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A relação entre esporte e educação é algo presente desde a idade antiga, quando já se ressaltava a importância deste na educação do homem. Um exemplo disso está na Grécia, onde atividade física e esporte tinham grande destaque como importantes elementos na formação integral de seus cidadãos. Mais recentemente, pensadores como Rousseau, Pestallozzi, Basedow, entre outros, destacaram em suas obras a importância do exercício físico como elemento de educação.

Ao longo dos anos, permeadas pelas circunstâncias de suas épocas, foram construídas e discutidas muitas concepções de esporte. No entanto, as discussões sobre a sua relação com a educação continuam presentes, de forma consensual ou não.

Importa destacar que ao nos referirmos à relação esporte e educação, não estamos reduzindo nossa perspectiva de visão ao espaço definido na legislação brasileira como Esporte Educacional. Essa percepção de esporte atrela-o, automaticamente, ao local onde é vivenciado: a escola48. Em nosso trabalho tratamos do esporte e de sua potencialidade educativa, ou, como afirma (Hassenpflug, 2004) o esporte como mais do que uma ferramenta, um método privilegiado que contribui de forma significativa para a educação integral das novas gerações, preparando-as para enfrentar com competência os desafios presentes em sua vida pessoal, social e profissional.

Nossa intenção, portanto, é de explanar sobre o diálogo e as interfaces possíveis e desejáveis entre esporte e educação.

Nesse aspecto, pode-se afirmar que não são poucas as contribuições de importantes autores que descrevem a potencialidade educativa do esporte, em diversos âmbitos e níveis. Obviamente e por dever de ofício, cabe aqui as cautelas necessárias a uma investigação, no sentido de não se ater ao aparente, ao concreto, sem concentrar o olhar no que é substancial na questão. A opção por um caminho diferente desse nos expõe ao risco da opção pelos extremos da explicação, algo comum na literatura brasileira.

Prova disso é que a discussão sobre a importância do esporte, durante muito tempo, se resumir a duas possibilidades básicas: os contra e os a favor, ambas as posições, no limite do absoluto, baseadas em perspectivas fechadas, que impossibilitam o diálogo.

Manter-se nesse dilema, apequena e obscurece a discussão e a coloca no mundo das sombras e da carência da luz epistemológica que ilumine o

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Para Tubino (2006), o Esporte Educacional lecionado nas aulas de Educação Física, “Compreende as atividades praticadas nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de Educação, evitando-se a seletividade e a hiper-competitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo, a sua formação para a cidadania e a prática do lazer ativo” e deve seguir os seguintes princípios socioeducativos: Princípio da inclusão, Princípio da Participação, Princípio da Cooperação, Princípio da Co-educação e Princípio da Co-responsabilidade.

objeto estudado. É, portanto, uma necessidade, ampliar as possibilidades de análise, alargá-la e estabelecer novos horizontes, para além do binômio contra e a favor, no sentido de dar conta da complexidade que o objeto impõe. Manter a análise no campo dessa dicotomia absoluta parece-nos contribuir para uma confusão entre causa e efeito.

Não é nossa intenção, portanto, centrar nossa argumentação na questão dos argumentos pró ou contra; em verdade, o que nos move é o desejo de mostrar a precariedade dessa lógica e, ao mesmo tempo, destacar a existência de outra perspectiva de análise, configurando-a a partir da fala de importantes autores contemporâneos.

Como afirma Garcia (2009, p. 319), não podemos culpar o desporto pelos erros, desvios, omissões ou condutas equivocadas. Essa provável crise de valores em alguns setores do desporto não é endêmica a esta maravilhosa dimensão humana. Essa crise, ressalta o autor, é mais profunda, estendendo- se ou provindo da crise das sociedades e do próprio homem. É, em última instância, uma crise axiológica, consequência da secularização imposta por um estilo de vida centrado no prazer sem deveres.

É preciso destacar, como o faz Garcia (2009, p. 320), que o desporto, mesmo que não queira assumir o ônus de repousar numa ideologia, tem de estar adstrito a uma visão de (se) ser humano ou, se preferirmos, a uma cosmovisão. O que se pretende do ou com o desporto de nosso tempo? A quem interessa a sua prática? Quem o poderá dirigir? Com que formação?

