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4. POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO IFPI: trajetória institucional e

4.4 Envolvimento dos sujeitos na implementação

4.4.2 Envolvimento dos estudantes

Os estudantes, obviamente, são o público alvo das ações da POLAE, portanto, vale identificar o grau de participação dos mesmos no processo de implementação. Os sujeitos entrevistados assim avaliam.

A participação dos estudantes tem sido tímida, porque, agora mesmo, um calendário bastante, eu vou usar esse termo, espremido ainda em decorrência das greves passadas, a gente tem sofrido bastante porque a gente precisava ouvi-los na avaliação e nós não conseguimos de jeito nenhum fazer essa avaliação com os estudantes. [...] A avaliação da Política de Assistência Estudantil onde a gente escuta os estudantes, é feito um formulário, eu dialoguei com o pessoal da TI e a gente ia fazer aplicação de questionário isso lá nos laboratórios, mais eficiente, mais rápida. O questionário já montado pela Pró-Reitoria, a gente ia fazer online através de uma experiência lá do Campus Piripiri, eu acredito que tenha sido exitosa, que a gente quis trazer pra cá pro Campus Parnaíba. Infelizmente, por uma questão de tempo mesmo nós não conseguimos fazê-lo ainda, fazer essa avaliação. Por isso que eu lhe digo que os estudantes ainda... a participação é bastante tímida. Eles têm conhecimento da assistência estudantil, eles têm, mas eles associam a assistência estudantil somente ao benefício, eu percebo isso. Embora quando a gente vai lançar os editais, a gente faz essa orientação do que venham a ser as ações de assistência estudantil, a gente faz toda uma orientação mesmo, mas eu acredito que eles ainda direcionam a assistência estudantil ao repasse. Eles não conseguem visualizar que a assistência estudantil está lá no setor de saúde, que está na coordenação pedagógica, que está no refeitório, na biblioteca. Eu acredito que eles não têm essa percepção. [...] Nós não fizemos nada de ações voltadas, por exemplo, um fórum estudantil não foi feito. A própria avaliação, ainda tem esse ponto pra gente avaliar, pra gente ouvir esses estudantes (Técnico I).

O Técnico I expõe que o envolvimento dos estudantes na POLAE não implica em participação efetiva, pois não são promovidas ações que visem de fato fomentar essa participação. Nesse sentido, não foram ainda aplicados com os estudantes os questionários de avaliação da Política, nem tampouco realizado o Fórum Estudantil, previstos pela POLAE. Afirma ainda que o conhecimento dos estudantes acerca da POLAE, em sua perspectiva, está

direcionado à associação de assistência estudantil a benefício assistencial. A opinião do Técnico II é a seguinte.

Eles participam sendo beneficiários. É como eu consigo ver. Sendo beneficiários tanto da parte financeira como das ações implementadas. Então é dessa forma que os estudantes participam. Eles também não fazem parte da Comissão. Então eles participam das ações realmente sendo os usuários das ações. É essa forma que eu consigo ver. Não consigo ver... enquanto tomada de decisão por eles, por exemplo, os alunos participando (Técnico II).

É nítida na fala do entrevistado a percepção de que os estudantes se envolvem na implementação da assistência estudantil somente como beneficiários, receptores das ações, mas não como participantes do processo decisório. O Técnico III também se manifesta sobre o assunto.

Eu acho que muitos desconhecem, eu acho que da mesma forma que tem o manual do aluno falando sobre a organização didática, o aluno recebe no início do ano: “Está aqui o manual da Organização Didática”... ele deveria também receber um pequeno manual da política estudantil, eu acredito que seria positivo ficar ali ao alcance dele (Técnico III).

Para este, o conhecimento dos estudantes sobre a POLAE é superficial e poderia ser maior com a distribuição de um manual, uma cartilha sobre o assunto. O pouco conhecimento sobre a POLAE entre os estudantes é confirmado por outro entrevistado.

[...] é muito pouco o conhecimento... às vezes a maioria só fala mesmo assim só em receber o dinheiro, porque eu vejo muito até com alguns colegas meus que usam o dinheiro mais pra futilidade... Mas o conhecimento de todos os alunos é muito pouco mesmo, porque a gente participa de poucas reuniões falando sobre... sobre a POLAE e isso às vezes até prejudica a gente, porque a gente não tem uma consciência em si do que é a POLAE. [...] muitos não buscam isso, se envolver com a POLAE. Digamos que só fazem... buscam muito... buscam seus documentos, fazem sua inscrição, esperam pra ver o resultado e depois disso só ficam naquela... eu estou recebendo, estou de boa... tipo assim, relaxam, não se... não procuram saber melhor o que está acontecendo, o que pode prejudicar ele ou não... às vezes a falta, o atraso do dinheiro dele... as pessoas só se irritam, não procuram saber o porquê que está faltando, não procuram saber o motivo daquele benefício estar atrasado (Estudante I).

