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1.5 DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO

1.5.1 Dorts relacionados ao trabalhador

O trabalhador agrícola está sujeito a diversos riscos no desempenho de suas atividades, tais como riscos físicos (ruído, vibração e temperaturas extremas), químicos (agrotóxicos, combustíveis, pós de vários tipos) e de acidentes com máquinas ou ferramentas manuais. A agricultura tem sido coligada como o setor de grande registro de acidentes e doenças do trabalho, tanto no que se refere à freqüência quanto à gravidade destes problemas.

Dentro desta visão, existem diversos fatores de agravamento de riscos presentes no ambiente de trabalho agrícola, contribuindo para o adoecimento do agricultor e para a ocorrência de acidentes relacionados ao trabalho: alto grau de diferença tecnológica empregada na atividade (desde a agricultura praticada de forma artesanal, sendo que o trabalhador agrícola opera predominantemente como fonte de energia e familiar, até as do tipo mecanizadas e de grande escala onde o trabalhador agrícola atua predominantemente em tarefas de controle); número de atividades com tarefas muito variadas; condições ambientais de difícil controle (tarefas desempenhadas normalmente a céu aberto) e esforço físico; amplas jornadas de trabalho e insuficiente diferenciação entre condições de trabalho e de vida; extraordinário multiplicidade de equipamentos, ferramentas, utensílios e técnicas de trabalho inseridas de forma estacional (ABRAHAO, 2003). Neste contexto, surgem as doenças ocupacionais.

Os Distúrbios Músculo Esqueléticos Relacionados ao Trabalho (Dorts) são importantes causas de incapacidade que vêm crescendo de forma rápida e progressiva, acarretando múltiplos impactos em especial médicos, econômicos e sociais. A primeira

descrição científica sobre esta síndrome foi por Bernardino Ramazzini, em 1713 e considerado o "pai da medicina ocupacional" (WISNER, 1987).

Estudos desenvolvidos por Meyers e Chapman (2001) apontam que a agricultura tem uma incidência quase epidêmica de distúrbios musculoesqueléticos. Os autores evidenciam que a presença de doenças osteomusculares na agricultura é cerca de duas a três vezes maior do que qualquer outro ramo industrial nos Estados Unidos.

Além dos fatores biomecânicos, é necessário considerar a percepção que os trabalhadores têm a respeito dos riscos que correm em suas atividades laborais. Bongers et al. (1993) e Sauter (1995) apontam os aspectos psicossociais existentes no trabalho como fatores de risco para os Dorts. O estresse psíquico induzido por certas condições de trabalho pode contribuir para o aparecimento de quadros clínicos musculoesqueléticos. Dentre esses fatores podem ser destacados: insatisfação no trabalho, monotonia, falta de autonomia, falta de suporte por parte da organização, de superiores hierárquicos e colegas.

A prevalência das Lesões por Esforços Repetitivos – Ler e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – Dorts decorre da organização atual do trabalho que exige cada vez mais metas e produtividade, não levando em conta os limites físicos e psicossociais dos trabalhadores. A intensificação do trabalho, aumento real de jornadas, prescrição rígida de procedimentos, alta demanda de movimentos repetitivos, ausência e impossibilidade de pausas espontâneas, necessidade de permanência em determinadas posições por tempo prolongado, atenção para não errar e submissão a monitoramento de cada etapa dos procedimentos, além do mobiliário, equipamentos e instrumentos que não propiciam conforto são fatores de riscos determinantes da ocorrência de Ler/Dort (TODESCHINI, 2008).

O Dort é uma síndrome com múltiplos fatores:

 Psicológicos, tais como, estresse e distúrbios emocionais, podem preceder e são responsáveis pela manutenção de seus sintomas;

 Genéticos;

 Organizacionais - demanda, segurança, ambiente, relacionamento com superiores hierárquicos e colegas de trabalho;

 Individuais - personalidade, satisfação com o trabalho, relacionamento com familiares, tabagismo, obesidade, percepção inadequada sobre seu estado de saúde;

 Idade - redução da capacidade de trabalho após os 50 anos, devido à diminuição da capacidade aeróbica e força muscular que promovem uma diminuição do limiar de fadiga;

 Outros - indenizações trabalhistas e questões de estabilidade no emprego. Principais distúrbios relacionados ao trabalho (Dort):

Distúrbios relacionados ao trabalho (Dort) ou também chamado de Lesões por Esforços Repetitivos, também conhecidas como L. T. C. - Lesões por Traumas Cumulativos são inflamações dos tendões, músculos, nervos e ligamentos, de origem ocupacional, que acometem principalmente os membros superiores, pescoço e região escapular.

