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Organização e análise ergonômica do trabalho de produtores rurais na atividade leiteira

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO

DÉBORA MILANO

ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO DE PRODUTORES RURAIS NA ATIVIDADE LEITEIRA

IJUÍ, RS 2014

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DÉBORA MILANO

ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO DE PRODUTORES RURAIS NA ATIVIDADE LEITEIRA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientadora: Profª. Drª. Sandra Vicenci Fernandes

Ijui, RS 2014

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M637c Milano, Débora de Fátima.

Condições de saúde e trabalho de produtores rurais na atividade leiteira na região do noroeste do Rio Grande do Sul / Débora de Fátima Milano. – Ijuí, 2014. –

114 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento. “Orientador: Sandra Beatriz Vicenci Fernandes”. 1. Ergonomia. 2. Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao

Trabalho – DORT. 3. Sistemas de produção leiteira. 4. Ordenha. I. Fernandes, Sandra Beatriz Vicenci. II. Título.

CDU: 637.114:65.015.11 Catalogação na Publicação Frederico Teixeira CRB10/2098

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

CONDIÇÕES DE SAÚDE E TRABALHO DE PRODUTORES RURAIS NA ATIVIDADE LEITEIRA NA REGIÃO DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

elaborada por

DÉBORA DE FÁTIMA MILANO

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes (UNIJUÍ): _____________________________

Prof. Dr. Noli Bernardo Hahn (URI): _____________________________________________

Profa. Dra. Enise Barth Teixeira (UFFS): __________________________________________

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Se eu lhe digo: Faça assim, e você pergunta: Por quê? E eu lhe respondo: Porque é assim que se faz! Eu não estou lhe ensinado nada, mas sim impondo-lhe minha autoridade. Não uso minha inteligência para convencê-lo de que é bom e certo fazer assim, mas me sirvo da minha memória para lembrar-me de que, quando agi diferente de como estou lhe dizendo, percebi ter cometido um erro.

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AGRADECIMENTOS

Várias pessoas foram muito importantes para que este trabalho pudesse ser concretizado, merecendo meus mais sinceros agradecimentos. Em primeiro lugar, agradeço a minha orientadora, Profª. Drª. Sandra Vicenci Fernandes pela enorme disposição em compartilhar sua sabedoria e inteligência, sempre com seus comentários precisos, pertinentes e, de fato, norteadores. Agradeço ainda pela grande paciência e compreensão expressados ao longo de todo esse período, que se mostraram indispensáveis para que essa pesquisa pudesse chegar ao final. Ser orientada pela Profª. Drª. Sandra, ao mesmo tempo, um prazer e um grande privilégio.

Agradeço também ao escritório da Emater/ASCAR – Santo Ângelo, na pessoa de seu diretor Álvaro Uggeri Rodrigues, que me propiciou as visitas sem as quais este trabalho não teria acontecido.

Finalmente, agradeço especialmente aos meus amados filhos Pedro Milano e Mateus Milano, pelas presenças inestimáveis de todas as horas, pelo suporte e apoio incondicional, compreensão ilimitada e paciência pelas horas de trabalho que me privaram de suas companhias.

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo a identificação dos fatores de risco envolvidos nos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort), na zona rural do município de Santo Ângelo, região noroeste do estado do Rio Grande do Sul e propor mecanismos que possam contribuir para melhoria da saúde no trabalho destes profissionais. Além da incidência, verificaram-se as regiões anatômicas afetadas e suas principais queixas. Como metodologia utilizou-se a análise ergonômica do trabalho para identificar os fatores de risco na atividade de ordenha; para determinar-se a incidência e a localização das partes anatômicas afetadas utilizou-se o Questionário sócio econômico e de saúde e para avaliar a qualidade foi utilizado o Questionário de qualidade de vida SF 36 - medical outcomesstudy 36. Acompanhando o trabalho verificou-se que existe uma inadequação do posto de trabalho levando os produtores de leite a adotarem posturas viciosas e prejudiciais, que não existe uma adaptação dos equipamentos aos produtores de leite e que existiam sobrecargas músculos esqueléticas principalmente na região dos membros superiores, costas e membros inferiores. Os principais resultados encontrados foram que a ordenha possui um alto risco de desenvolvimento de Dort quando comparada com outras profissões, e que também esses trabalhadores possuem uma excessiva carga horária de trabalho sem folgas semanais aumentado mais a penosidade do trabalho. Quando a qualidade de vida foi identificada que os produtores de leite apresentam sinais de depressão, o que exige pesquisas mais específicas. Outro fator importante diz respeito à questão de gênero. Constatou-se que esta atividade é “coisa de mulher” - dos 60 entrevistados que trabalhavam nesta atividade, 52 são mulheres e apenas 8 homens. Estes 8 homens não executam as tarefas sozinhos, eles na realidade ajudam as esposas. Quanto ao sistema de produção verificou-se que uma minoria possui sala de ordenha a maioria das propriedades parece trabalhar de forma rudimentar, necessitando acesso tanto a conhecimentos técnicos como a recursos financeiros.

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ABSTRACT

This research aimed to approach the quality of life of farmers, to identify the risk factors related to work-related musculoskeletal disorders (WMSD) among milkers of the countryside region of the Santo Ângelo city in the northwestern region of the state of Rio Grande do Sul and to propose mechanisms that could contribute to improvement of the health in the work of these professionals. Besides the incidence, one checked the affected anatomical regions and his main complaints. Also there was valued the quality of life of the milkers. Since methodology was used the analysis ergonomic of the work to identify the factors of risk in the milking activity; in order that the incidence was determined and localization on the affected anatomical parts economical partner was used the Questionnaire and of health and for to value to the quality there was used the quality Questionnaire of life SF 36 - medical outcomes study 36.Accompanying the work one checked that there is an inadequacy of the post of work taking the milkers to adopt vicious and damaging postures, that there is not an adaptation of the equipments to the and that there were overloads muscles skinny mainly in the region of the superior members, back and inferior members. The main considered results were that the milking has a high risk of development of Dort when compared with other professions, and that also these workers have an excessive workload of work without weekly rests when the painfulness of the work was increased more. It was identified, when the life quality was made a list, that the milkers present signs of depression, which demands bigger inquiries. Another important factor found in the inquiry, which is worthwhile to be quoted, concerns the gender of the milkers, one was noticed that this activity is “a woman's thing”, of the interviewed 60 that were working in this activity, 52 were women and you punish 8 men. These 8 men were not milking alone, they in fact were helping the wives. As for the production system one checked that a minority has room of milking to most of the properties it seems to work in the rudimentary form, needing greatly technological advancement and scientific.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Quantidade de propriedades e locais visitados e sub distrito correspondente ao município de Santo Ângelo ... 59 Tabela 2: Distribuição por gênero dos produtores de leite da zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 63 Tabela 3: Distribuição por idade dos produtores de leite da zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 64 Tabela 4: Distribuição por escolaridade dos produtores de leite da zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 65 Tabela 5: Distribuição por tamanho da propriedade dos produtores de leite da zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 65 Tabela 6: Distribuição por número de animais ordenhados nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 66 Tabela 7: Distribuição por tipo de ordenha nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 66 Tabela 8: Distribuição por ordenha mecânica – com e sem sala, nas propriedades na

zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 66 Tabela 9: Distribuição por tempo de trabalho de ordenha nas propriedades na zona

rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 67 Tabela 10: Distribuição por presença de dor nos produtores de leite nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 67 Tabela 11: Distribuição por uso de medicamentos antidepressivos entre produtores de leite nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS,

2013. (n=60) ... 68 Tabela 12: Distribuição por doenças crônicas entre produtores de leite nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 69 Tabela 13: Distribuição por utilização de plano de saúde entre produtores de leite nas

propriedades na zona rural de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 69 Tabela 14: Distribuição por estado de saúde dos produtores de leite nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 70 Tabela 15: Distribuição por estado de saúde em comparação com o ano anterior dos

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RS, 2013. (n=60) ... 71 Tabela 16: Distribuição por atividades diárias de trabalho dos produtores de leite nas

propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 71 Tabela 17: Distribuição por estado emocional dos produtores de leite nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 72 Tabela 18: Distribuição por presença de dor nos produtores de leite nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 72 Tabela 19: Distribuição por presença de dor durante as atividades dos produtores de leite nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013.

