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1.4. A questão da participação

1.5.2. Algumas questões sobre a história da extensão universitária

A história da extensão universitária é farta em explicações sobre suas origens institucionais. De uma maneira geral, como afirma Rocha (2001, p. 13), até muito recentemente, os que escreviam ou se envolviam nas ações de extensão enfatizavam ser esta uma função nova da universidade e que, como tal, não teria ainda identidade bem definida, o que justificaria o exercício de práticas desligadas do sistema de educação como um todo, de atuações assistemáticas exercidas como mera prestação de serviço em substituição às organizações governamentais e não governamentais.

A justificativa de ser uma atividade nova na universidade não se sustenta ao se realizar um olhar mais profundo sobre a história das instituições de ensino superior, o que demonstra que a ação extensionista tem uma relação direta com a própria história da universidade. A exemplo disso, Bohnen e Ullmann (1994, p. 304), citados por Rocha (2001, p.14), em análise sobre a Universidade de Bolonha, afirmam que, “Sem sermos benignos, logremos sem dúvida afirmar que, por ser influxo na sociedade, a alma mater medieval desempenhou igualmente um papel de Extensão, porque irradiou a cultura para fora de seus muros mediante os profissionais que trabalhavam nos diversos segmentos da sociedade”.

O que fica claro ao analisarmos a extensão universitária é a amplitude de suas ações e a consequente dificuldade em sua conceituação, o que em certa medida contribui, para o caráter das ações abrigadas nesse âmbito.

Para Sousa (2000, p.11), o estudo da extensão universitária de forma sistemática, rigorosa e radical tem se apresentado como uma exigência da prática docente. Para a autora, existe uma questão sempre presente e que incomoda, tanto pela dificuldade de se encontrar respostas adequadas, como por sua constância em todos os momentos e também por ser geradora de crítica sobre a produção acadêmica.

O resultado dessa condição é uma indagação frequente no meio acadêmico sobre o que realmente é extensão universitária. Segundo Sousa (2000, p.11), a resposta a essa questão surge sob as mais diversas definições, em diferentes tentativas de criar limites para a sua prática ou, por outro lado, para servir de justificativa para práticas que acontecem sem espaço claro dentro da academia. Nesse caso trata-se mais de uma tentativa de enquadramento do que já existe, sem, no entanto, a clareza necessária acerca do objeto analisado. Como consequência disso, a polissemia é constante.

No esforço da corriqueira necessidade de enquadramento (identificar e classificar) das ações realizadas na universidade, especialmente as práticas docentes, e por absoluta falta de clareza quanto à boa parte dessas práticas, de forma exacerbada no que se refere à extensão, era e é comum classificar- se qualquer atividade cujo caráter não ficar explícito quando se tenta esse enquadramento no âmbito do ensino ou da pesquisa, o caminho mais curto seria o de incluí-la como extensão.

Para Sousa (2000, p.11), sua concepção quando identificada, parece sempre atrelada a proposições individuais, sem maiores cuidados com a construção teórica. Há uma variação sobre o seu entendimento, na dependência direta dos interlocutores que se encontram pelo caminho.

Nesse sentido, o que deveria ser uma ação orientada por concepções de natureza institucional, portanto, efetivada a partir de ações coletivas, apresenta-se como algo centrado no professor enquanto indivíduo. De toda forma, mesmo nesse contexto, não se pode negar que a extensão universitária

ciências agrárias, porém é a partir de 1988, com promulgação da nova Constituição Brasileira, onde está explicitado o princípio de indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão que a extensão passou, ao menos teoricamente, a ter relevância na prática acadêmica46.

Outro ponto relevante, considerando para isso o marco legal, é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, especialmente em seu Artigo 43 que estabelece que a Educação Superior tem como uma de suas finalidades “estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade”. Estabelece, ainda, como finalidade da educação superior, “promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição”.

Não se pode deixar de destacar, ainda, o fato, em nosso entendimento, de maior relevância, no que se refere à extensão no Brasil, quanto à sistematização, valorização e enriquecimento desse campo de atuação que é o surgimento em 1987 do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão, fruto de uma articulação que ocorre em nível nacional e responsável pela criação dos princípios norteadores para essa atividade, estabelecendo as referências básicas no âmbito das universidades públicas brasileiras. A criação do Fórum ocorre na esteira de mobilização da sociedade civil por uma maior e mais qualificada participação.

