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1 FLUXO ESCOLAR: HISTORICIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS

1.1 DIREITO A EDUCAÇÃO, FLUXO ESCOLAR E DISTORÇÃO IDADE/ANO NO

1.1.3 Século XXI Escolarização e Fluxo Escolar no Brasil

No início do século XXI, em comparação ao século passado, a taxa de analfabetismo da população acima de 14 anos estava bastante reduzida. No início do século XX (1900), ela era de 65,3%; por volta de 1950, caiu para 50%. Já em 2000, ela decresceu para 13,6%. Neste mesmo ano , em Dakar, seis metas foram discutidas e relacionadas ao programa Educação para Todos, sendo duas voltadas à questão do fluxo na escolarização. São elas:

Alcançar uma melhoria de 50% nos níveis de alfabetização de adultos até 2015 a alfabetização de adultos” e “Melhorar todos os aspectos da qualidade da educação e assegurar excelência para todos, de forma a garantir a todos resultados reconhecidos e mensuráveis, especialmente na alfabetização, matemática e habilidades essenciais à vida. (BRASIL, 2014a, p.06)

validado por dez anos pela Lei n° 10.172 (BRASIL, 2001, p. 07), teve a função de “estipular metas e estratégias que garantam o acesso à escolarização e o aumento no nível de escolaridade da população”. Além disso, ele estabeleceu como duas de suas prioridades a obrigatoriedade do ensino para crianças de 7 a 14 anos e a garantia de acesso ao ensino fundamental para aqueles que não concluíram na idade própria para o ciclo escolar.

Esses direitos fizeram com que a universalização do ensino fosse garantida, exigindo do poder público políticas específicas para atender toda a demanda, em um curto espaço de tempo. No tocante aos indicadores de rendimento, segundo dados do INEP/MEC, houve oscilação entre os índices de aprovação, reprovação e abandono, podendo ser observadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Taxas de rendimento ensino fundamental e médio 2000 - 2010

Taxas de rendimento Aprovação Reprovação Abandono

2000 2010 2000 2010 2000 2010

Ensino Fundamental 83,1 86,6 10,7 10,3 12 3,1

Ensino Médio 74,4 77,2 7,5 12,5 18,1 10,3

Fonte: Brasil (2014b).

Os índices, na Tabela 1, revelam crescimento inexpressivo na aprovação escolar do Ensino Fundamental e, ainda, queda de aprovações no Ensino Médio. No que diz respeito aos índices de distorção Idade/Ano escolar, segundo dados do INEP, durante a década que compreende 2001/2010, no Ensino Fundamental, houve uma queda de 11,7%. Em 2001, por exemplo, o Brasil contava com 35,3% e em 2010, havia 23,6% dos alunos com dois ou mais anos em defasagem escolar. O mesmo aconteceu com o Ensino Médio, que, embora em menor percentual que o Ensino Fundamental, também apresentou redução de 48,8%, em 2000, para 44,9% em 2010. Essa demanda, em 2005, levou o Ministério da Educação a instituir o Ideb, utilizando uma medida de fluxo para avaliar as escolas. O objetivo por trás dessa medida consistia em melhorar os índices e solucionar o problema da distorção Idade/Ano escolar, ainda que a implementação de políticas de alfabetização de adultos, tais como Alfabetização Solidária, Brasil Alfabetizado, dentre outros programas, tenham elevado o alfabetismo de 87,6 para 91,3% no período compreendido entre 2001 e 2012 (BRASIL, 2014a).

que o sistema educacional ampliou o número de vagas, a fim de garantir o acesso à educação pública para todos os brasileiros e, assim, atingir as Metas 2 e 3 do PNE. Entretanto, mesmo com quase a totalidade das crianças sendo atendidas, as taxas de reprovação e abandono são bastante elevadas, principalmente nos Anos Finais e Ensino Médio, como se pode notar na Tabela 2.

Tabela 2 - Taxas de rendimento dos alunos matriculados nos anos 2012 e 2016 Taxas de

rendimento

Aprovação Reprovação Abandono

2012 2016 2012 2016 2012 2016

Anos Iniciais do EF 91,7% 93,2% 6,9% 5,9% 1,4 % 0,9%

Anos Finais do EF 84,1% 85,5% 11,8% 11,4% 4,1% 3,1

Ensino Médio 78,5% 81,5% 12,3% 12,0% 9,2% 6,6%

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados de Merrit e Lemann (2018).

A Tabela 2 evidencia que nos últimos cinco anos, compreendendo os anos entre 2012 e 2016, o rendimento dos alunos permaneceu distante de um desempenho satisfatório, principalmente no que se refere à retenção. Em relação à distorção Idade/Ano escolar, neste período, a situação não é diferente, dado o número, ainda, substancial de reprovações e abandonos que vêm colaborando com a continuidade desses alunos fora da faixa etária escolar, como representado no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Taxas de Distorção Idade/Ano escolar no Ensino Fundamental e Médio no Brasil, entre os anos de 2012 e 2016

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados de Merrit e Lemann (2018).