(n=60) ... 73 Tabela 20: Distribuição por comportamento em relação a suas atividades diárias (vigor, força, esgotamento, depressão, desânimo) dos produtores de leite nas

propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) .... 74 Tabela 21: Distribuição por interferência de problemas físicos e emocionais nas atividades dos produtores de leite nas propriedades na zona rural do município de Santo Ângelo, RS, 2013. (n=60) ... 74 Tabela 22: Descrição dos produtores de leite durante o processo de ordenha ... 77 Tabela 23: Tempo diário destinado a cada tarefa – Ordenha manual – Propriedade A – zona rural do município de Santo Ângelo, RS- 2013 ... 80 Tabela 24: Tempo diário destinado a cada tarefa – Ordenha mecânica sem sala de ordenha - Propriedade B- zona rural do município de Santo Ângelo, RS - 2013 ... 80 Tabela 25: Tempo diário destinado a cada tarefa – Ordenha mecânica com sala de ordenha - Propriedade C- zona rural do município de Santo Ângelo, RS - 2013 ... 81

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Produção brasileira de leite desde 2008 – em bilhões de litros ... 17

Figura 2: Propriedade A - Ordenha manual... 78

Figura 3: Ordenha sem as vacas ... 78

Figura 4: Propriedade B - Ordenha manual ... 79

Figura 5: Ordenha com piso e local fechado ... 79

Figura 6: Propriedade C – Sala de ordenha ... 79

Figura 7: Diferença entre o produtor e o animal ... 79

Figura 8: Coxo com alimentação dos animais – Propriedade A... 81

Figura 9: Postura de flexão da coluna – Propriedade B e C ... 82

Figura 10: Banco improvisado com um toco de madeira - Propriedade A ... 83

Figura 11: Movimentos repetitivos para membros inferiores e coluna - Propriedade B ... 83

Figura 12: Sem movimentos repetitivos de coluna e membros inferiores dos agricultores da Propriedade C ... 84

Figura 13: Limpeza da sala de ordenha ... 85

Figura 14: Postura de flexão da coluna ... 87

Figura 15: Aumento da pressão discal ... 87

Figura 16: Aumento da pressão discal ... 88

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 REFERENCIAL TEÓRICO ... 15

1.1 O TRABALHO E SAÚDE NO MEIO RURAL ... 15

1.2 DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO ... 21

1.2.1 Desenvolvimento rural e agricultura familiar ... 25

1.2.2 Agricultura familiar e produção leiteira ... 32

1.3 A ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR RURAL ... 36

1.3.1 Bases legais da atenção à saúde dos trabalhadores rurais ... 41

1.4 A ERGONOMIA COMO FERRAMENTA PARA ESTUDAR O TRABALHO AGRÍCOLA ... 42

1.5 DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT) ... 46

1.5.1 Dorts relacionados ao trabalhador ... 47

1.6 QUALIDADE DE VIDA ... 53

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS ... 57

2.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 57

2.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA ... 59

2.3 OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 60

2.3.1 Questionário sócio econômico e de saúde ... 60

2.3.2 Questionário de qualidade de vida SF 36 - medical outcomesstudy 36 ... 60

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 63

3.2 ANÁLISE QUANTITATIVA E DESCRITIVA – SÓCIOECONÔMICA, DE SAÚDE E DE QUALIDADE DE VIDA ... 63

3.2.1 Quanto ao gênero e idade ... 63

3.2.2 Quanto a idade dos entrevistados ... 64

3.2.3 Com relação ao grau de escolaridade ... 65

3.2.4 Em relação ao tamanho da propriedade ... 65

3.2.5 Em relação ao número de animais ordenhados ... 65

3.2.6 Quanto ao tipo de ordenha ... 66

3.2.7 Quanto ao tempo de trabalho de ordenha ... 67

3.2.8 Quanto a saúde da população avaliada no questionário de saúde ficou evidenciado ... 67

3.2.9 Quanto à satisfação no trabalho ... 69

3.2.10 Quanto à auto avaliação da condição de saúde ... 70

3.3 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ... 76

3.3.1 Análise das tarefas ... 76

3.3.2 Descrição das atividades realizadas na pré-ordenha através da análise ergonômica do trabalho ... 81

3.3.3 Descrição das atividades da ordenha propriamente dita ... 82

3.3.4 Principais posturas adotadas pelos produtores de leite ... 85

CONCLUSÃO ... 93

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INTRODUÇÃO

As condições de vida, trabalho, saúde e doença dos trabalhadores rurais no Brasil apontam inúmeros pontos de interrogação e caminhos a serem debatidos por profissionais das mais diversas áreas do conhecimento humano. Trata-se de um desafio intersetorial, multidisciplinar e transdisciplinar com efeitos determinantes sobre as condições de vida de indivíduos, famílias e comunidades (REIS, 2010).

As informações disponíveis a respeito da atividade agrícola, a coloca como um das três atividades de maior risco ocupacional pela organização internacional do trabalho, em conjunto com a mineração e a construção civil. Conforme Ulbricht (2003), a OIT estima que 50% da população mundial economicamente ativa trabalhem no setor primário da economia, representando 10% do total da mão de obra nas nações desenvolvidas e 59%das nações subdesenvolvidas.

Esse alto riso deve-se às múltiplas atividades do trabalho agrícola, e pode ainda, estar aumentado devido a fatores psicossociais, como limitadas oportunidades de férias, alto índice de analfabetismo, emprego de equipamentos e produtos químicos sem a devida qualificação dos agricultores quanto ao seu uso, sendo ainda necessário considerar o emprego de crianças menores de 14 anos nas atividades laborais.

Além disso, os agricultores alegam que existe baixa lucratividade, o que ocasiona um déficit de recursos para a construção de um ambiente seguro de trabalho, e ainda, relacionando-se a alta porcentagem de agricultores acima de 65 anos (uma força de trabalho não encontrada em outras ocupações de perigosas), aos problemas relacionados com a idade entre esses profissionais (dificuldades de visão, audição e outros), acabam por comprometer a segurança e a saúde dos trabalhadores mais idosos (ULBRINCHT, 2003).

Uma justificativa importante para conhecer a realidade do trabalho na agricultura decorre do aumento do número de pessoas que desenvolvem atividades neste segmento econômico. Além de não existirem muitas pesquisas na temática proposta neste estudo, a Organização Internacional do Trabalho (1998) segundo Alves Filho (1999), estima que 50% da população mundial economicamente ativa dedicam-se a trabalhos agrícolas. No Brasil a cadeia produtiva do leite está presente em todo o território nacional, com uma abrangência de aproximadamente 1,1 milhão de propriedades agrícolas, das quais são gerados 3 milhões de empregos diretos somente na atividade primária (VIEIRA et al., 2001).