A despeito da falta de conhecimento sobre a POLAE entre os estudantes, segundo a opinião de alguns, um dos entrevistados relata que há uma participação dos mesmos da seguinte forma.

Eu falo assim até da minha turma... a maioria da minha turma recebe o benefício e a maioria também já entrou em contato com o serviço social, já entrou em contato com a psicóloga. [...] Eu já fiz vários horários de estudo e eu acredito que pra gente não é só o benefício, não é só a bolsa em si, mas também a ajuda... no sentido de preocupação de estar preocupado que a gente consiga aprender direito, que a gente consiga ser uma pessoa melhor... Tem gente que... eu conheço outras pessoas que

são preocupadas mesmo só em receber a bolsa. Às vezes até mente em alguma documentação, mesmo sendo tanto documento, ainda tem gente que ainda consegue. Já tem aluno que não se esforça tanto pra... porque às vezes reprova... também às vezes tem uma dificuldade e não procura ajuda do psicólogo e outros. [...] Eu acho que eles participam sim, mas eu acho que a gente ainda participa pouco. Porque nós alunos, como a gente é integrado ao médio, a gente acaba tendo muitas matérias, muitos trabalho, muitos deveres e a gente acaba só participando em si quando tem alguma dinâmica, tipo uma que teve que a gente fez cartazes, que a gente trabalhou. Eu acho que se a gente buscasse mais trabalhos como esse de fazer cartaz, de fazer mais pergunta sobre a assistência... eu acho que a gente poderia estar mais próximo. A gente às vezes vê esse afastamento (Estudante VIII).

Para este, os estudantes beneficiários não se envolvem somente como receptores do benefício em si, mas recebendo assistência no tocante ao suporte ao ensino, através dos atendimentos psicossociais. Também ressalta que foram realizadas reuniões como atividade educativa com os estudantes visando o conhecimento dos mesmos sobre a assistência estudantil e fomento a sua participação, mas que deveria ser feito com mais frequência. A fala de outro estudante já diverge um pouco dessa percepção.

Acho que fazem pouco uso dos recursos que a POLAE dá. Por exemplo, a psicóloga, é difícil um aluno procurar a psicóloga... o Refeitório, faz uso direto, porque é a necessidade básica, vai ficar na escola, vai usar o refeitório, mas poucos até sabem que o refeitório faz parte da POLAE e que era cobrado pra gente, mas depois não foi mais cobrado por causa da ação e tal... Eu acho que tem que tirar essa coisa de que é o governo está me dando dinheiro pra eu estudar, entendeu? Não é... tem que explicar pra esse pessoal que a POLAE não é só isso e incentivar a usar mais o que a POLAE te oferece, como psicólogo... psicólogo é uma coisa que, acho que poucas pessoas podem pagar um psicólogo... e lá tem e não é procurado! Eu acho que deviam, é isso, o incentivo com as reuniões, mostrando o que é a POLAE, que não é só isso, que é o psicólogo, é o refeitório... que eles podem usar: “Olha, o psicólogo está aqui pra ajudar vocês, podem usar”... E também fazer bom uso do dinheiro da POLAE. Eu acho que isso também é importante... mostrar regras de bom uso do dinheiro (Estudante II).

A percepção do Estudante II, portanto, é de que os demais estudantes fazem pouco uso dos serviços da POLAE, especialmente do atendimento psicológico, o que precisa ser fomentado através de reuniões e orientações. Este ainda acredita que os beneficiários entendem a POLAE como mero repasse financeiro, o que já foi discutido e constatado que é a concepção que prevalece na instituição. Nesse sentido, a lógica do ajuste que se sobrepõe à democrática, repercute de maneira particular em políticas sociais compensatórios, posto que se instituem formas degradantes de inclusão, pela via do consumo (CARVALHO, 2008). Esse aspecto é um efeito da assistência estudantil quando assume o viés de repasse financeiro, o que, entendido como distribuição de renda e acesso a bens de consumo, restringe a percepção de assistência estudantil e desconfigura a participação política dos sujeitos. O envolvimento dos estudantes é reduzido ao de receptores das ações e responsáveis pelo cumprimento de

condicionalidades no tocante ao empenho nos estudos e busca de estratégias de apoio à aprendizagem, em sintonia com o teor das políticas sociais focalizadas.

O envolvimento de professores na implementação da POLAE é o que se aborda no próximo item.