Nesse sentido, Nogueira (2000, p. 7), argumenta que, na verdade, o processo social e político que se instaura no país, no início da década de 80,

46

A Constituição Brasileira dispõe, em seu artigo 207 que "As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão". (Grifo nosso)

com a abertura política, possibilitou a organização de vários segmentos da sociedade que desencadearam discussões com objetivos de rever os rumos nacionais e promover a redemocratização do país. A criação do Fórum reflete esse contexto.

Esse período caracteriza-se, no âmbito das universidades, pela criação de associações docentes e de servidores, como também pelo restabelecimento da legalidade da União Nacional dos Estudantes - UNE. Os três setores apresentam reivindicações semelhantes, a exemplo da defesa do ensino público e gratuito, a autonomia e democratização das universidades e o compromisso desta com os setores menos favorecidos da sociedade. Além disso, pode-se destacar, também, a adoção de eleição para diversos cargos na hierarquia das universidades.

Como destaca Nogueira (2000, p. 7), os questionamentos que se faziam no interior das universidades tornaram possível e necessária a reflexão sobre o papel da universidade pública e sua função social, criticada por estar mais a serviço de interesses das classes dirigentes e do próprio Estado do que de interesses do conjunto da população.

É nesse cenário que eclodem articulações regionais e nacionais que dão origem aos Fóruns Regionais de Extensão Universitária, que passam a discutir as ações da área com o foco regional e local, sem, no entanto, perder a compreensão da necessidade de pensar o país como um todo.

Diante do consenso nacional da necessidade de dar unidade as ações extensionistas no país, ocorre nos dias 4 e 5 de novembro de 1987, em Brasília, o Iº Encontro de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. O tema do Encontro refletia as grandes necessidades do momento: Conceito, institucionalização e financiamento da extensão. Participaram 33 universidades e nele foram apresentadas conclusões de extrema importância que até hoje balizam as ações da área no Brasil.

Definidas as diretrizes básicas norteadoras das ações extensionistas no país, elementos de extrema importância para a área e que a balizam até hoje, a exemplo do conceito de extensão universitária, definido como:

[...] processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade.

Com esse conceito amplo, busca-se dar conta do conjunto de ações desenvolvidas nas universidades e que envolvem a relação entre seus diferentes setores e da interação desta com a sociedade.

Para além disso, destaca-se, ainda, como fruto do trabalho do Fórum, a disseminação da “extensão como via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade da elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico”.

Nesse sentido, defende o Fórum, além de instrumentalizadora de um processo dialético de teoria/prática, a extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social.

Deve-se destacar, ainda, que o conceito de extensão universitária variou substancialmente, ao longo da história das universidades brasileiras, de forma muito especial nas universidades públicas, onde as reflexões sobre o tema caracterizam-se por uma discussão com maior acúmulo, quando comparado com o ambiente das universidades privadas. Os diferentes olhares sobre o tema impôs, durante longo tempo, concepções diferentes, seja em suas diretrizes, seja em sua metodologia, seja, principalmente, na questão conceitual.

Como consequência desse percurso histórico, é possível identificar, o que podemos chamar de fases, em que pese tais comportamentos não estejam, obrigatoriamente circunscritos a um determinado período de tempo.

Inicialmente entendida unicamente como cursos, posteriormente entendida como prestação de serviço, passando pela extensão assistencial, à extensão “redentora da função social da Universidade47”, até a perspectiva apresentada no Plano Nacional de Extensão, documento elaborado pelo conjunto das universidades públicas brasileiras, através de uma articulação desenvolvida pelo Fórum, que aponta a extensão como via de mão dupla entre universidade e sociedade, na perspectiva de uma universidade cidadã.

Mesmo considerando-se o grande trabalho desenvolvido pelo Fórum, e o consequente avanço nesse campo, na realidade concreta do dia a dia, ainda não se pode afirmar que exista uma uniformidade no âmbito da extensão, especialmente em aspectos fundamentais para sua operacionalização, a exemplo da conceituação, institucionalização, financiamento e disseminação. O que se observa é, de um lado, o amadurecimento das discussões sobre o tema, traduzido pela uniformização conceitual e, do outro e paradoxalmente, o abismo entre o campo teórico e o campo prático, quando se observa o cotidiano das universidades.

1.5.3. A extensão universitária em cursos de Educação Física: da ação míope à