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Este cenário apresentado da agricultura, não somente em termos de números de trabalhadores, mas também e virtude da grande importância econômica e seu forte vínculo com o desenvolvimento, leva-nos a perceber o quanto o tema que se propõe essa pesquisa é relevante, pois se na agricultura em geral, ainda existe carência de pesquisas do ponto de vista da saúde dos trabalhadores da produção leiteira enfatizando principalmente o estudo ergonômico, na produção leiteira, carece de estudos desta natureza.

A ergonomia é uma área do conhecimento hábil de fornecer elementos que auxiliam na avaliação dos riscos envolvidos em determinadas atividades de trabalho. Na execução de suas atividades, o trabalhador agrícola, neste caso o produtor de leite, está sujeito a uma série de riscos físicos (ruído, vibração e temperaturas extremas), riscos químicos (agrotóxicos, combustíveis, materiais em suspensão no ar) e riscos de acidentes com máquinas ou ferramentas manuais (WISNER, 1987). Desta forma, entende-se que usar a ergonomia como ferramenta para análise do trabalho na produção leiteira pode contribuir para sua melhor compreensão e conseqüente adoção de medidas corretivas e preventivas.

Este estudo é, portanto, uma tentativa de traçar um perfil das propriedades e dos produtores de leite na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, abrangendo agricultores familiares da zona rural do município de Santo Ângelo, objetivando determinar os fatores de risco e prevalência de queixas e/ou desconforto musculoesquelético, bem como as regiões anatômicas afetadas.

Sendo assim, o enfoque geral desta pesquisa é o melhor entendimento da saúde e qualidade de vida do produtor de leite compreendida como elemento essencial do desenvolvimento da agricultura regional levando em conta os fatores humanos e sociais. O estudo delimita-se aos ordenadores do interior do município de Santo Ângelo.

O presente trabalho busca oferecer um enfoque social, demonstrando que através das melhorias das condições envolvidas na ordenha, pode-se melhorar a qualidade de vida no trabalho do produtor o que, por conseqüência, afetará sua produtividade, trazendo-lhe satisfação no trabalho, além de outras vantagens para si, sua família e conseqüentemente trazendo desenvolvimento para a região onde está estabelecido. Traz também elementos para enriquecer o debate da sustentabilidade social, por incluir os aspectos do trabalho real dos agricultores, para que o discurso da qualidade de vida, tão presente em algumas falas sobre o meio rural, não fique esvaziado, preso somente às questões básicas produtivistas, como busca de novas técnicas de manejo, melhoramento genético do rebanho, novas variedades de

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gramíneas para pastagem. A discussão girou em torno da busca do viés da sustentabilidade do sujeito, não só do ambiente, que nos é normalmente sugerido.

A dissertação está organizada em cinco partes distintas, mas complementares. Inicialmente a título de introdução é feita a contextualização do estudo, com a apresentação do tema e a sua problematização. A segunda parte, diz respeito à fundamentação teórica da pesquisa, na qual são abordados aspectos conceituais, de acordo com a percepção de diversos autores. Na terceira parte, aborda-se a metodologia escolhida para realizar a pesquisa, seu design, bem como a forma com que os dados foram obtidos. Na quarta parte são apresentados os resultados obtidos bem como suas respectivas análises. Por fim, na quinta parte, encontra-se a conclusão do trabalho com suas considerações finais, bem como sugestões para trabalhos futuros.

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1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 O TRABALHO E SAÚDE NO MEIO RURAL

Pesquisar suas representações, conhecer as concepções dos indivíduos e das comunidades rurais sobre as ações e as políticas públicas a que estão sujeitos é um convite a perceber suas especificidades e, efetivamente, fazer do ser humano o centro da extensão rural. Segundo Lopes (2004), na atualidade, o processo de reestruturação produtiva, que tem avançado aceleradamente no país a partir dos anos 90 em conseqüência da globalização da economia repercute sobre a atividade rural, agravando, em muitos casos, situações de exploração e desigualdade historicamente construídas. A precarização do trabalho, caracterizada pela desregulamentação e perda de direitos trabalhistas e sociais; a legalização dos trabalhos temporários; a informatização do trabalho e o aumento do número de trabalhadores autônomos, que sempre existiu no campo, foram legitimados e se estendeu ao universo urbano (GALBES, 2006). A saúde e a segurança no trabalho são temas recorrentes não somente nas propriedades rurais, mas em todos os setores da sociedade que almejam um desenvolvimento verdadeiramente harmônico.

No Brasil rural, as condições de trabalho e de vida sempre foram precárias e, quanto mais o nosso olhar focaliza a modernidade, mais enxerga o arcaico. Grande parte da produção agrícola brasileira vem da produção familiar, que tem como características básicas a utilização de mão-de-obra familiar, além do acesso à terra e aos meios de produção. Sua finalidade principal é a alimentação do grupo doméstico, sendo comercializados apenas os excedentes, uma vez concretizada a satisfação alimentar da família. Um dos pilares de sustentação dessa categoria social é a diversificação das culturas, o que assegura o equilíbrio alimentar da família, além de garantir a ocupação da mão-de-obra familiar no decorrer do ano (COUTO, 1999).

As transformações pelas quais passou a agricultura, tanto nos países desenvolvidos como no Brasil, concorrem para que as reflexões sobre a produção familiar ultrapassem as análises puramente econômicas. Maria Isaura Pereira de Queiroz foi uma das primeiras a se preocupar com a importância de estudar esse setor abordando sua “identidade social”, suas relações sociais, e não apenas seu sentido econômico. Com a modernização da agricultura, a produção familiar sofre alterações, sendo levada a desenvolver estratégias de permanência – de reprodução social, adaptação e reestruturação – diante da nova situação (ABROMOVAY, 1992).

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Como linha estratégica de desenvolvimento regional, a agricultura familiar brasileira pode apresentar inúmeras possibilidades. Nesse sentido, a produção leiteira, devido à sua capacidade de geração de emprego e de distribuição de renda ao longo do ano, pode surgir como alternativa viável para melhoria e manutenção das condições financeiras da propriedade familiar (ABROMOVAY, 1992). O setor pode amparar-se em experiências internacionais, vividas por nações mais avançadas que, apoiadas também em políticas públicas específicas, sustentam modelos de produção agropecuária adequados.

No Brasil, a cadeia produtiva do leite é uma das mais importantes no que se refere à geração de emprego e renda, contribuindo para o desenvolvimento econômico, sendo que uma das características desta cadeia é a flexibilidade dos sistemas de produção, gerando uma divisão com regiões e propriedades competitivas, similares às mais avançadas do mundo, até sistemas rudimentares, em pequena escala, mas que viabilizam a subsistência de milhares de familiares (MARTINS; CARVALHO, 2005).

A cadeia produtiva do leite está presente tem todo o território nacional, com uma abrangência de aproximadamente 1,1 milhão de propriedades agrícolas, das quais são gerados 3 milhões de empregos diretos somente na atividade primária (VIEIRA, 2001). Nas últimas estatísticas do IBGE foram estimados que no Brasil, em 2010 a produção chegou a 30,7 bilhões de litros de leite; se a taxa de crescimento se mantiver próxima de 5% ao ano, serão produzidos 32,3 bilhões de litros de leite em 2011. Esse volume mantém o país entre os cinco maiores produtores de leite no mundo: Estados Unidos (85,8 bilhões), Índia (45,1 bilhões), China (35,5 bilhões) e Rússia (32,3 bilhões), considerando só o leite de vaca.

