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1 FLUXO ESCOLAR: HISTORICIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS

1.2 PROJETO DE CORREÇÃO DE FLUXO ESCOLAR: UMA PROPOSTA DE

1.2.1 O contexto da Parceria Público Privado no Brasil

Nos anos 1980, o mundo presenciou mudanças significativas de ordem social e econômica globalizadas. Na Ásia e América Latina, crises cambiais levaram países emergentes à criação de regimes fiscais. Na Europa, tem-se a formação de um novo bloco econômico, devido ao aumento da concorrência internacional. Nessa perspectiva, a provisão de serviços de infraestrutura foi diretamente afetada e os governos de diversos países, incapacitados de darem continuidade ao financiamento dos investimentos públicos, recorreram à Parceria Público-Privada para viabilizar a falta de recursos para investir nos serviços públicos (LIMA; PAULA; PAULA, s/d).

A Parceria Público Privado se apresentou como tendência, inicialmente no Reino Unido. Em 1992, foi criada a “Iniciativa para o Investimento Privado (Private Finance Initiative)”6 (LIMA; PAULA; PAULA, s/d, p. 4). Essa modalidade de associação público-privada manteve a responsabilidade do setor público pela provisão de parte dos serviços, ou seja, o setor privado construía e mantinha a infraestrutura, mas o setor público era o responsável por fornecer a mão de obra necessária. Esse projeto foi aperfeiçoado e corrigido com o tempo e, em 1996, o Private Finance Initiative foi

6 [...] a Parceria Pública-Privada foi concebida na Inglaterra no início da década de 90, (...) passou a lograr sucesso nos projetos desenvolvidos, fator motivador para que as PPPs fossem adotadas em diversos outros países, como Portugal, Holanda, Irlanda, África do Sul e Canadá. (LIMA; PAULA; PAULA, s/d, p. 5).

substituído pelo Public Private Partnership, que em Português, significa Parceria Público Privado (PPP).

Com relação ao Brasil, o Estado sempre foi o responsável por quase todos os setores da economia, fornecendo bens e serviços, direta ou indiretamente. Para isso, usava recursos fiscais próprios ou recorria a empréstimos e financiamentos internacionais e nacionais. Esse fato ocasionou endividamento do setor público nacional. Associado a isso, a partir da década de 80, o Estado estava estagnado e não conseguia mais fornecer integralmente os serviços públicos essenciais (LIMA; PAULA; PAULA, s/d).

Se por um lado o setor público encontrava dificuldade em prestar serviços à sociedade, o setor privado, em crescimento, assim como os ideais neoliberais, começou a assumir a responsabilidade na realização de serviços públicos. Nessa conjuntura, nasceu a Parceria Público Privado, caracterizada pela prestação de serviços do setor privado ao público, por meio de contrato. A PPP foi regulamentada pela Lei Federal nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004, e é fruto do Projeto de Lei nº 2.546/03, do Poder Executivo.

A Constituição Federal de 1988 faz referência ao setor privado e traz distinção entre o público e o privado. “Dentro do setor privado de ensino, o art. 209 se refere às escolas voltadas para o lucro numa economia de mercado e o art. 213 diferencia as escolas não-lucrativas – comunitárias, filantrópicas e confessionais” (BONAMINO, 2003, p. 258).

A Constituição Federal de 1988 alterou a relação da União com os Estados e Municípios, por meio da “transferência de funções, decisões e recursos do plano federal para os estados e municípios, que, na educação, foi consagrada pelo art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ACDT)” (BONAMINO, 2003, p. 258). Assim, uma nova relação de responsabilidades foi estabelecida entre o Estado e o setor privado na oferta da educação.

O processo de descentralização, inicialmente, fez com que o ensino fundamental e a merenda escolar fossem administrados pelos municípios, a fim de promover redução de custos, além de atender às pressões da sociedade por bens e serviços de natureza social (BONAMINO, 2003).