Para esse autor, estes são alguns de muitos questionamentos que se poderão colocar em relação ao esporte. As respostas, no entanto, não são imediatas e pressupõem uma visão conjunta de áreas diferenciadas do saber.

Ao discorrer sobre a dimensão organizacional do conceito de desporto, Pires (1996, p. 366), chama atenção para as inúmeras confusões que hoje se estabelecem em relação ao conceito de desporto. Para ele, as diversas

de uma forma estática, pelo que levantar e estudar este problema é uma tarefa que deve fazer parte das preocupações daqueles que estão empenhados na problemática da organização e do desenvolvimento do desporto.

Ainda segundo Pires (1996, p. 366), muitas vezes os acontecimentos ultrapassam a capacidade que temos de os analisar em tempo real. Se numa primeira fase toda a dinâmica de desenvolvimento do desporto se processou a uma velocidade relativamente lenta, numa segunda fase, sobretudo a partir dos anos sessenta, tudo se começou a desencadear com uma dimensão e estrutura de tempo como não tinha sido habitual até então. Na realidade, a partir da entrada da televisão nos Jogos Olímpicos de Roma realizados em 1960, todo o processo de desenvolvimento do desporto readquiriu novas dinâmicas que o transformaram na atividade de dimensão planetária que hoje conhecemos.

No entendimento de Tubino (1996, p. 9), para que se possa compreender a questão educacional do esporte, é necessário, primeiramente, uma retrospectiva conceitual do próprio fenômeno esportivo, no sentido de registrar os marcos de aspectos essenciais, que, pouco a pouco, foram conduzindo a uma teorização desse esporte. Assim, destaca o autor, seu primeiro registro foi a própria concepção do esporte moderno de Thomas Arnold, em Rugby (Inglaterra/1828), quando aquele educador, ao codificar os jogos existentes, institucionalizando-os, evidenciou toda a função pedagógica nas práticas esportivas.

Tubino ressalta, ainda, que é importante esclarecer que naquele momento histórico já nascia a perspectiva do rendimento do esporte e o associacionismo, base para a formação dos clubes esportivos. Dessa forma, afirma o autor, à função pedagógica arnoldiana somou-se o ideário olímpico, acrescido à evolução do esporte moderno, pelo idealismo de Pierre de Coubertin, no final do século XIX. Com o olimpismo, veio o fair-play, que, junto com o associacionismo, constituiu-se nos pilares da ética esportiva. (idem, p. 9).

Em uma análise histórica, esse autor destaca que o esporte, na primeira metade do século XX, difunde-se por toda Europa e América, até que Hitler, nos jogos de Berlin de 1936, ensaiou o uso político do mesmo, ao tentar uma publicidade perversa sobre a pretensa supremacia ariana diante das demais raças, usando, para isso, os resultados esportivos olímpicos. (idem, p. 10),

Nesse aspecto, é importante ressaltar o pensamento de Bento (2004), para quem, o desporto tem certamente muitos sabores; mas estes dependem dos saberes que o iluminam e entretecem. Uns e outros inesgotáveis e de reciprocidade indissolúvel. De resto, acrescenta o autor, há tantas coisas quantas as formas de as conceber, olhar e dizer. Ou seja, uma estreiteza de vistas, de ideias, conhecimentos e conceitos acarreta uma vivência diminuta e um entendimento reduzido do desporto; o que é estranho e contraditório, dado tratar-se de um fenômeno que encerra uma diversidade de sentidos e se concretiza numa pluralidade de formas e modelos. O mesmo é dizer que, sem o apoio e a legitimação dos saberes, o desporto tende a ficar prisioneiro da coisificação.

Garcia (2000, p. 86) argumenta que cada sociedade contextualiza os fundamentos antropológicos a luz do quadro axiológico pela qual se rege. Nesse sentido, destaca o autor, a nossa sociedade, a industrial, “produziu” o desporto moderno para corresponder à sua ideia de lúdico, de rendimento e de superação. E, sem sombra de dúvida, o desporto mais do que qualquer outra atividade humana, expressa com rigor a lógica da nossa sociedade. Os valores mais importantes do industrialismo estão bem presentes no desporto, assumindo este a dimensão de um verdadeiro microcosmos.