Nos últimos 30 anos, a produção leiteira brasileira esteve diretamente ligada ao desenvolvimento econômico do País. Durante os anos 70 e 60, quando o Brasil cresceu economicamente, a produção leiteira também teve expressivo aumento. Na década de sessenta a produção total cresceu 4,53% ao ano e a produção per capita, 1,54% ao ano. Já nos anos 70 a produção total cresceu 4,85% ao ano e a produção per capita, 2,12% ao ano. Nos anos 80, quando a economia do Brasil praticamente estancou, a produção total de leite cresceu apenas 2,44% ao ano, não ocorrendo crescimento da produção per capita (GOMES, 2001).

A produção de leite brasileira vem acompanhando o crescimento da produção mundial, conforme figura 1. Nos últimos cinco anos a produção nacional cresceu em média, 4,3% ao ano. Os dados referentes a 2013 ainda não foram divulgados. Segundo o índice Scot de captação, nos primeiros meses do ano, considerando a média nacional, em janeiro deste

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ano a produção diminuiu 2,4%, frente a dezembro do ano passado. Em fevereiro, os dados parciais apontam para recuo de 3,3% na captação, em relação a janeiro.

O volume de leite captado tende a diminuir no Brasil até meados de maio, quando a produção na região Sul do país começa a ganhar força novamente (PEILA, 2013).

Figura 1: Produção brasileira de leite desde 2008 – em bilhões de litros.

Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Elaboração Scot Consultoria.

A maior parte da produção de leite do Brasil concentra-se nas regiões Sudeste (50%) e Sul (23%). Quanto ao tamanho da exploração, os pequenos produtores predominam. A tendência concentradora da produção de leite está diretamente relacionada com a economia de escala, (redução de custo de produção à medida que aumenta o tamanho da exploração) típica da atividade leiteira (BASSO, 2005).

Em virtude das condições ambientais e econômicas o Rio Grande do Sul oferece um ambiente propício para a produção de leite em grande escala e altamente competitivo (BASSO, 2005). Atualmente, o Noroeste gaúcho vem sendo beneficiado com estímulos mais intensos à produção láctea, através de projetos de incentivo a produção, nas esferas da união (federal, estadual, municipal) (EMPRAPA, 2010). A preocupação com a competitividade dos produtos agrícolas e agroindustriais tem incentivado a aplicação de políticas públicas dirigidas ao setor. Via de regra, as políticas públicas tem sido direcionadas ao financiamento do processo produtivo e raras são as iniciativas voltadas à saúde e qualidade de vida dos produtores rurais. A atividade leiteira, especificamente, demanda esforço físico e perfil de trabalho árduo e contínuo, muitas vezes determinante do sucesso do empreendimento.

As mudanças que aconteceram no mundo do trabalho a partir de 1990, intensificaram e aumentaram a precarização do trabalho rural no país. Pode-se citar com importância, a

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pesada carga de trabalho agrícola muitas vezes desproporcional a capacidade de física do trabalhador e ainda a falta de pessoas interessadas no trabalho rural (GALBES, 2006). Essas mudanças e a pouca informação a respeito da real condição desse trabalhador pode levar á um importante problema social e político, bem como ocasionar diversos tipos de distúrbios nesses agricultores (MONTEDO, 2001).

Estudos epidemiológicos de Montedo (2001) e Ulbrincht (2003), indicam que os agricultores possuem uma ocupação de alto risco com relação aos Distúrbios Relacionados ao Trabalho (Dort) e o estudo dessa ocupação é um importante campo de pesquisa, pois a maior parte do trabalho agrícola está associado com o levantamento, transporte de carga, adoção de posturas inadequadas e uma exposição à vibrações de ferramentas e do trabalho com máquinas e equipamentos agrícolas. Na atividade leiteira, o trabalho de ordenha tem merecido especial atenção. A prevalência de Dort em propriedades rurais leiteiras foi confirmada por Gustafsson (apud ULBRINCHT, 2003) entre produtores em diferentes laticínios, tendo constatado que a capacidade de trabalho média das mulheres é menor do que a dos homens, quanto à força muscular aeróbica de trabalho.

Para melhorar a atividade de ordenha, pode-se utilizar a análise ergonômica de trabalho para caracterizar a condição de trabalho e, a partir dela, elaborar recomendações com objetivo de diminuir a carga de trabalho ao qual são submetidos os produtores e aumentar a eficácia do sistema produtivo leiteiro, cujo alvo principal é a qualidade de vida no trabalho (ULBRINCHT, 2003).

O trabalho agrícola demanda movimentos repetitivos, caso típico da atividade de ordenha, na utilização dos equipamentos e na organização do trabalho, gerando diversos problemas e distúrbios que poderão afetar a qualidade de vida destes trabalhadores e, consequentemente, afetando a execução de suas atividades laborais e da vida diária. A situação do trabalho agrícola, no caso dos produtores, é rica em elementos que lhe conferem as características de um sistema complexo e não preciso. Neste ambiente, imprevistos e acontecimentos aleatórios acontecem o tempo todo, visto que todas as tarefas executadas por estes sujeitos estão imbricadas umas às outras, num universo extremamente dinâmico cujo o estado pode variar sem a interferência do agricultor.

O procedimento de modernização tecnológica iniciado nos anos 50 com a chamada “Revolução Verde”, transformou intensamente as técnicas agrícolas, trazendo alterações ambientais, nas cargas de trabalho e nos seus efeitos sobre a saúde, deixando os trabalhadores rurais expostos a riscos muito diversificados (BRUM, 2007). A modernização da agricultura

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foi seguida por um acréscimo da pesquisa agronômica, sociológica, econômica e tecnológica no Brasil e em várias partes do mundo (ABROMOVAY, 1992). A maior parte dos estudos sobre o tema faz uso de dados secundários, ou decorre á respeito de usuários de algum serviço, ou ainda compara a população rural à população urbana sob vários aspectos e recortes (VIEIRA, 2005). Em virtude disso, há enorme escassez de estudos epidemiológicos de base populacional direcionados aos problemas de saúde do trabalhador rural.

Contrapondo a visão romântica da vida no campo, as informações a respeito da atividade agrícola a colocam como uma atividade de risco ocupacional (MORAES, 2010).

Dos mais de 182 milhões de habitantes do Brasil, segundo dados do IBGE (2005), 84,5 milhões são economicamente ativos, sendo 17,8 milhões o número de pessoas ocupadas na agricultura, ou seja, 21% do total. Este setor só perde para o de serviços, que comporta 33,7% da população ocupada. Inicialmente caracterizado pela produção extensiva de soja, 80% da produção de soja do Estado do Rio Grande do Sul (15% da produção brasileira de oleaginosa) provém da Região Noroeste (BRUM, 2007). Atualmente, o Noroeste gaúcho vem apresentando incentivos mais intensos quanto a produção láctea, representada em grande parte por incentivos dos poderes da união (Federal, Estadual, Municipal) através de projetos de incentivo a produção, com o objetivo de incrementar o desenvolvimento regional e local.

Desenvolvimento local tornou-se um conceito e um instrumento de consertamento e diálogo social que coloca nas mãos dos seus beneficiários, os atores locais, a responsabilidade de desenhar e pôr em prática estratégias sustentáveis de inclusão social. Num conceito mais antigo, o desenvolvimento era qualificado apenas como crescimento econômico, contudo, essa visão vem sendo progressivamente superada em proveito de uma caracterização mais complexa do conceito, expressa pelas adições sucessivas de qualificativos: econômico, social, cultural, naturalmente político; depois viável e finalmente sustentável (SEN, 2002).

