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1.2 DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO

1.2.2 Agricultura familiar e produção leiteira

A produção leiteira é importante na agricultura familiar, sendo uma atividade intimamente ligada a esse segmento agrícola uma vez que “que no agronegócio patronal, a bovinocultura de corte assume maior representatividade, sendo superior à soma de todas as outras criações” (GUILHOTO, 2006, p.30).

A atividade leiteira é caracterizada pela grande quantidade de segmentos envolvidos, pois atua desde “antes da porteira” até “depois da porteira”. Neste contexto, Pedroso (2001) refere-se à existência de um lado as agroindústrias que produzem derivados de leite e do outro as indústrias de insumos e maquinários que tem seus produtos adquiridos pelos produtores e pelas indústrias demonstrando uma complexa cadeia.

Iniciado na década de 90, em função das reformas na economia, o setor leiteiro no Brasil, tem passado por diversas transformações. Conforme ocorrido com outros setores da agricultura, o setor leiteiro se deparou com problemas devido a falta de preparo e acirramento da concorrência. Estes fatos fizeram que os agricultores fizessem ajustes, principalmente na melhoria da qualidade e produtividade. O sistema leiteiro passou a ser um espaço extremamente competitivo, exigindo dos agricultores melhor desempenho.

Nas últimas décadas, a relação das atividades agropecuárias com o mercado tem passado por uma importante transformação levando a um novo arranjo. Na atualidade, em que a globalização econômica é a palavra de ordem, os fluxos mercadológicos e comerciais têm de ser observados com extrema atenção, num complexo e diverso sistema que se mantém interligado em uma rede ou cadeia produtiva. Essas diversas transformações levam os agricultores a buscar diversas maneiras de aumentar sua capacidade de trabalho e renda (DELGADO, 2010). Conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) em maio de 2005, o crescimento do PIB no primeiro trimestre do ano foi de 0,3 em relação ao último trimestre de 2004 e que o setor que apresentou o melhor desempenho no trimestre avaliado foi o de agropecuária, com um crescimento de 2,6%. Enquanto a área cultivada aumentou em 225 no país, entre 1990 e 2003, a produção de grãos mais que duplicou, passando de 59 milhões de toneladas para 125 milhões (DIAS et al, 2006). Porém, o sucesso dos indicadores econômicos não se reflete nos indicadores sociais e menos ainda, das condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores do campo ou da degradação ambiental.

A atividade leiteira tem um papel importante na sustentabilidade das propriedades agrícolas familiares, tanto no autoconsumo, como na melhora da renda, sobretudo diária. O conjunto leite e carne introduz o produtor em dois circuitos diversos de comercialização, ambos possuindo vantagens complementares. Como citado anteriormente, essa atividade permite a diversificação da propriedade e a integração agricultura-pecuária, principalmente o uso dos subprodutos agrícolas na alimentação das vacas e do esterco na adubação dos cultivos.

Além disso, a concretização de uma bacia leiteira pode proporcionar uma série de melhorias para a qualidade de vida das famílias, como custeio das estradas, facilidade de transporte, acesso à saúde e educação, concretização dos comércios locais, emergências de pequenos núcleos urbanos, valorização da terra e retenção das famílias no campo. A produção leiteira também possibilita o sistema associativo, por meio da organização da negociação do leite e derivados, do ingresso a insumos, e programas de melhoramento genético do rebanho e de treinamentos dos produtores, especialmente sobre a qualidade da produção (VIEIRA; KANEYOSHI; FREITAS, 2005).

No Brasil a cadeia produtiva do leite está presente tem todo o território nacional, com uma abrangência de aproximadamente 1,1 milhão de propriedades agrícolas, das quais são gerados 3 milhões de empregos diretos somente na atividade primária (VIEIRA et al., 2001). A atividade leiteira esta presente em aproximadamente 1,8 milhões de propriedades rurais, das quais 80% as familiares. O segmento é tido como de enorme potencial para a ocupação de mão de obra, pois, para cada U$ 2.500,00 milhões vendidos de leites e derivados é gerado um posto de trabalho permanente. Estima-se que o setor envolva cerca de 3,6 milhões de pessoas, produzindo 25 bilhões de litros de leite por ano, provenientes de um dos maiores rebanhos do mundo. No período de 1995-2008, o produto lácteo nacional registrou um aumento de 74,7% no volume de leite produzido (mil litros) e 407,5% no valor da produção (IBGE, 2010)

Além da relevância como alimento consumido pela população e para a economia do país, o leite tem reconhecida importância para a agricultura familiar. A produção de leite exerce papel histórico na estruturação das unidades familiares, não apenas pela capacidade de ocupação de mão de obra, mas também pela possibilidade de aumento monetário em curto prazo e pela possibilidade de diversificação de renda com a venda de animais, tendo o gado papel de poupança para os pequenos agricultores. Em resumo, a atividade funciona como âncora na formação de renda e sustentação da agricultura familiar, por atuas como atividade principal no sistema de produção (ALTAFIN et al, 2011).

Conforme Gomes e Nogueira Netto (2007), o leite e seus derivados representam uma das principais fontes de proteína e cálcio na dieta da população brasileira, especialmente para classes de menor poder aquisitivo. Sendo que a atividade leiteira caracteriza-se por ser grande geradora de emprego, renda e tributos. As condições favoráveis do clima do País admitem que a bovinocultura de leite seja desenvolvida em todo o seu vasto território, adequada às peculiaridades regionais, de forma atomizada e, predominantemente, por pequenos e médios produtores. Admitindo-se que a produção primária ocupa mão-de-obra de, pelo menos, duas pessoas por propriedade, pode-se afirmar que somente esse segmento da atividade leiteira gera 3,6 milhões de postos de trabalho permanentes.