Para esse autor, o desporto é uma metáfora da vida e o é em variados campos. E complementa: o desporto moderno, que é aquele que aqui está a ser tratado, é fruto de uma dada cultura e projeta com rigor a lógica da sociedade que o inventou. (idem, p. 87).49

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Já Soares (2001, p. 50), em sua crítica ao esporte, especialmente ao analisar as relações entre a forma como são vivenciadas as atividades físicas e mesmo as práticas esportivas, chama atenção para como ocorre esse fato no ambiente liberal. Para essa autora, a Educação Física, do liberalismo, forjou suas regras para os esportes modernos sugerindo a todos a ganhar o jogo e vencer na vida pelo esforço. Do positivismo absorveu, com muita propriedade, sua concepção de homem como ser biológico e orgânico, ser que é determinado por caracteres genéticos e hereditários, que precisa ser adestrado e disciplinado. Um ser que se avalia pelo que resiste50.

Em que pese as posições, em alguns casos, antagônicas expressas por esses autores, não se pode deixar de destacar que o esporte não pode ser entendido como uma prática autônoma e neutra, em relação à sociedade a qual está circunscrito, estando, portanto, sujeito a influência de determinantes históricos os mais variados, como já ressaltamos através das afirmações de Garcia (2000). Nas palavras de Gustavo Pires (1996, p. 415), o desporto não tem sido uma atividade neutra, podendo ser utilizado das mais diversas maneiras pelos governos.51

Observando o contexto político recente, o que se constata é que, com a divisão do mundo, palco da Guerra Fria, vivenciada a partir de 1950, entre socialistas e capitalistas, o esporte torna-se um instrumento de afirmação de ambas as perspectivas político-ideológicas. Rompe-se assim o ideário olímpico, retomado por Pierre de Coubertin, no final do século XIX. E, portanto, como a escola, a igreja, entre outros Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE), ensinam o “know-how” mas sob formas que asseguram a submissão à ideologia dominante ou o domínio de sua prática. (idem, p. 58).

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Essa concepção de homem difere da defendida por autores como Santin (1996), Garcia (2009) e Bento (2004), como destacaremos na continuidade desse texto.

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Sobre a questão da neutralidade, destacamos a argumentação de Pires (2007, p. 38), sobre o esporte na escola, que entendemos se encaixar nas diversas possibilidades de manifestações esportivas, quando afirma que, podemos sugerir, como Paulo Freire (1970), que também no esporte escolar não existe uma prática pedagógica que se constitua como neutra: ou se educa para a libertação e fruição autônoma desta manifestação da cultura de movimento, ou com certeza se estará educando para a domesticação e a reprodução acrítica de valores, práticas, entendimentos a respeito do esporte.

rompe-se, também, com o discurso do esporte como atividade politicamente neutra.

Como destaca Pires (1996, p. 414), embora autores como Jonh Loy, Barry McPerson, Geral Kenoy, Jonh Hoberman e outros, apurem que as ligações da política com o desporto possam ser encontradas, por exemplo, nas cidades-estado da antiga Grécia, de fato, na geopolítica do desporto moderno é, sobretudo, a partir de finais da guerra 39/45 que começam a ser identificados e sistematizados os sinais de cooperação entre desporto e política.

Ainda segundo Gustavo Pires (1996, p. 414), desde que, em 1964, o presidente John Kennedy avançou com apoios financeiros significativos ao Comitê Olímpico Americano, para contrariar a supremacia crescente da União Soviética, nunca mais deixou, de uma maneira ou de outra, de haver um estreito contato entre política e desporto. A Guerra Fria, por seu lado, encarregou-se de maximizar a utilização do desporto pelos governos das grandes potências, que trataram de construir uma organização desportiva de acordo com as necessidades que tinham de resolver alguns dos seus próprios problemas, através da utilização de processos a funcionarem no regime de “violência controlada”.

