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Principais posturas adotadas pelos produtores de leite

3.3 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

3.3.4 Principais posturas adotadas pelos produtores de leite

Para facilitar o entendimento das recomendações, apresenta-se a seguir, um resumo das principais posturas adotadas durante a ordenha em cada uma das propriedades acompanhadas.

Na ordenha manual

Ocorre sobrecarga para as costas e pernas. A produtora de leite passa boa parte do tempo curvada e com desvio lateral (torcida).

O trabalho com as costas curvadas representa uma sobrecarga porque, aumentando a curvatura da coluna, aumenta também a pressão nos discos intervertebrais. Além disso, aumenta o esforço nos ligamentos causando um alongamento dos tecidos adjacentes e sobre as partes moles das articulações envolvidas (ANDREWS e GARY, 2005; SIZÍNIO, 2003).

O trabalho com desvio lateral nas costas gera uma sobrecarga adicional nos discos intervertebrais, ligamentos e músculos. Na posição de cócoras, ocorre um incremento da pressão na pressão na articulação do joelho e a pressão superficial nesta articulação é distribuída assimetricamente, ao mesmo tem que a circulação sanguínea esta prejudicada (ANDREWS; GARY, 2005; SIZÍNIO, 2003).

Relacionados às fases da ordenha observa-se, que a lavagem do úbere, a ordenha em si, o transporte do leite até o resfriador, foram às fases percebidas com maior risco ergonômico.

Contrariamente ao que acontece com os animais, a coluna vertebral humana está adaptada a uma postura ereta (posição de pé). Não foi concebida para a elevação de cargas, pois no momento da inclinação do tronco, a flexão tem lugar na região lombar. É por esta razão que 95% das lesões discais se verificam nos três discos inferiores onde a sobrecarga é maior, mesmo quando suporta apenas a parte superior do corpo quando inclinado (ANDREWS; GARY, 2005; SIZÍNIO, 2003).

Figura 14: Postura de flexão da coluna Fonte: Hoppenfeld, 2005, p.25

O esforço exercido na face inferior do disco intervertebral origina uma distribuição desigual da pressão sobre os discos, ocasionando dores e lesões incapacitantes. E as produtoras de leite, principalmente nas propriedades A e B, realizam esses movimentos repetidamente, talvez por a grande quantidade de queixas de dor.

Figura 15: Aumento da pressão discal Fonte: Hoppenfeld, 2005, p.25

Este diagrama refere-se ao levantamento de um peso de 50kg, estando o carregador com as costas curvadas 45º (caso A – esquerda) e com as costas direitas (caso B - direita) (PRENTICE, 2003; HOPPENFELD, 2005; O’SULLIVAN et al, 1993).

Os estudos que existem sobre esta matéria, revelam-nos que quando é necessário levantar um peso de 25kg, verticalmente e utilizando corretamente o método cinético, é

possível que a região das 4ª e 5ª vértebras lombares atinjam uma carga de cerca de 150kg (PRENTICE, 2003; HOPPENFELD, 2005; O’SULLIVAN et al, 1993).

Se o trabalhador curvar ligeiramente o dorso, esta carga eleva-se para valores da ordem dos 300kg e se arredondar o dorso, este valor pode atingir os 550kg.

Figura 16: Aumento da pressão discal Fonte: Hoppenfeld, 2005, p.26

Na posição de cócoras, também ocorre um incremento na pressão sobre a articulação do joelho e a pressão nas superfícies desta articulação é distribuída assimetricamente: ao mesmo tempo em que a pressão sanguínea fica prejudicada (KISNER; COLBY, 2005).

Quanto as fases de trabalho, a lavagem do úbere, a ordenha em si e o transporte até o resfriador (30 metros) do leite foram apontadas como as de maior risco, tanto na propriedade A como na B, evidenciando o quanto é penoso a atividade desses trabalhadores.

Na ordenha mecânica sem sala de ordenha

Foi constatado perigo constante também para problemas posturais nos produtores de leite em virtude do enorme tempo que estes ficavam agachados e de cócoras. O único trabalho que diminui foram os movimentos manuais de punho e dedos, os quais são executados pela ordenhadeira. Também percebeu-se, dificuldade no momento de amarrar os animais no local de ordenha. Movimentos forçados de flexão e rotação de tronco são realizados de forma freqüente, prejudicando a coluna vertebral. Movimentos da cabeça e pescoço também são

exigidos de forma constante, provocando um esforço excessivo nos ligamentos e músculos de pescoço e tecidos da região.

