• Nenhum resultado encontrado

2 A CORREÇÃO DO FLUXO ESCOLAR E SUAS IMPLICAÇÕES NOS

2.3 CORREÇÃO DE FLUXO ESCOLAR: UMA ANÁLISE SOBRE A REALIDADE

2.3.5 Algumas Considerações a partir da pesquisa

A motivação desta pesquisa se deu pelo fato de todos os alunos, oriundos da primeira etapa do Projeto Salto, terem sido reprovados no primeiro ano de Ensino Médio, e nenhum desses alunos ter conseguido concluir a Educação Básica no Ensino Regular. Não obstante, muitos dos os estudantes da segunda turma foram reprovados neste mesmo ano/série. Após as investigações, foi possível perceber que vários fatores relacionados a implementação do projeto colaboraram para a obtenção desses resultados.

Sabe-se que uma política educacional leva tempo para alcançar os objetivos propostos. Entretanto, para que essa política tenha os resultados almejados, é fundamental que as etapas estabelecidas pelo escopo do projeto sejam cumpridas, o que requer um monitoramento eficiente durante a sua implementação por parte do órgão executor. Durante esta pesquisa, foi possível constatar que no Projeto Salto, esta ação foi inibida, e a SEDUC, enquanto órgão responsável pela execução do projeto, não fez o acompanhamento necessário, ficando este apenas a cargo da FRM,

que o fazia por amostragem. Isto fez com que não houvesse um acompanhamento mais próximo das ações e, consequentemente, dos problemas que interferiram durante processo de implementação.

Esta falta de monitoramento ficou evidente quando, no período inicial da pesquisa, foram solicitados os dados dos registros situacionais das turmas do projeto. O que se pôde observar é que não havia, por parte da Coordenação Estadual do Projeto, na SEDUC, um controle exato dos resultados finais das duas etapas, como: matrícula inicial e final; estudantes evadidos, desistentes, transferidos, aprovados e retidos. Quando da solicitação desses dados, foram encaminhados, via e-mail, vários documentos informais, como planilha, slides etc, que geravam divergências desses resultados.

Para que uma política educacional dessa natureza seja bem desenvolvida, é necessário, além de monitoramento e registro, um amplo conhecimento sobre o projeto e sua metodologia por parte de todos os atores envolvidos em sua implementação. Embora a FRM tenha oferecido formação para professores, supervisores, equipe multidisciplinar e Articuladores do Projeto, a gestão escolar ficou fora dessa formação, o que fez com que não tivesse o conhecimento necessário para atuar na gestão durante sua implementação.

Outros aspectos de grande relevância também foram observados, tais como: a) as equipes não eram asseguradas dentro do projeto, o que fez com que houvesse muita rotatividade, tanto da parte técnica e de acompanhamento pedagógico, quanto dos docentes; b) o atraso no início das aulas da primeira turma, comprometendo o ensino e a aprendizagem dos escolares; c) o material didático e pedagógico não foi disponibilizado pela SEDUC, no início do Projeto, ficando a cargo da Coordenadora Escolar (lotada na CRE) e da própria professora a reprodução total e/ou parcial das páginas dos livros. Além de que, foi necessário baixar as teleaulas da internet, por aproximadamente três meses, questão sanada na segunda etapa do projeto; d) a professora selecionada para uma das turmas da segunda etapa também é formada em Letras, porém, logo deixou a sala por problemas de saúde. A lotação de outra professora não foi bem-sucedida, pois, embora tenha participado da formação, junto à equipe da FRM, teve dificuldades com a metodologia e a indisciplina dos alunos, abandonando a sala um mês depois, o que fez com que a professora anterior retornasse para a sala, dando prosseguimento até a conclusão da etapa do Projeto; e) os estudantes traziam, em sua maioria, histórico de indisciplina nas turmas

anteriores, o que persistiu ao frequentarem o Projeto Salto.

Em relação à Metodologia Telessala™, ficou claro que ela deve ser aprimorada, estabelecendo conteúdos atualizados, contextualizados com a faixa etária, meio de vida, costumes, hábitos e aspectos regionais inerentes ao educando. Dessa forma, o projeto precisa romper com o vínculo de ordenamento metodológico voltado ao corporativismo. Assim, será possível que a escola cumpra o seu papel social, havendo “o direito de saber melhor o que já sabem, ao lado de outro direito, o de participar, de algum modo, da produção do saber ainda não existente” (FREIRE, 2006, p. 111).