Segundo Tubino, (1996, p. 10), o paradigma do ideário olímpico no esporte, ao ser desfeito e substituído pelo uso político do esporte, levou o fenômeno esportivo a uma exacerbação sem precedentes, permitindo a chegada dos ilícitos (doping, suborno, etc.), como também provocou uma notável reação da intelectualidade mundial, pontuada pelo: a) surgimento do movimento Esporte para Todos, com a denominação de TRIM, na Noruega; b) início da sociologia esportiva, com trabalhos de George Magnane, Jean Marie Brohn, José Maria Cagigal e muitos outros; c) aparecimento de diversos manifestos de organismos internacionais que possuíam interfaces com as questões esportivas, a exemplo do Manifesto do Esporte/CIEPs/UNESCO; Manifesto do Fair-Play; Carta Europeia de Esporte para Todos; Carta

Internacional de Educação Física e Esporte/ UNESCO; Manifesto da Educação Física/FIEP.

Nessa conjuntura, pode-se afirma que essa reação a que se refere este autor, tem como destaque maior a Carta Internacional de Educação Física e Esportes, a partir da qual o desporto passou a ser entendido como o direito fundamental, algo que passou a ser replicado/absorvido por constituições de diversos países, como é o caso do Brasil52.

Para Tubino (1996, p. 11), a partir desse momento, pode-se afirmar que o esporte ganhou um conceito renovado, rompendo com a perspectiva única do rendimento, ao mesmo tempo em que incorporou outras dimensões sociais, como o lazer e a educação. Para esse autor, o esporte, tendo como pressuposto o direito de cada um à prática esportiva, passou a ser compreendido através das seguintes manifestações: a) esporte-educação ou esporte educacional; b) esporte-participação ou esporte-lazer; e c) esporte- performace ou esporte de rendimento.

Nesse mesmo caminho de argumentação, Pires (1996, p. 469), destaca a questão do direito à prática desportiva. Nesse sentido, deve ser entendido como um direito que a todos assiste porque faz parte não só da formação de cada um, como de sua própria dignidade. Para esse autor, o totalitarismo das modalidades duras, das modalidades tradicionais, configuradas segundo o padrão e a medida da sociedade industrial, tem conduzido à competição agressão/destruição a ao espetáculo. Elas vivem precisamente desse espetáculo que tem de ser alimentado dia a dia com os chamados “casos”, se quiserem sobreviver.53

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O fato de o esporte estar, explicitamente posto enquanto direito na Constituição brasileira, faz com que isso seja replicado, também, em nível das constituições estaduais. Isso não se constitui uma novidade nesse campo, como destaca Parente Filho (1989), ao afirmar que desde 1934 as constituições estaduais amparam em seus textos a Educação Física e o Desporto. Os Estados, em 1947, baseados na Carta Magna então promulgada, elaboraram suas constituições considerando a importância dos valores educacionais da Educação Física e do Desporto.

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Quando se refere aos chamados “casos”, Pires (1996, p. 469) inclui nessa adjetivação exemplos como a corrupção, o doping, o falso amadorismo e a economia subterrânea. Segundo esse autor, o desporto

Korsakas (2002), chama atenção para o fato de, se no início da sua trajetória o esporte moderno parece ter favorecido a ideia de que a sua prática com fins educativos e a outra que tem a finalidade de aferir a melhor performance poderiam se equivaler, fosse na escola ou nas Olimpíadas, no decorrer do seu desenvolvimento no século XX foram identificados vários problemas geradores de importantes críticas que culminaram em uma revisão conceitual, baseada em discussões que giraram em torno da busca de uma compreensão mais ampla do esporte como fenômeno social e cultural, rompendo com a perspectiva única do rendimento.

Mesmo considerando o que isso significa para a organização do esporte no Brasil, não se pode deixar de observar que, especialmente no que se refere à relação esporte e educação, os caminhos ainda estão sendo pavimentados, em seus aspectos conceituais e institucionais.

Nesse sentido, pode-se afirmar que, de uma maneira geral, as relações entre esporte e educação tem se apresentado, historicamente, como espaço de tensões uma vez que, hodiernamente, têm sido tratados, por muitos, como universos simbólicos distintos, para alguns, nem sempre compatíveis. As referidas tensões aparecem, fortemente, também no âmbito das políticas públicas, notadamente na relação entre os entes políticos responsáveis por traçar e articular as políticas nacionais para as áreas. No Brasil, os ministérios dos esportes e da educação54.