Dessa forma, o “nível de desenvolvimento passa a ser identificado de modo mais claro”, indicando ou refletindo as reais condições em que se encontra uma determinada população (SACHS, 1998). Surge assim, o conceito de sustentabilidade social, em que o sujeito (trabalhador) esta em primeiro lugar, sendo suas condições de saúde, doença e qualidade de vida diretamente vinculadas ao desenvolvimento de uma determinada região.

Nesse contexto, há algum tempo, Sachs (2004) vem apresentando proposta de pragmatismo aos diversos conceitos de desenvolvimento sustentável. Sachs parte do pressuposto que o conceito de desenvolvimento sustentável deve, “primordialmente, defender

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objetivos sociais e éticos para com a geração atual, bem como, objetivos ambientais para com as gerações futuras” (2004, p.71). Enfim, Sachs preconiza a necessidade de se considerar o desenvolvimento a partir de pelo menos cinco dimensões: social, ambiental, política, econômica e territorial (SACHS, 1997, 2002, 2004). Embora essas dimensões sejam amplamente reconhecidas como fundantes do conceito de eco desenvolvimento, a abordagem do local realça as especificidades do contexto em que ocorrem os complexos processos do desenvolvimento.

De acordo com Buarque (1999), desenvolvimento local enfatiza os processos endógenos, percebidos em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capazes de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população. Em nível local representa uma singular transformação nas bases econômicas e na organização social, fruto da mobilização das energias da sociedade, explorando as suas capacidades e potencialidades específicas. Para que o processo contemple a sustentabilidade, o desenvolvimento deve elevar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da economia local, aumentando a renda e as formas de riqueza, ao mesmo tempo em que assegura a conservação dos recursos naturais.

As atividades agrícolas ou rurais são indissociáveis do ambiente biofísico sendo portanto, fortemente vinculadas à dimensão socioambiental do desenvolvimento. Para o campo ambiental é preciso pensar de forma complexa, tendo em vista que não há separação entre homem-natureza, homem-cultura, homem-homem (MORIN, 2005).

Dessa forma, pode-se entender que o conceito de sujeito ecológico é um ideal de ser e de viver em um mundo ecológico orientado por decisões e escolhas de vida. São essas escolhas de vida que trarão uma melhor qualidade ambiental e, em conseqüência, uma melhor qualidade de vida. Pois, a existência desse sujeito põe em evidência não apenas um modo individual de ser, mas, sobretudo, a possibilidade de um mundo transformado que seja compatível com esse ideal. Além de fomentar esperanças de viver melhor, de felicidade e bem-estar. No entanto, por se tratar de uma escolha de vida, o conceito de sujeito ecológico é um exemplo de valores, já que valores são fundamentos éticos e morais os quais consideramos importantes em nossas vidas. Logo, os sujeitos formados irão não apenas compreender o mundo mais agirem de forma crítica. Por isso, a educação ambiental crítica poderia ser descrita como a formação de sujeito que possa ler seu ambiente interpretando-o. É imprescindível uma consciência crítica, visto que a consciência ingênua é simplista, e por isso, não aprofunda diante de um determinado fato (MORIN, 2000).

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Para que o trabalho na produção leiteira possa se desenvolver, atingindo com sucesso suas metas de sustentabilidade, entende-se que é preciso incluir na dimensão sociocultural, a questão do trabalho digno, que além de condições adequadas para a realização da produção leiteira busque valorizar o saber dos sujeitos, favorecendo sua evolução e divulgação junto aos atores sociais envolvidos, além dos investimentos tão necessários e comentados que precisam ser feitos na dimensão técnico-agronômica, econômica, ecológica e político institucional, na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal (BRUM, 2007).

1.2 DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO

Durante muito tempo o desenvolvimento foi tratado como sinônimo de crescimento econômico. Esse continua a ser um dos equívocos mais constantes na busca para uma definição de desenvolvimento. A adoção desse conceito simplifica o estudo do desenvolvimento, que fica resumido à análise de indicadores consolidados conceitualmente, como a evolução do PIB. Tal análise pode ser considerada parte do estudo do desenvolvimento, mas não deveria ser tomada como conceito completo. Conforme Veiga,

...este amálgama das duas ideias [desenvolvimento e crescimento econômico] simplifica bastante a necessidade de se encontrar uma maneira de medir o desenvolvimento, pois basta considerar a evolução de indicadores bem tradicionais, como, por exemplo, o Produto Interno Bruto per capita (2008, p. 17).

O conceito de desenvolvimento sustentável abrange várias áreas, assentado essencialmente num ponto de equilíbrio entre o crescimento econômico, equidade social e a proteção do ambiente. O conceito inclui noções de sustentabilidade fraca, de sustentabilidade e ecologia profunda. Diferentes concepções revelam também uma forte tensão entre ecocentrismo e o antropocentrismo. O conceito permanece mal definido e anima uma quantidade de debates a respeito de sua definição.

Muito se tem discutido sobre potencialidades e limitações para adequação a um novo estilo de desenvolvimento com sustentabilidade. Um estilo que seja viável no tocante às reservas de recursos naturais e que propicie diminuição da desigualdade social. É possível se observar ações nesse sentido abordando práticas tais como a descentralização das políticas públicas. Hoje, a sociedade não aceita mais um modelo de crescimento de exploração indiscriminada de recursos naturais que comprometa o planeta para as gerações futuras.

Dessa forma, não existe mais lugar para elaboração de políticas de desenvolvimento setorial e espacial, urbano e regional, sem que se levem em consideração, simultaneamente, a

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sustentabilidade social e ambiental. Tal observação leva a exigir padrões distintos de consumo assim como muito talento e racionalidade na utilização dos recursos naturais, principalmente da água e de fontes geradoras de energia, assim como no destino final dos resíduos. Deposita-se assim um enorme desafio às estratégias de desenvolvimento de nações e regiões economicamente atrasadas, que desejam candidatar-se à inclusão econômica e deparam com um condicionante ambiental criado historicamente por outras regiões que já se encontram na dianteira do processo de desenvolvimento.

Por outro lado, a nova consciência ambiental que cresce a cada dia, traz também oportunidades que podem e devem ser consideradas nas estratégias de desenvolvimento destas regiões. Esta nova consciência cria importantes segmentos de mercado para alimentos, energias e outros bens que tragam a marca da sustentabilidade social e ambiental. Além disso, os esforços tecnológicos necessários para desenvolver formas mais sustentáveis de produção podem promover círculos virtuosos de crescimento sustentados através de inovações (BRASIL, 2010).

Tem-se como sustentabilidade a capacidade de sustentar ou suportar uma ou mais condições, exibida por algo ou alguém. É uma qualidade ou condição de um processo ou de um sistema que permite a sua permanência, em certo nível, por um determinado prazo. É o princípio segundo o qual o uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras, e que precisou da vinculação da sustentabilidade no longo prazo, um "longo prazo" de termo indefinido, em princípio (GUATTARI, 1990).

O Conceito de Sustentabilidade é complexo, pois atende a um conjunto de variáveis interdependentes, mas deve ter a capacidade de integrar as questões sociais, energéticas, econômicas e ambientais.

• Questão Social: Sem considerar a questão social, não há sustentabilidade. Em primeiro lugar é preciso respeitar o ser humano, para que este possa respeitar a natureza. E do ponto de vista do ser humano, ele próprio é a parte mais importante do meio ambiente.