Dando continuidade ao processo de descentralização iniciado na década de 1980, em 1995 foi aprovada a Emenda Constitucional (EC) nº 14/1996, a qual altera os artigos 34, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e dá nova redação ao art. 60 do

Ato das Disposições. Nesse período, foi reduzida a participação da União no financiamento da educação e aumentada a dos estados e municípios. Nesse período, foi criado o FUNDEF; e elaborada a nova LDB. Além disso, a partir de 1999, houve mudança na transferência dos recursos financeiros destinados às escolas públicas, sendo os recursos destinados aos estados e municípios depositados diretamente às escolas. Assim, surgiu o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE).

Em 2007, o governo assumiu as metas propostas pelo Movimento Todos pela Educação, proposto em 1990 por empresário brasileiro, criando “o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, a partir da implantação do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)” (PERONI et al, 2013, p. 8).

Nas diretrizes do Plano, havia a sugestão de parcerias com o setor privado. Posteriormente, surgiu o Plano de Ações Articuladas (PAR), que desresponsabiliza o Estado de algumas ações executoras, transferindo-as para o setor privado. Deste modo, houve a redefinição do papel do Estado, no que tange à oferta da educação.

Nesse cenário, o Instituto Ayrton Senna estabeleceu parcerias com as secretarias estaduais e municipais de ensino, por meio da Rede Vencer, de forma articulada com as redes de ensino estaduais e municipais. Fazem parte da Rede Vencer os programas Se Liga e Acelera Brasil, ambos de correção de fluxo, voltados aos estudantes dos Anos Iniciais; além de Circuito Campeão, Gestão Nota 10 e Fórmula da Vitória (REDE VENCER, s/d).

Outro órgão que atua na correção do fluxo escolar no Brasil é a Fundação Roberto Marinho, vinculada ao desenvolvimento pedagógico do Programa de Correção de Fluxo Escolar de Rondônia, por meio do Projeto Salto. O Telecurso foi o primeiro projeto criado pela fundação, em 1978, com o objetivo de oferecer ensino à distância por meio da televisão aberta. O Telecurso foi adotado como política pública nas escolas públicas, em parceria com o Ministério da Educação, governos estaduais e municipais (FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO, s/d).

Em 1995, foi implementado o Telecurso 2000, assim como foram adotadas telessalas, equipadas com aparelhos de DVD, TV, mapas, livros, dicionários e outros materiais didáticos, em um modelo de estudos autônomo. A Metodologia Telessala foi criada para desenvolver o currículo do Telecurso, sendo utilizada, também, em outros projetos implantados pela Fundação Roberto Marinho, inclusive o projeto de Correção de Fluxo. Nesse tipo de ensino, os alunos assistem às teleaulas, havendo o acompanhamento de um professor unidocente, formado pela Metodologia

Telessala™ e Telecurso®, que desenvolve as atividades inerentes ao curso (FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO, s/d).

Em 2013, a taxa de 31,4% dos alunos do Ensino Fundamental em distorção Idade/Ano fez com que o Programa de Correção de Fluxo Escolar fosse implantado pelo Governo do Estado de Rondônia, estabelecendo, pela primeira vez no estado, a parceria público/privado voltada para a aceleração da aprendizagem escolar. A partir de então, as escolas públicas estaduais passaram a contar com a assessoria especializada do Instituto Ayrton Senna, com os Projetos Se Liga e Acelera e com a Fundação Roberto Marinho, com o Projeto Salto.

Embora este subtópico tenha abordado os projetos de correção de fluxo escolar pertencentes ao Instituto Ayrton Senna e Fundação Roberto Marinho, a próxima subseção tem o objetivo de detalhar o Projeto de Correção de Fluxo Escolar – Metodologia Telessala™, apresentando a trajetória do projeto, desde a sua origem até os dias atuais, para, a partir de então, abordar as especificidades da metodologia utilizada nas salas de Aceleração da Aprendizagem do Projeto Salto.

1.2.2 Projeto de Correção de Fluxo Escolar - Metodologia Telessala™, um