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A preocupação com a qualidade de vida dos trabalhadores tem sido um foco constante de atenção. Fatores relacionados à organização do trabalho como ritmo e esforço de trabalho intenso, horários prolongados e sobrecarga de trabalho, pressão em função dos horários, movimentos repetitivos, parecem interferir podendo repercutir negativamente na saúde e na qualidade de vida desses trabalhadores (LACAZ, 2000).

Conforme Lacaz (2000), qualidade de vida no trabalho (QVT) é uma nomenclatura que tem sido amplamente disseminada nos últimos anos, principalmente no Brasil. De difícil conceituação, vem dando margem a uma série de práticas nela contidas que ora aproximam-se da qualidade de processo e de produto, ora com esta se confundem.

Se sua origem pode ser encontrada no longínquo pós-guerra, como conseqüência da implantação do Plano Marshall para a reconstrução da Europa, sua trajetória tem passado por vários enfoques (VIEIRA, 1993). Uns enfatizam aspectos da reação individual do trabalhador às experiências de trabalho (década de 1960); outros aspectos de melhoria das condições e ambientes de trabalho, visando maior satisfação e produtividade (década de 1970) (RODRIGUES, 1991). Articulada a esta última abordagem, a QVT também é vista como um movimento, no qual termos como gerenciamento participativo e democracia industrial são adotados freqüentemente, como seus ideais (meados da década de 1970). Por fim, nos anos 80, adquire importância como um conceito globalizante, na busca de enfrentar as questões ligadas à produtividade e à qualidade total (ZAVATTARO, 1999).

A questão da qualidade de vida é analisada sob os mais diferentes olhares, seja da ciência, através de várias disciplinas, seja do senso comum, seja de forma objetiva ou subjetivada, seja por meio de abordagens individuais ou mesmo coletivas. No âmbito da saúde, quando visto na forma mais estendida ele se ampara no entendimento das necessidades humanas primordiais, sejam elas, materiais ou até mesmo espirituais e tem na importância da promoção e prevenção da saúde seu foco mais respeitável (MINAYO; HARTZ, 2000).

Observa-se, assim, que a QVT relaciona diversas ideias que nos remetem a assuntos como motivação, satisfação, saúde-segurança no trabalho, promovendo inúmeras discussões sobre novas formas de organização do trabalho e novas tecnologias (LACAZ, 2000).

Importante discutir a vertente que prioriza as condições, ambientes, organização do trabalho e as tecnologias. Vertente esta, defendida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) a partir de 1976, quando lança e provoca o desenvolvimento do Programa Internacional para o Melhoramento das Condições e dos Ambientes de Trabalho (PIACT). Trata-se de um parecer que procura articular duas intenções: uma conduzida ao melhoramento da qualidade geral de vida como uma aspiração básica para a humanidade hoje e que não pode sofrer solução de continuidade no portão da fábrica (LACAZ, 2000).

A qualidade de vida não é um simples modismo, algo passageiro a preencher o tempo de diversas pesquisas para, em seguida ser descartada. Muito pelo contrário, ela se constitui em um dos objetivos a ser alcançado no presente estágio de desenvolvimento da humanidade. É preciso assinalar também que, embora se saiba que o estado de saúde de indivíduos e coletividades, assim como o sistema de saúde, influenciam e são influenciados pelo ambiente global, há que se reconhecer que nem todos os aspectos da vida humana são, necessariamente, uma questão médica ou sanitária. A ação governamental ou comunitária sobre os mesmos está compartimentalizada em setores econômicos e sociais e distribuída entre diferentes grupos de interesse e organizações. Desse modo, pode-se dizer que a questão da qualidade de vida diz respeito ao padrão que a própria sociedade define e se mobiliza para conquistar, consciente ou inconscientemente, e ao conjunto das políticas públicas e sociais que induzem e norteiam o desenvolvimento humano, as mudanças positivas no modo, nas condições e estilos de vida, cabendo parcela significativa da formulação e das responsabilidades ao denominado setor saúde (MINAYO; HARTZ, 2000).

A qualidade de vida (QV) é definida por Goulart e Sampaio (2004), como forma que o sujeito interage (com sua individualidade e subjetividade) com o mundo externo; portanto, a

maneira como o sujeito é influenciado e como influencia o meio. Desta afirmativa, tem-se a qualidade de vida como o equilíbrio entre as forças internas e externas.