• Questão Energética: Sem considerar a questão energética, não há sustentabilidade. Sem energia a economia não se desenvolve. E se a economia não se desenvolve, as condições de vida das populações se deterioram.

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• Questão Ambiental: Sem considerar a questão ambiental, não há sustentabilidade. Com o meio ambiente degradado, o ser humano abrevia o seu tempo de vida; a economia não se desenvolve; o futuro fica insustentável (GUATTARI, 1990).

De modo a que o debate contribua para a sustentabilidade do desenvolvimento, são necessários contributos significativos, que promovam alterações nos modelos existentes, isto é, torna-se necessário desenhar estruturas conceituais e ferramentas práticas que permitam transformar as idealizações teóricas em ações concretas.

Para Assis e Romeiro,

o desenvolvimento sustentável tem como eixo central a melhoria da qualidade de vida humana dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas e, na sua consecução, as pessoas, ao mesmo tempo que são beneficiários, são instrumentos do processo, sendo seu envolvimento fundamental para o alcance do sucesso desejado (2005, p.3).

Isto se verifica especialmente no que se refere à questão ambiental, pois na medida em que as populações mais pobres são as mais atingidas pela degradação ambiental, em razão do desprovimento de recursos e da falta de informação, são também agentes da degradação. Assim, de acordo com o conceito de desenvolvimento sustentável, as pessoas devem ser sujeito no processo de desenvolvimento, o qual deve ser visto não como fim em si mesmo, mas como meio de se obter melhoria de qualidade de vida para diferentes populações, especialmente dos produtores de leite.

Embora a dimensão ambiental prevaleça como alvo das ações que caracterizam o desenvolvimento sustentável, a dimensão social vem progressivamente sendo legitimada como essencial à sua concretização. Não há como pensar em desenvolvimento sem focar o que seria sua razão principal, o indivíduo.

A dimensão social da sustentabilidade destaca o papel dos indivíduos e da sociedade nos processos de garantia do desenvolvimento sustentável. Nesse caso, a sustentabilidade social está ligada intimamente à ideia de bem-estar, clarificando as funções dos indivíduos e das organizações e produzindo estabilidade social (GUATTARI, 1990). O conceito de sustentabilidade social visa promover ações voltadas para o resgate da cidadania da pessoa humana, garantindo seus direitos universais: saúde, educação, moradia, trabalho, etc. Para um processo sustentável, o bem-estar do homem é objetivamente necessário, pois é ele o principal responsável por implementar as demais ações de sustentabilidade que garantirão o futuro para a sua e para as novas gerações.

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Os principais benefícios obtidos através das ações de sustentabilidade social são a garantia da autodeterminação e dos direitos humanos dos cidadãos; garantia de segurança e justiça, através de um sistema judicial fidedigno e independente; melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, que não deve ser reduzida ao bem-estar material; promoção da igualdade de oportunidades; inclusão dos cidadãos nos processos de decisão social, de promoção da igualdade de oportunidades; inclusão dos cidadãos nos processos de decisão social, de promoção da autonomia da solidariedade e de capacidade de auto-ajuda dos cidadãos; e garantia de meios de proteção social fundamentais para os indivíduos mais necessitados (GUATTARI, 1990).

Apesar de o desenvolvimento sustentável ser algo de complexa e desafiante implementação, é possível extrai pensamentos de Sacks (1997, 2002, 2004) aspectos importantes de se chegar a sustentabilidade que servem de condicionantes econômicos tais como: a necessidade de maior organização e conscientização dos cidadãos para acompanhar e influenciar assuntos de seus próprios interesses, necessidade de cuidado com limitadas fontes dos recursos naturais bem como o destino dos resíduos da ação da humanidade, a conscientização política dos cidadãos, de modo a se fazer presentes nas decisões que determinam os investimentos em políticas públicas, a necessidade de equidade na distribuição das riqueza a no combate à pobreza e ainda, a necessidade de conhecimento das microrregiões, assim explorando-se as inúmeras potencialidades existentes sempre respeitando as limitações locais e ainda o incentivo a agricultura familiar.

Para todos os efeitos, podemos considerar a unidade familiar como possuidora de uma reserva potencial de tempo de trabalho a ser aproveitada como uma verdadeira reserva de desenvolvimento. Por isso, longe de serem meramente políticas sociais, a reforma agrária e as medidas de apoio à agricultura familiar afiguram-se como alavancas importantes da estratégia de desenvolvimento (SACHS, 2004, p.125-126).

Nesse sentido, para promoção do desenvolvimento sustentável, percebe-se a importância da agricultura familiar como alavanca para conquistas econômicas, sociais e ambientas, tanto ao nível regional como nacional.

1.2.1 Desenvolvimento rural e agricultura familiar

O processo de crescimento econômico que implica uma contínua ampliação da capacidade de agregar valor sobre a produção, bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local

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e/ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região (BUARQUE, 1999). Entretanto, a dimensão econômica é apenas um dos fatores que pode causar o desenvolvimento. Entende-se que os fatores decisivos do desenvolvimento tem caráter multidimensional, onde cada dimensão tem uma determinada autonomia, porém com efeito de percepções de outras dimensões. Assim, tem-se inúmeras dimensões contempladas no âmbito do desenvolvimento: econômica, social, cultural, ambiental, mas também, físico-territorial, político-institucional, e científico-tecnológico

O desenvolvimento deve ter como papel melhorar a vida das pessoas (desenvolvimento humano), de todas as pessoas (desenvolvimento social), das que vivem atualmente e das que habitarão no mundo no futuro (desenvolvimento sustentável). Melhoria da vida de pessoas significa gerar seu crescimento em termos de: Capital humano (conhecimentos, competências); Capital social (cooperação, interação construtiva); Capital empresarial (realização, empreender, geração riqueza); Capital natural (conservação, recuperação de valores naturais) (SACHS, 1998).

Conforme Sachs (1998), o desenvolvimento sustentável em âmbito regional é estabelecido principalmente, ainda que não exclusivamente, sobre os recursos locais disponíveis, tais como as potencialidades ambientais local, da força de trabalho, conhecimentos e modelos locais para articular produção e consumo, etc. Ao contrário da modernização, o desenvolvimento regional tem como ponto de identificação as características socioculturais, ecológicas e, por que não dizer, econômicas locais como base no momento de constituir relações e trocas. Sendo assim, o desenvolvimento busca um redirecionamento no sentido de qualquer processo de troca social. De maneira alguma significa interromper relações externas na esperança de evitar simplesmente o desaparecimento de elementos socioculturais e ecológicos vinculados ao lugar. Diz respeito a maneiras buscar integrar as identidades culturais e os processos globais. Dessa forma, desenvolvimento regional não significa ausência de elementos externos; significa localização do desenvolvimento.

No inicio dos anos 90, começou a construção de uma nova visão de desenvolvimento rural que implicou num pensamento mais objetivo a respeito de mudanças que deveriam ocorrer neste ambiente rural, a partir do papel que desempenhava a população que vivia no meio rural. Os próprios agricultores começaram a assumir um papel ativo no processo de desenvolvimento rural, fortalecendo sua capacidade de escolha entre as diferentes opções e oportunidades, inclusive interferindo no perfil do profissional que atua nessa área através da

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valorização de suas características como seu comprometimento com a comunidade local (SACHS, 1998).

