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4. POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO IFPI: trajetória institucional e

4.3 Dificuldades enfrentadas pelos estudantes no percurso acadêmico

4.3.7 O alcance dos objetivos da POLAE

A maioria das dificuldades acima apontadas se relaciona de alguma maneira ao escopo de atuação da POLAE. Contudo, ao pensar sobre o seu principal objetivo, a prevenção à evasão e reprovação, o Técnico I pontua algumas medidas que poderiam ser tomadas:

O que eu vou falar pode parecer utópico, mas o que eu percebi, infelizmente, é que o estudante vai evadir mesmo com o benefício. Ele vai repetir mesmo com o benefício. Porque a nossa escola é situada numa região que não é estratégica, em nossa escola falta infraestrutura. Então eu poderia estar elencando aí os pontos que eu vejo como pontos positivos para estar enfrentando a evasão e repetência que seriam: outras atividades que não fossem somente sala de aula, como esporte, cultura, que nós não temos, ampliação da biblioteca, ampliação do refeitório, outras atividades de pesquisa e extensão que pudessem estar sendo também realizadas por esse alunado e mais envolvimento da própria Comissão de Assistência Estudantil, no sentido da gente pensar junto: “E agora, o que que nós vamos fazer? Nós temos xis alunos repetentes, esse número é crescente. O que nós vamos fazer?” Nesse sentido de nós nos reunirmos, de ações pontuais, eu vou dizer assim. Mas nosso campus tem bastante deficiências que vão convidar ao aluno a fazer esse descaminho da educação. Então por isso eu lhe digo: o sucesso escolar do nosso estudante do Instituto Federal não está intimamente atrelado ao repasse de benefício (Técnico I).

Estas colocações revelam os limites do alcance das ações da POLAE exatamente devido aos problemas vivenciados pelo Campus, já destacados pelos estudantes, como a insuficiência do refeitório, a ausência de transporte de qualidade e, ainda, de atividades esportivas e culturais. Sobre esta última, alguns sujeitos destacam a importância da realização de eventos e projetos extraclasse como medidas que visam fomentar a permanência dos estudantes na instituição, como revela a fala do Estudante I.

Pra contribuir, eu digo que o IFPI na Praça ajuda bastante, porque é uma coisa atrativa pra qualquer aluno. Pra mim é extremamente atrativo, porque eu me sinto disposto e desafiado de ter um planejamento de um projeto, onde eu vou precisar da ajuda de outras pessoas... a feira de ciências, até mesmo o halloween como teve agora, é um meio atrativo de não ter essa evasão. [...] A gente precisa mais de projetos que envolvam todo mundo. Até um campeonato poliesportivo aqui do colégio... (Estudante I).

Nessa mesma direção, o Professor III ressaltou a necessidade de atividades esportivas, culturais e de lazer, conforme relato abaixo.

Eu acho que aqui no campus falta muito espaço de lazer. Eu acho que os alunos, quando estão em horário vago, fazem uma bolinha de papel, ficam jogando um para o outro no meio do tempo ali... Eu acho isso... Poxa! Devia ter mesa de pingue- pongue... xadrez até que tem, mas sei lá, outras coisas, outras atividades para os alunos interagirem... Eu acho que falta isso. E também de incentivar mais a parte cultural aqui no Instituto. Eu acho que a iniciativa da banda que foi criada aqui, a banda de música, que eu acho que acabou porque os instrumentos eram dos próprios alunos. Eu acho que a banda de música era uma coisa que devia ter aqui. Assim de uma maneira que o aluno ocupasse melhor o tempo que ele passa aqui, já que está passando o dia todo agora, integral. Passa melhor o tempo, não ficar assim ocioso. Poderia ser melhor... a própria questão da quadra... Eu acho que poderia ser melhor. Se você prestar atenção, até espaço pra sentar... Tem os bancos aqui, mas não... são insuficientes. Você vê que ali naquela área de entrada tem um jardinzinho, mas nessas outras aqui não tem, deveria ter também. [...] São desleixos, coisas que você nota que... outras coisas que... O aluno se sente mais valorizado quando ele está em um lugar mais bonito, um lugar mais aconchegante. Ele se sente bem, até o professor mesmo se sente bem (Professor III).