A despeito disso, o que se observa historicamente no Brasil é que o esporte aparece como objeto de atenção e intervenção tanto no âmbito das políticas públicas educacionais quanto das políticas esportivas, sem a necessária interação entre esses dois âmbitos, o que, ao final, materializa uma justaposição de políticas e, por conseguinte, o desperdício de recursos e do de “segunda vaga” vive mais de expedientes que alimentam o espetáculo e a comunicação social, do que das atividades praticadas com os objetivos para as quais foram criadas.

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Essa situação reverbera para estados e municípios em suas respectivas secretarias estaduais e municipais de esporte e de educação, ambas, de alguma forma, integrando o esporte em seu campo de

potencial educativo que poderia ser utilizado. Além disso, outra questão que se destaca é a predominância do esporte de rendimento como mote, em detrimento de outras possibilidades para esse fenômeno, nomeadamente, as que assegurem o acesso ao esporte enquanto direito de todos os cidadãos.

Tal perspectiva está relacionada com o fato de em um contexto orientado pelas necessidades do mercado, onde a produtividade assume a centralidade dos discursos, o campo esportivo, também, reverbera esse discurso, abdicando de uma postura de caráter mais humanista, notadamente no que se refere à perspectiva de contribuição para a formação integral do cidadão, aquiescendo a uma postura em consonância com as necessidades ditadas pelas práticas neoliberais em voga. Nesse sentido, a produtividade torna-se a principal referência na elaboração das políticas públicas55.

Importa destacar que não é possível negar que vivemos a era das competências, para muitos, uma característica do discurso neoliberal, posto em diferentes e importantes instâncias nacionais e internacionais. Essa perspectiva exerce enorme pressão na sociedade como um todo, no sentido do ajuste a esse modelo. Ao mesmo tempo, tem rebatimento nas instâncias de formação como a escola e universidades, muitas vezes, em detrimento de uma formação de caráter mais humanista, uma vez que privilegia as necessidades do mercado, tornando-se, como já destacamos anteriormente, o elemento central, inclusive, da elaboração das políticas públicas56.

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No que se refere ao Brasil, é preciso destacar que, de uma maneira geral, as políticas públicas voltadas para o esporte, não passam de intenções, raramente postas em prática. O que se observa são propostas desconectadas, sem um fio condutor que as organize e dê forma, no limite da desorganização e da falta de senso, o que, em última instância, serve, exatamente, ao propósito neoliberal, mais preocupado com a embalagem que com o conteúdo. Algo semelhante ao que destaca Januário (2010) em seu estudo sobre políticas públicas desportivas, realizado na região metropolitana do Porto, quando destaca que não raras vezes, a ausência de um Plano de Desenvolvimento Desportivo conduz as políticas públicas ao sabor das mais díspares circunstâncias e circunstancialismos sem qualquer base ideológica e direção estratégica condição para Bento (2004, p. 158) catalogar como um desporto sem futuro.

56 Um contraponto a isso, mesmo utilizando-se do discurso das competências, porém, valorizando o

caráter humanista da formação é o trabalho de Delors, J. (2006). Educação: um tesouro a se descobrir, para a UNESCO, trabalho este, já destacado por nós anteriormente, que serve de base para a proposta desenvolvida pelo IAS, lócus de nossa investigação.

Nesse cenário, pode-se afirmar que a utilização do esporte em projetos sociais buscando potencializar as sua possibilidades educativas não é algo novo no Brasil. Ao logo da história recente do país pode-se observar inúmeras iniciativas do gênero, muitas promovidas pelo Estado enquanto ente propositor de políticas públicas e, recentemente, promovidas no seio da sociedade civil, através de organizações não governamentais as mais diversas57.

Tais iniciativas foram e estão permanentemente sobre a mira de crítica especializada ou não, que busca encontrar os nexos e os distanciamentos destas, da realidade concreta e mesmo dos fundamentos político-ideológicos que lhes dão suporte. Há, portanto, um acúmulo de estudos relacionados à área.

Retomando argumentos anteriores, apesar disso, o que se observa, de uma maneira geral, é que a matriz das explicações se divide em dois aspectos