Como principais causas pode-se citar:  Posto de trabalho inadequado;

 Atividades no trabalho que exijam força excessiva com as mãos, posturas inadequadas e desfavoráveis às articulações, repetição de um mesmo padrão de movimento e compressão mecânica das estruturas dos membros superiores;

 Tempo insuficiente para realizar determinado trabalho com as mãos;  Jornada dupla ocasionada pelos serviços domésticos;

 Atividades esportivas que exijam esforço dos membros superiores;  Ficar muito tempo na posição sentada;

 Cobrança continua da chefia;  Ambiente frio ou quente;  Horas extras em demasia;  Falta de flexibilidade de tempo.

A evolução da fisiopatologia da Dort esta dividida em, em quatro fases segundo se processo de adoecimento. Na primeira fase o individuo acometido vai apresentar peso nos membros acometidos, dor a apalpação e melhora ao repouso dos membros, já na fase dois visto que a doença é progressiva, ele irá apresentar dor difusa de média intensidade, edema, aumento de temperatura na região afetada, dificuldade de dormir e, consequentemente, diminuição da produtividade.

Já na fase três vai ocorrer uma dor incapacitante e constante na região acometida com piora à noite dificultando o sono, o sujeito não apresentará melhora com o repouso evoluindo para perda de força geral neste. Num ultimo estágio desta patologia ocorrerá perda da função da aera acometida levando dor intensa, limitação das atividades de vida daria, depressão e incapacidade para o trabalho.

Patologias relacionadas a Dort:

Síndrome do túnel do carpo: Compressão do nervo mediano no canal do carpo. Como alguns fatores de risco podemos identificar movimentos repetitivos de flexão e extensão de punho com força e em posição antiergonômica, vibração, movimentos repetitivos com desvio ulnar e ou radial do carpo, movimentos repetitivos de pinça utilizando força de desvio dorsal e ventral do punho, compressão mecânica do punho ou base da mão, e ainda uso de força excessiva na base das mãos (BELLUSCI, 2005).

Lombalgia: conceituada como uma dor de característica mecânica localiza entre a parte mais baixa da coluna e a brega glutes, que aparece após força física excessiva em estruturas normais ou após ação de força em estruturas lesadas. De acordo com vários estudos epidemiológicos, de 65% a 90% dos adultos poderão sofrer um episódio de lombalgia ao longo da vida (BELLUSCI, 2005).

A principal causa das dores na coluna é a lesão discal. Entre 70% e 80% das lombalgias e 95% das lombocialtagia são determinas por lesão discal. Como fatores de risco importante esta o ritmo lombo pélvico inadequado (movimento de flexão anterior seguida de extensão da coluna lombar de forma repetitiva). Como fatores de risco identifica-se o esforço físico intenso com a coluna vertebral, levantamento e carregamento de peso, exposição do

corpo a vibração, postura forçada do dorso e ritmo lombo-pélvico inadequado (a movimentação de flexão anterior seguida de extensão lombar de forma repetitiva). Como

atividades que mais desencadeia esta patologia pode-se citar metalúrgicos, trabalhadores rurais, motoristas, carregadores, estivadores, pedreiros etc... (BELLUSCI, 2005).

Cervicalgia: quadro álgico importante em toda a região cervical irradiando ou não para o membro superior do lado acometido. Sua prevalência é de 29% nos homens e 40% nas mulheres. Como fatores de risco pode-se identificar, postura forçada da cabeça com inclinação, elevação em abdução dos braços acima dos ombros associada à força, vibração de corpo inteiro, curvatura aumentada do tronco, flexão da cervical acentuada durante atividades por períodos longos, ergonomia inadequada e atividades por períodos longos que envolvam

também vibração continua das mãos e dos braços. Digitador, carregadores de peso excessivo sobre a cabeça pescoço ou ombros, lavadeiras, ordenhadores são profissões com maior risco de serem acometidos (BELLUSCI, 2005).

Epicondilite lateral: causada por atividades que exijam uso excessivo ou incomum dos músculos extensores do punho ou dos pronadores do antebraço, como ocorre em alguns desportos, especialmente o tênis, ou por tensões repetitivas na articulação do cotovelo. A epicondilite começa como uma ligeira impressão dolorosa, geralmente localizada na face externa do cotovelo e que se estende pelo terço proximal da face externa do antebraço. Se o esforço repetitivo for continuado, principalmente na região do antebraço em sobrecarga, a área atingida torna-se dolorosa ao toque e a dor pode irradiar para baixo até ao punho. Levantar quaisquer objetos, especialmente com o antebraço estendido, torna-se muito doloroso e quase impossível, mesmo que tenham pouco peso. Gestos de rotação do membro, como o de abrir a maçaneta de uma porta, tornam-se impossíveis. Principais acometidos estão relacionados aos operadores que maquinas que exijam atividades como parafusar, torcer ou virar, pedreiro, jogadores de tênis, digitadores, agricultores etc... (BELLUSCI, 2005).