Com relação à posição dos braços, os produtores de leite permanecem com os braços em posição estática à frente do corpo, geralmente sustentando além dos membros, algum peso adicional (balde de leite, teteiras) ou realizando movimentos repetitivos, acabam sofrendo uma sobrecarga para a coluna e os músculos dos ombros. À luz da biomecânica corporal, o trabalho de ordenha exige movimentos muito perigosos para a saúde dos sujeitos. A figura 17 demonstra o efeito da posição corporal e das atividades sobre as pressões discais. Quando nos reportamos às posturas dos produtores percebe-se que estes realizam as mais penosas posturas, justificando os achados neste trabalho.

Figura 17: Efeito da posição corporal e das atividades sobre as pressões discais Fonte: Hoppenfeld, 2005, p.28

Conforme figura 18, as posturas de sentado com inclinação lateral é a que mais impõe força prejudicial a coluna, seguida da em pé com flexão anterior (ANDREWS; GARY, 2005).

O trabalho com as costas curvadas representa uma sobrecarga, porque o aumento da curvatura da coluna, aumenta a pressão nos discos intervertebrais. Além disso, aumenta o esforço nos ligamentos posteriores causando um alongamento excessivo dos tecidos circundantes e sobre as partes moles das articulações envolvidas, levando uma degeneração discal e vertebral (KISNER; COLBY, 2005).

Para Oliveira (1998), Bellusci (2005) e Lianza (2001), a solicitação física em conjunto com a movimentação repetitiva, resultará no uso excessivo dos tendões e músculos elevando o risco de lesões quando estiverem associados à posturas inadequadas, contrações musculares estáticas. Já o trabalho em flexão de tronco acrescido de desvio lateral, gera uma sobrecarga ainda maior na coluna, nos discos intervertebrais, ligamentos e músculos (KISNER; COLBY, 2005).

Ordenha mecânica com sala de ordenha com dutos de leite

Na propriedade C pôde-se verificar que a diferenciação da altura do piso da sala de ordenha minimizou os problemas posturais. A curvatura na parede do fosso da sala de ordenha, detalhe que melhora o encaixe dos pés do produtor de leite, diminuindo deste modo a posição negativa na coluna.

Verificou-se através do relato desta produtora, que após a implantação dos dutos de leite (onde o leite sai da ordenhadeira pela canalização diretamente para o resfriador), houve uma significativa diminuição do peso que ela carregava diariamente (tonel de leite/50 litros) para levar o leite ao resfriador, duas vezes ao dia, o que com certeza explica a melhora nas condições de trabalho.

Ao acompanhar o trabalho dos produtores, verificou-se que eles possuem uma longa carga de trabalho a cada dia, visto que realizam outras atividades como plantio de pasto, preparação de silagem (alimento para as vacas) e plantio de soja, trigo e milho conforme o período do ano e possibilidades financeiras. Os produtores de leite se queixaram da falta de folga semanal, em função de que os animais precisam ser alimentados e ordenhados diariamente e parece não existir nenhum tipo de rodízio familiar para essas atividades. Logo, a vida dos produtores não inclui na maioria das vezes atividades de lazer, sendo voltadas basicamente para o trabalho.

Esse problema em conseguir alguém que possa realizar esse tipo de trabalho explica também o fato dos muitos produtores de leite que mesmo queixando-se de dores, continuam a trabalhar, até que estejam fisicamente impossibilitados pela perda de força muscular, dormência dos membros, entre outras queixas relatadas.

Não foi relato queixa em relação ao ruído da ordenhadeira, iluminação insuficiente apenas em relação a temperatura extrema tanto no verão com o calor e no inverno com o frio.

Os produtores de leite reclamam da sua rotina. O produtor de leite da propriedade A manifesta-se contrariado pela dificuldade de acesso a um programa do governo para a melhoria das instalações físicas no local onde se ordenha (sem ordenhadeira mecânica e sem sala de ordenha).

Outro fato importante na rotina diária dos produtores de leite refere-se à falta de equipamentos de suporte adequado para esta atividade (recipientes são carregados pelos produtores os baldes possuem alças muito finas) principalmente nas propriedades A e B,

ocasionando lesões em membros superiores e coluna em função do excessivo peso para fazer a transferência do leite para o resfriador.