Alguns autores fazem distinção entre a qualidade de vida dentro e fora do trabalho. Enquanto a qualidade de vida diz respeito a assuntos relacionados à saúde, educação, moradia, entre outros, que não são de responsabilidade imediata da empresa, a qualidade de vida no trabalho diz respeito a assuntos relacionados diretamente com o ambiente de trabalho.

Mendes (1995) defendem que a qualidade de vida no trabalho é aquela relacionada somente ao trabalho, sendo que a satisfação no trabalho mantém relação direta com a qualidade de vida fora e dentro do trabalho. Sendo que os funcionários que tem uma vida familiar insatisfatória e satisfatória no trabalho são mais receptivos e menos exigentes em seus critérios para receber a satisfação.

Como a qualidade de vida pode ser definida? Percebe-se que é muito mais que uma questão de qualidade buscada em programas dentro de empresas por exemplo. É o tempo de trânsito e as condições de tráfego, ou mesmo uma boa estrada, entre o local de trabalho e a moradia. É a qualidade dos serviços de saúde, como atendimento médico e odontológico. É a presença de áreas de lazer e áreas verdes. É a segurança que nos protege. É a realização profissional e financeira. É usufruir do lazer, ter educação e cultura. É ter conforto, morar bem, ter água encanada e esgoto nas suas residências. É amar e ter saúde. É, enfim, o que cada um pode considerar como importante para viver bem, demonstrando o quanto é complexo esse conceito de qualidade de vida.

Existem diversas forma de avaliação da qualidade de vida, dentre estas estão basicamente questionários que, em sua grande maioria, foram formulados na língua inglesa, direcionados para a utilização na população que fala esse idioma. Portanto, para que possa ser utilizado em outro idioma devem seguir-se normas pré-estabelecidas na literatura para sua tradução e, posteriormente, suas propriedades de medida devem ser demonstradas num contexto cultural específico (MATHIAS; FIFER; PATRICK, 1994).

No Brasil e no mundo existem vários estudos que debatem o conceito de qualidade de vida. Dessa forma existem diversos instrumentos que analisam, dentre eles está o The Medical OutcomesStudy 36- item Short Form Health Survey (Sf-36) que foi desenvolvido pelos estudiosos Ware e Sherbourne em 1992, sendo traduzido e validado para a língua portuguesa por Ciconelli, em 1999, adotando todos os passos estabelecidos pelo comitê de especialistas (CICONELLI et al, 1999).

O SF-36, é um instrumento generalista de avaliação de saúde de simples administração e compreensão, não sendo tão extenso (WARE, 1992). Possui 36 itens de auto-resposta (designado a avaliar os conceitos de saúde que representam valores humanos básicos importantes à funcionalidade e ao bem-estar de cada um), divididos em oito dimensões, cada um com a sua própria característica (ABRUNHEIRO, 2005). A validade do SF-36 do mesmo modo é confirmada e demonstrada através do uso em pesquisas de diferentes nacionalidades e distintas doenças, admitindo assim comparações de um grupo com um modelo populacional ou entre enfermidades diversas (LOPES; CICONELLI; REIS, 2007).

Portanto, o desenvolvimento e validação de instrumentos para analisar a qualidade de vida ou seus elementos característicos tornou-se uma respeitável área de pesquisa; entretanto, para confirmar suas características de medida, esses instrumentos carecem ser avaliados e reavaliados em diversas situações, ou seja, em distintos centros de pesquisa e por diferentes pesquisadores em populações variadas.

É importante observar que, ao se demonstrar o comprometimento da qualidade de vida de forma genérica pode-se demonstrar sua importância para o indivíduo, em nível social ou de saúde, dentro de uma comunidade. Ressalta-se, dessa forma, a necessidade de se possuir parâmetros de avaliação, tais como a avaliação da qualidade de vida, para nortear a decisão quanto a melhor distribuição de recursos dentro do sistema de saúde.

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Entende-se por metodologia o estudo dos caminhos e dos instrumentos que o pesquisador utiliza para fazer ciência. Ao conservar seu caráter instrumental, a metodologia pode constituir-se num dos momentos mais importantes da formação científica, simplesmente por questionar criticamente a própria razão de ser da ciência e a pretensão de se fazer ciência (DEMO, 1991). Este tópico apresenta a descrição do método utilizado na execução da pesquisa