O relato do Professor III ressalta a importância de atividades que motivem os estudantes a permanecerem na instituição, além das aulas. Assim, a permanência pode ser entendida como um fator também simbólico, subjetivo, que envolve o sentimento de pertencimento dos estudantes ao contexto institucional. Tratando-se do objetivo da POLAE de prevenir a evasão e retenção, o Técnico I posicionou-se da seguinte forma.

A forma como ela está lá posta no texto é tudo muito lindo. Como estou falando, se ela precisa lá na frente ser implementada, a gente vai saber isso no cotidiano. Quando a gente vai pra prática, quando a gente vai se debruçar em cima da realidade do nosso estudante, na realidade do nosso campus, a gente percebe que as ações previstas lá na Política deixam de ter eficácia, eficiência lá na ponta, lá no nosso campus, porque a gente vai se deparar com problemas estruturais. A forma que ela é posta, pra mim, tá oquei. Tá tudo oquei quando a gente consegue visualizar os objetivos, a finalidade, quando a gente consegue dizer para o estudante para quem veio a assistência estudantil: “É pra você estudante”. E aí ele também nos dá esse retorno, quando ele consegue ser sujeito de direitos, quando ele consegue se perceber enquanto sujeito de direitos. Porém a gente se depara com problemas estruturais no nosso campus e aí a gente não consegue dar plena efetividade na nossa Política. Eu percebo isso (Técnico I).

Sendo favorável aos preceitos da POLAE, o entrevistado acima acredita que o enfrentamento da evasão e reprovação por meio da POLAE encontra limites no âmbito da execução que esbarra em problemas estruturais do próprio campus, o que compromete sua eficácia e eficiência. Portanto, o maior problema identificado na implementação não está atrelado propriamente à forma como as ações da POLAE são desenvolvidas, mas a questões que não se vinculam a estas e precisam ser resolvidas em nível de gestão institucional. Por outro lado, o Técnico II ressalta a seguir.

Elas contribuem. Elas podem não ser decisivas, até porque como a gente sabe não é uma relação simples de causa e efeito, linear. Existem inúmeras variáveis. Na questão do aluno que reprova, por exemplo, não necessariamente porque faltou o dinheiro da POLAE. Então pode ter sido um outro evento que venha... Ou então ele está totalmente assistido, mas vai reprovar. Então é muito relativo... a gente direcionar, dizer que sim ou que não, porque não é um fator único. Então assim, eu acredito que ela agrega. Contribui. Provavelmente não é única e exclusivamente ela. Contribuir ela contribui. Eu também não posso dizer que ela não contribui, porque estaria desmerecendo essa ideia e esse favorecimento. Se for realizado como prevê, como está sendo previsto... se de fato vir a acontecer como ela se propõe a acontecer, contribui sim. Então eu acho que ela tem que ser realmente mais fomentada, ela tem que ser mais alimentada, as modificações necessárias que forem acontecendo com as avaliações, melhoramento dessas ações (Técnico II).

O entrevistado acredita que a POLAE contribui para a permanência e êxito acadêmico, porém não é o fator exclusivo para o alcance de bons resultados institucionais, posto que as causas da evasão e reprovação são de natureza variada, que nem sempre a POLAE vai ser

capaz de alcançar. Para que esta possa contribuir efetivamente deve ainda ser melhorada a partir de sua avaliação no processo de implementação.

Quanto às ações da POLAE destinadas à prevenção da evasão, tem-se o seguinte posicionamento de um professor:

Bom... além da questão das bolsas, de avaliar o aluno que precisa, aquele aluno que tem vulnerabilidade pra sair... tem que fazer também o acompanhamento de evasões, verificar o porquê que aquele aluno desistiu, fazer acompanhamento mais de perto. [...] Outra sugestão que eu dou com relação à POLAE é a questão da época das seleções. Porque às vezes o edital começa bem depois que as aulas já começaram. Talvez seria interessante bem logo no início. Começou as aulas, já publicar. Porque se esse aluno está mesmo com dificuldade de transporte... depois de dois, três meses de aula... ele já está desistente. Está com dificuldade, talvez nem consiga esperar tanto. Não que a POLAE seja obrigatória. O aluno entrou aqui, o curso já é gratuito, não quer dizer que ele tenha obrigatoriamente que receber bolsa. Mas já que tem a bolsa, eu acho que seria interessante oferecer logo no início das aulas (Professor II).