Como visto, esses trabalhadores enfrentas diversas dificuldades, em inclusive o próprio o local da ordenha que não oferece muitas possibilidades de proteção contra temperaturas extremas, pois os locais de trabalho contam, na maioria das vezes, somente com paredes laterais e um telhado pequeno que apenas protege de forma irrisória da chuva, do calor e do frio. Em dias extremamente frios ou quentes a regulação da temperatura deverá ser feito pelo próprio homem e suas vestimentas.

Na medida em que os produtores de leite permanecem com os braços em posição estática à frente do corpo, geralmente sustentando além dos membros algum peso adicional (balde de leite, teteira) ou realizando movimentos repetitivos (ordenha manual, repasse), acabem por sofrer uma sobrecarga para a coluna e para os músculos dos ombros (KISNER; COLBY, 2005).

Portanto, a ordenha é uma atividade que exige a adoção de posturas nocivas, o uso de da força e um trabalho contínuo. Os produtores de leite acordam muito cedo para realizar a ordenha e possuem uma alta carga de trabalho a cada dia.

Para fins de análise, considerou-se cada propriedade como um sistema, composto por sub-sistemas, sendo que cada um deles equivale às tarefas desempenhadas pelo agricultor. Estas tarefas ou sub-sistemas são, por sua vez formados por várias subtarefas, relacionadas com as categorias de animais presentes.

Todas estas tarefas não são independentes, existe uma relação entre elas. O ponto de partida da jornada de trabalho (ordenha), que é a primeira tarefa executada pelo agricultor, antes mesmo da sua alimentação. Ainda durante a execução da ordenha (tarefa principal), observa-se que o agricultor também alimenta os bezerros (propriedades B e C).

Achados referentes a dor nos produtores de leite

Produtores de leite da propriedade A: Produtores do sexo feminino: Teve dor no pescoço, ombros, pulsos/mãos, costas inferior, quadris e coxas e joelhos nos últimos 12 meses e neste mesmo período, teve dificuldades de realizar suas atividades devido a dor no pescoço, pulsos/mãos, costas/inferior, quadris/coxas e joelhos. Nos últimos sete dias permaneceu com dores na região lombar da coluna (bilateral), quadris/coxas e joelhos e cotovelos e mãos. Apresentou também perda de força e parestesia nos membros superiores. Esses achados estão

relacionados diretamente com as posturas e trabalhos executados pela produtora de leite, visto que os membros superiores (ordenha manual), membros inferiores (longo período de cócoras) e as costas (flexão de tronco) são realizados, repetitivamente, por longo período de tempo.

Produtores do sexo masculino: apresenta quadro importante de dores na região de toda a coluna, desde a região cervical até a região lombar, com irradiação para membros superiores e inferiores de forma bilateral. Nos últimos 12 meses, refere piora de seu quadro, necessitando se ausentar do trabalho. Já em relação aos últimos sete dias, está com dificuldade de ambulação e apresenta também dor nos joelhos, o que dificulta o agachamento durante a ordenha.

Produtores de leite da propriedade B: Teve dor na região lombar com irradiação para membro inferior esquerdo nos últimos doze meses persistindo até a última semana. Também referiu dor na região cervical com irradiação bilateral para membros superiores, com diminuição de força e parestesia. Esta produtora de leite tem problemas maiores na região lombar em função de grande quantidade de agachamentos e, nos membros inferiores por ficar muito de cócoras, relacionando os achados com a biomecânica corporal.

Produtores de leite da propriedade C: Teve dores nos últimos 12 meses e que persistem até as últimas semanas. Apresentou dor nos joelhos. Relatou que teve melhora significativa em suas dores nos últimos anos depois de ter alterado o sistema de trabalho (ordenha mecânica). Relata dor na região lombar com irradiação bilateral para membros inferiores, também demonstrou dor nos joelhos e ombros, principalmente em movimentos acima de noventa graus. Relata ainda melhora de seu quadro doloroso após alterado o sistema de trabalho de ordenha mecânica com balde ao pé para ordenha realizada com dutos de leite. Em função da idade esta já possui problemas crônicos.

As pequenas propriedades leiteiras da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, zona rural de Santo Ângelo, foram alvo desta pesquisa, uma vez que sua produção resulta em um forte impacto econômico e social da região. Após essas avaliações, percebe-se que esta população pode estar correndo um risco de desenvolver distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho.