17 28 31 15 28 30 14 27 28 13 26 27 12 26 28 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Anos Iniciais (1º ao 5º ano) Anos Finais (6º ao 9º ano) Ensino Médio (1º ao 3º ano)

Taxas de Distorção Idade/Ano

Os índices de distorção Idade/Ano escolar, como se pode visualizar no Gráfico 1, tiveram um leve decréscimo durante os anos de 2012 e 2016. Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, houve uma queda de 17%, em 2012, para 12%, em 2016; enquanto que nos Anos Finais, essa queda foi menos significativa, representada por um índice de apenas 2% entre 2012 e 2016. No Ensino Médio, não foi muito diferente, pois houve uma redução de 3%, caindo de 31%, em 2012, para 28%, em 2016, com uma pequena oscilação de 27% em 2015.

Apesar de ter havido uma pequena redução nas taxas de distorção Idade/Ano escolar no Ensino Fundamental e Médio no período de 2012 a 2016, é possível observar que os índices de reprovação e abandono ainda continuam elevados. Nota- se que os anos iniciais do ensino fundamental tiveram um avanço maior, quando comparados aos anos finais do ensino fundamental e médio.

Um dos fatores que preocupam as autoridades e especialistas educacionais é o fluxo escolar dos alunos matriculados nos primeiros anos do ciclo final do Ensino Fundamental e nos primeiros anos do ciclo do Ensino Médio. São nessas etapas que se concentram os picos de reprovação e abandono escolar, como se pode observar na Tabela 3.

Tabela 3 – Taxas de rendimento dos alunos matriculados nos primeiro e último ano dos Anos Finais do EF e do Ensino Médio, nos anos de 2012 e 2016

Índices Anos Finais Ensino Médio

2012 2016 2012 2016

6º ano 9º ano 6º ano 9º ano 1º ano 3º ano 1º ano 3º ano

Reprovações 14,6 9,5 14,0 8,6 16,8 6,9 17,3 6,0

Abandonos 4,5 4,1 3,2 3,1 11,6 6,3 8,6 4,3

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados de Merrit e Lemann (2018).

Embora tenha havido uma leve queda entre os anos de 2012 e 2016, o 6º ano detém maior percentual de reprovações e abandono, em relação ao 9º ano durante esse período. Um motivo que implica esse resultado é a transição entre os ciclos, com destaque para a mudança de metodologia, além do atendimento unidocente para multidocente.

Quanto ao Ensino Médio, os resultados dos índices são ainda piores. Entre os anos de 2012 e 1016, houve um aumento no índice de reprovação no 1º ano e uma pequena redução desse índice no 3º ano. Quanto ao índice de abandono, houve

redução nas duas séries. No entanto, é possível observar que no 1º ano, o índice de reprovação varia em torno de sessenta por cento a mais que no 3º ano, no qual o índice de abandono é de aproximadamente cinquenta por cento (Tabela 3).

Ao comparar as taxas de rendimento dos alunos dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, é possível observar que o 1º ano do ensino médio apresenta taxas maiores de reprovação e abandono, causas da distorção Idade/Ano, quando comparado ao 6º ano. Com relação aos 9º ano e 3º ano, ambos apresentaram uma pequena redução nas taxas de reprovação e abandono, o que faz da correção de fluxo uma demanda de ordem política, além de social.

Para concluir esta primeira seção, algumas indagações feitas por Gadotti (2006) são citadas. Embora estivesse se referindo à Educação do século passado, é relevante retomá-las na atual conjuntura, na qual se faz necessário um processo de ensino e aprendizagem que se configure, como dizia Paulo Freire, instrumento de libertação para uma prática verdadeiramente democrática neste país.

Tanto a educação do homem feudal quanto a do homem burguês têm uma finalidade muito bem definida: adaptar as novas gerações a um modelo de sociedade. Mas será que a educação é apenas isso? Será apenas um processo de formação do homem para adaptá-lo a viver numa “dada” sociedade? Não existirá uma concepção da educação que, ao contrário, vise despertar as novas gerações para a construção de outra sociedade, uma educação emancipadora que as desafie a construir outra? O que representa o educador nessa educação e como pode ele surgir no interior de uma sociedade velha e opressiva? (GADOTTI, 2006, p.129)

A partir do exposto, é possível observar que o desempenho dos estudantes brasileiros tem se apresentado abaixo do esperado pelas políticas públicas. Nesse sentido, a aprendizagem escolar se configura com um dos principais desafios da educação brasileira. Reduzir as taxas de reprovação e abandono, bem como garantir que o aluno se aproprie com êxito do processo de ensino-aprendizagem não é impossível. Para isso, é preciso implementar políticas educacionais que auxiliem no desenvolvimento dos estudantes.

Os problemas educacionais enfrentados no Brasil têm levado à criação de políticas educacionais voltadas para a correção da defasagem e distorção idade/ano. Para efeito de conhecimento sobre essas políticas educacionais, o tópico a seguir trata do contexto das Políticas Públicas voltadas à Correção do Fluxo Escolar no Brasil.