municípios, com não menos de três milésimos dos eleitores de cada um deles.
Quadro 2 – Atores com o Direito de Apresentar Projeto de Lei
na Assembléia Legislativa do Paraná (PL’s - Leis Ordinárias,
PLC’s - Leis Complementares)
LEGISLATIVO Deputados Estaduais
Comissões (Assembléia Legislativa)
Mesa (Assembléia Legislativa)
EXECUTIVO Governador do Estado
JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado
EXTERNA Procurador-Geral de Justiça
Tribunal de Contas do Estado
Cidadãos (1/100)
Fonte: Constituição Estadual e Regimento Interno da ALEP
Os projetos de emendas à Constituição poderão ser propostos
mediante um terço, no mínimo, dos membros da Assembléia Legislativa; pelo
Governador de Estado ou por um terço das Câmaras Municipais do Estado (ver
Quadro 3). A proposta será discutida e votada em dois turnos, considerando-se a
mesma aprovada quando obtiver, em ambas as votações, o voto favorável de três
quintos dos membros da Assembléia Legislativa.
Quadro 3 – Atores com o Direito de Apresentar Projeto
de Emenda Constitucional (PEC’s) na Assembléia
Legislativa do Paraná
ATORES POLÍTICOS FRAÇÃO
Deputados Estaduais 1/3
Governador do Estado -
Câmaras Municipais 1/3
Fonte: Constituição Estadual e Regimento Interno da ALEP
Ao contrário do executivo que dispõe do direito de iniciar um projeto
de emenda constitucional a qualquer momento, é preciso que um parlamentar
agregue à sua proposição a subscrição de 1/3 da assembléia, o que restringe
fortemente a ocorrência de PEC’s no processo legislativo. À restrição ao parlamentar
individual de propor emendas à constituição acresce-se o quorum qualificado de 3/5
dos membros do parlamento estadual para aprovação de um PEC.
As Resoluções e Decretos Legislativos também fazem parte do
processo legislativo paranaense (Art. 73 da Constituição Estadual e Art. 122 do
Regimento Interno).
Os projetos de Resoluções são atos de competência exclusiva do
Legislativo, não estando sujeitas, portanto, à sanção do Governador. Têm como
conteúdo matérias de caráter político, administrativo e processual, tal como está
definido no § 2º do Art. 122 do R.I.:
I - perda de mandato de Deputado;
II - matéria de natureza regimental;
III - criação de Comissão Parlamentar de Inquérito, excedendo cinco
em funcionamento;
IV - conclusão de Comissão de Inquérito;
V - declaração de procedência de acusação criminal contra o
Governador e Vice-Governador de Estado e, quando houver conexão
contra os Secretários de Estado;
VI - contas do Governador;
VII - mudança temporária da sede da Assembléia;
VIII - contas do Poder Legislativo, apresentadas pela Mesa;
IX - licença para Deputado desempenhar missão temporária de
caráter diplomático ou cultural;
X - delegação legislativa ao Governador;
XI - todo e qualquer ato de sua economia interna, que não exceda os
limites do simples ato administrativo, o que se proverá no
regulamento dos seus serviços;
XII - consulta plebiscitária para criação, incorporação, fusão e
desmembramento de Municípios.
O Decreto Legislativo também é de competência exclusiva da
Assembléia, por isso também não está sujeita à sanção do Governador de Estado.
Os projetos de decreto legislativo destinam-se a regular as matérias de competência
exclusiva da Assembléia, que não estejam definidas como matéria de projeto de
resolução, tal como está definido no § 3º do Art. 122 do R.I.:
I - autorização para o Governador e o Vice-Governador se afastarem
do País, por qualquer tempo, ou do Estado, por mais de quinze dias;
II - fixação, em cada Legislatura, da remuneração dos Deputados,
para a subsequente;
III - fixação de remuneração do Governador e do Vice-Governador;
IV - solicitação de intervenção federal para garantir o livre exercício
do Poder Legislativo;
V - aprovação ou suspensão de intervenção estadual nos Municípios;
VI - aprovação da indicação dos Conselheiros e Auditores do
Tribunal de Contas;
VII - aprovação do nome do procurador-geral da Justiça do Estado;
VIII - sustação de processo criminal contra Deputados;
IX - deliberação sobre solicitação do Tribunal de Contas a respeito de
contrato inquinado de ilegalidade;
X - aprovação de convênios celebrados pelo Governador com a
União, os Estados ou Municípios.
Tanto as Resoluções como os Decretos Legislativos são
promulgados pelo Presidente da Assembléia Legislativa dentro de quarenta e oito
horas da sua aprovação.
O governador do estado do Paraná, assim como da maioria dos
demais estados (excetuando Acre, Piauí, Santa Catarina e Tocantins) não possui o
mais importante instrumento decisório: o direito de editar Medidas Provisórias que
produzem efeitos legais a partir da data de sua publicação (poder de decreto via
MP’s)
31. No governo federal, as MP’s conferem ao Presidente ampla
preponderância no processo decisório. Suas determinações, combinadas a outros
mecanismos (concentração dos trabalhos legislativos nas mãos dos líderes,
disciplina partidária, coalizão majoritária de governo, prerrogativas legislativas do
31
Dentre os três estados anteriormente citados, SC é o único em que os governadores utilizaram o
poder de decreto (MP’s) para introduzir legislação no parlamento. A esse respeito ver Tomio (2004).
executivo, etc.), atribuiriam uma preponderância do executivo no processo decisório
federal
32.
Por outro lado, o estado prevê o recurso pelo governador à Lei
Delegada (Cap. IX do Regimento Interno e Art. 72 da Constituição)
33. A lei delegada
(LD) é a que concede ao chefe do Executivo a capacidade de legislar sobre certos
assuntos sem que tenha que submeter projetos ao Parlamento. É, portanto, editada
pelo Governador do estado, por força de uma delegação que recebe da Assembléia.
Para tanto este determina quais assuntos podem abordados e qual o prazo para o
seu exercício. No Paraná, este recurso tem algumas limitações. A Constituição
estadual e o Regimento Interno determinam que a delegação não se aplica a
assuntos de competência exclusiva da Assembléia Legislativa, à matéria reservada
à lei complementar ou à legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira
e garantia de seus membros;
II - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
O Regimento Interno da ALEP explica o trâmite com detalhes. A
delegação pode ser solicitada pelo Governador ou proposta do Líder ou um terço
dos Membros da Assembléia. Ela é analisada por uma comissão especial de cinco
membros para emitir parecer sobre a proposta. A delegação do Governador terá
forma de Resolução da Assembléia, que especificará o seu conteúdo e os termos
para o seu exercício. O projeto de lei aprovado pela Comissão será remetido à
Sanção, salvo se, no prazo de dez dias de sua publicação, a maioria dos Membros
da Comissão ou um quinto da Assembléia requerer sua votação pelo Plenário. Se for
determinada a votação pelo Plenário, este o fará em votação única, vedada qualquer
emenda. Ali, a votação poder ser por partes desde que a comissão indique os
dispositivos com os quais não concorda.
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Para uma análise dos efeitos políticos das medidas provisórias em nível nacional ver: Figueiredo &
Limongi (1999) e em nível subnacional ver: Tomio (2004).
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