Epicondilite medial: Também chamada cotovelo do golfista é a inflamaçãodo tendão do músculo palmar longo, cuja origem se situa na epitroclea, epicôndilo medial do úmero. Semelhante ao da epicondilite, porém os movimentos desencadeantes de dor são os de punho flexão. Principais acometidos, jogador de golfe, cozinheira. Como fatores de risco, sobrecarga repetitiva, trauma agudo, movimentos repetitivos de flexão e extensão ou de prono supinação durante mais de duas horas por dia (BELLUSCI, 2005).

Dor no ombro: O microtrauma dos músculos do manguito rotador, especialmente o músculo supraespinhoso ocorre com as atividades de elevação dos membros superiores repetidamente por sobre a cabeça, onde o músculo e o tendão são comprimidos sob o acrômio (BELLUSCI, 2005).

Intitulado como síndrome do impacto, nesta patologia a compressão do tendão do músculo supraespinhoso, da cabeça longa do bíceps e da bursa subacromial entre o tubérculo maior do úmero e o arco coracoacromial. Dependendo da estrutura anatômica comprometida, surgem as lesões típicas da síndrome do impacto no ombro, tais como: bursite subacromial, tendinite do subescapular, tendinite do supraespinhoso, tendinite da porção longa do bíceps e ruptura do manguito rotador. Como fatores de risco, cabe ressaltar levantamento de cargas, instabilidade escapular, puxar súbito com força, instabilidade ou hipermobilidade

glenoumeral, postura forçada de inclinação da cabeça e pescoço, postura estática forçada dos ombros sustentando os ombros, elevação do cotovelo, movimentos repetidos de ombros. Algumas atividades aumentam o risco de ocorrência destas patologias, dentre elas são praticantes de esportes como natação, tênis, vôlei, basquete, limpadores de paredes, teto e vidros, agricultores, lenhadores, cortadores de lenha, carteiro, etc... (BELLUSCI, 2005).

Tendinite dos extensores e flexores do carpo: Processo inflamatórios nessas regiões em virtude uso excessivo e repetitivo com força ou em desvio postural, preensão prolongada de objetos na mão, trabalhos que exijam força ou repetição dos músculos do antebraço. Digitadores, escritores, faxineiros, esfregadores, pianistas, dentistas lixadores, cozinheiras são algumas das profissões mais acometidas (BELLUSCI, 2005).

Tenossinovite de Quervain: é uma inflamação dos tendões e bainhas sinoviais dos tendões da borda radial (externa, do lado do polegar) do punho. A principal causa deste problema é a realização de movimentos repetitivos com o punho e dedos, especialmente os movimentos que envolvem o polegar. Há também fatores predisponentes de cada indivíduo e a chance de desenvolver esta doença após eventos traumáticos. O sintoma mais comum é a dor na borda radial do punho, associado aos movimentos do polegar. Em alguns casos o polegar pode ficar travado em uma posição fixa. O local da inflamação é doloroso à palpação e pode ficar saliente e endurecido. Principais atividades acometidas, lavadeira, cabeleireira, costureiras, professores, etc... (BELLUSCI, 2005).

Tenossinovite de Quervain: mulheres mais acometidas. O tendão do músculo abdutor longo e o extensor curto do polegar, ao nível da estilóide radial, passam por um túnel osteofibroso denominado primeiro compartimento dos extensores cujo limite superficial é o ligamento anular dorsal do carpo. O limite profundo é uma região sulcada na face lateral da estilóide radial. A desproporção entre os diâmetros do túnel e os tendões provoca a sintomatologia. Como fatores de risco deve-se citar movimento brusco ou repetitivo do polegar ocasionando a tenossinovite e, em conseqüência, o aumento do diâmetro dos tendões, espessamento do ligamento anular do carpo, esforços repetitivos do punho, exercendo força ou em desvio ulnar, movimento repetitivo de pinça do polegar seguido de flexão, extensão ou rotação do punho, principalmente associado a força, posturas viciosas do polegar e do punho e ainda, compressão mecânica do polegar ou do processo estilóide radial. As atividades de cabeleireira, lavadeira, costureira, manicures, jardineiros fabricantes artesanais estão entre seus principais causadores (HOPPENFELD, 2005; ANDREWS; GARY, 2005).

Dedo em gatilho: é uma tenossinovite dos flexores digitais do punho tipo estenosante. O tendão em determinado ponto aumenta de volume, forma um nódulo e tem dificuldade em passar pela polia anular metacarpofalangiana. Além do movimento repetitivo, há outras causas como doenças reumáticas, diabetes, hipotireoidismo, etc... Geralmente ocorre em adultos de meia idade, mas também pode-se verificar em lactentes. Como fatores de risco estão a alta repetitividade, compressão palmar associada à realização de força, movimentos repetitivos de flexão de dedos associada à força em postura inadequada ou compressão dos tendões nos dedos por objeto de aresta viva ou muito fino, vibração. Apertar alicates e tesouras, pedreiro e lenhador são algumas profissões que aumentam o risco de se adquirir essa patologia (HOPPENFELD, 2005; ANDREWS e GARY, 2005).