O novo conceito de desenvolvimento rural, iniciado nessa fase e amadurecido a partir daí, relaciona- se a gestão do território rural e seu ponto de partida esta relacionado à análise das dimensões econômica, social, ambiental e político-institucional, tendo como objetivo primordial a melhora da qualidade de vida do cidadão rural. Neste ambiente, propõe-se a reformulação de estratégias e instrumentos de política para o desenvolvimento do território principalmente em localidades rurais onde se busca a redução dos desequilíbrios de receitas, taxas de crescimento baixas assim como de produção e padrões impróprios de transferência e circulação de bens (IICA, 2002).

A concretização de resultados importantes no desenvolvimento do meio rural pode ser expressa em dois propósitos: a coesão social e a coesão territorial. A primeira diz respeito à expressão da comunidade rural e das sociedades nacionais integradas pela equidade, pela solidariedade, pela justiça social, pelo sentimento de pertinência. Trata-se de um desafio de inclusão e integração da economia rural, tanto em sua dinâmica interna quanto em sua economia nacional. Numa sociedade desintegrada social e territorialmente é impensável gerar as condições estruturais para estabelecer uma economia eficiente, produtiva e competitiva. Daí a necessidade de inverter o círculo vicioso de exclusão, pobreza e ineficiência econômica. A inclusão deve ser no sentido da prosperidade e competitividade. A segunda é entendida como inserção de espaços, recursos, sociedade e instituições, interligados em um tecido que conforma regiões, nações ou espaços supranacionais, revelando-se e definindo-se como entidade cultural, política e socialmente integradas (IICA, 2002, p. 19-20).

É importante considerar que uma diferença entre o desenvolvimento e a prosperidade dos meios rural e urbano entre si, estabelecem um perigo em relação à desintegração nacional. O desenvolvimento rural deve seguir em direção aos conceitos do desenvolvimento com sustentabilidade que busca uma nova forma de organização social e uma nova cultura de produzir e consumir, que busquem benefícios à sociedade como um todo e ainda garantindo a sustentabilidade das novas gerações (IICA, 2002).

Pelo exposto, o desenvolvimento rural deve ser entendido como o fortalecimento das competências das pessoas e das comunidades rurais, buscando construir uma agricultura mais sustentável que considere os aspectos sociais e ambientais, além dos aspectos econômicos, e sobre a importância dos agricultores familiares na construção desse novo modelo.

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Os agricultores familiares têm tomado a frente como um dos seus pilares chaves para o desenvolvimento rural sustentável. O modelo agricultura familiar, teria como característica a relação íntima entre trabalho e gestão, a direção do processo produtivo conduzido pelos proprietários, a ênfase na diversificação produtiva e na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida, a utilização do trabalho assalariado em caráter complementar e a tomada de decisões imediatas, ligadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo (ABROMOWAY, 1992).

Existem diversas formas de definir agricultura familiar, entretanto, o conceito central pode ser definido como o trabalho familiar na exploração agropecuária e pela propriedade dos meios de produção (MARAFON, 2006). "A agricultura de propriedade familiar é caracterizada por estabelecimentos em que a gestão e o trabalho estão intimamente ligados, ou seja, os meios de produção pertencem à família e o trabalho é exercido por esses mesmos proprietários em uma área relativamente pequena ou média" (MARAFON, 2006, p.19). Revela a força de coesão existente nos grupos familiares na construção e distinção de diferentes ações locais e a sua capacidade de articulação na superação de suas próprias necessidades existenciais.

A chamada agricultura familiar é constituída por pequenos e médios produtores, representa a imensa maioria de produtores rurais no Brasil. Este segmento é responsável por 60% da produção de alguns produtos básicos da dieta do brasileiro como o feijão, arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais. Em geral, são agricultores com baixo nível de escolaridade e diversificam os produtos cultivados para diluir custos, aumentar a renda e aproveitar as oportunidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão-de-obra (PORTUGAL, 2004).

Os produtores e seus familiares são responsáveis por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nas pequenas cidades. A melhoria de renda deste segmento por meio de sua maior inserção no mercado tem impacto importante no interior do país e por consequência nas grandes metrópoles. Esta inserção no mercado ou no processo de desenvolvimento depende de tecnologia e condições político-institucionais, representadas por acesso a crédito, informações organizadas, canais de comercialização, transporte, energia, etc. Este conjunto de fatores normalmente tem sido a principal limitante do desenvolvimento (PORTUGAL, 2004).

O “agronegócio moderno” é caracterizado pela agricultura mecanizada de alta produtividade, na qual um trabalhador produz o equivalente a 500 toneladas de cereais, em

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contrapartida a uma tonelada produzida por trabalhador na agricultura manual (MAZOYER; ROUDART, 1997 citados por LEROY, 2002). Entretanto, os números frios sobre a produtividade desconsideram outros fatores importantes como o “balanço energético” nos dois tipos de produção. A produção intensiva de grãos, por exemplo, consome enorme quantidade de água e energia, concentra terra e renda, faz uso de fertilizantes e agrotóxicos em larga escala provocando impactos ambientais, com a destruição do ambiente natural e não contribui para resolver o problema da fome que dizima e adoece a população. A agricultura familiar e as alternativas da agricultura orgânica, ambientalmente sustentável permanecem à margem das políticas públicas efetivas do ponto de vista socioambiental e econômico. Assim, pode-se dizer que o trabalho rural no Brasil apresenta paradoxos que terão que ser enfrentados e resolvidos, com a participação da sociedade e traduzidas em políticas públicas abrangentes para que melhores condições de vida e de trabalho sejam refletidas na saúde das populações envolvidas direta ou indiretamente na produção e no consumo dos produtos e alimentos e na conservação ambiental (DIAS et al, 2006).

De acordo com Carneiro (apud MOREIRA, 2007) o grupo familiar é tido como um ator social do processo de desenvolvimento econômico, permitindo que se construa diferentes atuações locais que acabam se processando em transformações nas próprias estruturas no qual fazem parte.

[...] eleger a unidade familiar ou o grupo doméstico, como unidade de observação revela-se um procedimento fundamental para a compreensão das transformações recentes no campo brasileiro, onde o aumento das atividades não-agrícolas, articuladas ou não à agricultura, exige um maior grau de complexidade (CARNEIRO citado por MOREIRA, 2007, p.64).

Em decorrência das inúmeras transformações políticas, econômicas e culturais, encontram-se diferentes grupos de produtores os quais devem ser identificados, não só ao nível de zonas geográficas, mas principalmente, ao nível de propriedades agrícolas, caracterizando as diversas formas de agricultura familiar (MONTEIRO, 2004).

Conforme Moreira, a modernização tecnológica não se verifica de forma homogênea “a modernização é lenta em algumas regiões e culturas, é rápida em outras” (1999, p.122) dessa forma as características que permeiam a agricultura familiar tornam-se fundamentalmente desiguais, entre os grupos homogêneos. A formação dos grupos homogêneos na constituição da organização de produção familiar exige a interação dos aspectos históricos, culturais, sociais, econômicos, políticos e geográficos na análise da definição da agricultura familiar, em uma determinada região e época.

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No Brasil atual existe um interesse cada vez mais urgente em relação à agricultura familiar. Embora muitas vezes uma definição rigorosa e única sobre a conceituação da agricultura familiar pareça confusa, há uma certa unificação da idéia que o agricultor familiar é toda aquela pessoa que vive no meio rural e trabalha em conjunto com sua família. Como definição pelo senso comum, o agricultor familiar possui inúmeras formas de fazer agricultura, sendo possível encontrar também uma diversidade enorme de trabalhadores na agricultura familiar, ou ainda, camponês, pequeno produtor, lavrador, agricultor de subsistência, agricultor familiar (SCHNEIDER; NIDERLE, 2013).

