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4. POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO IFPI: trajetória institucional e

4.1 O contexto do Campus Parnaíba do IFPI

4.2.1 Critérios de seleção

Quando questionados acerca dos critérios estabelecidos para que estudantes tenham acesso às ações da POLAE, os estudantes entrevistados foram unânimes em afirmar que devem existir tais critérios a fim de selecionar o público alvo, socioeconomicamente vulnerável. Destaca-se a opinião a seguir:

Sim, concordo com os critérios. Principalmente da POLAE, que realmente todos nós precisamos, mas tem aqueles que precisam mais ainda. Então eu acredito que a POLAE realmente vai atrás daquele que realmente precisa, não que os outros não precisem, aqueles que não foram selecionados, mas eu acredito que com aquelas perguntas com os questionários que fazem, realmente veem aquele que realmente necessita mais (Estudante VII).

O Estudante VII evidenciou que os critérios servem para selecionar os que mais precisam, dentre o conjunto dos estudantes que, no geral, se enquadrariam no perfil. Este aspecto se relaciona à seletividade do Programa, em meio ao contexto de sua implementação, percepção que encontra sustentação na discussão abordada anteriormente sobre a seletividade do PNAES no IFPI, conforme Oliveira e Passos (2014). Outro ponto foi evidenciado pela maioria dos entrevistados, como se destaca a seguir.

Concordo. O pouco que eu lembro dos critérios, eu concordo. Eu tenho certeza que se eu lesse os critérios completos de novo eu concordaria com a maioria das pautas. Eu acho muito válido, porque é uma ajuda extremamente eficiente para todos os alunos que estão recebendo agora no momento. Agora às vezes tem uma certa dificuldade porque há alunos que omitem informações sobre o que tem na casa deles e às vezes recebem esse benefício, sendo que tem outras pessoas que necessitariam muito mais do que aqueles alunos. Essa é uma dificuldade que a POLAE tem, porque nem sempre vai conseguir descobrir todos esses alunos e digamos que cortar esses alunos, porque um aluno que recebe, digamos que não precisa, está tirando de outro que precisa receber (Estudante I).

Para muitos dos entrevistados, como se observa na fala do Estudante I, é possível que um estudante burle o processo de seleção e seja incluído indevidamente, sem ter necessidade financeira, por isso justificam a importância dos critérios e de uma seleção rigorosa. Esse aspecto corresponde a um dos pontos críticos das políticas sociais focalizadas, do ponto de vista operacional, no sentido de que se refere ao problema da identificação correta das necessidades de cada grupo e definição dos destinatários das ações (PEREIRA; STEIN, 2010, p. 116). Para Pereira e Stein (2010, p. 116), tal questão remete a “vícios arcaicos e anacrônicos das políticas sociais focalizadas, como os constrangedores e vexatórios testes de

meios (comprovação compulsória da pobreza)” e “a fraudemania (mania de ver em cada

pobre que recorre à proteção social do Estado um fraudador)”. Como estratégia para solucionar tal problema, o Estudante VIII sugere:

Concordo. Eu acho que dá pra ver os alunos que mais... Eu acho que é assim, na papelada que vocês pegam ou na prova que tem pra monitoria, eu acho que está tudo oquei, mas eu acho que se a gente fizesse assim, mais reuniões a gente ia conseguir ver melhor, conhecer mais o aluno, entendeu? Porque a gente só vem aqui mesmo ou quando a gente quer falar de algum problema da gente ou então quando é pra fazer o cadastro. Quando a gente vai fazer o cadastro não tem muito tempo de conversar, porque é muito aluno. Aí eu acho que se tivesse alguma reunião, sei lá, por semestre, acho que é por semestre mesmo, todo mundo viesse, procurava assim sabe conversar mais sobre a assistência eu acho que seria um pouco melhor (Estudante VIII).

Para o Estudante VIII, seria interessante a ocorrência de reuniões frequentes da Comissão de Assistência Estudantil com os estudantes beneficiários, a fim de que, com maior

contato e proximidade, se promova um maior conhecimento sobre a realidade vivenciada pelos estudantes e sobre o papel da assistência estudantil. Outra sugestão foi apontada, como segue.