O sistema agroindustrial do leite apresentou indicadores favoráveis em termos de multiplicação da produção e emprego, em comparação aos demais setores, bem como se mostrou relevante em termos de geração de renda. O setor demonstrou-se capaz de gerar novos postos de trabalho por valores reduzidos. A cada aumento na demanda final por leite e derivados, de R$ 5.080,78, um emprego permanente é gerado na economia. Análises da Embrapa (2005-2007) evidenciam que as políticas públicas, que visem gerar emprego e renda, devem tomar a atividade leiteira como prioritária.

A agricultura familiar destaca-se pela diversidade das atividades econômicas realizadas, visando gerar mais renda e assim melhorar a qualidade de vida das pessoas. A atividade leiteira é de extrema importância, tanto econômica como social, na cadeia produtiva na região sul e no país. De 2000 a 2010, segundo dados do IBGE, a produção de leite cresceu 55,89%. Nesse mesmo período, a Região Sul quase dobrou a produção, aumentando 96,12% no volume de leite produzido, representando mais de 30% do leite nacional (DELGADO, 2010).

Impulsionado pelo aumento da produção no Rio Grande do Sul, e pelos investimentos das indústrias lácteas do setor, o potencial de captação de leite no estado é de cerca de 15

milhões de L/dia. Dados do RS indicam que a inatividade dos laticínios em 2012 ficou na faixa de 40%, o que comprova o potencial industrial já instalado para crescimento do setor. A atividade leiteira é desenvolvida em 93% dos municípios gaúchos, envolvendo mais de 700 mil pessoas e cerca de 85 mil produtores, caracterizando-se em uma importante geradora de riqueza e renda no meio rural. Neste estado, a pecuária leiteira é muito forte na agricultura familiar, onde cerca de 70% dos agricultores são pequenos produtores. Dessa forma, destaca- se a importância social do leite na retenção do homem no campo e a consequente diminuição do êxodo rural (BETEMPS, 2013).

Gomes (1999) (apud PEDROSO, 2001) relata que a atividade leiteria traz importantes contribuições, visto que constitui uma fonte de renda contínua independente do tamanho da produção ou a quantidade de produtos envolvidos. Ela representa uma garantia de sobrevivência aos que dependem dela. Com o fluxo de renda é também garantia de alimentação pra família, possibilitando o uso de terras de menor potencial produtivo (SOUZA, 2007).

Deve-se destacar também, que nos últimos anos o setor leiteiro passou por mudanças, principalmente, em relação à modernização para acompanhando das tendências tecnológicas. Nesse sentido, para que se possa progredir na atividade leiteira é necessário investimento. Souza (2007) enfatiza que esse investimento em tecnologia é viável aos produtores em razão do alto custo financeiro que essas mudanças exigem; já os pequenos produtores enfrentam maiores dificuldades, pois na maioria das vezes não possuem capital para aderirem a essas inovações. Neste momento, percebe-se a importância da elaboração de uma política diferenciada que atenda essa minoria levando em conta a condição financeira, nível de escolaridade, associativismo entre outras para que esses possam de forma gradual aderir às mudanças que o setor exige (TRICHES, 2011).

Sendo assim, pode-se perceber que a atividade leiteira tem algumas exigências, que dificultam a inserção para os agricultores familiares, pois alguns custos são altos e podem demoram a ter retorno. Existem também outros fatores, Zoccal et al (s/d) complementa que a atividade leiteira exige grandes investimentos em animais e pastagens comparada à outras atividades desenvolvidas na propriedade, elevando os custos e limitando a atividade. O clima representa outro elemento que exerce influência na produção de leite, assim como a produção de pastagens, a variação dos preços pagos ao produtor, a rotina de dedicação à atividade, sazonalidade da produção, animais de baixo potencial genético entre outros (TRICHES, 2011).

Além dos fatores supra citados, limitantes à atividade leiteira na agricultura familiar, é importante destacar outros fatores que ameaçam a permanência dos agricultores nas atividades, elencados por Souza:

a) As exigências em torno do que é definido como qualidade (mas num conceito restrito, mais vinculado aos aspectos higiênico sanitários), da produção do manuseio do produto e do transporte do leite do produtor às unidades de recebimento e/ou processamento industrial (Instrução Normativa 51 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) b) a forma de cobrança de frete, também por volume de leite e, em regiões cuja produção de leite é recente; c) a ociosidade do frete decorrente da disputa pela matéria-prima; d) o acesso privilegiado por parte dos produtores mais capitalizados aos instrumentos tradicionais de políticas públicas (crédito, assistência técnica, pesquisa, ações de fomento e controle sanitário) (2007, p.36).

Sob o ponto de vista de políticas publicas, o mercado do leite é autônomo, ou seja, não é concedido nenhum incentivo (subsidio) governamental à produção, ocorrendo apenas credito para investimento para melhoria das instalações e compra de animais e o principal apoio diz respeito ao Pronaf, que auxilia os produtores que desejem promover benfeitorias ou incrementar a produção leiteira como melhora das pastagens (MENEGHETTI, 2010).