(...) a agricultura familiar brasileira cumpre múltiplas funções para a sociedade, indo muito além e da mera produção primária. O reconhecimento da multifuncionalidade da agricultura familiar pode significar que seu tratamento não pode ser unicamente comercial, ou de mercado. A agricultura familiar provê um conjunto de serviços e bens públicos, tangíveis e intangíveis, de elevado valor para a sociedade em geral. Os meros instrumentos de mercado não são suficientes para dar conta da complexidade do desenvolvimento da agricultura familiar em seus diversos aspectos. (...). Este reconhecimento das funções múltiplas da agricultura familiar pode implicar em transformações nas políticas públicas domésticas e nos posicionamentos do governo em negociações internacionais (SOARES, 2001, p.47).

Antes de 1990, a referência de agricultura familiar era quase inexistente, como termos usados na época, podia-se qualificar como produtores de pequeno porte, de baixa renda ou de subsistência. Em resposta a lutas de movimentos sindicais por crédito, melhoria de preços e formas de comercialização, foi surgindo o conceito atual de agricultura familiar.

Atualmente, a agricultura familiar esta inserida de forma efetiva e legitima no cenário nacional, tornando-se uma importante frente de trabalho alavancando o desenvolvimento regional (SCHNEIDER; NIDERLE, 2013). Segundo o Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2009), dos mais de cinco milhões de estabelecimentos agropecuários, 47% deles possuem área de até dez hectares. Ou seja, quase a metade das propriedades rurais é composta de pequenos produtores e ocupa menos de 3% de área. Inversamente, os maiores estabelecimentos, com áreas iguais ou maiores do que 1.000 hectares, representam cerca de 1% das propriedades e ocupam uma área de 43% do total de estabelecimentos. Quando considerada a condição do produtor em relação às terras, 23% dos estabelecimentos não são de propriedade dos produtores. Cerca de 29,9 milhões de pessoas residem em localidades rurais, em aproximadamente 8,1milhões de domicílios (BRASIL, 2012a).

Compreende-se por agricultura familiar o plantio da terra realizado por pequenos proprietários rurais, fazendo uso como mão-de-obra fundamentalmente familiar, contrapondo

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a agricultura patronal - que faz uso de trabalhadores contratados, fixos ou temporários, em propriedades médias ou grandes.

De acordo com Wanderley: “a agricultura familiar não é uma categoria social recente, nem a ela corresponde uma categoria analítica nova na sociologia rural. No entanto, sua utilização, com o significado e abrangência que lhe tem sido atribuído nos últimos anos, no Brasil, assume ares de novidade e renovação” (2001, p. 21). No Brasil, a agricultura familiar foi definida na Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006.

Mesmo assim, não se pode afirmar que este segmento tenha sido reconhecido como preferência pelos governos, haja vista que a agricultura patronal tem centralizado, nos últimos anos, mais de 70% o crédito investido e disponibilizado para financiar a agricultura nacional. Ainda, há hoje dois projetos em batalha para o campo no Brasil (ABROMOVAY, 1992). O primeiro é um enfoque setorial, cuja inquietação central está no alargamento da produção e da produtividade agropecuária, na inclusão de tecnologia e na concorrência do chamado agribusiness. Este enfoque se articula em torno dos interesses empresariais dos inúmeros segmentos que compõem o agronegócio e está claramente representado no Ministério da Agricultura. Para contrapor essa primeira ideia, surge o segundo enfoque que prioriza os aspectos sociais e ambientais do processo de desenvolvimento, de acordo com o que vem se designando a sustentabilidade do desenvolvimento rural, que busca equilibrar as diversas vertentes, econômica, social e ambiental do desenvolvimento.

No começo da década de 1990, ocorreram reformas neoliberais na estrutura governamental. Assim, o fato de o Estado ter sua ação diminuída passou a significar uma restrição à capacidade de atuar na direção do desenvolvimento do País. “As regras do mercado privilegiaram mais os abastados e aumentaram os problemas sociais” (ALTAFIN, 2003, p.98). Por outro lado, houve aproximação do poder público com os problemas dos agricultores familiares. Há alguns fatores que contribuíram para essa aproximação das políticas publicas. Altafin (2003) destaca fortalecimento do movimento sindical dos trabalhadores rurais após o fim do regime militar em 1985, bem como a busca por um reordenamento do Estado com foco no neoliberalismo após a decadência do Estado do Bem-Estar. Sendo que “o agravamento das desigualdades sociais e o aumento das preocupações ambientais no País e no mundo foram relevantes para a ascensão dos movimentos sociais do campo” (BRASIL, 2004, p.134).

Com o aumento do interesse pela agricultura familiar no Brasil, na década de 90, surgiu algumas políticas públicas, como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento

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da Agricultura Familiar) e na criação do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), além do renascimento da Reforma Agrária. A formulação das políticas partidárias à agricultura familiar e à Reforma Agrária respondeu, às reivindicações das organizações de trabalhadores rurais e à força dos movimentos sociais instituídos, mas está baseada também em novos conceitos desenvolvidos pela comunidade de pesquisa brasileira e apoiada em modelos de entendimento de agências multilaterais, como a FAO, o IICA e o Banco Mundial (OLALDE apud VASCONCELOS, 2012).

Se realizarmos uma média do tamanho das propriedades familiares e não familiares, teríamos, respectivamente, 18,37 e 309,18 de hectares. Ou seja, é um abismo muito grande entre minifúndio e latifúndio. Outro dado interessante é que dos 80,25 milhões de hectares de área da agricultura familiar, 45,0% destinavam-se às pastagens; 28,0% eram compostos de matas, florestas ou sistemas agroflorestais; e 22% de lavouras. Segundo o IBGE, a agricultura familiar é responsável por grande parte da produção de alimentos no país (TRICHES, 2011).

Mesmo assim, não se pode afirmar que este segmento tenha sido reconhecido como preferência pelos governos, haja vista que a agricultura patronal tem centralizado, nos últimos anos, mais de 70% o crédito investido e disponibilizado para financiar a agricultura nacional. Pelo Censo 2006 do IBGE, a agricultura familiar do Brasil conta com 4,368 dos 5,175 milhões de estabelecimentos, ocupa 12,32 dos 16,57 milhões de pessoas, responde por 54,37 dos 143,32 bilhões de reais do valor produzido (38%) e utiliza apenas 80,25 dos 329,94 milhões de ha de terras (24%).

Outro exemplo, cita-se o plano de safra 2011/2012, em que R$ 107 bilhões foram destinados à agricultura empresarial enquanto que apenas R$ 16 bilhões foram destinados aos produtores familiares. Apesar disso, a agricultura familiar gera, em média, 38% da receita dos estabelecimentos agropecuários do país e emprega aproximadamente 74% dos trabalhadores agropecuários do país. A agricultura familiar toma cerca de 10% do crédito oficial e conta com terras qualitativamente marginais, dados estes que por si só impressionam, e muito. Ou seja, com menos e piores terras, a agricultura familiar toma uma fração menor do crédito, ocupa uma proporção maior do pessoal e, mesmo assim, responde por uma fração maior do valor produzido. Os críticos dizem que o nível de renda dessas pessoas ocupadas é menor do que em outros modos de produção, e é verdade, mas não significa que não possa ser igualado, desde que em condições equiparadas. Mas no mundo do terceiro milênio é mais difícil, estratégico, importante e urgente alocar pessoal com intuito de distribuir renda, e com ela gerar consumo, do que expandir produção, que é mais fácil (TESTA, 2010).

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