Concordo. Acho até que devia ter mais critérios. Seria uma análise até mais criteriosa. Por exemplo, no refeitório... quem chegar primeiro vai almoçar e quem chegar atrasado não vai almoçar. Então não tem nem critério pra pessoa receber esse benefício. Então deixa de ser um benefício. A monitoria... antigamente tinha prova pra entrar, pra poder você conseguir a vaga. Hoje em dia não tem mais. A nota que você tirou na disciplina, você tem que ter sido aprovado naquela disciplina que você está querendo ser monitor, aí a nota que você tirou vai ser a sua nota pra classificação. Então eu não vejo isso como um bom critério. Por exemplo, a gente está se formando pra ser professor. As monitorias poderiam exigir uma prova, uma aula. Seria selecionado o conteúdo daquele que a gente vai ser monitor, aí a gente poderia dar uma aula. É até uma forma de experiência, porque os concursos exigem isso [...] Então, os critérios, eu acredito que são bons, são bem colocados, os que tem, mas que ainda poderia ser bem mais rigoroso (Estudante X).

Na visão do Estudante X, portanto, os critérios para acesso às ações da POLAE precisam ser rigorosos, no sentido de possibilitar selecionar aqueles que correspondem ao perfil de cada ação, como os que mais necessitam, no caso dos benefícios assistenciais, mas também das demais ações, incluindo a monitoria e o refeitório.

Por uma insuficiência física e material do Refeitório do Campus Parnaíba em atender a todos os estudantes, vale destacar, as refeições oferecidas diariamente são limitadas, com prioridade para os estudantes do Ensino Médio Integrado ao Técnico, já que permanecem na instituição nos turnos manhã e tarde, devido à carga horária dos cursos. Esta situação foi apontada pelo Estudante X como um limite para o atendimento “universal” dessa ação da POLAE, ou seja, para que o refeitório atenda realmente a todos os estudantes, necessitando assim de critérios para a garantia do acesso ao mesmo por aqueles que mais precisam. A dificuldade em relação ao refeitório foi também apontada pelos estudantes como um fator que interfere nas condições de permanência na instituição, o que será tratado mais adiante. Ainda quanto aos critérios de seleção, um dos professores manifestou a opinião em destaque.

Eu vejo que é necessária. Alunos que realmente não tem condições às vezes até de se locomover pra cá... serem ajudados. Eu concordo com isso. Eu só assim, às vezes, eu não concordava naquele tempo... se ainda existir... essas turmas do PRONATEC ainda... em que os alunos eram pagos pra poder estudar. Teve uma época que o PROEJA também era pago pra estudar. Isso daí é que eu acho que não. Pagar... Eu era professor deles... no dia que atrasava uma semana, os alunos: “Ah, vou mais pra aula não, porque o dinheiro atrasou”. Eu ficava chateado. Na aula eu até falava pra eles: “Eu estudei minha vida inteira em escola pública, com dificuldade, nunca recebi nenhuma banda e hoje você tem sala com ar condicionado, cadeira confortável, ainda recebe pra estudar e no dia que atrasa você fica dizendo que não vai estudar... O prejudicado só vai ser você mesmo. Quer dizer que você só está aqui por causa do dinheiro”... Tive até um bate boca com os alunos uma vez sobre isso, que realmente eu não concordo é essa questão de dar o peixe. A gente tem é que

ensinar o cara a pescar. Está sendo muito de graça, entendeu? Agora no caso de aluno realmente comprovado pobre, que você ajuda ele a se locomover pra cá... aí eu concordo. [...] Com triagem sim. Claro... a assistência social acompanhando, vendo a questão da família, que não tem condição de manter, que é difícil de se locomover pra cá... eu concordo. Mas a pessoa às vezes tem dinheiro e fica recebendo... tira de um que não tem... (Professor III).

Esse entendimento expressa bem a visão de que são legítimos os critérios de seleção, importantes para garantir o atendimento dos estudantes em vulnerabilidade social através da assistência estudantil, especialmente quando se trata de repasse pecuniário diretamente para estudantes, o que não pode ser feito de forma indiscriminada e aleatória, descaracterizando-a. Entende-se, portanto, que a legitimidade do benefício assistencial da POLAE está fincada, sobretudo, na vulnerabilidade social, que decorre precipuamente da condição socioeconômica, um dos fatores atribuídos às causas de evasão, segundo a base conceitual do Programa. Nesse ponto especificamente, a percepção dos sujeitos alinha-se ao conteúdo do PNAES e da POLAE, fortalecendo o princípio da focalização por meio da seletividade, este último ligado “ao problema da identificação correta das necessidades” (PEREIRA; STEIN, 2010, p. 116).

Por outro lado, constatou-se que existe uma expectativa quanto à contrapartida dos beneficiários, o que é abordado na próxima seção.