Para este, além de garantir atendimento aos vulneráveis socialmente, a POLAE deve acompanhar os casos de evasão a fim de identificar seus fatores motivacionais. Além disso, julga ser importante o atendimento dos estudantes através do benefício assistencial em tempo hábil, ou seja, antes que a evasão ocorra, embora este aspecto seja sutilmente questionado quanto a sua obrigatoriedade, o que não anula sua legitimidade, abordada anteriormente na análise da concepção dos sujeitos sobre assistência estudantil. A avaliação do Técnico III é destacada abaixo.

Eu acredito que nem sempre, porque não é suficiente, é pouco, apesar da Política ser muito bonita, está se tornando ineficaz pela falta de recursos. A abrangência dela está ficando pequena, não é suficiente. Eu acredito que, uma coisa que deveria ter nesses Institutos, realmente deveria ter o ônibus para pegar o aluno na casa dele. [...] Então eu acredito que nem sempre a Política contribui para permanência e êxito. Nem sempre. Ela contribui às vezes? Ela contribui, mas ela não é fundamental. Mesmo que o aluno... como a assistente social viu lá no início do ano... o fato do aluno ter bolsa ou não aparentemente não interferiu tanto na aprovação ou reprovação dele, ou mesmo na permanência dele, porque essa bolsa às vezes ele gasta todinha... sendo que ele estudando em uma escola mais próxima da casa dele, talvez ele não tivesse tanto gasto e tivesse mais facilidade de passar, porque seriam menos disciplinas. Então ele está aqui não porque tem o almoço ou porque tem uma bolsa de cem ou duzentos reais. Ele está aqui pelo ensino de qualidade. E tem aí esses outros entraves, da distância e da grande quantidade de disciplinas (Técnico III).

Para o mesmo, as ações de assistência estudantil tornam-se ineficientes devido à ausência de recursos, especialmente quanto à problemática relativa ao transporte dos estudantes. Ainda afirma que, diante das dificuldades impostas para os estudantes pelo contexto do IFPI, nem sempre o repasse de benefício é suficiente para que o beneficiário permaneça e logre êxito.

Como tratado anteriormente, a POLAE, compreendida de forma restrita à noção de benefício, atua na prevenção à evasão no sentido de atender certas demandas estudantis por decorrência da insuficiência financeira, porém, não atende a todas as demandas a contento. Esta questão é central para compreender os limites de sua eficácia. Nessa mesma linha de raciocínio, observa-se a fala do seguinte entrevistado:

A POLAE ajuda os estudantes na parte financeira aqui na escola, mas fazer com que o aluno fique por causa da bolsa, eu não saberia responder... Acho que depende do aluno... dependendo do que ele achar... tipo se ele está conseguindo se dedicar na escola, está gostando e a bolsa está ajudando, eu acho que ele permaneceria de boa. Mas o outro que está achando: “Ah, só estou recebendo o dinheiro aqui então vou continuar porque é dinheiro né”... então não dá certo (Estudante VI).

Além da eficácia limitada pelo restrito alcance das demandas estudantis, visualizadas nas dificuldades enfrentadas pelos estudantes no percurso acadêmico, uma incongruência é identificada quanto à ideia disseminada abertamente de que a permanência do estudante na instituição depende, precipuamente, do empenho deste, devido o viés meritocrático prevalecente no contexto institucional. Assim, as ações de assistência estudantil, deficitárias e com alcance restrito, não são decisivas para a garantia de permanência e êxito educacional, na visão dos sujeitos envolvidos na implementação da POLAE.

Além da concepção dos sujeitos sobre a POLAE, outro elemento importante da avaliação da Política, na perspectiva aqui trabalhada, é a forma como esses sujeitos se envolvem na implementação das ações. Este é o assunto discutido no próximo item.