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4. POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO IFPI: trajetória institucional e

4.4 Envolvimento dos sujeitos na implementação

4.4.3 Envolvimento dos professores

O envolvimento dos professores na implementação da POLAE é ainda mais distante, posto que não são executores, nem beneficiários. Porém, deseja-se destacar aqui a importância desse envolvimento já que estão em sala de aula lidando com o processo educacional diretamente. Esses sujeitos precisam ser considerados, portanto, como partícipes do processo que legitima as ações de assistência estudantil. Na prática, em um único momento os professores se voltam para as ações da POLAE, no tocante ao uso de seus recursos, conforme relato.

Esse recurso da assistência estudantil eu só uso em visitas técnicas, somente... É o único momento que eu vejo o uso mesmo em relação ao curso. Porque realmente tem o refeitório, tem a questão do transporte, mas o uso mesmo que eu vejo desse recurso da POLAE, enquanto professor, que eu faço a solicitação e que eu utilizo esse recurso é através de visitas técnicas (Professor IV).

Os professores se reportam aos recursos da POLAE quando necessitam realizar visitas técnicas com os estudantes e, então, apresentam um projeto à Direção para que tal atividade seja custeada. A partir do deferimento do projeto, os estudantes passam a receber um auxílio financeiro, previsto pela POLAE, para custear a alimentação durante a viagem programada e acompanhada pelo professor. Também é disponibilizado o ônibus do campus, o qual é utilizado somente para esse fim. De outra maneira não há atuação de professores na execução da POLAE, porém isso poderia ser diferente, na visão do entrevistado a seguir.

Olha, com relação a andamento de ações, eu acho que sim. Se fosse deixado assim, esclarecido assim como é que eu posso interferir ali pra poder pegar... Por exemplo, eu me lembro que uma vez, não sei se foi em 2009, chegaram pra mim e disseram: “professor, tem um dinheiro aí que vai voltar”... e eu criei ali um curso de montagem e manutenção, peguei uns alunos do PROEJA e nós fizemos uma turma... quer dizer, a gente em conjunto fez o projeto, fez o curso, ficou muito legal, foi muito bom. Então o professor fica muito na dele, mas quando ele é convocado assim a alguma coisa, às vezes tem muita ideia e... tem isso... (Professor III).

Para o mesmo, os professores precisam ser convocados a participar e de repente poderiam contribuir em ações como a realização de projetos de extensão, que também estão previstos pela POLAE. Então, é limitada a atuação de professores na implementação da POLAE, pois nem todas as ações previstas por esta são desenvolvidas, reduzindo-se ao repasse financeiro a estudantes em vulnerabilidade. Outro aspecto que emerge da fala dos entrevistados relaciona-se à atividade de acompanhamento aos estudantes com dificuldades de permanência, o que é explicitado como atribuição das comissões dos campi.

[...] uma pessoa com problema familiar muito grave, que tem muita gente assim aqui na instituição, muitos alunos assim e que só vão dizer lá no Conselho, lá no final, lá no último Conselho quando é pra reprovar o aluno: “Não, esse aluno aí a mãe brigou com o pai, o pai batia na mãe... não, o aluno tal fugiu de casa, alguma coisa do tipo”. Eu acho isso daí muita falta de comunicação pra chegar no final, no último Conselho e tentar buscar no coração do professor que ele amenize quanto à reprovação. Eu acho que a gente devia ter essa conversa, nem que seja bimestral. Mesmo que seja semestral... eu acho que menos: bimestral. Ou então quando os alunos entrassem, que chegassem até a POLAE, começassem a receber aquele recurso, que a POLAE com certeza vai entender a situação social dele, vai dizer que ele vai receber tanto, ou outro, que ela repassasse aqueles casos pelo menos os mais graves... pelo menos aqueles que a gente acha que é o que vai dar mesmo problema... porque a gente como professor fica muito técnico na parte de ministrar aula (Professor IV).

Este professor destaca a ausência de comunicação entre equipe técnica e professores no tocante a situações que acometem os estudantes e os prejudicam no processo educacional. Para o mesmo, esse diálogo deve existir visando favorecer a permanência dos estudantes, dando suporte aos mesmos. Tal comunicação poderia, portanto, estimular ainda mais a contribuição dos professores e da equipe técnica. Esse envolvimento dos professores no acompanhamento aos casos propensos à evasão ou reprovação é também identificado como importante pelo Técnico I, como segue.

[...] Por isso que é importante a participação do professor, porque não tem como a gente saber se aquele aluno está com problema, se aquele aluno está com problema com os pais, se por exemplo, entrou na drogadição, ou faltou por outros motivos. Então não tem como a gente visualizar isso (Técnico I).

Na visão deste, o professor pode contribuir no sentido de encaminhar os estudantes com dificuldade para os atendimentos realizados pela equipe técnica, conforme identificado algum problema a partir da convivência em sala de aula. Dessa forma, entende-se que o acompanhamento ao estudante ainda é falho devido também essa falta de comunicação e diálogo entre equipe técnica e professores no sentido de contribuírem com o processo educacional dos estudantes, observando cada caso e dificuldades enfrentadas pelos mesmos.

Apesar do pouco conhecimento que os professores possuem sobre a assistência estudantil e o restrito envolvimento em sua implementação, podem ser importantes atores desse processo, sendo convocados à participação, assim como os estudantes. O envolvimento dos professores na implementação da POLAE é restrito diante da percepção dos sujeitos de que a assistência estudantil se resume a auxílio financeiro aos vulneráveis socialmente, ficando à margem outras ações pertinentes como projetos de extensão. Esse aspecto do envolvimento docente é também tensionado por causa da necessidade de acompanhamento aos estudantes suscetíveis à evasão e reprovação, trabalho que deve ser executado pela equipe técnica, mas onde cabe a contribuição dos professores.