De acordo com Libâneo, a escola de hoje precisa não:

[...] apenas conviver com outras modalidades de educação não formal, informal e profissional, mas também articular-se e integrar-se a elas a fim de formar cidadãos mais preparados e qualificados para um novo tempo. (LIBÂNEO, 1994, p.52)

A retomada das questões que denotam o impasse na condução do projeto, como se estabeleceu na escola Raimundo Euclides Barbosa, nos leva a afirmar que os desajustes, ou, no mínimo, a composição das metas sem dialogismo entre os segmentos educacionais (SEDUC, Escola, Família) reduz as variáveis para que os objetivos cognitivos e sociointeracionistas sejam cumpridos. Nesse sentido, insistimos que a pesquisa sinaliza para a necessidade de interação entre todos os grupos envolvidos no projeto, o que inclui a participação de outros profissionais além dos que elencamos. Podemos citar, dentre eles, a participação de um Orientador Escolar exclusivo e a existência de uma equipe que conte com a participação do Psicólogo Escolar e de Assistente Social. Nessa perspectiva, é necessário adotar recursos, como o acompanhamento psicológico, a fim de instrumentar, acompanhar, sugerir e detectar desvios cognitivos e comportamentais que comprometam a exiguidade do projeto.

Pontua-se, também, sobre a necessidade de haver cuidados com o professor, protegendo-o de forma psico/intelectual e físico/moral, uma vez que um profissional bem assegurado psicologicamente terá mais disposição e embasamento para trabalhar com o perfil de alunos desse projeto. Como já mencionado, tais estudantes precisam se sentir acolhidos, sendo, assim, recebidos com amorosidade, de forma que seja possível quebrar paradigmas relacionados às suas limitações.

Esta realidade aponta a necessidade de se instituir uma avaliação processual do Projeto.

A falta de avaliações sobre tais programas revela outra limitação, que pode representar a falta de compromisso com resultados. De modo geral, as secretarias de Educação contratam serviços de terceiros para promover os programas, mas deixam de alocar recursos para realizar a sua avaliação.

O ideal seria que os programas tivessem embutidas em sua implementação ações de avaliação. No entanto, essa não é uma prática vigente. Tanto estados quanto municípios não se preocupam com esse aspecto, por considerá-lo um ônus dispensável. PARENTE; LÜCK, 2004, p. 23)

As autoras apontam, ainda, que esse contexto avaliativo deve contar com um sistema capaz de “avaliar resultados anteriores e posteriores ao programa, para se poder dimensionar os ganhos promovidos ao fim, assim como promover avaliação de impacto desses ganhos na subsequente escolaridade dos alunos” (PARENTE; LÜCK, 2004, p 36). Não obstante, o projeto Salto conta apenas com uma avaliação docente de entrada e saída, nos moldes da metodologia do projeto, que é aplicada pelo professor, sem que haja um feedback da instituição e ou da SEDUC para possíveis reavaliação e/ou intervenções nessa política educacional.

Em síntese, esta pesquisa veio mostrar que, no contexto escolar, mesmo com os esforços apreendidos, nem todas as condições foram asseguradas para a implementação adequada do programa, o que resultou na reprovação em massa dos estudantes da primeira turma e várias reprovações do estudantes da segunda turma no primeiro ano do Ensino Médio.

Outrossim, é necessário esclarecer que essa pesquisa apontou dificuldades, com o objetivo de promover reflexões e discussões que possam viabilizar melhorias em sua implementação, de forma que a política de correção de fluxo possa render melhores resultados, diminuindo ou mesmo eliminando a distorção Idade/Ano escolar. Com o objetivo de reavaliar essas questões e contribuir com a política de correção de fluxo escolar, será apresentado, a seguir, o Plano de Ação Educacional, que tem a pretensão de construir uma nova dinâmica e formato, a fim de aprimorar as relações entre os atores envolvidos, tornando-os corresponsáveis na construção dos saberes. Nesse processo, é primordial a adoção de políticas públicas capazes de assegurar a todos o direito a uma educação de qualidade, livre e libertadora.