CONCLUSÃO

O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar os fatores de risco envolvidos nos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort) entre os produtores de leite de pequenas propriedades da zona rural do município de Santo Ângelo, para que, se necessário, propor melhorias que contribuam com a melhoria da qualidade de vida desses agricultores.

Frente ao diagnóstico das condições de vida dos produtores de leite, que vivem num contexto de uma agricultura estritamente familiar.

As características do trabalho dos produtores e como estas que se constituiriam como fatores de risco aos DORT, possibilitaram destacar como fatores de risco:

- O trabalho dos produtores de leite é realizado diariamente, sem sábados, domingos e feriados, numa frequência diária de duas vezes. Essa frequência sem descanso impede que o sistema músculo esquelético possa se recuperar de eventuais sobrecargas.

- Os produtores não possuem atividades de lazer rotineiras que possam desviar sua atenção do trabalho, desta forma eles apresentam maior dificuldade de resolver situações ligadas com o estresse, vivendo apenas para o trabalho.

- A carga horária semanal é muito elevada e o trabalho extremamente pesado, envolvendo carregamento de carga, esforços repetitivos, adoção de posturas nocivas e viciosas, risco de acidentes de trabalho, temperatura extremas, entre outros. Deve-se considerar também o tempo de serviço, pois a grande maioria dos entrevistados começa na atividade ainda crianças.

- Em relação à atenção a saúde, estes trabalhadores apresentam dificuldades no atendimento médico, em virtude de deslocamento difícil e também de precário atendimento do sistema único de saúde (SUS), com grande procura e baixa resolutividade, cujo diagnósticos são demorados e muitas vezes imprecisos.

Como segunda questão, projeta-se a possibilidade de minimizar o adoecimento desta população, principalmente ao que se refere a doenças laborais. Para que isso fosse possível, foi necessário realizar a análise ergonômica do trabalho, para compreender o trabalho da ordenha e assim poder identificar os fatores que predispõem o sujeito em questão, durante a realização da atividade.

Desta forma, a análise ergonômica do trabalho identificou que a inadequação dos postos de trabalho, faz com que os produtores de leite adotem posturas nocivas em diversos momentos. Por exemplo, na visualização do úbere e ainda pra realizar a própria ordenha, realizando o trabalho de cócoras, posturas estáticas nos membros superiores, movimentos repetitivos de pulsos e mãos e, ainda, movimentos e torção da coluna lombar.

Constata-se a falta de ergonomia dos equipamentos e utensílios utilizados na atividade, que reflete uma rotina extenuante onde a ausência muitas vezes de treinamento de novas formas de desenvolver o trabalho que poupassem o sistema muscular dos produtores de leite.

Por fim, uma terceira questão também ficou evidenciada, a forma de como a análise ergonômica do trabalho poderia contribuir para a prevenção de doenças laborais. Para tanto, traçaram-se recomendações, muitas delas durante a pesquisa, que pudessem auxiliar estes trabalhadores a prevenir seu adoecimento e consequentemente o aparecimento dos DORT.

Uma das principais contribuições da ergonomia nesse momento é a tomada de consciência para o problema. A realização do estudo e as publicações dos resultados podem auxiliar as empresas que trabalham com assistência rural, assim como os próprios produtores de leite, na adoção de medidas preventivas através de correções ergonômicas.

Entre as principais recomendações prescritas nesta pesquisa, pode-se, identificar três focos: as condições psicossociais, os equipamentos e a tecnologia utilizada e a adequação do posto de trabalho.

Quanto às condições psicossociais faz-se necessário que os produtores de leite criem em torno da família alguma forma de revezamento, para que possa desfrutar de dias de descanso no qual possa, realizar alguma atividade de lazer. Neste aspecto ficou evidenciado também um importante dado, a maioria dos avaliados estão com problemas de fundo emocional, o que deve ser percebido por entidades governamentais para tentar minimizar os efeitos nessas populações.

Os treinamentos oferecidos aos produtores de leite deveriam enfocar não somente aspectos de produção, como também a forma de produzir poupando seu sistema músculo esquelético. A adoção de equipamentos que ajudem na realização das tarefas (ordenhadeira mecânica, carrinhos com rodinhas para transporte de cargas pesadas, sala de ordenha), faz-se necessário não somente para melhoria da produtividade, mas também para preservar a saúde desses trabalhadores.

A melhoria do local de trabalho é primordial para que a adoção de posturas nocivas e prejudiciais seja minimizada. Pois, nenhum trabalhador se inclina ou trabalha de cócoras por vontade, e sim, pela necessidade ditada pelo posto de trabalho.

Quanto à hipótese de que a ordenha seria uma atividade de alto risco para o aparecimento dos Dort, ela foi confirmada, visto que 100% dos entrevistados relatam dor músculo esquelética. Visualizou-se o alto risco da atividade de ordenha, visto que afetam multifocalmente o sistema músculo esquelético destes trabalhadores.

Constatou-se que os produtores de leite possuem a idade média de 51 anos para os homens e 46,9 anos para as mulheres e que iniciavam esta atividade por volta dos 12 anos, ou seja, na adolescência onde seu sistema músculo esquelético ainda não esta totalmente desenvolvido e onde não recomenda-se o trabalho, muito menos o trabalho que exige esforço muscular. Quanto ao gênero, percebeu-se que esta atividade é quase que estritamente feminina, e que as mulheres estavam a mais tempo na atividade que os homens.

Quanto ao sistema de produção, verificou-se que a ordenha manual está presente nesta região, e representa a condição de maior risco, com incidência de sintomas nas regiões de punhos e mãos. Já em relação a ordenha mecânica, verifica-se uma evolução. A maior parte das propriedades avaliadas possuem ordenhadeira mecânica, porém em local muitas vezes inapropriado, havendo necessidade de instalação de uma sala de ordenha. Estes agricultores apresentam importante quadro doloroso, principalmente na região de ombros, região cervical e região lombar.

Quanto à característica da dor observou-se caráter multifocal, sendo que um em cada três produtores de leite (33%) apresentam os três segmentos corporais acometidos.

Em suma, a condição de saúde da população estudada encontra-se comprometida, tanto em relação a saúde como mental.

O fato que merece uma especial atenção é a inexistência de uma preocupação diferenciada pelos órgãos públicos que se ocupam da saúde da população. Os produtores sentem-se abandonados pelo poder público e também pelos seus pares, representados por sindicatos e organizações. O bem estar, a qualidade de vida desta população, não tem sido considerados, em virtude da prevalência de uma visão extremamente tecnicista. Muito frequentemente o foco é somente a produtividade física, focada no produto, ignorando-se as condições de vida e trabalho desse segmento da produção agropecuária. Visualizar o mundo rural como ordenhar, plantar, colher e sobreviver organiza e simplifica o trabalho rural e o modo de vida das comunidades rurais em uma lógica que isola e desvaloriza saberes e formas de agir.

Nesse âmbito, a necessidade de analisar e acompanhar a saúde mental e o trabalho físico dos agricultores familiares nasce de uma nova perspectiva de visualizar o rural não só o lócus produtivo, mas também atravessado pelas demandas ocasionadas pelo desamparo social, econômico e político, além da necessidade de (re)ver o rural enquanto local de atuação e investimento da saúde pública brasileira, inclusive da política pública de saúde do trabalhador.

A atividade leiteira ainda está subjugada a um foco tecnicista, onde ocorre um enorme distanciamento entre produtor, que precisa gerar recursos, e sua saúde. Até mesmo em nível acadêmico este tema é recente, no XII Congresso Internacional do Leite, ocorrido em Porto Velho - RO, de 05 a 08 de 2013, de todas as palestras ocorridas (18), nenhuma tinha como foco a saúde do produtor rural. Apenas dois trabalhos destes abordaram sobre sucessão na agricultura familiar. Então como não se interrogar a respeito da visão extremamente tecnológica e produtivista que rege o meio rural. Fica a pergunta? Onde está verdadeiramente a figura do agricultor e sua saúde?

Percebe-se que trabalhos nesta área faz-se necessário, para conhecer a verdadeira realidade que vivem essa população que ao mesmo tempo é tão importante e tão necessitada. O produtor rural não deve ser visto apenas como mais uma peça da engrenagem do trabalho no campo, ele é um ser humano que tem sonhos, necessidades, dores e vive num ambiente extremamente complexo.

Este trabalho buscou trazer este enfoque social, apresentando para discussão e para o diálogo, o melhor entendimento da saúde e qualidade de vida do produtor de leite como